Praga escrita por Shinemoon
Spike parecia mais radiante desde que Angelus nos deixara "misteriosamente", como ele mesmo havia me dito. Não questionei no momento, pois a euforia de ter o visto matando uma caçadora ainda estava no auge. Mas agora, depois de meio século, sinto uma estranha falta mórbida de todas aquelas provocações, torturas.
– Antes de irmos, preciso fazer algo.
– Dru, meu amor, algum problema - Disse o anjo loiro ao meu lado.
– Sim, eu esqueci meu vestido de festa púrpura com renda preta, que tragédia, que tragédia.
– Tenho certeza que existem milhares iguais em Praga, só temos até ao amanhecer para chegar e não será um vestido que torrará caso perdemos mais tempo com coisas banais.
Me contrai ao seu tom rude, poderia até sentir as lágrimas se formando caso ainda fosse humana.
– Me desculpe minha deusa negra, mas precisamos seguir, compro mil peças de todas as cores, de todos os vestidos se não adiarmos mais.
– Você promete?
– E porque eu não o faria? Você terá os vestidos.
– Mas só os de seda - Disse enquanto entrava no veículo.
– Que assim seja então.
Com isto partimos para a estação ferroviária, seria mais ou menos quatro horas de viagem caso tudo ocorresse bem, e felizmente, como em meus presságios, um grupo de cinco vampiros já se encontravam a nossa espera com um trem inteiro a nossa disposição.
– Senhor William, senhora Drusilla, está tudo pronto com direito a refeições, Darla encontrará com os senhores em Praga, cuidado para não sujar seus sapatos - Disse o maior vampiro do bando com um sorriso avermelhado.
– Espero que os suprimentos sejam o suficiente, ou ficará sem os caninos. - Proferiu Spike rispidamente - E ainda espero que sejam de qualidade, minha dama não bebe nada abaixo da nobreza.
Não pude conter uma risada, o cheiro, o rio vermelho correndo pelos os vagões como se fossem dentro de uma artéria humana, eram o agouro perfeito, de uma viagem perfeita.
– Ora Spike, seja bonzinho, o fim do mundo nos aguarda.
– Tem razão Dru. - Alegou Spike enquanto me tomava em seus braços - Cavalheiros, estão dispensados de seus serviços.
E com essa premissa e com gritos, os sons mais magníficos que um ser humano pode produzir, embarcamos no vagão que de um dia azul, virou vermelho, como a lua no céu desta noite, vermelha feito sangue.
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