A Ilha Solitária escrita por Victria Andrade Rocha


Capítulo 2
Passeio de barco




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Acordo com o barulho de meu despertador. Levanto e vou tomar um banho. Depois me troco, pego minha mochila e a levo para o andar de baixo. Quando entro na cozinha para tomar café, todos já estão acordados e sentados na mesa. Digo bom dia num tom baixo e todos me respondem. Sento-me entre meus avós e como meu sanduíche de atum e bebo meu suco de morango em silêncio. Os outros conversam sobre a rota que meu avô irá fazer com o barco. Depois que todos saem da cozinha, fico sozinha lavando a louça.

Pego minha mochila e espero todos na sala de estar. Minha mãe ao descer as escadas me fita com olhos e apenas abaixo a cabeça. “Não conseguirei pedir desculpas á ela”, penso. David abre a porta e deixa todos passarem. Fico esperando no jardim David tirar a minivan da garagem. Então todos entramos no carro e vamos para o porto. Quando chegamos sinto um pouco de medo de andar de barco mas logo esqueço.

Meu avô mostra o barco com muito orgulho ao sairmos do carro, ele tem razão, o barco é grande, não é um transporte de luxo mas é lindo. Subo por último no barco. Entro na cabine e sento numa cadeira, tiro o iPod da mochila e começo a escutar música nos fones de ouvido. Fico mexendo no iPod até que percebo que tem alguém parado na minha frente. Levanto lentamente a cabeça e percebo que é minha mãe.

–Lucy, queria falar com você um minutinho.- diz ela calmamente.

–Mãe queria lhe pedir desculpas por ontem. Não sei o que aconteceu comigo, eu me descontrolei completamente, eu...- explico tirando os fones dos ouvidos.

– Tudo bem, não precisa se preocupar- interrompe ela- entendo que você ainda não tenha se adaptado ao divórcio mas preciso que encare isso como a forte Lucy que conheço ok?

–Está bem- respondo.

Minha mãe me abraça e acaricia meus cabelos ,permanecemos assim por mais alguns segundos e ela me leva para o convés onde David e vovó comem um bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Minha mãe e eu nos juntamos á eles. Percebo que o bolo foi feito pela vovó. Logo em seguida vovô para o barco e vem lanchar também. Conversamos e rimos de algumas histórias que David nos conta sobre sua vida no Texas. Acabo entendo o que minha mãe viu nele. Vou para a beira do barco ver onde estamos. O céu está aberto mas um vento de chuva passa.

Observo o mar infinito a minha frente e o sol por de trás de uma nuvem. Algo estranho acontece, sinto um pingo d’água em meu ombro esquerdo, me viro para ver se é apenas algo da minha cabeça e outro pingo cai mas dessa vez em minha mão. Saio dali e vou até meu avô que está conversando animadamente sobre uma história de quando ele subiu numa macieira do vizinho mas interrompo:

–Vovô está começando a chover é melhor voltarmos.

–É impossível, o céu está aberto, não há nenhuma nuvem.- explica ele indiferente e continua a contar sua história.

Depois de alguns segundos, o barulho de um trovão é soado e a conversa é interrompida. Meu avô levanta a âncora e começa a pilotar o barco de volta para o porto. Estamos muito longe mas há chances de voltarmos antes da chuva nos alcançar. Entro com minha mãe e minha avó na cabine enquanto David ajuda o vovô com o barco. Consigo ouvir as pancadas de chuva atingindo o convés e o barco começa a balançar muito. Meu coração dispara e me agarro á minha mochila. A chuva vai ficando mais forte a cada instante.

–Filha, vou lá ajuda-los. Fique aí com sua avó.- anuncia minha mãe.

–Não mãe, fique aqui.- digo segurando sua mão mas ela simplesmente me solta e sai da cabine.

Logo em seguida ouço um barulho ensurdecedor e vejo um clarão pela janelinha da porta. Tampo a boca para evitar um grito. O mastro simplesmente vai caindo em direção ao mar e junto com ele, alguns pedaços do barco, dividindo o barco ao meio. Por um momento fico em choque, mas então resolvo reagir. Coloco a mochila nas costas e saio da cabine.

–Mãe!-grito no meio da chuva mas um nevoeiro cobre a minha volta. Num canto do barco há um bote que está quase caindo no mar. Corro e o seguro. Arrasto-o até a porta da cabine e chamo minha avó. Ela sai com uma expressão de desespero.

–Lucy, temos que entrar no bote e seguir. Não dá mais tempo.- diz ela.

–Minha mãe, o David e o vovô...eles precisam de nós- aviso nervosa.

–Não dá mais Lucy-diz ela com lágrimas nos olhos e então me viro e vejo minha mãe caída. Morta. O balanço do barco a leva para longe. Tento caminhar até ela mas minha avó segura minha mão.

–Não!- é só isso que grito repetidamente enquanto minha avó me guia para dentro do bote.

De repente minha avó parece ser mais forte que eu. Pego os remos e começo a remar para longe da nuvem de tempestade e vejo o barco descendo até o fundo do mar. Continuo a chorar enquanto remo para longe dali até que a chuva para, aí paro de remar para descansar os braços. Minha avó continua com o olhar fixo no chão do bote.

–Vovó? – chamo.

–Ah sim.- responde ela.

– O que faremos agora?- pergunto.

–Tentaremos achar o porto mas é bem difícil porque não sei o caminho mas também podemos procurar ajuda o que é bem difícil.- completa ela. – Ficará tudo bem, Lucy.- diz ela enxugando minhas lágrimas.

Trago minhas pernas para perto de mim e as envolvo com meus braços e encosto o rosto em meu joelho. Fecho meus olhos e tento manter o equilíbrio. Fico assim por tanto tempo que meu pescoço dói. Levanto a cabeça e minha avó está remando e sussurrando algumas palavras para si mesma.

–Vovó, quer que eu reme agora?- pergunto.

–Sim querida.- responde entregando os remos a mim.

Continuo a remar na mesma direção. Observo minha avó fechar seus olhos e dormir encostada na sua mochila. Vejo no horizonte o sol se pôr. O céu se mistura em cores formando um arco colorido. Um arco-íris. Sorrio para mim mesma ao ver aquela cena. Após a tempestade num dia de verão vem sempre um arco-íris.


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