Para Sempre Nunca Mais escrita por GAS


Capítulo 8
Nicole


Notas iniciais do capítulo

escrito por ~~Browne



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Pov Nicole ~Segunda, 17/02

Não.

Isso não pode estar acontecendo.

Quero correr, fugir, gritar, quero voltar para casa, minha casa de verdade, minha cidade de verdade. Eu tinha realmente ficado com um professor? O que eu tinha na cabeça? A primeira vista já se percebia que ele era muito mais velho, mas mesmo assim eu resolvi dar uns pegas em um ‘tiozão’. Mas ah... Como havia sido bom. Que? Shiu! Cala a boca. Ele é um professor, Nicole!

Levanto meu caderno e tento cobrir ao máximo meu rosto, ele ainda não tinha me visto. Uma confusão terrível se formava em minhas reflexões. O que eu deveria fazer? Ele não saía da minha mente desde sábado, meus pensamentos não se organizavam e eu não consegui afastá-lo da minha cabeça nem mesmo por um minuto. Agora eu teria de vê-lo todos os dias. Como o trataria? Fingiria que nada aconteceu? E como ele reagiria? Largaria o emprego para ficar comigo? Ou pegaria mais pesado nas provas? Fazer avaliações diferentes para mim?

Meu deus, que merda.

– Está tudo bem? – acordo do meu choque com Clarissa virando-se para trás, ela provavelmente havia percebido que eu estava usando meus materiais praticamente como uma cabana para me esconder.

– Ahn... Sim... Na verdade estou me sentindo meio mal, deve ter sido o salgado que comi no intervalo. –hesito.

– Putz, quer ir à enfermaria? – Enfermaria? Mas assim eu chamaria a atenção do professor mais rápido, ele me expulsaria do colégio, minha mãe morreria de desgosto ao descobrir, meu pai cortaria seus pulsos, minhas irmãs ficariam órfãs e infelizes, Bin Laden retornaria e o mundo explodiria.

– Não! Enfermaria, não! – Clari arregala seus olhos verdes e supermaquiados – Quer dizer, - abaixo o tom de voz – não deve ser nada sério, já vai passar. – forço o sorriso.

– Você que sabe... – ela revira seus olhos e pega novamente o celular.

Arrisco e olho rapidamente para Antonio. Ele havia arrumado o cabelo em um semi-topete, usava um óculos estilo aviador e sua barba estava um pouco maior desde a última vez que tinha o visto. Todos os alunos estavam sentados, porém conversavam entre si enquanto ele organizava alguns papéis em sua maleta de professor. Ele interrompe o barulho falando:

–Bom, antes de começar a chamada, gostaria de saber se temos algum aluno novo este ano.

Ótimo. Era tudo o que eu queria. Levantar a mão e olhar no olho dele. Será que eu também deveria gritar algo do tipo “OI! TO AQUI. A GENTE SE BEIJOU LEMBRA? QUER QUE EU ANUNCIE MAIS ALGUMA COISA?!”.

–E então? Algum aluno novo no colégio? Por favor, falem agora ou calem-se para sempre. – ele insiste. Um garoto espinhento levanta seu braço, Antonio pergunta seu nome e lhe deseja boas vindas. Assim, eu levanto minha mão também.

– Também sou nova no colégio – digo. Ele olha para mim e fica em silêncio durante alguns segundos. Cerra seu olhar um pouco e logo percebo que me reconheceu. Ele arregala os olhos, mas tenta disfarçar. Encaro o resto da turma, mas ninguém parece notar sua expressão de surpreso/assustado/ou sabe se lá o que.

– E qual o seu nome? – ele finalmente pergunta após um silêncio que parece durar a eternidade.

– Nicole. Nicole Kim. – ele engole seco.

– Seja bem vinda Nicole. – ele diz retornando a expressão facial neutra e normal do início. – Que bom termos uma nova japonesa na sala. - meu coração aperta – Espero que goste do colégio – ele sorri e pega a lista de chamada

– Obrigada, mas na verdade sou descendente de coreanos. – digo. Mas ele já sabia disso. Um nó se forma em minha garganta e permanece até o final da aula.

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Assim que o sinal toca, anunciando o tão esperado final do primeiro dia de aula, eu sou uma das primeiras a me levantar e saio em disparada pela porta. Não dou ‘tchau’ para Clari, não encontro Mi, tento não esbarrar em ninguém até a saída. Pego meu mini long e deslizo o mais rápido possível. Desço a rua e logo chego à calçada que contornava a Lagoa inteira, algumas lágrimas brotam no caminho para casa quando me lembro da aula de química. Onde eu estava com a cabeça? Achar que ele seria legal, que se importaria. Mas não esperava que ele agisse de maneira tão babaca. E daqui pra frente como seria? Deveria falar algo? Ou estava sendo tola demais?

Sim, eu estava. Essa era a única resposta que eu sabia.

Sabe aquela bolha que eu citei antes? Cada um no mundo deve ter sua bolha. Alguns se sentem apertados demais, outros apenas ignoram a existência dela, alguns devem ser inteligentes o suficiente para estourá-la, mas havia aqueles que simplesmente não conseguiam se libertar dela. Já eu, ainda me sinto presa nela, mas agora parece que a minha bolha esta cheia d’água, e eu afundo no oceano enquanto luto para respirar.

Chego em casa mas resolvo subir pela floricultura. Tínhamos uma escada no fundo da loja que nos dava acesso ao apartamento. O sino que havia atrás da porta, anuncia minha chegada e sinto o aroma suave e doce das flores.Meu pai estava atendendo um casal de clientes, passo por ele, o beijo na testa e subo rapidamente as escadas.

Na sala minha mãe dormia no sofá com a TV ligada, minhas irmãs gêmeas de 4 anos estavam na escola, portanto só as veria à noite. Almoço a sobra d macarrão e vou para meu quarto.

Duas novas solicitações de amizade no Facebook fazem meu coração acelerar. Será que o Toni havia me adicionado para falar a sós comigo? Pegou meu nome da lista de chamada e me adicionou para pedir desculpas por seu comportamento. Meu deus, como ele era querido. Logo, clico no botão e me decepciono. ‘Clarissa Melo’ e ‘Rafael Melo’ desejam te adicionar como amigo. Droga. Rafael? Bom, pela foto e sobrenome igual ao de Clari, deveria ser o irmão dela. Adiciono ambos sem muita animação e logo minha mãe entra no quarto.

– Oi querida, como foi o primeiro dia? – ela pergunta sorrindo.

– Mãe, quando você esta com algum problema como faz para se sentir melhor e afastar as coisas ruins da cabeça?

– Nossa. Tão ruim assim? – ela ri. Continuo séria e o sorriso dela se desmancha. Não queria ser grossa com ninguém, mas o dia realmente não estava um dos melhores.

– Olha Nicole, acho que na sua idade quando eu não estava muito bem, a única coisa que afastava os problemas era nadar.

– Oi?

– Natação, filha. Da mesma forma que você tem seus passatempos eu também tinha os meus. – ela pisca para mim e sai do quarto.

Certo. Quais eram minhas paixões?

Sem dúvida uma delas era a dança. Em Porto Alegre, nós morávamos no Centro e bem próxima a nossa casa havia uma academia de dança. Desde que me conheço por gente eu já fazia aulas lá. Minha mãe me matriculou no balé, mas não deu certo. Tentei dança do ventre, sapateado, tango. Sim. Tango. Mas estilo de dança que eu mais pratiquei foi o Jazz, mesmo assim eu sentia que devia tentar mais alguma coisa. Aos 11 anos entrei para o Hip Hop e aí sim acertei em cheio. Já com experiência em outras danças, eu tinha a flexibilidade necessária, o equilíbrio exato e o ritmo ideal para acompanhar e inclusive me destacar dentre os demais alunos. Antes de me mudar para o Rio, meu professor tinha me chamado para dar aulas para a classe sênior.

– Nikki, você tem avançado cada vez mais e eu conversei com os demais professores e todos concordam que você tem capacidade de ser coreografa e auxiliar nas aulas da classe sênior.

Lembro-me perfeitamente dessas palavras saindo da boca dele. Não sei o que foi mais marcante. A felicidade que eu senti quando meu professor me disse isso, ou a tristeza de ter de recusar a proposta, pois iria me mudar.

A única coisa que eu era melhor que dança, era futebol. E está ai: a minha outra paixão. Jogar futebol era como uma dança. Mas uma dança que eu não poderia praticar dentro da academia. Era conduzir uma bola com cuidado e estratégia. Era simplesmente incrível.

Então pronto. Amanhã mesmo eu iria me inscrever para os testes do time do colégio e procurar algum lugar para dançar. Mas principalmente o futebol. Isso me animava. Obrigada mãe, você mais uma vez estava certa.

Sexta tinha balada, eu teria o futebol e já estava criando amigos. Que se foda química. Não estou nem aí. Estava tudo bem. Tudo ótimo, na verdade. Meu astral nunca esteve tão alto. A vida é linda, meu deus.

Meus pensamentos são interrompidos com o barulho de notificação no Facebook, confiro sem muitas esperanças e então um tsunami de emoções invade meu coração e eu quase caio da cadeira. Uma nova mensagem de Antonio Spinkefold:

“Precisamos conversar. Mas tem que ser ao vivo.”


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=VEpMj-tqixs - momento que ela está voltando para a casa.



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