Para Sempre Nunca Mais escrita por GAS


Capítulo 3
Yasmin




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POV YASMIN ~ Segunda, 17/02

Depois de três longas aulas de exatas, o sinal do intervalo toca e eu levanto da minha carteira. Com o canto do olho, noto que Felipe está me olhando, como se esperasse algum tipo de interação.Me viro para ele e sorrio, ele retribui o ato. Logo, um grupo de meninos da minha sala chegam nele e começam a conversar, querendo saber tudo sobre ele.

Fico um pouco decepcionada, mas aceito o fato que meninos tem que andar com meninos e nós acabamos de nos conhecer. Alem do mais, tem a Pamela e eu não posso abandona-la.

Desço as escadas e sento nos banquinhos do pátio do colégio. Não demora muito para Pamela se juntar a mim.

–Como foi?- pergunto.

–Horrivel. Não quero nem falar disso.

–Nossa, tão ruim assim?

–Pois é. Só quero ir pra balada sexta e esquecer disso tudo.

–É verdade.- minto. Tinha uma coisa que não queria esquecer.

–Odeio ir pra escola, sabe. É um saco.

–Sim, eu to muito entediada.- minto de novo. Yasmin Maria é uma mentirosa.

–Mas e ai, tem alguém novo na sua sala ou algo assim?

–Tem sim, um menino.- digo, piscando para ela.

–Ah. Puxa.- suspira Pamela. Nunca entendi por que, mas Pamela não fica muito ansiosa quando falo de meninos. Ou quando qualquer um fala de meninos, pra falar a verdade. Quer dizer, no fundo no fundo ela adora falar sobre isso, mas se sente muito insegura por que ela acha que nunca terá um namorado. Eu já havia falado com ela sobre isso, foi um dos dias mais marcantes da minha vida. Sabe, quando alguém não demonstra interesse nenhum pelo sexo oposto, você começa a pensar merda. Mas fiquei feliz que ela foi tão sincera comigo. Acho que eu também seria, se tivesse a aparência de Pamela

–Mi!- escuto alguém chamar. Me viro e vejo Nicole andando em nossa direção.

–Oi Nikki.- digo, me levantando para abraçá-la – Em que sala você ta?

–No segundo D. Até que to gostando do colégio sabe.

–Isso não vai durar muito. –rio. –Ah, Nicole, essa é Pamela.

–Oi.- disse Pamela.

–Oi. Você ta na minha sala.- Nicole não parecia ter notado o tem de grossura na voz de Pamela. Deus, por que essa menina tinha que ser tão ciumenta?!

Nesse exato momento o sinal toca e eu sinto uma onda de alivio. Puxo Nicole para o lado e sussurro em seu ouvido:

–Preciso falar com você depois.

–Ta, eu entro no face.- ela responde.

–Beleza.

Entro na minha sala e sento no mesmo lugar, com Felipe ao meu lado.

–Oi.- ele sussurra.

–Oi.- sorrio, feliz por que ele resolveu puxar assunto comigo. -Eu vi você no recreio.

–Eu também te vi. Estava com uma amiga.

–Tava. Você tava com uns meninos da sala.

–Pra falar a verdade... Eu não gostei muito deles.

–Serio?- não sei por que, mas estou surpresa.

–Sim.

–Bem, você vai andar com quem, então?

–Ainda não sei.

–Ei, Kamal.- escuto alguém falar. Felipe se vira para um menino ao seu lado e gesticula para que ele fale o que quer. – Ta curtindo a Guimarães ne?

Finjo que não escuto o comentário. Felipe não responde a pergunta, pelo menos, eu não ouvi a resposta. Ele se vira para mim de volta e revira os olhos, murmurando algo que não entendi.

–Kamal?- pergunto.

–Meu sobrenome.

–Isso é o que? Árabe?

–Hindi.

–É mesmo?

–Sim.- ele sorri.

–Nunca conheci alguém com sobrenome híndi na minha vida.

–Meus pais nasceram na Índia.

–Serio? Que legal!

Ele ri e passa a mão pelo cabelo, então diz:

–Não pude deixar de notar que você pinta aquarela. Eu vi a sua pasta, antes que você pergunte.

–Pinto sim.

–São muito bonitas, serio.

–Acha mesmo?

–Sim. Você tem futuro.

–Obrigada.

–Eu também desenho, mas outro tipo de coisa.

–Que tipo de coisa?

–Desenhos religiosos, pra falar a verdade. Faço para o meu templo e para os altares de meditação.

–Nunca tinha visto isso antes. Parece ser muito legal!

–Um dia eu te mostro meu trabalho, se quiser.

–Claro que eu quero!

–A gente combina um dia então.

–Pode ser. Você tem celular?- Felipe me olha com uma cara confusa, afinal todo mundo tem celular. Mas quando você convive com a Pamela, que tem um V3 cor-de-rosa, é difícil voltar ao mundo moderno, em que cada ser tem facebook e um telefone bom.

–Tenho sim.- ele anota um numero em um papel e me entrega.

–Eu te chamo por whats, ou por face.

–Ta bem.- ele sorri.

Desvio o olhar e volto a escrever em meu caderno, mas com o canto do olho noto que ele está me encarando, como se observasse um quadro em um museu.

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O ultimo sinal do dia toca e eu solto um suspiro de alivio. Guardo minhas coisas e saio da sala. Eu sempre espero por Pamela no portão do colégio, para andarmos juntas para casa, mas hoje ela está demroando demais. No inicio fico preocupada, mas então me lembro da vez que eu quase fui declarar a Pamela como desaparecida na policia e no final ela só tinha ficado de castigo na diretoria por tentar enganar a tia da cantina. Por sorte a historia não se espalhou, mas garanto que um monte de gente ia rolar de rir ao saber que uma menina tentou usar dinheiro do Banco imobiliário pra pagar um pão de batata com catupiry.

Decido andar para casa sozinha, quebrando a tradição. Mas se eu esperasse muito mais, meus pais ficariam preocupados. Eles são do tipo que manda 17 mensagens quando você ta passando a noite na casa de uma amiga.

La pela metade do caminho, resolvo olhar para trás e adivinha quem estava lá.

–Você ta me seguindo?- pergunto, desconfiada.

–Na verdade, eu moro aqui perto.- diz Felipe.

–Serio? Eu não te vi hoje de manhã.

–Eu peguei outro caminho de manhã. Desculpe se pareci meio stalker.

–Pareceu mesmo, mas eu perdôo.

–Perdoa é?

–Claro.- espero ele vir mais perto para podermos andar juntos. – Onde mora?

–Naquele prédio ali.- ele aponta para trás.

–Mas a gente já passou da sua casa!

–E que tipo de homem seria eu, deixando uma dama andar sozinha pelas ruas?

–Que cavalheiro.

–Demais. Você mora muito longe?

–Na verdade, -digo, parando. –É aqui.

–Certo. Foi uma honra caminhar com você, Yasmin.

–Igualmente. – levanto meu vestido imaginário.

–Então... A gente se fala?- percebo que ele esta ansioso pra falar comigo e provavelmente queria que eu ficasse mais tempo caminhando, mas como já disse, meus pais são super preocupados.

–Claro. Até depois.

–Até.- ele se afasta de mim sem olhar para trás.

Abro o portão do prédio e quase tenho um ataque do coração.

–Eu vi tudo!- disse Luana, minha irmã, que aparentemente estava me espiando pela “cazinha” do porteiro.

–Viu o que?- pergunto, tentando passar.

–Você e aquele menino! Qual o nome dele? Vocês estudam juntos? Ele mora aqui perto?

–Felipe. Sim. Sim.

–Ai que coisa fofa! Minha irmãzinha e seu primeiro namoradinho.

–Que namoradinho, Luana! Eu tenho 16 anos! A gente nem namora!

–São “só amigos”? – ela pisca para mim.

–Me deixa em paz.

–Uia, desculpa. Só queria falar que mamãe e o papai vão chiar.- ela faz cara feia para as suas unhas recém-polidas.

–Chiar?

–Uhum.

–Do que você ta falando?

–Bom, você sabe, tipo, o papai liga muito pra estatus social.

–O Felipe não é favelado, Luana.

–Não to falando de dinheiro.

–Então eu não faço a menor idéia do que você está falando. Na verdade, eu nem sei por que eu to discutindo isso com você. Eu e o Felipe nem estamos juntos.

–Um dia você vai entender.- ela revira os olhos.

–Você não tem nada melhor pra fazer?

–Minhas aulas ainda não voltaram, então não.

–Vai se catar.- empurro ela do meu caminho e entro no elevador para chegar ao apartamento.

–Que bela maneira de tratar sua irmã!- escuto ela gritar entes das portas se fecharem.

Respiro fundo e observo os números mudarem conforme o elevador sobe. 14... 15... 16... até parar no 17. Sim, eu moro num dos últimos andares.

–Mãe, cheguei!- digo, ao entrar.

–Eu fiz macarrão! Ta na panela!- grita minha mãe. Ela provavelmente estava digitando uma crônica.

–Ta bem!- grito de volta.

Faço meu prato e assim que sento na mesa, o telefone fixo toca.

–Atende pra mim, Mi!- grita minha mãe.

Levanto e mordo os lábios, era um saco ser interrompida da hora do almoço.

–Alô?- chamo.

–Bela amiga você, hein, Yasmin.

–Pamela?

–Isso mesmo.

–Do que você ta falando? Por sinal, eu fiquei tipo, uma eternidade esperando você no portão hoje! Onde você estava?!

–Eu fui na secretaria mudar de sala.

Sabe quando você sente quase literalmente a ficha caindo? Então. Eu me lembrei que tinha prometido a Pamela que iria com ela ate a secretaria.

–Ah.

–É.

–Desculpa, eu esqueci completamente.

–Muito legal da sua parte.

–Desculpa, Pamela. Eu me distrai.

–Garanto que foi andando com a Nicole, ne?

–Oi? Não! Daonde você tira essas coisas?

–Então foi com quem?

–Sozinha!- minto. –Desculpa, Pamela. Eu esqueci, mas pode perguntar pra qualquer um! Eu esperei um tempão por você.

–Hm.

–Eu esperei mesmo!

–Ta.

–Ei, calma, eu não fiz por mal.

–Ta. Eu vou sair do telefone. A gente se fala amanha.- ouço ela bater o telefone com força e respiro fundo. Um dos defeitos de Pamela era achar que tínhamos que fazer tudo juntas, literalmente. As vezes eu precisava de um pouco de independência dela, mas ela não percebia isso.

Depois de comer e lavar a louça, vou para o meu quarto, ligo o computador e entro no facebook. Digito “Felipe Kamal”na caixa de pesquisa e me deparo com uma foto dele coberto completamente em pó vermelho.

Normal.

Envio uma solicitação de amizade e começo a stalkear. Ele tinha muitas fotos tiradas em São Paulo e algumas em Nova Deli. Um álbum intitulado “Festival Holi”chamou minha atenção. Tinham varias fotos de pessoas jogando pó de diversas cores umas nas outras. Todas sorrindo muito e se divertindo.

O computador apitou para indicar que a solicitação foi aceita e logo em seguida, apitou de novo, uma nova mensagem.

Felipe Kamal: Oi

Eu: oi

Felipe Kamal: Gostou da minha foto de pó vermelho?

Eu: pois é hahah

Felipe Kamal: É um festival q tem na Índia. Eu vou com minha família todo ano.

Eu: parece ser muito legal

Felipe Kamal: Mas eai, q dia posso mostrar-lhe minhas obras de arte?

Eu: eu posso qlqr dia

Felipe Kamal: Pode ser Quarta?

Eu: acho q sim, se n for ate mto tarde

Felipe Kamal: Beleza

Eu: ah, e vc ta livre sexta?

Felipe Kamal: To sim, quer ir sexta?

Eu: n, n é por isso, vc quer ir numa balada?

Felipe Kamal: Olha p falar a vdd eu nunca fui mt fã de baladas.

Eu: achei q era a unica!

Felipe Kamal: Hahaha desculpa

Eu: n, td bem. quem sabe a gente faz outra coisa.

Felipe Kamal: Ok ;) tenho q sair, aula de kung fu

Eu: kung fu?

Felipe Kamal: Sim. Bjsss ate dps

Eu: bjs

Outro chat se abre quase instantaneamente, dessa vez é Nicole.

Nicole Kim: oq tinha pra me falar?

Eu: ta, eu vo conta do começo. eu conheci esse menino novo na minha sala, o felipe. e tipo, rolou um certo "clima" entre a gente e nos vamos sair quarta.

Nicole Kim: que bom!

Eu: enfim, eu precido da sua ajuda. Quero q vc arranje algm para a Pamela.

Nicole Kim: pamela? aquela gordona?

Eu: é

Nicole Kim: cara...

Eu: por favorzinhooo

Nicole Kim: mas pq eu faria isso? Ela me odeia.

Eu: por mim s2

Nicole Kim: ta... eu vou dar uma conversada por ai, mas n garanto nada.

Eu: valeuuuu. vou sair, bjs

Nicole Kim: bjs

Desligo o computador, deito na cama e penso na vida. O ano mal havia começado e eu ja tinha mais de um problema nas costas. Mal posso esperar pra ser adulta e não ter que me preocupar com notas, festas e popularidade.

E tinha o Felipe... Eu gostava do Felipe? Será? Admito que ele não saia da minha cabeça e que eu ficaria com ele... Tinha algo tão especial naquele olhar e naquele sorriso. Só não sabia ao certo o que era.

Também estava preocupada com Pamela, ela andava meio esquisita ultimamente. Tinha medo de ela não conseguir o que queria e botar a culpa em mim, ou pior, em si mesma.

Queria esvaziar a mente um pouco, peguei meu violão e comecei a tocar.

"Algum dia eu vou desejar à uma estrela

Acordar onde as nuvens estão

Onde problemas derretem como balas de limão

Acima das chaminés é onde você me encontrará

Em algum lugar além do arco-íris pássaros voam

E o sonho que você sonhar eu sonharei tambem

As cores do arco-íris tão bonitas no céu

Também estão no rosto das pessoas que passam

Eu vejo amigos apertando as mãos

Dizendo, "como você está? "

Estão realmente dizendo eu... "Eu te amo"

Eu ouço bebês chorando e vejo eles crescerem

Eles aprenderão muito mais

Do que sei. Ei ei..."

Era uma adaptação da musica "Somewhere Over The Rainbow" que eu havia feito ha algum tempo. Tocar violão me deixava relaxada e mais calma.

E eu precisava mesmo relaxar...


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Notas finais do capítulo

espero que gostem!
~vvega
musica do capitulo: https://www.youtube.com/watch?v=PhAmqTuzSe8



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