Para Sempre Nunca Mais escrita por GAS


Capítulo 17
Yasmin - balada parte II




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–O que?!- estou chocada mais pela ridícula afirmação que com a possibilidade de ser verdade.

–Isso que você ouviu.- ela sorri e da uma risada maldosa.

Saio da frente de Pamela, bufando de raiva, ultrajada, ofendida e traída. Como ela pensa nessas coisas?! Que vadia! Meu, o TONI, professor de química?! Admito que ele não é feio, mas mesmo assim, ele tem uns 15 ou vinte anos a mais que nós, sem falar que ele é professor. Alem do mais, Nikki não faria isso, pelo menos não sem falar comigo ou me contar.

Volto a procurar meus amigos, especialmente Felipe, que eu deixei la fora. Deixo o ICE na mesa e me sinto um pouco tonta com as luzes de strobo da balada. Alguém me da uma cotovelada no braço que me faz gemer baixinho. Quanto mais penso na alegação de Pamela, mais absurda ela parece.

Entro em um corredor escuro, para me afastar do barulho, minha cabeça doía mais. “E se for verdade?”, penso. Bem, o fato que a Pamela ficou sabendo antes de mim me deixaria muito chateada. Eu conto tudo para Nikki, somos melhores amigas desde sempre. Ela me contou seus mais íntimos segredos. Eu lembro quando a gente tinha perdido o BV, que foi o maior alvoroço e tivemos uma conversa em que rimos e falamos de como foi. Uma contando mais vantagem que a outra. Eu me lembrava até da semana antes de começarem as aulas, em que fomos pra balada juntas.

–O QUE?- escuto uma voz masculina gritar. Ela me parece familiar. Ando mais um pouco no corredor escuro, com a mão na parede pra me guiar.

–Shhhh, fala mais baixo, Rafa! Puta que pariu, meu!- é a voz de Nikki. Rafa? O Rafael que ela tinha me apresentado naquele dia? Nossa, eles já tão juntos? Que bom pra Nikki, Não vou atrapalhar.

Quando me viro pra ir embora e deixar os dois a sós, escuto Rafa dizer:

–Eu tive aula com ele... Não sei o que pensar.

Congelo. Fico escondida no escuro do corredor.

–Pois é... Eu não sei o que fazer... Na aula ele é um filho da puta comigo, mas a gente se encontrou esses dias e ele tinha falado que gostava de mim de verdade e a gente até ficou de novo.

–De novo? Você sabe o que pode acontecer se alguém descobrir?!

–Sei sim, Rafa! Eu não sei mais o que eu faço! Me ajuda por favor!

–Quem mais sabe?

–Só você.

–Já pensou em contar pra alguma amiga?

–Já, mas elas não iam entender.

–Isso é bom... Eu não vou contar pra mais ninguém.

–Certo.

–Cara... O Toni, eu nunca mais vou olhar pra ele do mesmo jeito.

–Shhhh! Não fala o nome dele!

Dou um empurrão na parede e saio correndo, lagrimas borrando toda a minha maquiagem, minhas pernas tremendo e minha respiração ficando pesada. Ah não, eu tava tendo um ataque de asma, estava entrando em pânico. Paro um momento para recuperar o fôlego, quase tropeço e viro o pé de um jeito bem feio.

Preciso achar a Pamela.

O gelo seco da pista de dança me deixa tonta, eu estou chorando tanto que não consigo puxar o ar. Um homem mais velho me pergunta se está tudo bem, eu grito ao ver seu rosto: Era o Toni. Ele estava aqui. Outro homem se vira pra mim, ele também parece o Toni, todos a minha volta parecem o Toni, tem a mesma voz, a mesma altura. Eles me encaram fixamente, sorrindo, falando as coisas mais horríveis, “Eu comi a puta da sua amiga”, “Ela não confia em você, sua vadia.”, “Ela escolheu dar pra mim e contou pra todo mundo menos você”, “Morra, Yasmin.”

Minha visão fica borrada, eu pisco varias vezes e o rosto do Toni se desmancha, revelando o homem que se preocupou comigo.

–Estou bem sim.- minto. Ele volta à pista de dança. Eu estava ficando maluca, eu estava tendo alucinações pela falta de ar.

A voz de Nikki ecoa em minha cabeça, “Já, mas elas não iam entender.” Eu não estava bem antes, agora eu sentia que ia passar muito mal. A dor emocional, física, a falta de ar e a tontura desencadearam tudo isso. Eu nunca devia ter vindo nessa balada. Devia ter ficado em casa com o Felipe. Oh meu Deus, preciso achar o Felipe, ele vai saber o que fazer.

–Yasmin?- é a voz de Pamela. Sinto que vou vomitar, mas consigo me segurar.

–E-eu.- tento dizer, mas a falta de ar dificulta tudo.

–O que aconteceu?! Parece que você vai desmaiar!

–V-você tava certa!- sinto gosto de bile e acido na boca ao cuspir as palavras.

–Estava?- o sorriso de Pamela me deixa ainda mais enjoada.

–A N-Nikki, é verdade.- soluço e seguro meu peito, sentindo uma dor aguda.

–Calma, Yasmin, vai ficar tudo bem.

–Ela m-mentiu pra mim, Pamela.- sinto que já consigo falar, -Eu não acreditei em você, mas era verdade. Ela mentiu.

–Shh, calma, eu to aqui pra você.

–Eu s-sei. Obrigada, Pamela. Como ela pôde fazer isso?!

–Tem gente que não presta Yasmin, mas eu to aqui pra você- ela me olha nos olhos.

–S-sim.- correspondo o olhar, tentando voltar a respirar direito – Obrigada, Pamela.- solto outro soluço alto e choro mais do que nunca, as lagrimas escorrem direto.

Pamela se aproxima e me abraça, um abraço apertado demais pra minha condição de falta de ar.

Ela não me solta por um bom tempo. Eu não sei ao certo como descrever o que aconteceu depois, só lembro de abrir a boca para falar algo e de sentir algo melado cobrir e fechar minha boca. Como eu estava de olhos fechados, não pude ver a cena, mas quando os abri, percebi o que havia acontecido. Nesse momento estava tão chocada que não conseguia me mover, não conseguia respirar nem enxergar direito. Sei que devo ter voltado a respirar por reflexo, por que estava ofegante. Assim que tomei noção do que havia acontecido, coloquei minhas mãos no peito de Pamela e a empurrei com força.

Eu e Pamela tínhamos nos beijado. Melhor, Pamela me beijou. A frase parecia tão estranha na minha mente que eu tive que repeti-la varias vezes.

–O- o que aconteceu?- balbuciei.

–Eu fiz o que sempre quis fazer, Mi.- Pamela sorri. Eu não sei se o fato de eu ter demorado um tempo pra empurra-la indicou, na sua cabeça que eu havia correspondido.

–Do que você ta falando?- a tontura volta.

–Eu sempre gostei de você, Yasmin.- seus olhos se enchem de lagrimas, ela deve ter percebido que eu não estava gostando da situação.- Dês daquele dia na quinta serie, em que você me deu uma flor e disse que seriamos melhores amigas pra sempre. É por isso que eu não gostava da Nikki, do Felipe. Eu quero você só... Pra mim.

–P-pamela...

–Não precisa dizer nada, essa éa hora da verdade. Eu gosto de você de verdade,Yasmin. Gosto demais pra ver você andar com outros, beijar outros. Eu choro, Yasmin. Eu já chorei por você. Por gostar de você e você não gostar de mim.- ela se aproxima para dar outro beijo, mas eu dou um passo pra trás, tentando me recompor.

–Pamela...E-eu não sei. Eu...

Pamela começa a soluçar e gritar, chorando quase tanto quanto eu.

–Por que eu não posso ter alguém que me ame? Por que eu tenho que ser assim? Por que eu não posso ser bonita, que nem você? Inteligente que nem você? Legal como você? Por que eu não posso ter você?- ela se joga pra cima de mim mais uma vez, tentando me agarrar, mas eu dou um tapa em seu braço.

–Eu...

–Olha o que eu faço! Olha o que eu faço por você, Yasmin!- Pamela vira seu braço e mostra uma serie de cortes enfileirados. Não consigo contar quantos são por que enxergo vários pontos negros, mas definitivamente são mais de vinte, trinta talvez.Coloco a mão no ombro dela e a abraço, sinto suas lagrimas molharem meu vestido. Olho para cima, como se pedisse ajuda. Ajuda de quem? Ajuda divina? Ajuda dos meus pais? Não tinha ninguém aqui pra me ajudar. Eu estava sozinha.

Com o canto do olho, percebo que alguém estava observando tudo a distancia.

Assim que ele percebe que eu o vi, sai correndo, percebo que ele está extremamente magoado pelo que viu. Ele deve ter visto o meu beijo com a Pamela, eu abraçando ela, tudo. Largo Pamela e vou atrás dele, grianto seu nome e pedindo desesperadoramente para que ele pare.

–Felipe!- parece um pesadelo, o som não sai de minha boca direito, como se eu estivesse sendo enforcada, já virei o pé umas três vezes, mas não faço nada a respeito, um pé torcido é a menor das minhas preocupações. Sinto que estou tendo alucinações de novo, já é a terceira vez que eu respiro por reflexo, minhas pernas latejam, desesperadas para que eu pare, meu coração está a mil, tentando suprir as necessidades do meu corpo. As pessoas a minha volta parecem ser feitas de papel, como vários bonequinhos. Uma mulher que gira na pista de dança começa a se desfazer, seguida por aplausos dos outros bonecos de papel, que começam a murchar e balançar de um lado para o outro. As luzes da balada quase me cegam, uma mais forte e mais colorida que a outra, piscando repetidas vezes.

“Morre Yasmin.”

“Olha o que eu faço por você.”

“Você é egoísta, Yasmin.”

Grito ao ver a imagem de Pamela a minha frente, ela está segurando seu braço todo ensangüentado, cuspindo sangue e sorrindo, como se finalmente estivesse feliz. “Quem sabe lá eu terei uma chance melhor”, ela se vira pra mim. Nikki está do seu lado, rindo tanto que segura sua barriga, com Toni segurando uma faca ao pescoço dela e segurando-a por uma coleira. O pescoço de Nikki está inteiro roxo e vermelho, enquanto ela ri. No meio de tudo isso, enxergo minha mãe, parada lá. “Estou muito decepcionada com você, Yasmin. Você não me obedeceu, você continuou saindo com ele.” De trás da minha mãe vejo Felipe, com o rosto desfigurado e roxo. “Você me enganou, Yasmin.”, ele diz, “Eu confiei em você.” Solto um grito de desespero, sem saber a quem acudir primeiro. Corro até todos, que evaporam, como uma fumaça.

Fico parada, em choque, chorando, desesperada. Era tudo uma alucinação.

Mas era o que eu sentia.

Pisco varias vezes e tento respirar mais rápido para ver claramente, quando as luzes param de piscar, volto a correr, ou melhor, cambalear.

Vejo que Felipe atravessou a rua da balada. Eu saio e me afasto da musica alta. Ele se vira para me encarar, com expressão de raiva.

–Felipe!- me engasgo com as palavras, parece um gemido fraco, mas que pode ser ouvido.

Piso fora da calçada e caminho em direção a ele, mancando por causa do meu pé, chocada pelas visões e traumatizada pelo que aconteceu. Tudo que sei é que o tempo pareceu passar mais devagar, eu vi a expressão de Felipe ir de raiva para terror, vi os faróis do carro se aproximando, senti minha traquéia se fechando. A única coisa que me restou fazer foi levantar os braços enquanto escutei Felipe gritar.

Apaguei.


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Notas finais do capítulo

~vvega
musica do capitulo: https://www.youtube.com/watch?v=-UoGLLnzlwk



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