Para Sempre Nunca Mais escrita por GAS


Capítulo 13
Nicole


Notas iniciais do capítulo

escrito por ~~Browne



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POV NIKKI ~ Quinta, 19/02

– Por que você não olha por onde anda?! – Pamela bufou fazendo movimentos com a cabeça. Talvez o objetivo fosse imitar uma garota metida americana, mas o resultado mais pareceu como se ela tivesse um estranho tique nervoso ou como se a cabeça dela fosse uma estranha ameba, pois a banha do pescoço de movimentava de maneira nojenta.

– Não precisa ser grossa. – exclamei tentando desviar dela enquanto limpava as poucas lágrimas que haviam escorrido, não queria que a gorda crente visse, ela provavelmente acharia que eu estava chorando por sua causa sendo que a única situação que me imagino chorando por causa de Pamela seria de tanto rir.

Tento seguir meu caminho, mas ela continua bloqueando minha passagem. Não que seja muito rápida nos reflexos, a ponto de ir exatamente para o lado que eu vou, mas é que era só ela continuar parada que seu tamanho bloqueava quase o corredor inteiro.

– Você esta com algum problema comigo? – pergunto a encarando.

– Na verdade, vários. – ela me olha de baixo a cima.

– Certo. Diga-me quais então. Além de me encarar todos os dias. Faz isso por quê? Se quiser apreciar como é ser magra e bonita, posso te dar uma foto. – ela fica boquiaberta com minha resposta. Empurro-a e sigo correndo escada a baixo. Não que eu me ache realmente muito magra e bonita, mas dizer algo que abaixe mais ainda sua moral era a única forma de poder sair do colégio sem ter que começar uma discussão de verdade.

Magra e bonita. Nossa, Nicole, como você era cruel. Coitada da menina. Mas se bem que ela já te odiava mesmo... Se era sem motivos, ao menos agora ela tem um.

Chego em casa e minha mãe está lendo um livro de haikais no sofá. Não digo nada quando entro na sala, apenas analiso. Nossa casa era realmente alternativa. Todas as cores ornavam, era basicamente tudo na mesma combinação: vermelho, preto, branco e creme. Nada fugia muito destes tons. A parede era banca da metade para cima, a outra metade possuía detalhes creme, eram listras paralelas, muito tradicionais, segundo meu pai. Por toda a casa nós tínhamos quadros com escritas coreanas em preto e todos os nossos lustres e tapetes eram vermelhos. Minha mãe era extremamente perfeccionista em relação à decoração do apartamento, o que fazia com que eu levasse mais bronca que o normal quando se tratava de organização.

– Oi mãe. – digo interrompendo sua leitura.

– Oi Ni. – ela sorri. – Seu pai está te esperando na floricultura. Coma algo e desça lá.

– Tudo bem. – pego uma maçã na cozinha e já desço as escadas dos fundos, abro a porta e saio logo atrás do balcão da loja. Meu pai, já de avental, abria a caixa registradora enquanto um cliente saía satisfeito com suas tulipas vermelhas. – Oi pai!

– Filha! – ele me abraça. – Finalmente chegastes para me ajudar. Olha, vou precisar deste favor seu hoje, pois tenho que comprar uma louça nova para a casa, aí aproveito e já vejo o que está faltando no apartamento e reponho também.

– O que aconteceu com nossa louça?

– Se quebrou na mudança. Fui desempacotar uma das últimas caixas hoje e só havia cacos de vidro. Sua mãe ficou arrasada.

– Eu imagino. – digo.

– Ah, e são 15h, às 18h preciso que busque suas irmãs na escolinha. - Ele retira o avental e o põe no meu pescoço. O sininho da porta de entrada apita quando ele sai da loja.

Sento-me no banquinho atrás do balcão enquanto não aparece nenhum cliente novo. A loja era pequena, e ficava menor ainda quando estava lotada de flores e plantas. Olho para cima e observo as samambaias que ficavam penduradas e giravam quando batia vento. Sobre o balcão estavam as plantinhas carnívoras, minhas preferidas. O restante da loja era todo misturado e colorido, meu pai não tinha método de organização para as flores, mas era impressionante como ele sabia exatamente onde estava cada uma delas.

Ao longo da tarde, atendo em média 15 ou 20 fregueses, movimento normal considerando que não havia nenhum cemitério muito próximo a loja. Às 17h30 meu pai retorna e eu saio apressadamente para buscar Luiza e Lia na escolinha. O colégio delas era mais longe que o meu, portanto eu pegava um ônibus para buscá-las quando era preciso. Chego lá e elas já me esperam na porta da escola, cada uma com sua mochila nas costas. A mala delas era o dobro de seu tamanho, mas como eram leves eu não me preocupava quanto a isso.

– Nikki! – as duas gritam em coro e agarram minhas pernas. Meu deus, elas eram tão fofas que pareciam retiradas de desenho animado. Não quero que minhas irmãs cresçam.

– Oi brotinhos! – as abraço e me direciono ao ponto de ônibus segurando uma em cada mão. Demora mais ou menos uns 40 minutos até estarmos em casa, devido à demora do ônibus e ao transito terrível. Já sofríamos com isso em Porto Alegre, então não me incomodo muito.

No jantar conto que realizarei o teste para o time de futebol e minha mãe fica muito feliz, provavelmente meus pais haviam comentado entre si que perceberam minha falta de ânimo ultimamente, eu não fazia por mal, mas as vezes era inevitável, principalmente quando Toni vinha à minha cabeça.

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Sexta, 20/02

Acordo com meu celular vibrando 5 minutos antes do despertador. Clari havia me mandado um sms me chamado para me arrumar na casa dela hoje. Me arrumar? Ah, sim. Hoje à noite tinha festa. Visto minha roupa para o colégio e já coloco na mochila um vestido, provavelmente eu iria direto depois da aula para a casa de Clari.

Escrevo um bilhete para minha mãe e penduro na geladeira, de qualquer forma, eu ligaria durante o dia. O fato de ter balada estava me animando cada vez mais, primeira festa de verdade que eu iria aqui no Rio de Janeiro e não seria uma festa qualquer, seria uma festa na Cave.

A Cave era uma nova casa de festas da Zona Sul, era lá que ocorriam as baladas mais alternativas. O som era basicamente Indie Rock e às vezes um ou outro remix tocava, as pessoas iam vestidas com camisetas de quadrinhos e todo mundo era extremamente estiloso. Mas a melhor parte, que fazia com que a Cave fosse diferente das demais baladas, era que por ser na beira da praia, ao amanhecer, o som era desligado e a festa continuava na areia. Todos tiravam suas roupas e iam nadar ou usando apenas roupas de baixo, ou sem roupa alguma.

Imaginar como seria hoje a noite fez com que as três primeiras aulas passassem mais rápido que o normal. No intervalo, quis falar a sós com Yasmin, para alertá-la de que nem havia pensado em alguém que se sacrificaria, quer dizer, que beijaria a Pamela.

Puxo Mi para contar a ela, mas Pamela, que por sinal, era um grude com a Mi, veio junto. Para disfarçar, fingi que ainda não tinha desistido de arranjar alguém para a gorda estranha:

––Então, eu to tentando arranjar alguém pra você- digo.

– É mesmo? – pergunta Pamela. Ela parece surpresa.

– É. E foi a Mi que pediu. – digo para deixar bem claro que não faria esse favor por livre e espontânea vontade.

– Não preciso da sua ajuda. – ela bufa. Não me agüento e começo a rir. Como não precisa de minha ajuda?!

– Você precisa de ajuda divina, isso sim. – digo rindo um pouco ainda. Ela me encara como se fosse voar no meu pescoço. Yasmin diz para nos acalmarmos e saio de perto das duas. Tudo o que eu não preciso é da Mi defendendo aquela crente obesa.

Entro na sala de aula e vou ao encontro de Clari, que estava, como sempre, mexendo no celular.

– Oi guria. O que está fazendo? – pergunto como se eu não soubesse que a resposta seria:

– Falando com o Leo. – ela diz. Nossa, que surpresa – E aí, vai lá em casa hoje?

– Vou sim. – sorrio. Ela retribui. Estava com menos maquiagem hoje, ela usava apenas lápis preto e rímel, devia estar economizando o trabalho para se maquiar de verdade para hoje à noite. Por isso eu não achava graça em passar maquiagem pro colégio, alguém que sempre está de maquiagem não chama atenção em festas, pois está sempre com a mesma cara.

Ao acabar a aula, me direciono a saída do colégio. Clari havia saído correndo para encontrar Leo assim que o sinal soou e até agora não a vi de novo. Olho ao meu redor e nada de Clarissa. Mando mensagem para ela na esperança de uma resposta vir rápido, afinal, não sei onde ela mora.

– Nicole? – escuto uma voz masculina me chamar. Viro-me para ver quem estava me cutucando.

– Rafa! Oi! – ele se espanta um pouco com minha animação. – Foi mal. É que eu não estava achando sua irmã, e não sei se ela comentou, mas eu vou me arrumar na casa dela, quer dizer, sua casa, quer dizer... Na casa de vocês. – ele sorri.

– Ela não disse nada, mas eu ia justamente perguntar à você sabe onde ela está. Certo, pelo jeito temos que ir apenas eu e você lá para casa. – ele diz isso sem que soe de forma estranha. O legal do Rafael era que nada parecia estranho vindo dele. Ele tinha o dom de deixar as situações menos constrangedoras que o normal.

Andamos até o estacionamento do colégio, ele para de frente para um poste o qual tem uma bicicleta amarrada junto a ele. Rafa me encara com uma expressão de “não sei o que fazer”.

– Bom, minha bike não tem carona, mas acho que se você se equilibrar no cano, a gente consegue caso eu pedale devagar e...

– Eu venho de long para o colégio. – digo e ele sorri, aliviado. Ele retira o cadeado enquanto eu pego o mini long da mochila.

Deslizo pelo asfalto logo atrás de Rafael, sua casa era mais distante que a minha. Enquanto eu percorria um terço da lagoa, para ir para casa dele, tínhamos que contornar praticamente a metade dela. Além disso, subimos uma ladeira nem um pouco simpática antes de virar em sua rua.

– É aqui. – ele exclama descendo da bicicleta. A casa de Clarissa e Rafa era realmente muito bonita. Não que fosse uma mansão de luxo, mas era uma residência que parecia muito aconchegante de se viver. Meu sonho sempre foi morar em uma casa e não em um prédio.

Depois de almoçar, nos sentamos no sofá à espera de Clari.

– Você não fica preocupado com ela? – pergunto.

– Na verdade, já estou acostumado com esses sumiços. Confio na Clarissa, não confio nos outros com quem ela anda. Isso que me deixa preocupado.

– Você se refere ao Leo?

– Podemos deixar esse sujeito longe da nossa conversa? – ele diz e eu me calo. Putz, por que eu era tão curiosa? Ele já deixou claro que não quer falar sobre isso comigo.

– Desculpa.

– Não. – a voz dele se adoça – Não, Nikki, quer dizer. Me desculpa. Eu não gosto de falar sobre isso, mas foi mal. Não tenho o porquê descontar em você.

– Não tem problema. – digo. – Posso ver seu quarto?

Ele não responde. Apenas se levanta e me dá a mão para eu me levantar também, ele me puxa e me guia até seu quarto. Era bem diferente do que eu imaginava. Seu papel de parede era feito inteiro de páginas de histórias em quadrinho. Ele tinha diversos pôsteres de filmes como Pulp Fiction e de bandas que eu não conhecia.

Yellow Ostrich?

– É. Eles são ótimos. Quer escutar?

– Sim, sim. – digo e ele põe o iPod para tocar no amplificador. O som que preenche seu quarto é extremamente diferente do que eu costumo escutar. Parece um Indie Rock mais alternativo. Escuto algumas músicas com Rafa. Nenhum de nós diz nada, apenas escutamos. Ouço atenta a cada melodia que toca, imagino os possíveis clipes de música da banda. Era como se eu sonhasse, viajasse, apenas com o som.

Ficamos assim a tarde inteira quase. Ele me mostrando músicas desconhecidas. Uma melhor que a outra. Deitamos no chão e ficamos só curtindo a música. Afasto da mente todos os problemas, nem que quisesse eu conseguia pensar em Antonio. Meu corpo estava tão na paz, estava uma energia tão boa no ar que eu queria congelar aquele momento. Ficar assim pro resto da vida.

– Nicole?

– Que? – digo ainda de olhos fechados.

– Sem querer estragar esse momento de apreciação musical, mas daqui temos que sair daqui à 3 horas.

– Sério?! Que horas são? Cade a Clarissa que não chega nunca? – me levanto rápido demais e me sinto tonta.

– São 19h. Mas temos que sair antes se não pegaremos uma fila infernal. E a Clari não responde nenhuma das minhas mensagens. Acho melhor você se arrumar sem ela, se não vamos nos atrasar.

– Certo...

Mesmo sendo a primeira vez estando na casa de Rafa, ele insiste em me emprestar uma toalha para eu tomar banho. Eu não recuso pois 1) Rafael deixava tudo menos constrangedor e menos complicado e 2) Eu estava suada e não conseguiria sair para uma festa se não me sentisse limpa. Ao sair do banho já com meu vestido preto e maquiagem, encontro Clari sentada no sofá.

– Meu! Aonde é que você estava? Tipo, me chama para vir na sua casa e some? – pergunto para ela.

– Ahh, - ela ri meio boba, não parecia estar 100% sóbria – Você estaria em boa companhia – ela sorri e olha para Rafael, que pelo visto já estava pronto para sair. Ele usava uma camiseta do Pixies com as mangas de cores diferentes do resto da camiseta. Estava de forma bem casual, exatamente como era a Cave.

– Ela estava com Leo. – diz Rafa e me encara. Agora eu estava começando a entender o ódio que ele tinha pelo namorado da irmã.

– Ah. Bom, você já está pronta, Clari?

– Sim! – ela sorri.

– Ótimo – digo – Partiu Cave então? – pergunto animada

– Sim! – grita Clarissa. Rafa apenas ri e pega o celular.

– Eu chamo o táxi. – ele sorri.


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=i3Lo53Hr0fc



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