Para Sempre Nunca Mais escrita por GAS


Capítulo 11
Nicole


Notas iniciais do capítulo

escrito por ~~ Browne



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POV NICOLE ~ Quarta, 18/02

Lá estava ele.

Bem na minha frente. Alto, loiro e de óculos escuros. Não conseguia ver seus olhos, mas tinha certeza de que me encarava. Estávamos no calçadão e fazia alguns minutos que nos olhávamos e ninguém dizia nada. Eu havia sonhado, escrito, decorado, treinado com o espelho tudo aquilo que diria para ele nesse momento: só nós dois, prontos para vomitar palavras e questionamentos um no outro. Contudo, só havia silêncio. Era como se apenas o olhar de Antonio fosse equivalente a um assalto. Ele era a própria arma, roubava minhas palavras e só deixava meu emocional perturbado.

Depois dessa longa pausa, Toni finalmente diz algo.

– E Então?

Não respondi. O que ele queria que eu dissesse? Se ele realmente quer começar o jogo da discussão, ele que vá sacar primeiro.

– Olha, eu te chamei aqui, mas quero que você converse comigo. Primeiro me esclareça o porquê mentiu pra mim. – pois é. Ele sacou. E a bola veio bem na minha cara.

– Mas... Bem, eu, eu menti pra você? - respondo gaguejando um pouco. Estava insegura com qualquer som que saísse de minha boca, era como se toda frase pudesse voltar contra mim e eu desmoronaria de vez.

– De certa forma sim. Estava em um lugar para maiores de idade, eu nunca poderia imaginar que seria minha aluna. – ele não parecia abalado em seu tom. Falava como se estivesse chateado, pois o açúcar de sua casa acabou.

– Não foi a minha intenção! Eu também não pude imaginar. Sou tão inocente quanto você nessa situação! – ele arregala os olhos com minha exaltação.

– Ei, calma. – ele ri um pouco. – Eu não estou te acusando de nada. Relaxa um pouco.

Relaxar? Ele estava mesmo falando sério?

– Pelo visto você está um tanto estressada com essa história, Nicole. Vamos nos sentar um pouco. – ele sorri e me puxa para um banco.

– Mas não era para estar? Bem, não sei se você percebeu, mas você é meu professor agora. Não sei como você pretende lidar com essa situação, mas você deve ter alguns anos de vida a mais que eu.

– Idade é uma coisa relativa. – ele segura minha mão. Meu coração não podia estar mais disparado. – O que importa é o sentimento mesmo. – ele se aproxima ainda mais de mim.

– Isso não me parece certo. – digo e desvio o olhar. Porém ele levanta meu queixo e rapidamente encosta seus lábios aos meus.

Novamente. Ele me beijava novamente. E eu não conseguia pensar em nada. Mesmo sabendo que isso era algo arriscado, ele estava aqui, e nós estávamos ficando de novo. Isso não podia ser certo. Mas ah! Ele estava me beijando de novo. Como assim?!

Me afasto.

Ele olha para mim desentendido e eu apenas cruzo os braços e desvio o olhar de novo.

– Então é assim? – ele levanta. – Como quiser. – ele fica parado alguns instantes na minha frente. Eu evito olhar para ele, mas no último segundo, não resisto e o encaro séria. Ele retribui a seriedade por alguns milésimos de segundos, mas logo começa a rir: - Ai, Nicole, como você é sensacional. – e vai embora.

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– Filha, você nem encostou em seu pastel de carne.

– Não estou com muita fome, mãe. Desculpa. – Eu realmente não tinha paladar para nada nesse momento. Até agora estava tentando entender o que foi aquele encontro com Toni. No caminho inteiro para a casa fiquei me questionando e não consegui chegar a nenhuma conclusão em relação as suas atitudes. Foi realmente um dos momentos mais‘awkward’.

– Está tudo bem Nicole? – meu pai pergunta do outro lado da mesa de jantar.

– Sim...- não. Definitivamente não estava. Mas eu não podia contar a eles. Nunca entenderiam. Principalmente meu pai. Ele já era meio difícil em relação a garotos, agora eu nem gostaria de imaginar o quão inflexível ele seria em relação a um homem pouco mais jovem que ele. – Com licença. – levanto da mesa. Beijo a cabeça das minhas irmãs, Lia e de Luiza e vou para meu quarto.

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Quinta, 19/02

Coloco o despertador para mais cedo para conseguir chegar ao colégio com mais antecedência. E funciona. Assim que deslizo a esquina com meu mini long, percebo que o portão havia sido recém aberto. Entro na escola e corro em direção ao departamento de esportes. Queria me inscrever no time de futebol.

Chego lá ofegante, porém a porta estava fechada e já com um aluno também esperando o departamento abrir. Assim que ele se vira para mim percebo que seu rosto era familiar.

– Oi... Nicole, certo? – era o irmão de Clari. Agora de perto eu percebo o quão mais alto que eu ele era.

– Isso. Gabriel?

– Rafael. Mas pode me chamar de Rafa.

– Ah, certo. Desculpe, eu ainda estou dormindo em pé, acho. – digo e ele sorri. – Sabe que horas abre?

– Acho que daqui a pouco o coordenador de esportes já chega. Sem querer me intrometer, mas você está com alguma dúvida em relação às aulas de educação física, ou?

– Na verdade quero me inscrever para o time de futebol. – sorrio.

– Ah. Entendi. É que eu não sei se você sabe, mas algumas aulas de educação física serão na praia, aí pensei que fosse... Ah, deixa para lá. Mas legal que você joga futebol.

– E você pratica alguma coisa? – pergunto

– Sim. Basquete. Mas por causa do terceirão eu vou treinar menos, só preciso perguntar se eu tenho permissão...

O sinal soa, indicando o início das aulas.

– Merda. Minha sala é no último andar no último corredor. Não vou chegar a tempo – ele exclama. – Sua sala é aqui perto, não é?

Minha primeira aula era química, eu teria duas aulas hoje então não me importaria nem um pouco de não ter que olhar para a cara do Toni tanto em um mesmo dia.

– Na verdade sim. Mas... – penso em uma desculpa, mas Rafa logo se precipita:

– Hmm, quer aproveitar que ainda está no segundo ano e gazear a primeira aula... Menina esperta. Faz bem. – eu rio e concordo. Era mais ou menos isso.

Esperamos mais uns dez minutos até que finalmente vejo um homem baixinho, barrigudo e grisalho virar no corredor e vir em nossa direção.

– Bom dia! Mas já há essa hora já estão me esperando? Eu devo ser muito simpático mesmo. – ele ri de si mesmo. Mas sim, parecia ser muito simpático. Nunca tinha visto alguém tão alegre já às 7h da manhã. Ele se aproxima da porta e retira um molho de chaves, depois de um certo tempo, acha a chave correta e entramos os três na sala de esportes.

– Pois bem, o Rafael eu já conheço, mas você não me parece familiar. É aluna nova? – ele acende as luzes e abre alguns armários retirando papéis, pranchetas, canetas e mais papéis.

– Sou sim. Nicole Kim.

– Alfredo Pimponnet. Seja muito bem vinda, Srta. Kim.- ele estende a mão e me cumprimenta com rapidez nos movimentos- Diga-me do que você precisa mocinha.

– Eu gostaria muito de fazer parte do time de futebol feminino do colégio.

– Excelente! – ele dá um pulo de alegria. Definitivamente, ele parecia muito com algum personagem bem humorado de alguma história envolvendo bruxos ou elfos. Ainda não tinha certeza de quem. – Uma nova aluna e ainda por cima atleta! Que bom, muito bom. – olho para Rafa ele ri e revira os olhos como se estivesse acostumado com o jeito de Alfredo. – Você só precisa preencher está ficha – ele me entrega uma prancheta com algumas perguntas – e os testes de seleção ocorrerão na semana que vem.

– Certo. – enquanto preencho a ficha de inscrição, Rafael conversa com o coordenador, não demora muito e eu já entrego o papel completo. – Aqui está.

– Perfeito! Passaremos nas salas avisando a data exata dos testes. Fico feliz em ter alunos novos interessados! Muito bom, muito bom mesmo! – ele bate palmas – Novamente, seja bem vinda. Ah, e cuidado com suas companhias aqui no colégio, pois este aqui não vale nada! – ele bate nas costas de Rafa e cai na gargalhada. Rio também, agradeço e saímos do departamento.

– Uau. Ele exala felicidade. Chega a ser um tanto contagiante. – rio.

– O Pimponnet é demais. Adoro ele. – diz Rafa com as mãos no bolso. Andamos no corredor e paramos em uns bancos perto da cantina. Ainda faltavam 20 minutos para a próxima aula. Ele retira um chocolate ‘Sensação’ do bolso da mochila e eu não consigo disfarçar a tentação.

– Pelo seu olhar, já vi que gosta deste. – ele abre a embalagem e me oferece um pedaço. Mordo e confesso:

– Não vou mentir. É meu favorito.

– O meu também. – ele sorri e acaricia os dedos perto da minha boca. Nos encaramos. – Estava sujo de chocolate. – ele diz.

– Obrigada.

Passamos alguns minutos em silêncio até que eu me apoio na parede e fecho os olhos. Adiantar o relógio tinha suas conseqüências: eu estava muito mais cansada que o normal. Começo a entrar no primeiro estágio de sono quando sinto algo sendo jogado no meu rosto. Viro-me e Rafa tacava bolinhas de papel em mim. Fecho os olhos e rio.

– Estou admirada com sua maturidade. Ótima maneira de acordar os outros.

–Ah, você tem algum jeito melhor de interromper o sono de alguém se não, jogando lixo neles?

– Hmm, acho que tem esse aqui. – o empurro com força e ele quase cai do banco.

– É uma boa tática. – ele ri. – Por que minha irmã não é legal como você?

– Mas a Clari é muito legal.

– Ela era mais. Agora ela mudou, sabe. – ele desanima.

– Sério? O que aconteceu? – pergunto

– Ela começou a sair com o Leonardo.

Não tenho tempo de perguntar o que ele quis dizer com isso, pois o sinal toca. Pego minha mochila e ele a dele.

– Nos vemos depois então? – ele diz

– Aham.

Sigo em direção a sala e no caminho Toni passa por mim. Mas ele literalmente, só passa. Não se dá o trabalho de trocar nem um mísero olharzinho. Sinto-me um pouco mal e entro na sala junto ao professor César de biologia. Ele era simplesmente o melhor professor. Biologia nunca foi minha matéria preferida, mas ele conseguia tornar uma aula sobre células muito interessante. Acho que se ele não fosse meu professor ele ainda sim, seria meu amigo.

O resto da manhã passa extremamente devagar. A última aula era a de química a qual Toni me faz ler todos os enunciados dos exercícios do livro e ainda por cima me faz perguntas de matéria nova que eu obviamente não sabia responder corretamente. O que foi uma puta falta de sacanagem. Sinto-me mal por ter retribuído o beijo dele e por não saber quais são suas intenções fazendo o que ele faz. No final da aula, após todos os alunos saírem da sala, me aproximo da mesa dele enquanto guarda seus materiais de professor.

– Oi. – digo. Ele olha para mim e sorri.

– Olá, querida. Está com alguma dúvida da matéria? – fico sem reação. Era sério isso? Ele iria me tratar desse jeito?

– É sério Toni, para. Isso não está me fazendo bem e eu não acho que seja legal de sua parte. – ele arregala os olhos e se mostra espantado.

– Mas, flor, do que você está falando?! Deve estar havendo um mal entendido. Não sei do que você está falando.

– Ah, quer saber. Vai se ferrar! – saio em disparada pela porta e só o escuto de longe gritando coisas como “Cadê o respeito com o professor, mocinha?!”

Dobro o corredor para descer as escadas enquanto lágrimas brotam em meus olhos. Saio correndo pulando alguns degraus, mas no percurso esbarro em alguém que estava bloqueando minha passagem. Levanto-me do chão, juntando minhas coisas e percebo que quem estava bem na minha frente me encarando com cara de bunda, não era ninguém mais, ninguém menos que: a gorda estranha.


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=mpaPBCBjSVc - quando o Rafa começa a encher o saco da Nicole.



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