Para Sempre Nunca Mais escrita por GAS


Capítulo 1
Yasmin




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POV YASMIN ~ Segunda, 17/02

É estranho como as pessoas tendem a ver apenas as coisas ruins que acontecem no mundo: guerra, destruição, miséria, corrupção, fome, morte.

Eu tento ser diferente. Tento enxergar o lado bom da vida.

Nem sempre fui assim, mas quando você prova do doce néctar que é o amor e a felicidade, você vicia nele. Como uma dependência química de serotonina e endorfina.

Mas a felicidade não é apenas uma emoção, também é um estado de espírito. Um em que espero nunca sair.

Sou Yasmin Maria Guimarães e tenho 16 anos.

Meus pais sempre gostavam do nome “Yasmin”. Maria foi uma homenagem à minha avó, mulher que nunca conheci.

Meu pai trabalha como advogado e tem um escritório perto do bairro em que moramos. Já minha mãe escreve crônicas para o jornal e da aula de artes nos fins de semana.

Tenho uma irmã mais velha, Luana. Não sei o por que do nome, mas eu a admiro muito. Ela herdou os melhores traços da família, admito que tenho inveja da sua aparência. Enquanto ela foi abençoada com cabelos negros, sedosos e olhos azuis; eu fiquei com cabelo loiro-avermelhado armado e olhos marrons.

Hoje é o primeiro dia de aula e bem, estou tentando ver o lado bom no momento. Já estava de saco cheio das férias, pra falar a verdade. Mas acho que isso vai passar assim que o professor entrar na sala.

Pego minha mochila e abro a porta da frente do apartamento. Minha mãe está no banho, meu pai no escritório e minha irmã dormindo. Decido não incomodar ninguém e saio em silencio, arrumando a blusa do uniforme.

O colégio fica tão perto que posso ir andando tranquilamente.

–Ei! Mi! Me espera!- escuto me chamarem.

–Pam? Ah, foi mal. Eu não te vi.- digo, me virando e dando de cara com Pamela Medeiros, uma de minhas melhores amigas.

–De boa.- ela diz, ofegando e colocando uma mecha de cabelo castanho-escuro atrás da orelha.

–Caralho... Tamo no segundo ano...-comento.

–Nem me fale. Não quero nem pensar no terceiro. A correria que vai ser.

–Que bosta.

–Eu sei...- Pamela não é exatamente a menina mais bonita do mundo. Ela é baixinha, gordinha e tem cabelo muito comprido por causa de sua religião.

–Quase chegando...-murmuro.

–Parece que o caminho fica mais comprido todo dia.- diz Pamela, ofegando.

–Verdade.-minto. O caminho está exatamente igual, mas Pamela é muito sedentária.

–E ta muito quente, meu Deus.

–Você veio de casaco, Pamela.

–Eu fico melhor de casaco.

–Você que sabe. Deve ta morrendo de calor.

–Tanto faz. Você lembra da minha meta pra esse ano, é?

–Lembro sim.- Pamela tinha prometido a si mesmo que esse ano perderia o BV. Ela era um ano mais velha que eu (reprovou a sexta serie) e nunca tinha levado sequer um beijinho na bochecha.

–Preciso de uma festa urgente, pra acabar logo com isso. Ou você acha que devia encontrar alguém especial?

–Acho que devia acabar com isso de uma vez. É só um beijo, Pamela. Não tem nada de mais.

–Eu sei, Mi. Mas acho que tem que ser incrível, sabe. Tipo, fogos de artifícios.

–Vai ser difícil ver fogos de artifício.- rio – O primeiro beijo é sempre uma bosta.

–Sera?

–Vai por mim.

–Bem, partiu balada na sexta?

–Claro. Eu vou com você.

–Serio?- os olhos dela brilham.

–Sim. Quero ir numa festa também.

–Você arrumaria alguém pra mim?- ela está sorrindo tanto que deve estar doendo.

–Posso tentar.- sorrio.

–Isso! Eu tenho, tipo, a sensação que vai acontecer sexta, sabe? Já teve esse tipo de sensação? O que você acha?

–Tenho um bom pressentimento.- digo, mas na verdade não fazia idéia do que ia acontecer.

–Mi, você é a melhor amiga do mundo.- ela me abraça com força e eu a abraço de volta.

–Você também é.- respondo. E estou falando serio. Pamela nunca saiu do meu lado pra nada e quase nunca brigamos.

–Falou com a tal de Nicole nas ferias?

–Falei sim. A gente saiu algumas vezes.

–Ah. Eu quero conhece-la.

–Ela vem pro nosso colégio esse ano.

–Serio?- noto que Pamela não está muito feliz. Ela tende a ser muito ciumenta.

–Sim. Vai ser legal.

–Sei...

–Pamela, deixa de ser infantil. Eu não vou, tipo, te trocar.

–Ta, tanto faz.

Quando chegamos ao portão do colégio, passo pelos inspetores e consulto a lista de chamada, procurando minha sala.

–2o B....- murmuro, ao ver meu nome.

–E eu?- pergunta Pamela, que era baixinha demais pra ver a lista no meio de tanta gente.

–2o... D!

–Nos separaram?!

–Parece que sim. Bem, é só ir na secretaria pedir pra mudar.

–Afe... Eu vo ficar sozinha! E no segundo D! Aquela turma só tem gente idiota!

–Calma, Pamela. É só conversar la na secretaria que eles te mudam em menos de uma semana.

–Eu sei, mas é um saco cara.

–É só não ligar pro que eles falam.

–Ah, isso é muito fácil, sabe.- ela revira os olhos.

–Não tem nada que a gente possa fazer. Vem comigo, eu te levo ate a sua sala.

–E quando acabar a aula vamos conversar com a secretaria.

–Vamos.-concordo.

Caminho com Pamela pelos corredores da escola, subo dois lances de escada com ela e paro na porta do 2o D.

–Feliz?

–Não, mas foi bom andar com você.

–Boa sorte, Pam. A gente se vê no intervalo.

–Té depois.

–Té.- digo, andando até minha sala.

Paro na porta e respiro fundo. O fato de estar “sozinha”numa sala não me incomodava. Pelo menos, não tanto quanto incomodava a Pamela. Eu não ligava muito para o que as outras pessoas achavam de mim.

Entro em minha sala e sento em uma carteira bem no meio. Coloco meus fones de ouvido e entro em meu próprio mundo, bloqueando tudo e a todos que estavam a minha volta.

–Yasmin?- alguém me chama.

Fecho os olhos e solto um longo suspiro. Eu detesto quando tentam falar comigo e eu estou de fones.

–Oi?- pergunto, tirando os fones e encarando a pessoa que tinha me chamado. Era um menino que não conhecia.

–O professor chegou.- ele disse, sentando na carteira do meu lado.

–Como sabe meu nome?- sussurro, tentando não atrapalhar o professor de química, que tinha começado a falar.

–Você tem um colar com o seu nome.-ele sussurra de volta.

–Ah, é verdade.- fico admirada pela habilidade de observação dele.- E o seu nome, qual é?

–Felipe.-ele sorri.

Sabe quando você conhece alguém e você não presta muita atenção nela até que ela faz alguma coisa, uma coisinha insignificante, e você fica tipo, paralisada? Como se o mundo parasse de girar, os sons ficassem abafados e você começasse a sentir o rosto cada vez mais quente?

Bem, foi isso que aconteceu, o Felipe sorriu. Eu não sei como descrever, mas ele tem um sorriso tão bonito, tão... puro. Sabe? Do nada eu comecei a prestar atenção na pele escura dele, no seu cabelo enrolado, nos seus olhos castanhos, no jeito que ele usava a blusa do uniforme, na correntinha prateada pendurada em seu pescoço e nas pequenas covinhas em sua bochecha, formadas pelo seu sorriso.

–Ah.- balbucio, depois de meu momento de cristalização. – Eu nunca te vi aqui no colégio.

–Eu sou novo aqui, me mudei de São Paulo pra ca ha uns dois meses.

–Legal, espero que você goste daqui.

–Obrigado.- ele sorri de novo (tipo, quase desmaiando aqui)-Você gosta de Daft Punk?

–Como você sabe?

–Você tem um chaveiro deles.

–Ah, gosto sim. Como você é observador.

–Eu também gosto. Obrigado, vou encarar isso como um elogio.

–Qual sua musica favorita deles?

–One More Time. E você?

–Get Lucky.- sussurro um pouco alto demais.

–Yasmin Guimarães! Que chato ter que chamar sua atenção no primeiro dia de aula, né?- diz o professor, olhando para mim com cara feia. –Pare de conversar com o...?

–Felipe.- completa o mesmo.

–Isso, pare de influenciar os alunos novos, Yasmin. Queria muito que você prestasse atenção na minha aula.

A sala inteira olha pra mim e eu sinto vontade de me enterrar. Um murmúrio malicioso ecoou pela sala.

Por que, Deus?

Me sinto vermelha como um pimentão e me viro para Felipe, esperando que ele corresponda o olhar.

Ele se vira também, me olhando nos olhos e sorrindo.


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Notas finais do capítulo

~vvega
musica do capitulo: https://www.youtube.com/watch?v=tg8sUHPeJC0



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