Quando Katie era pequena ouviu uma conversa de seu pai com alguém onde ele disse que ter se envolvido com Deméter fora um erro e que um erro maior ainda foi ter tido uma filha com ela.
Uma tarde a garotinha estava deitada de bruços sob uma árvore quando um menino chegou corado e suado por ter corrido, um sorriso radiante no rosto.
- Ei, Kit-Katie, quer brincar? - Ele perguntou agachando-se ao lado da menininha.
- Vá embora. - A voz saiu embargada e abafada pela grama e os cabelos que lhe cobriam o rosto.
- Katie, você está chorando? - Ele puxou algumas de suas mechas para fora do rosto, para que assim pudesse ver os olhinhos verdes inchados.
- Eu disse pra sair! - Irritou-se tentando empurrá-lo, em vão. O garotinho fez questão de se aproximar mais e passar as mãozinhas pelos cabelos longos da pequena.
- O que aconteceu? - Ela desviou o olhar do rosto preocupado do jovem.
- Não quero falar sobre isso. - Travis não gostava de ver garotas chorando, principalmente a Gardner. Ele gostava de irritá-la, claro, mas sempre que via que passara dos limites e a fizera chorar corria para levar-lhe morangos ou lhe dava alguns "Cupons Para Bater No Travis", o que a fazia sorrir. Era muito legal fazer ela rir, só perdia para fazer ela ficar brava.
- Alguém te chateou? Nós podemos bater nele! Ou você pode bater em mim, você quer bater em mim? - Era uma boa proposta, mesmo que depois ele se arrependesse por ficar dolorido pelo menos faria com que ela parasse de chorar.
- Só quero ficar sozinha. - O-oh. Não funcionou. Isso não era bom,nada bom.
-Ok, eu fico com você. - Sentou-se encostado no carvalho pegando uma bala e jogando na boca, oferecendo outra à menina, que recusou.
- O sentido de ficar sozinha é que não tenha mais ninguém por perto, Stoll! - Ele eratãoburro assim?
- Euseio que é ficar sozinho, Gardner, mas não vou te deixar sozinha porque sei que não chora na minha frente, então, vou ficar aqui para você parar de chorar. - Ela balançou a cabeça, mas as lágrimas ainda caiam.
- Dessa vez não vai funcionar, estou muito triste. - O pequeno filho de Hermes fitou-a e notou que era verdade, ela estavamuito triste.
- Não vai me contar? - A menina negou. - Por favor? Prometo que não conto pra ninguém! - Ela olhou-o com aqueles grandes olhos verdes e ele sorriu meio banguela. Na verdade, Katie sentia um pouco de inveja por seus dentes da frente ainda não terem terminado de cair, coisa que Travis gabou-se a semana inteira por ter acontecido com ele.
- Promete? - Ele assentiu e ela contou. Naquela tarde, estava no seu chalé quando um irmão mais velho falou que ela só fazia tudo errado, então contou a história do pai e confessou, não gostava de erros.
- Ele disse isso? Que você era um erro? - Katie assentiu olhando para os dedos que se remexiam em seu colo. - Sabe, Gardner, você é um erro bem bonito. - Ela encarou-o com os olhos ainda maiores pela surpresa e a boca aberta, mas ele olhava para frente.
- O que você disse? - Ele olhou-a finalmente, sorrindo novamente e dessa vez a garota notou que o dente permanente já despontava para fora da gengiva.
- Vamos, Kit-Katie, aposto que não me pega. - Levantou-se e saiu correndo. A filha de Deméter ainda estava bestificada pelo elogio e sorridente como nunca correu atrás do garoto em um pega-pega que já virava rotina em sua vida.