Holly

Então é isso. Mary vai morar aqui em casa. Bom, se minha mãe não a expulsar, o que eu acho que não vai acontecer, já que ela é mais, digamos, compreensiva. Espero que ela fique tranquila com essa situação.

Esse fim de semana foi tranquilo. Não aconteceu nada demais. A presença da Mary, do Will e dos outros já é normal. Parece até que não tem casa. Não estou reclamando, apenas afirmando.

Todos parecem estar mais tranquilos em relação a briga com os pais da Mary. Sei que Mary ainda deve sofrer por isso. Com certeza ainda sofre, afinal, isso aconteceu na sexta e hoje ainda é segunda.

Nesse exato momento, estou voltando da escola acompanhada por Holly. Mary não tem vindo por causa da gravidez e Will simplesmente sumiu. Tyler também não deu o ar de sua graça lá em casa pela manhã. Estranho? Com certeza. Mas não vou perder meu tempo pensando no que pode ter acontecido, pois, tenho muitas coisas mais importantes que isso para fazer, como dormir, comer... Ah, e estudar para a semana de provas. Mas já Jennifer? Pois é, eu também acho que eles nos exploram muito. Mas enfim... O caminho para casa estava silencioso, até Holly resolve quebrá-lo.

– Como vão as coisas entre você e Will?

– Bem. – Menti. Nós não temos nos falado direito, a não ser por aquele dia em que falamos sobre Mary e seus pais.

– Sério? Se estar bem é estar como vocês, não quero nem ver quando estiverem brigados. – Revirei os olhos. – Eu vi vocês dois saírem juntos da festa do Gustavo. Pode contar o que rolou.

– Tá. – Me rendi. – Ele me beijou e...

– Ele o quê? – Perguntou pasma.

– O que deu em vocês nesses últimos dias? – Disse. – Qualquer coisa que a gente fala vocês gritam: “Ele o quê?” “É o que?”. – Mary riu das minhas imitações de voz.

– Para de tentar mudar de assunto.

– Eu não to mudando de assunto. Você que me interrompeu.

– Que seja! – Ela exclamou. – Continue.

– Ah, ele falou umas coisas e disse que nós podíamos fazer aquilo de novo, só depende de mim. – Ela me escutava com atenção. – Só que, não nos falamos mais depois disso.

– Mas, Jennifer, faz quase dois meses!

– Você acha que eu não sei! – Gritei.

– Mas o que você quer? Você já parou pra pensar nisso?

– O tempo todo. – Respondi. – Eu acho que poderia dar certo. Quer dizer, nós dois.

– Hum... – Ela me olhou maliciosa.

– Para de me olhar desse jeito! – Exclamei, meu rosto queimando e eu tive a certeza de que estava vermelha como um tomate. Holly riu. – E para de rir de mim!

– Desculpa. – Disse se controlando. – Fico feliz que pense assim, porque sei que Will gosta mesmo de você. Sempre torci por vocês dois. – Sorri.

Chegamos em casa. Tyler e Will ainda não haviam aparecido por aqui. Ok, isso está ficando muito estranho. Gustavo e Mary estavam no quarto, como sempre.

– E o Tyler? – Holly perguntou quando estramos no meu quarto.

– Não sei, Holly. – E eu realmente não sei. – As coisas ainda estão meio embaçadas em relação a ele.

– Não tem chance de vocês voltarem?

– Eu acho que não. – Respondi. – Já perdi as esperanças em relação a nós dois. – Fizemos silêncio por um tempo. – Eu sei que só depende de mim e tal, mas isso é mais complicado que parece. “Só depende de você”. É difícil ouvir isso o tempo todo. Ter que escolher é difícil. – Holly me olhava atenta. – A verdade é que eu ainda sinto alguma coisa pelo Tyler, eu só não sei exatamente o que é.

– Entendo...

– Quer dizer... Eu gostava dele, de verdade. Mas aí chegou uma certa visita loira e depois teve o lance do Will...

– Pera. Que lance do Will? – Perguntou. Eu havia me esquecido de contar isso para ela.

– O Tyler disse pra eu me afastar do Will.

– Oi? – Perguntou incrédula.

– Eu sei que não foi nada muito sério. Sabe, ciúmes... Mas eu já estava com uma certa dúvida sobre nós dois. Estávamos namorando há apenas uma semana e nem olhávamos um para cara do outro direito.

– Nossa! E eu perdi isso tudo. – Eu ri.

– Você podia estar morta agora e tá preocupada com as cenas da minha vida sentimental que perdeu? – E ri mais.

– Falou certo. Podia, não estou. Agora eu posso dizer: I’m Holly Adams. I’m survivor!

– Ok, néh... – Disse em meio as gargalhadas. Respirei fundo. – E talvez, aquilo que eu sentia pelo Tyler ainda exista. Só que eu também gosto do Will. Eu acho que não saberia escolher entre os dois. – Holly me olhava estranho. – Eu sei. Isso é muito crepulesco! – Ela soltou uma risada fraca. – Agora me diga você. E o Daniel? – Holly corou violentamente, se é que isso é possível, já que sua pele é morena.

– Daniel? – Se fez de desentendida.

– Pode parar. Eu vi vocês se engolindo na festa do Gustavo.

– Ah... hum... Bom... Não foi só essa vez.

– QUÊ? E como você não me contou isso? Quando foi? Onde?

– Na festa do Silas.

– POR QUE VOCÊ NÃO ME CONTOU, MULHER?

– Jennifer, você tá dando escândalo.

– Tá, para de mudar de assunto. Conta logo!

– Eu não sei se o que tá rolando é sério. Nem nos falamos direito. Nunca fomos muito próximos, mas depois que eu terminei com o Charlie...

– Você também não me contou isso.

– Você quer que eu fale ou não?

– Foi mal. Continue.

– Depois que eu terminei com Charlie, eu sinto que ele tem tentado se aproximar. Não sei. É difícil dizer se ele gosta de mim ou se só quer usar e largar, sabe?

– Mas você gosta dele?

– Eu sempre tive uma queda por ele.

– Você nunca me contou isso também.

– Ok, Jenni, já tá ficando chato. – Eu ri da cara que ela fez.

– Foi mal. Parei. – Nesse momento ouvi o barulhinho do celular avisando que tinha mensagem. O mesmo estava em cima da mesinha perto da porta e eu, sentada na cama. Andei até ele e li a mensagem.

“Precisamos conversar. Hoje, sorveteria, 14h?”

Era de Will.

– Will quer conversar. – Fiz uma careta.

– Não é uma boa notícia? – Holly perguntou.

– É. É sim. – Me sentei na cama e meu celular apitou novamente. Li a mensagem.

”Preciso falar com você. Hoje, floresta, 14h?”

Era de Tyler. Olhei para Holly.

– Parece que Tyler também quer conversar. – Comentei.

– Ótimo! Assim você resolve dois problemas de uma vez.

– Ao mesmo tempo? – Mostrei as mensagens pra ela.

– É só você mandar uma mensagem pra um dos dois marcando pra outro dia.

– Ou eu posso decidir agora o que eu vou fazer da minha vida.

– Você gosta de complicar as coisas, néh?! – Dei de ombros.

– Fica mais divertido assim.

Olhei no relógio. Já é 13h. Holly ficou no quarto para escolher a minha roupa enquanto eu tomava banho.

– Se você me fizer colocar um vestido, eu te mato! – Disse para ela antes de sair do quarto.

Tomei um banho demorado com água fria, pois está uma tarde quente. Escovei os dentes e penteei o cabelo. Vou pedir para Holly fazer minha maquiagem e me ajudar a decidir o que fazer com a cabelo. Cheguei no quarto e minha roupa já me esperava em cima da cama: um short jeans, uma blusa branca lisa e um bolero de couro preto cuja manga vai até o cotovelo. Junto da roupa também estavam alguns acessórios. Holly está sentada na cadeira da minha escrivaninha me olhando.

– Você só pode estar louca se acha que eu vou usar isso nesse calor. – Ela revirou os olhos. Levantou, guardou a blusa branca e o bolero. Remexeu o meu guarda-roupa e tirou de lá uma blusa preta e uma xadrez e meu all star preto.

– Feliz? – Ela perguntou jogando a roupa em cima da cama.

– Muito. – Dei um beijo em sua bochecha. – Obrigada. – Disse e me vesti.

– Agora a maquiagem. Senta ai. – Disse me jogando na cadeira.

– Nada muito exagerado, por favor. – Ela bufou.

– Eu sei, Jennifer. Eu sei. – Ela demorou uns 5 minutos para terminar tudo. – Vai deixar o cabelo solto mesmo?

– Pode ser.

– Tudo bem. – Ela disse e olhou no relógio. - Acho melhor você ir. – Olhei a hora. Faltavam 5 minutos para às 14h. Levantei num pulo, peguei minha bolsa e meu celular e desci as escadas correndo.

Saí pelo portão de casa e virei para a esquerda. Segui por quatro quadras. Virei para a direita e segui por mais cinco quadras. Parei num cruzamento. Era aqui que o caminho se dividia. Tyler se encontra à minha esquerda e Will à minha direita. Não sei por quanto tempo eu fiquei parada olhando para os lados, mas quando eu tomei a decisão, logo peguei o caminho e corri de encontro a ele, para que não houvesse tempo de mudar de ideia. Corri, corri e corri. Parecia que o lugar nunca chegava. Quando vi que estava próxima, parei para retomar o fôlego e segui devagar, sem nunca tirar os olhos do meu objetivo.

Ainda há tempo de voltar e escolher o outro, pensei. Mas já havia escolhido e não iria voltar atrás, por mais que eu me perguntasse a todo tempo se ele era o certo. Me aproximei ainda mais do local e pude vê-lo me esperando. Seus olhos encontraram os meus e um sorriso se formou em seus lábios, o qual eu retribui. E nesse momento eu tive certeza, era ele! Andei mais apressadamente até ele e parei na sua frente.

– Oi. – Ele disse.

– Oi. – Respondi ainda com o sorriso em meu rosto.

– Não quer se sentar?

– Ah, claro. – Disse me sentando na encadeira de frente para ele.

– A não ser que queria ir tomar sorvete em outro lugar.

– Não, não. Tudo bem. Aqui está perfeito. – Nesse momento uma mulher veio nos atender e nós fizemos nosso pedido.

– Então, eu acho que você já sabe sobre o que eu quero falar... – Ele começou assim que a mulher foi embora.

– Imagino.

– Eu não quero te pressionar nem nada, só que...

– Will, – Comecei. – eu já tenho minha reposta. – Eu podia ver a expectativa em seus olhos. Quando eu abri a boca para falar novamente, a mulher chegou com os nossos sorvetes. Eu pedi um de flocos e ele um de chocolate.

– O que você estava dizendo? – Perguntou quando a mulher se retirou.

– Acho que eu mudei de ideia. – Ele me olhou assustado. E eu ri. – Em relação ao lugar. – Ele pareceu relaxar.

– Vamos para a praça? – Perguntou. Quando eu ia aceitar, me lembrei de Tyler.

– Pode ser, mas não aquela que costumamos ir. Eu conheço uma outra. – E eu realmente conheço e amo aquela praça. Mas faz muito tempo que eu não vou lá por ser um pouco longe. – É um pouco distante, tudo bem? – Ele assentiu.

Por incrível que pareça, não demoramos muito a chegar. O caminho até aqui foi silencioso e constrangedor. A verdade é que eu quero ganhar mais tempo para poder pensar no que falar. Eu nunca fui muito boa com palavras.

Essa praça nunca foi muito movimentada, eu não sei porquê. Ela é ainda maior e mais bonita do que a outra.

– Então... – Will murmurou. Isso deve ser angustiante, não ter uma resposta, digo.

– Me desculpe por isso. Eu só não... – Suspirei.

– Não...? – Me incentivou.

– Não sei o que dizer. – Disse e soltei um risinhos fraco. Paramos perto de uma árvore.

– Então, não diga nada!

Envolveu minha cintura e me puxou para si me envolvendo num beijo calmo e delicado. Minhas mãos estavam apoiadas em seu peito. Senti sua mão procurar minha nuca. O beijo ficou mais intenso e ele me encostou na árvore. Passei minha mão por seu cabelo curto. Nesse momento eu queria ter fôlego infinito, mas como não temos, nos separamos para recuperar o mesmo.

– Acho que posso me acostumar a não dizer nada. – Eu disse. Ele riu e me beijou novamente.