- Flashback escrita por harle_


Capítulo 1
Flashback I




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/45864/chapter/1

Apesar de parecer com todas as noites londrinas, esta não era uma noite qualquer. Não para ele, William John Paul Gallagher, mais conhecido como Liam Gallagher, o vocalista arrogante e problemático do Oasis. Caminhando entre as pessoas que passavam pela calçada, – todas muito ocupadas para reconhecê-lo – Liam mais parecia marchar. Usando um casaco preto, que o protegia do frio inglês, ele parecia um soldado nazista indo de encontro ao Füher. Seus óculos de armação redonda era a única coisa que o diferenciava do jeito arrogante e prepotente de um general nazista caminhando.

 

Liam entrou no pub que ia frequentemente. Não estava lotado naquela hora, mas também não estava vazio. Sentou-se diante do balcão e suspirou. Sentiu a testa doer levemente. Aquilo deveria ser psicológico, não? Passou a mão pela cabeça, antes de chamar o barman mais próximo. Wisky sem gelo, foi o que Liam pediu. Algo o intrigava e isso o deixava irritado. Bebeu a dose de wisky em um só gole e sua garganta pediu por mais. Enquanto o barman lhe servia mais uma dose, Liam olhou por cima do ombro, procurando por algo que não sabia muito bem o que era. Encontrou algo, ou alguém...

 

Do outro lado do pub, dois amigos riam enquanto bebiam wisky. Piadas velhas, mas engraçadas. Histórias regadas a sexo, drogas e rock’n’roll. Algum assunto sério de vez em quando. Esses eram os assuntos que rolavam na mesa mais afastada do pub. Noel Gallagher havia acabado de lembrar de algo idiota envolvendo uma groupie, o que provocou o ataque de risos. Johnny Depp ria, enquanto bebia um pouco do seu wisky. Eles se tornaram grandes amigos por causa da amizade de suas ex-esposas. De repente o sorriso no rosto de Johnny se desfez. O mesmo se curvou na direção do amigo e, com a voz mais baixa que o de costume, perguntou:

 

- Aquele não é seu irmão?

 

Assim que o Gallagher mais velho virou seu rosto para ver a quem Johnny se referia, seu olhar se cruzou com o de Liam e por poucos segundos todo o ódio dos irmãos foi refletido em apenas um olhar. Noel exitou antes de levantar o copo e cumprimentar o irmão de longe. Eles poderiam se odiar, mas Noel ainda tinha um pouco de educação, ou muito álcool no sangue.

 

Liam virou o rosto, ignorando o irmão. Bebeu o último gole de wisky do copo e levantou-se, indo na direção da mesa de Johnny e Noel, mas não antes de pedir uma garrafa de wisky. Levando a garrafa e o copo, Liam atravessou o pub rapidamente. Sua vontade era de chegar até o irmão e matá-lo, mas, em um momento de racionalidade, Liam aceitou que aquela não era a hora. Não ali, não naquela noite...

 

Johnny viu aquela atmosfera pesada se formar ao seu redor. Noel bebia mais alguns goles de wisky quando Liam chegou, batendo a garrafa que estava em sua mão com força sobre a mesa. O Gallagher mais novo servia-se mais bebida e Noel o olhava intrigado:

 

- O que diabos estou fazendo aqui? – se questionou Johnny enquanto bebia nervosamente um pouco de wisky.

 

Um silêncio perturbador instalou-se naquela mesa. Por alguns longos minutos tudo que se ouvia era o barulho de copos sendo cheios e esvaziados. Os olhares de ódio eram muito fortes entre os irmãos, principalmente por parte de Liam. Johnny até pensou que, em poucos segundos, os Gallagher estariam se matando, mas não. Era apenas silêncio. E isso era bem pior.

 

- Tudo bem? – Johnny ousou perguntar a Liam, quebrando o silêncio.

 

- Melhor impossível. – ele respondeu, com a voz carregada de ironia. O mesmo bebeu mais alguns goles da bebida em seu copo e voltou a lançar um olha ameaçador a Noel, que observava algum ponto perto da porta, sem muito interesse.

 

A tentativa frustrada de Johnny ao puxar assunto não o desanimou, afinal estava se sentindo tão feliz. Isso era o melhor da bebida, não importa o quão triste ou frustrado ele estava, ela sempre o colocava pra cima, mesmo que isso lhe custasse uma ressaca no dia seguinte. Mais alguns goles e Johnny havia esvaziado mais um copo e a cena a sua frente continuava a mesma. Liam encarando ameaçadoramente Noel, que, por sua vez, olhava desinteressado para um ponto qualquer do bar, mas ambos bebendo o wisky que havia em seus copos.

 

- Noel, consegui aquela guitarra que te falei. Lembra? A Les Paul? – Johnny tentava encontrar um assunto com o amigo. Aquele silêncio o estava incomodando. Noel voltou a olhar para o amigo, bebendo enquanto ouvia o que Johnny tinha a dizer – Acho que você tem uma...

 

- Tinha. – corrigiu Noel – Eu doei. – respondendo a pergunta que Johnny iria fazer

 

Liam soltou um risinho irônico para o irmão, que o respondeu com um olhar fulminante. Noel jurou que, se eles não fossem filhos da mesma mãe, Liam jamais voltaria para casa naquela noite. Mas, infelizmente, eles eram irmãos e, por mais que fosse difícil de admitir, isso não mudaria. Assim como o que Abigail tinha feito, nada poderia ser modificado.

 

------ x ------- x ------

 

Mudou o canal de TV pela terceira vez em poucos minutos. Dia chuvoso e frio. Não havia muita coisa a se fazer em casa, muito menos em outro lugar. O tédio tomava conta de Abigail. A mulher estava deitada no sofá, tentando prestar atenção em algo que não fosse o vento batendo no vidro da sacada da sala. Tentativa inútil. Mudou o canal de TV pela quarta vez. Nada, só mais um programa infanto-juvenil.

 

Abbie sentou-se e percorreu o olhar pelo cômodo, procurando algo para passar o tempo enquanto esperava Noel chegar. O lado ruim de namorar um rock star. Abigail sempre teria de esperar. Esperar ele acabar de compor, de gravar, de ser um músico. Mas toda essa espera valia a pena, pois não era Noel Gallagher, o guitarrista, que voltava. Era Noel Gallagher, o pai, o amigo, o namorado. E isso era o mais importante de tudo. Ele sempre voltava.

 

Logo que Abigail percebeu que não havia mais nada de interessante para fazer naquele cômodo, levantou-se e caminhou em direção ao quarto. Talvez um livro a ajudasse passar o tempo. Ao entrar no quarto, sentou-se na cama que dividia com Noel, encostando as costas na cabeceira da mesma. Respirou fundo, tediosamente, e pegou o livro que estava no criado mudo e folheou-o até a parte que a interessava. Leu algumas linhas, a história era sobre um garoto que fugiu de casa para conhecer lugares novos, tudo com muito sexo, drogas e rock’n’roll.

 

Tentou se concentrar um pouco mais, para fixar as palavras no cérebro, mas o tédio era maior que tudo e quando se deu por conta, estava lendo a mesma linha pela décima vez. Respirou fundo, fechando o livro com força e o recolocando sobre o criado mudo. Olhou ao seu redor. O quarto em tons claros a deixava mais entediada ainda, mas percebeu algo fora do comum naquele quarto.

 

Era como se tudo ficasse escuro e um foco de luz iluminasse apenas aquela poltrona cor de marfim. Sobre ela estava uma guitarra vermelha amadeirada, uma das favoritas de Noel. Abigail sorriu. O tédio se fora. Agora sim existia um passatempo. Levantou-se e com todo cuidado retirou a guitarra da poltrona, na qual se sentou, colocando a guitarra sobre o colo.

 

- Por que Noel te deixou aqui? – Abbie perguntou para o instrumento, como se ele realmente fosse responder. Ela sabia que Noel jamais deixaria algo como isso em qualquer canto da casa. Havia um cômodo reservado especialmente para os instrumentos dele.

 

Abbie sorriu, tocando levemente as cordas e o braço da guitarra. Sabia que se Noel descobrisse que ela tinha tocado na guitarra estaria morta. Mais uma vez correu os dedos pelas cordas da guitarra, sem fazer nenhum som. Lembrou-se da primeira vez que vira Noel tocar, ainda no Oasis, e sorriu mais ainda. Guitarras traziam boas lembranças para Abigail.

 

Posicionou os dedos nos lugares certos, como havia aprendido no violão, e tocou uma nota qualquer. Parou, respirou e riu. Jimi Hendrix estaria se contorcendo no túmulo se tivesse escutado o que ele havia tocado, ou tentado tocar. Colocou os dedos na mesma posição de antes, tentando repetir o que havia feito antes. Mas o que saiu não foi um som de alguém que não sabe tocar...

 

- Puta merda! – exclamou Abbie ao perceber a corda arrebentada da guitarra.

 

Noel iria matá-la. Provavelmente com a própria corda da guitarra. Levantou-se, deixando a guitarra sobre a poltrona. Começou a caminhar rapidamente, de um lado para o outro do quarto. Não sabia o que fazer. Ou melhor, ela sabia sim. Mas onde arrumaria uma passagem para o Alaska em menos de dez minutos?

 

Abigail sentou-se na beirada da cama, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e a cabeça sobre as mãos. Começou a imaginar todas as formas possíveis de suicídio, o que, provavelmente, doeria menos do que ser morta por um roqueiro enfurecido. Olhou para a guitarra. Talvez Noel nem percebesse. A quem ela estava enganando? Era óbvio que Noel perceberia.

 

Enquanto estava perdida em pensamentos sobre suicídio, assassinato e fuga, Abbie ouviu um barulho na fechadura da porta da sala. Entrou em desespero. Ouvia a chave girando na fechadura, enquanto corria de um lado para o outro com a guitarra nas mãos.

 

Embaixo da cama? Não, muito óbvio. No armário? Mais óbvio ainda... Só restava um lugar. A sacada do quarto. Correu para abrir a porta de vidro rápida e desesperadamente, enquanto ouviu a porta da sala se fechar e passos percorrerem o piso de madeira.

 

- Oi querido. – ela disse nervosamente para Noel que acabara de entrar no quarto. Abigail torcia para que Noel não reparasse no que segurava nas costas.

 

- Oi. – disse ele se aproximando do armário, sem se importar muito com os risos nervosos da namorada.

 

- ‘Tá frio hoje, não? – Abbie tentava não transparecer nervosismo na voz, mas era inútil.

 

- O que você ‘tá fazendo aí? – Noel perguntou, indo na direção da mulher – O que é que você está escondendo? – ele continuou perguntando, com a voz bem humorada, parando alguns passos da porta que dava a sacada.

 

- Nada. – ela colocou as mãos para frente. Foi só aí que Abbie percebeu a burrice que havia feito e Noel percebeu o que ela escondia.

 

A guitarra estava deitada sobre a proteção da sacada. Quando Abbie viu a guitarra caindo teve vontade de se jogar também. Quando Noel viu a guitarra caindo conteu-se para não jogar a namorada dez andares à baixo. Ele correu na direção da sacada, mas foi inútil. A guitarra já estava no chão, quebrada, literalmente, em mil pedaços. Não havia nada a se fazer.

 

Abigail estava estática. Mal conseguia respirar ao ver aquela cena. Estava parada perto da porta da sacada, seu cérebro a mandou correr, mas ela não conseguiu fazer nada, apenas ficar olhando Noel e sua expressão enfurecida. Quando Noel virou-se e lançou um olhar assassino em sua direção ela já não conseguia respirar, tudo que fez foi deslizar as costas pela porta de vidro e sentar no chão.

 

Bandas acabam por causa de guitarras e relacionamentos também, mas não esse relacionamento. Esse não acabaria simplesmente... Alguém iria sair seriamente ferido, ou morto.

 

                                                       ------ x ------- x ------        

 

O clima naquela mesa do pub continuava o mesmo: pesado. Noel, obviamente, não havia contado que sua querida namorada havia quebrado uma guitarra de sessenta mil libras e que tinha valor sentimental. Liam continuava bebendo alguns goles de wisky e lançando olhares fulminantes para o irmão, que apenas fitava um ponto qualquer no fundo de seu copo.

 

- Eu poderia estar em casa, dormindo, ou com meus filhos... Por que diabos eu continuo aqui com dois idiotas que, daqui a pouco, vão começar a se matar?! – Johnny pensava, suspirando e pendendo sua cabeça para trás, visivelmente entediado.

 

- Gosta de poker John? – Liam perguntou, com a voz enrolada por causa das várias doses de bebida. Johnny fez cara de quem não estava entendendo sobre o assunto, o que era verdade – Sabia que meu irmão querido adora? – a voz de Liam era irônica e, por mais que várias doses de wisky estivessem correndo em suas veias, ele sabia muito bem o que estava falando.

 

Noel o olhou confuso, enquanto recebia como resposta do irmão um sorriso sarcástico. Noel não tinha a mínima idéia sobre o que Liam estava falando, mas Liam sabia. E muito bem.

 

------ x ------- x ------

 

O mais novo dos Gallagher arrumava uma mecha de cabelo, que estava fora do lugar, diante do espelho. Apesar de tudo ele gostava de estar bem arrumado. Analisou a roupa uma última vez e foi para a sala, esperar a namorada. Sadie era o tipo de mulher que não se atrasava para nada, ainda mais para um jantar com Liam.

 

Ele sentou no sofá, suspirando. Olhou mais uma vez o relógio na parede da sala. Faltavam alguns minutos para as oito da noite. Sadie estava atrasada e Liam odiava atrasos. Não que ele realmente odiasse atrasos, ele odiava esperar. Escorou as costas no sofá, colocando a cabeça para trás, olhando para o teto branco acima de sua cabeça.

 

Suspirou alto mais uma vez. Sadie teria uma boa explicação para o atraso, uma ótima explicação. Ouviu seu celular vibrar sobre a mesa de centro, mas não deu muita importância. Apenas olhou o aparelho se mexer sobre a mesa. Voltou sua atenção novamente para o teto. Quando o celular parou vibrar, Liam se moveu, trazendo o telefone para si e voltando a posição que estava antes.

 

“Saí do shopping agora. Desculpe.

Te amo litte pilot.”

 

Shopping?! Sadie nunca fora dessas mulheres que passavam horas comprando. Por que justo hoje? Liam estava irritado com aquilo que acabara de ler no visor do seu celular. Atirou o mesmo para longe, acertando o outro sofá, do lado contrário ao que estava. Como uma criança mimada e irritada, cruzou os braços, fazendo bico. Sadie estava encrencada pelo simples fato de trocá-lo pelo shopping e ainda o deixar esperando.

 

Fechou os olhos, tentando imaginar uma forma de punir sua sexy Sadie... E não era algo que crianças pudessem assistir. Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios, revelando os pensamentos pervertidos que passavam por sua mente. Pensamentos que envolviam bebidas, uma cama e braços presos à cabeceira. Sorriu mais ainda, mas logo tentou afastar esses pensamentos que estavam fazendo outras partes de seu corpo reagir. Ajeitou-se no sofá, colocando seus pensamentos em ordem, guardando os mais pervertidos e sacanas para mais tarde, onde os colocaria em prática.  

 

Para desviar sua atenção, abriu o notebook de Sadie que estava sobre a mesa de centro. Sem sair do sofá, apertava as teclas, procurando por algo que não sabia muito bem o que era. Abriu algumas pastas, ouviu trechos de algumas músicas, quase todas de bandas dos anos sessenta e setenta. O tédio já estava tomando conta de Liam, não havia muita coisa a se fazer para esperar a Srta. Troquei Meu Namorado Por Compras. Resolveu assistir a algum vídeo dos vários dvds que Sadie havia deixado sobre a mesa de madeira. Olhou a caixa de um desses dvds, escolhido aleatoriamente. Sem nome, provavelmente era mais uma das seleções de clipes que Sadie fazia. Abriu o drive de cds do notebook, colocando o dvd sem muito cuidado. Não estava com paciência para isso. Suspirou tediosamente, esperando o vídeo abrir.

 

O vídeo começava com uma tela preta, que logo foi substituída por quatro mulheres sentadas num sofá. Liam logo reconheceu que eram todas amigas de Sadie. Uma mulher alta e ruiva que estava sentada na ponta começou a falar sobre como conheceu Sadie. Liam estava achando aquilo muito chato. Era um vídeo-presente de aniversário.

 

- Como mulheres podem ser tão irritantes? – pensava Liam, enquanto apenas ouvia o que a segunda mulher falava sobre Sadie.

   

Liam estava quase fechando o vídeo quando a mulher ruiva interrompeu a outra, falando algo sobre uma surpresa.

 

- Espero que o Liam não esteja assistindo com você... – a ruiva falava, olhando diretamente para a câmera.

 

O Gallagher voltou sua atenção para a tela, que mostrava um ambiente parecido com um cassino. Ouvia-se risadas e música alta ao fundo. A câmera deu um giro ao redor do salão, parando em uma parte distante.

 

- Sadie, se você está vendo esse isso é porque você me pagou as cem mil libras que eu te cobrei pelo vídeo. – uma voz, provavelmente da mulher que estava filmando, ameaçou.

 

A câmera aproximou a imagem da mesa mais distante, onde uma mulher dançava sensualmente sobre a mesma. Com um vestido preto, justo, que ia até a metade da coxa, dançava ao ritmo da música que tocava, passando as mãos pelo próprio corpo. Estava bêbada, definitivamente, mas isso não a deixava menos sensual. Foi quando a mulher passou as mãos pelos cabelos, que estavam lhe encobrindo a face, foi que Liam percebeu quem era. Era Sadie, sua sexy Sadie.

 

Sadie dançava sensualmente, enquanto os homens que estavam sentados à mesa, também visivelmente bêbados, a aplaudiam e davam gritos, incentivando-a. Sadie sorria, maliciosamente para cada um deles. Liam estava perplexo. Desde quando sua Sadie fazia esse tipo de coisa?! Queria que Sadie estivesse alí, não para explicar, e sim para sofrer, e muito. Seria a morte mais cruel desde os tempos da idade média.

 

A câmera acompanhava cada movimento de Sadie, mesmo de longe. A música mudou, para uma mais agitada, foi quando Sadie sentou-se sobre a mesa, colocando as pernas para fora e cruzando-as sensualmente. Pegou um dos copos de wisky que estavam sobre a mesa, junto com as cartas e as fichas de poker, e bebeu aquela dose toda de uma vez. Sadie curvou-se sobre o homem que estava ao seu lado. A câmera acompanhou quando a mulher tocou os lábios do homem com os seus.

 

O sangue de Liam estava fervendo. Apertou os pulsos com força para não atirar o notebook para longe. Fechou os olhos, imaginando a forma mais dolorosa que alguém poderia morrer. Foi quando a porta da sala se abriu, revelando uma Sadie sóbria, carregando uma sacola de compras e uma bolsa pendurada em um dos ombros.

 

- Desculpe o atraso Liam, mas o Noel pediu que eu fosse... – Sadie não conseguiu terminar de falar ao ver a expressão furiosa de Liam, como se em poucos milésimos de segundo fosse ser atacada.

 

- Cara, a Sadie ‘tá dando uns pega no Noel Gallagher! – uma voz masculina gritava no vídeo.

 

A sacola e a bolsa que Sadie segurava caíram no chão enquanto Liam se corrigia mentalmente: seriam as duas mortes mais cruéis desde os tempos da idade média.

 

------ x ------- x ------

 

Liam olhou para o irmão. Um olhar cheio de ironia, misturado com raiva e um desejo crescente de matá-lo. Contrariando seu próprio desejo, Liam desviou o olhar do irmão, bebendo o restante da dose de wisky. Noel ainda olhava para Liam sem entender daquele assunto sem nexo. Voltou a olhar um ponto qualquer do bar, acreditando que o irmão estaria ficando fraco para bebida com o passar dos anos.

 

John encarava a cena a sua frente tediosamente. Bocejou, antes de pegar a garrafa do centro da mesa e servir-se mais uma dose, acabando assim como wisky. Bebeu um gole, sem muita pressa, apreciando o sabor. Não que sentisse gosto de alguma coisa depois de tanto álcool, mas aquilo o acalmava.

 

Estava começando a se irritar com as atitudes idiotas dos dois irmãos à sua frente. Sua vontade era trancá-los em um quarto e fazê-los ouvir All You Need Is Love até que saíssem de lá abraçados e cantando. Mas querer não é poder, disso ele tinha realmente certeza...

 

   ------ x ------- x ------

 

- Droga! – John falou enquanto o sinal ficava vermelho. Bateu com força os punhos sobre o volante, como se aquilo o acalmasse ao menos um pouco.

 

Sentado no banco de seu carro, Johnny Depp em nada se diferenciava do resto da população londrina que estava na rua naquela tarde nublada. O fato era que recebera um recado no set durante a filmagem de seu mais novo filme. Megan precisava vê-lo urgentemente.

 

Megan, sua nova namorada, havia concordado de ficar algumas horas com seus filhos, Lily Rose e Jack, enquanto John terminava de gravar uma cena no estúdio que ficava no centro de Londres. Ao receber o recado, rapidamente pegou seu carro e foi em direção a sua casa, que, depois da separação amigável com Vanessa, passou a ser num condomínio mais afastado do centro de Londres, enquanto a ex-esposa vivia num apartamento com os filhos, também em Londres.

 

Johnny viu o sinal mudar para verde, pisando no acelerador. Estava preocupado. E se algo tivesse acontecido com seus filhos? Será que Lily Rose teria caído e se machucado? Ou Jack, tentando descobrir novos mundos pelo jardim, fora picado por um inseto desconhecido pela ciência? Ou Megan teria abandonado as crianças e fugido com um italiano alto, de olhos verdes, dono de uma Ferrari amarela?

 

Perdido em pensamentos das coisas horríveis que provavelmente teriam acontecido aos filhos, John logo chegou à entrada do condomínio. Estacionou o carro de qualquer maneira na entrada da garagem da luxuosa casa, pouco se importando com a força que batera a porta do carro ou com as flores que tinha atropelado ao tentar estacionar o carro.

 

Caminhou apressadamente, em direção a porta dos fundos, chamando a atenção de uma senhora de cabelos brancos que passava com seu cachorro pela calçada. Johnny, ao ver o quintal, acalmou-se um pouco. Ao menos, ninguém tinha se afogado na piscina. Abriu a porta dos fundos, que estava destrancada, e entrou na casa.

 

Silêncio absoluto. Luzes apagadas. Cortinas fechadas. Nenhum sinal que havia uma criança naquela casa. Passou rapidamente pela cozinha, ao não notar ninguém alí. Caminhou, com passos largos, até a sala, que estava escura e vazia. Nada. A casa parecia deserta.

 

- Devem estar em algum hospital! – pensou John, indo na direção do telefone rapidamente.

 

Foi quando ouviu um barulho vindo do andar de cima. Algo caindo, seguido de uma música lenta e sensual. Seguiu intrigado, o lugar de que vinham os sons. Subindo a escada pouco iluminada, um passo de cada vez. Ao chegar ao topo da escada, percebeu que a música vinha do próprio quarto. Definitivamente as crianças não estavam alí.

 

Caminhou até a última porta do corredor e entrou. O quarto estava repleto de velas aromáticas iluminando o espaço. Pétalas de rosas vermelhas estavam espalhadas pelo chão e pela cama. Johnny, visivelmente irritado com aquilo tudo, encarava o chão, ainda se perguntando por que ficou preocupado com seus filhos quando o problema era com a mulher que dormia ao seu lado toda noite.

 

- Típico da Megan... – ele balançou a cabeça, de um lado para outro.

 

Megan tinha sérios problemas para distinguir o que era de extrema urgência de um simples capricho feminino. E John sabia disso. Sabia quando a trouxe para morar com ele. Quando se apaixonou por ela. Megan era terrivelmente problemática.

 

- Gostou da surpresa amor? – a figura feminina, escorada no batente na porta, perguntou.

 

Johnny virou-se, notando que a namorada vestia apenas uma lingerie vermelha, com alguns detalhes em renda preta, revelando seu belo corpo. Ao vê-la assim, se não fosse pelo motivo maior - seus filhos - Johnny teria esquecido tudo, pegado as taças de vinho de suas mãos, a atirado, literalmente, na cama, e teriam passado a noite entre carícias e sexo selvagem. Mas ele estava furioso de mais para fazê-lo. Continuou encarando Megan, que sorria incansavelmente.

 

- Feliz um ano de sexo comigo! – Megan levantou as taças, comemorando.

 

A paciência quase esgotada de Johnny acabou assim que Megan veio ao seu encontro. Um olhar de um pai preocupado e furioso. Uma namorada que só queria diversão. Aquilo não poderia dar certo...

 

      ------ x ------- x ------

 

Johnny se mexeu desconfortavelmente na cadeira do pub. Bebeu o restante da bebida em seu copo, batendo-o com força sobre a mesa, parecendo acordar os irmãos Gallagher do transe alcoólico em que se encontravam. Noel bebeu seu último gole de wisky, enquanto Liam olhava para o lado oposto ao que olhava antes. Encarou seu copo vazio desanimadamente. Sentiu que era hora de ir. Tinha outros planos para finalizar a noite, e nenhum deles incluía os homens que estavam sentados à mesa com ele. O Gallagher mais novo levantou, acenando levemente para Johnny e Noel.

 

- Aproveite seus últimos dias, querido irmão... – Liam pensou, ao sair do pub. Um sorriso maldoso surgiu em seus lábios. A vingança viria mais cedo do que pensava...

 

O clima mudou bruscamente com a saída de Liam da mesa. Noel encarou Johnny e começou a gargalhar sem motivo algum enquanto o amigo fazia o mesmo. Definitivamente a bebida havia feito algum efeito sobre eles.

 

- Acho que já é tarde... – Noel disse, levantando-se da cadeira, ao constar que restavam poucas pessoas no pub -... E acho que preciso de um táxi.

 

- Talvez, Noel. – Johnny riu do amigo, que tropeçou ao levantar da cadeira.

 

Noel saiu, após esse pequeno diálogo com John, deixando-o sozinho. Johnny bebeu mais uma vez de seu copo, certificando que não havia deixado nenhuma gota. Voltou a jogar sua cabeça para trás, tentando recuperar um pouco de seu sentido de direção.

 

- Definitivamente talvez... – ele sussurrou ao levantar, e dessa vez, definitivamente, não era para Noel.

 

A vingança é uma iguaria que se come fria, e muito bem preparada.

 

 

 

 


 

 

 

 

   


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/A: Tudo começou com um "Bem que tu poderia escrever uma fic do Johnny com o Liam e o Noel..." e a fic surgiu. Créditos à Duda, por me ajudar com as histórias e a Roxy por ser a guria do Noel. Beijos à todos e deixem comentários.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "- Flashback" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.