Eu estava numa sala escura e não conseguia ver nada nem ninguém. Mas apesar disso eu sentia, sentia que tinha mais alguém lá, sentia que estava me olhando, sentia uma energia ruim.

De repente uma luz se acendeu, havia uma pequena lâmpada presa no teto de forma precária. O ambiente era bem sinistro, era uma sala que não tinha nenhuma janela ou entrada de luz. Tinha apenas uma escada que dava em algum tipo de portinha no teto. Logo reconheci que era um porão, um porão que eu nunca tinha visto antes.

Mas a parte sinistra era que eu estava sentada no chão, no meio de uma espécie de símbolo. Parecia ser um círculo dentro de um triangulo. Eu já vi esse símbolo antes, várias vezes.

No dia em que nos mudamos para a casa nova (o que foi cerca de três semanas atrás), eu vi esse símbolo. Ele estava desenhado na porta do meu quarto, devia ser o vizinho que tinha desenhado, mas por mais que eu tentasse limpar, ele não saia dali. Depois disso eu o vejo em quase todo lugar: desenhado na areia da praia, no espelho do banheiro da escola e até no meu caderno.

Levantei-me e fiz o que qualquer pessoa sensata faria: fui correndo até a porta. Porém, antes que eu conseguisse chegar perto da escada eu fui violentamente jogada contra a parede atrás de mim. Se eu não me engano, essa pancada teria quebrado pelo menos três ossos do meu corpo.

Mesmo dolorida e quase sem forças, eu tentei levantar, mas não conseguia. Era como se tivesse alguém me segurando, me impedindo de me mexer. Tentei lutar, mas não adiantou de nada.

– Lutar não vai adiantar de nada – disse uma voz, não uma voz humana, uma voz perturbadora, uma voz que perfurava minha alma e aumentava minha dor.

– Quem é você? – gritei, a esse ponto eu já estava desesperada, a dor estava se tornando quase insuportável. Lágrimas caiam de meu rosto descontroladamente. Eu não iria suportar por muito tempo.

– Você descobrirá em breve, minha cara – de repente eu percebo alguém a minha frente. Alguém não, algo. Aquilo não era humano, estava mais para um ser sombrio, uma coisa que eu nunca vi antes.

Aquilo estava me encarando, a pesar de não ter olhos. Eu podia sentir que aquele ser era uma energia ruim, podia sentir que era pura maldade. Tentei me levantar de novo, mas ainda tinha alguma força me prensando contra a parede.

E se já não bastasse isso tudo, o armário que eu quase não tinha reparado que estava ali se abre, e de dentro dele caem um monte de pessoas mortas. Seus membros estavam cheios de arranhões, cortes e sangue. Seus globos oculares haviam sido arrancados e seus rostos sangrando muito mesmo. Quando vi a cena tive vontade de vomitar.

Eu estava encolhida contra a parede, tentando acreditar que aquilo era real. E num piscar de olhos, os corpos fizeram uma meia lua em volta de mim, me cercando totalmente. Seus pés não tocavam o chão, como se fossem marionetes daquele ser.

–Você será a próxima. Você será a próxima. – sussurraram os mortos em conjunto.

Então eu senti a maior dor que já senti em toda a minha vida. Meu braço começou a queimar, doer, formigar e arder ao mesmo tempo. Quando eu olhei pro meu braço ele estava sangrando descontroladamente. Assim que a dor começou há diminuir um pouco eu tomei coragem para olhar pro me braço.

Parecia que alguém tinha escrito com uma faca no meu braço: “Você será a próxima”.

***

Acordei suando frio, olhei em volta e tive um alivio imenso. Nada de criatura sombria, nada de cadáveres, nada de porão. Eu estava em meu quarto, aquilo tudo fora apenas um pesadelo.

Olhei em meu celular e vi que já estava quase na hora de acordar. Levantei-me meio tonta, ainda assustada por causa do sonho. Meu braço doía um pouco, achei estranho e arregacei a manga do pijama para me certificar. Quando eu vi aquilo tive que morder minha mão para não gritar.

Acho que aquilo não foi exatamente um pesadelo, pois em meu braço estava cicatrizada a frase: “Você será a próxima”.