Pesadelo | Amor Imortal 01 escrita por Lolli Blanchard


Capítulo 6
Capítulo 6




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A prisioneira estava sentada em uma daquelas cadeiras da mesa que existia em seu quarto, ela não podia acreditar que havia sido enganada por Maximus e se apavorado tanto por causa de uma mentira a toa.

De manhã, depois que Krueger foi embora, o anjo loiro fez questão de levá-la até seu quarto já que a sessão de recuperação das suas memorias havia acabado. Maximus disse que levaria dias até que todos os escudos fossem quebrados e ela sempre perderia noção do tempo em quanto ele estivesse em sua mente. De qualquer forma, ela quase pediu para que o anjo não a acompanhasse até seu quarto, mas também não sabia como chegar até lá e se fosse para trocar Maximus por Gate, ela preferia o anjo arrogante do que um piadista irritante.

Ela havia caminhado atrás de Maximus tentando fixar o caminho que fazia em sua mente para que no futuro não precisasse de um acompanhante para levá-la até seu quarto. A prisioneira tentava olhar por cima dos ombros do anjo em sua frente, mas além dele ser maior do que ela, suas asas impossibilitavam qualquer chance de enxergar o caminho que ele estava fazendo.

Depois de alguns minutos, Maximus parou diante de uma porta e se virou para ela sem dizer uma palavra, provavelmente estava esperando que ela entrasse no quarto para que fosse fazer suas coisas que deveriam estar atrasadas por causa dela, mas antes que a prisioneira entrasse em seu quarto, ela encontrou os olhos azuis tão atentos quanto os de um felino.

— Posso lhe pedir uma coisa?— Falou a prisioneira calmamente, tentando ser uma verdadeira dama ao falar com alguém que estava acima dela, mesmo que negasse acreditar que fosse inferior à Maximus. Tudo bem que o anjo loiro era imperador do inferno e possuía asas brancas tão lindas e grandes que poderiam causar inveja a qualquer pessoa e ela nem mesmo era dona das roupas que vestia, mas isso não significava nada.

— Claro.— Ele a respondeu, não desviando seus olhos dela.

— Você poderia me dar outro quarto para dormir?— Ela perguntou tentando fazer sua melhor expressão de coitada, pois não desejava perder mais uma noite de sono por causa da lagarta do oceano e ficar zanzando por corredores desconhecidos.

— Qual é o problema com seu quarto?— O anjo semicerrou seus olhos claros.

— Eu não quero dormir nesse quarto sabendo que existe uma lagarta gigante cheia de dentes no oceano logo a baixo da minha janela.— A prisioneira respondeu baixinho, seu orgulho não a permitia dizer isso em um tom alto e claro.

Maximus piscou e depois que segundos passaram, o anjo em frente dela riu. Realmente riu. Seus olhos ficarem pequenos nesse momento, como duas pequenas fendas que lembravam os olhos de um felino brincalhão, seus dentes perfeitos ficaram a mostra e o som de seu riso fez o estomago da prisioneira tremer. O anjo olhou para baixo ainda rindo, um sinal de quem não deveria estar fazendo aquilo. Ela não conseguia acreditar que esse homem que raramente demonstrava algum sentimento estava rindo diante dela. Maximus passou uma mão por seus cabelos dourados em uma tentativa de tirá-los de frente de seus olhos e depois de falhar, o anjo movimentou sua cabeça para que aqueles fios rebeldes fossem para o lado.

— De fato criaturas vivem naquele oceano,— Ele disse com um sorriso.— mas não existe nenhuma lagarta gigante com dentes de tubarões que rastejam pela terra.—

— Você mentiu para mim?!— A prisioneira perguntou incrédula.

— Sim.— O sorriso dele apenas aumentou.

A prisioneira estava de boca aberta, não acreditando que havia sido alvo de uma brincadeira tão maldosa que a fez perder o sono...— Seu bastardo sacana!—

Maximus elevou suas sobrancelhas em surpresa, segurando um riso em sua garganta e deixando que seus olhos rissem por ele.— Para uma humana que nem ao menos lembra seu nome, você conhece palavras bem educadas.—

— Eu sei falar palavras ainda piores para pessoas mentirosas, Maximus.— Ela disse aquilo como uma ameaça, mas para o anjo apenas foi uma brincadeira. Afinal, como um homem tão grande e imortal poderia sentir medo dela?

— Em minha defesa, apenas estava curioso para saber até onde seu medo iria e...— A prisioneira não o ouviu mais, ela entrou em seu quarto e bateu a porta na cara dele.

Agora ela estava observando fixamente a comida que existia em sua frente, já havia se passado horas desde que Maximus a trouxe até seu quarto e pelo tanto de comida que existia naquela mesa de vidro, aquilo provavelmente era o seu almoço. A prisioneira estava pensando por onde começar e por mais que as opções fossem grandes, ela optou pelo suco de laranja que logo o deixou de lado, pois achou que ele estava sem gosto. Assim como todo o restante das comidas que provou.

A prisioneira ficou decepcionada em como uma comida tão bonita podia ser sem gosto. Talvez a comida do inferno fosse diferente daquela que estava acostumada a comer em sua casa, ela podia ter se esquecido de tudo que gostava, mas seu paladar provavelmente ainda era exigente. Alguma hora a comida iria fazer falta a ela e teria que conversar sobre isso com Maximus, mas em quanto pudesse evitar essa pequena reclamação de que odiou a comida desse lugar, ela evitaria. Afinal, o arcanjo estava fazendo de tudo para que se sentisse bem como uma hospede, tirando a parte que a irritou por mentir sobre uma criatura inexistente.

E ela mal podia acreditar que caiu naquele conto e ainda perdeu uma noite de sono. Suas mãos imploravam para envolverem o pescoço do anjo e esganá-lo até morrer sem ar, mas por outro lado, foi bom vê-lo rir. O som de sua risada foi capaz de mostrar que apesar dele ser o dono desse lugar que não aparentava ser feliz, ele ainda podia rir. Diane estava certa quando falou que ele não tão insensível como demonstrava. Apenas era um bastardo mentiroso que tirava o sono das pessoas.

A prisioneira, sabendo que não iria mais comer aquela comida sem gosto, empurrou seu prato para longe dela ao mesmo tempo que sua porta era aberta em um estrondo e duas mulheres entravam sem ao menos bater, uma delas agiu como se fosse dona daquele lugar. Katherine e seu nariz empinado invadiu o quarto como se fosse o dela, juntamente com Diane que parecia suplicar por algo.

Ambas vestiam calças apertadas e botas, seus cabelos presos em tranças perfeitas e Katherine ajeitava uma de suas luvas de couro, em quanto Diane caminhava atrás dela.

— Qual é o problema dela ser nossa caça?— A nariz empinado perguntou com desprezo.— Max disse que não podemos matá-la, não que ela estava proibida de ser parte do nosso jogo.—

— Kath!— Diane a repreendeu e ela apenas ignorou a irmã do arcanjo.

A prisioneira estava imóvel e em silencio em quanto observava as duas damas sem seus vestidos longos, substituídos por roupas mais esportivas. Ambas se viraram em sua direção quando perceberam que ela estava prestando atenção na pequena discussão delas que incluía sua pessoa. Diane sorriu e Katherine a mediu com seus olhos azuis tão claros quanto o céu que ela conhecia.

— Você gostaria de se juntar a nós para uma caça?— Ela perguntou com falsa simpatia, não tendo nenhum problema em melhorar seu empenho.

— Não aceite.—

— Por que não?— A prisioneira perguntou, não desejando ser intimidada por Katherine e seu desprezo.

— Porque Kath é má!— Diane acusou da maneira mais delicada que poderia existir, mostrando que sua educação era limitada sobre palavras feias.

— Oh, por favor.— Katherine disso com deboche.— Marie participa do nosso jogo a anos e nunca recebeu um arranhão.—

— Como é esse jogo?—

— É simples, existem os predadores e a caça.— Katherine explicou.— A caça corre como um ratinho fugindo para sua toca antes que seja morto.—

— Não existe morte alguma.— Diane fuzilou Katherine com o olhar.— A caça apenas recebe um cinturão cheio de fitas douradas e quando os predadores roubam uma delas, ela perde.—

— Devo falar que sou ótima como predadora.— A nariz empinado disse com um tom cru e olhando para a prisioneira sentada diante dela, fazendo com que os pelos de seus braços se arrepiassem.

— O que ganho em troca se não perder nenhuma fita?— Ela perguntou com seus olhos presos com os de Katherine, sabendo que se aceitasse esse jogo, seria o alvo principal dela. E se existia algo que a prisioneira nunca faria, seria se acovardar nesse jogo que não estava entendendo. Afinal, Katherine provavelmente foi até seu quarto para botá-la contra parede e fazer com que ela fugisse com medo. Definitivamente, isso não aconteceria.

— Você não irá ganhar.—

— Você pode estar completamente certa,— A prisioneira disse ao mesmo tempo que cruzava uma de suas pernas e virava em direção de Katherine.— Talvez eu morra sufocada com seu ego antes mesmo que tenha a chance de ganhar algo.—

Diane riu com o comentário da nova hospede daquele castelo, mas logo parou quando foi vez de Katherine lhe lançar um olhar fuzilador. E a prisioneira não pode deixar de notar que o modo que ela riu era parecido com o de Maximus, a maneira como Diane riu e depois olhou para baixo ainda rindo era exatamente como o anjo loiro fez com ela. Diane até mesmo mesmo passou uma de suas mãos pelos cabelos por ter rido em um momento errado.

— Se você ganhar, eu irei parabenizá-la.— Katherine disse com sua pose impetuosa.— Se você ganhar.— Ela ressaltou.

A prisioneira sorriu satisfeita com o seu premio, mesmo sabendo que era algo considerado pouco quando ela podia ter pedido ouro, ouvir essas palavras saindo dos lábios daquela mulher de nariz empinado seria muito melhor do que qualquer dinheiro.— Tudo bem, estou dentro do jogo.—

Agora, ela só tinha que se preocupar em ganhar de alguém que provavelmente era imortal e praticou esse jogo milhões de vezes. Realmente, isso não era nada demais.

Mais tarde, depois que Diane e Katherine deixaram seu quarto, Marie apareceu para que a prisioneira a acompanhasse até o encontro das duas damas daquele castelo enorme. Ela também ousou explicar algumas coisas sobre o jogo e tudo se resumia em correr e não perder nenhuma das fitas. Diferente de Diane e Katherine, a prisioneira não havia ganhado nenhuma roupa esportiva, ela teria que enfrentar tudo vestindo um vestido.

Marie a levou para fora do castelo e a prisioneira ficou frenética ao ver uma enorme porta de madeira com maçanetas douradas em sua frente, sendo puxadas pela empregada. Ela não havia nunca pensado como era o castelo por fora, mas também a curiosidade que apareceu dentro dela sobre essa questão pareceu que a atormentava a anos. E assim que a empregada deu espaço para que ela passasse, para que estivesse diante daquele céu vermelho e com nuvens cinzas, a prisioneira desceu as escadas arredondadas e brancas com presa.

Ela se virou em direção do castelo novamente e sua respiração ficou presa por vários segundos ao ver como aquele lugar realmente era. E viu que estava totalmente enganada ao pensar que aquele jardim com teto de flores era a coisa mais linda que já virá desde que acordará.

O castelo dava a impressão de que era quadrado e nas quadro pontas dele existiam torres pontiagudas como aquela em que rapunzel foi presa para nunca conhecer o mundo. Ele era feito de tijolos que pareciam pedras da cor cinza claro e havia milhares de janelas que anunciava os cômodos que existiam la dentro. Diante dele existia um gramado bem cuidado e cheio de vida da cor verde escuro, bem no centro daquela entrada existia um chafariz que jorrava a água do centro para todos os lados e ele era feito do mesmo material do castelo. E ao redor de todo aquele lugar existiam colunas de gramas altas que formavam muros. Ela não podia ver o mar que via pelas janelas, mas escutava a correnteza que fazia aquelas águas sem ondas se debater contra as pedras.

Tudo era tão lindo...

A prisioneira ouviu o som de cavalos e se virou na direção deles para ver Katherine e Diane montadas nos animais tão negros quanto a noite que dominava esse lugar. Ambas cavalgavam com uma elegância surpreendente, sem ao menos ter um aviso, era obvio que elas tiveram pratica na montaria desde que eram pequenas, já que aparentemente o inferno não possuía automóveis.

O que era ótimo era que ninguém mencionou que a prisioneira e Marie seriam pisoteadas pelas patas daqueles animais enormes que corriam muito mais rápido do que ela um dia poderia conseguir. Realmente, era bom que Katherine não tivesse pedido sua alma em troca, pois ela já se sentia derrotada.

Elas desceram de seus cavalos assim que se aproximaram da prisioneira e Diane comunicou que caminhariam para acompanhar os passos de Marie e o dela até que o jogo iniciasse. Um sorriso estava estampado nos lábios perfeitos de Katherine em quanto ela mantinha seu cavalo próximo ao seu corpo para controlá-lo, era obvio que aquela mulher do inferno já havia sentindo o cheiro de derrota que radiava da prisioneira.

Ignorando esse sentimento que não parecia combinar com ela, a prisioneira passou a caminhar ao lado de Diane e Marie que falavam alegremente sobre o dia estar bonito. Katherine decidiu caminhar atrás delas sozinha com seu mal humor e antipatia. E apesar de desejar provocar aquela mulher tão esnobe, a prisioneira preferiu observar o lugar que estava a baixo daquele céu vermelho, já que ela nunca saiu de dentro do castelo.

Ela ficou impressionada em ver que o tão temido inferno era um lugar até que bonito, sendo o céu a única coisa feia. Parecia que o castelo de Maximus fora construído em cima de um penhasco, pois ela podia ver o mar lá em baixo e um caminho que levava até uma cidade que lembrava a época que camponeses existiam. Era um lugar bonito e perigoso para pessoas que não possuíam asas.

O vento que deveria ser forte já que estavam no topo de um penhasco, não era. O inferno aparentemente era contra tudo aquilo que era conhecido, e a única coisa que se debatia contra elas era uma leve brisa. Mas era uma brisa que deixou todo seu corpo gelado pela falta de agasalhos e de um lugar quentinho como o castelo.

Quando elas chegaram até a entrada de um bosque, Diane e Katherine pararam de caminhar e o silencio até mesmo dos cascos de cavalos caminhando cessou. E quando a prisioneira percebeu, o olhar de todas estavam nela.

— É aqui que nós praticamos nosso jogo.— Diane disse gentilmente.— Não se preocupe sobre estar sozinha no inferno, não existe nenhum perigo aqui no nível 1.—

— Só tome cuidado para não se aproximar dos portões que estão atrás do bosque.— Katherine disse com desdem, parecendo que foi obrigada a dizer aquilo.— A menos que deseje morrer.—

— Tudo bem.— Ela disse.— Onde estão minhas fitas?—

Diane caminhou até seu cavalo e de dentro de uma bolsinha de couro pegou dois cintos que estavam cheios de fitas douradas enroscadas nele. Ela entregou um para a prisioneira e outro para Marie. A empregada que era mais experiente naquele jogo amarrou o seu cinto e logo foi ajudar a nova caça que estava derrubando todas as fitas ao tentar amarrar o cinto em volta de sua cintura.

Katherine soltou um riso cheio de vitória por causa da cena e a prisioneira desejou chutá-la bem no meio de seu estomago, mas a única pessoa que estava em sua frente era Marie e a emprega não merecia aquilo.

— Nós daremos a vocês a vantagem de 1 minuto para correrem pelo bosque antes de entrarmos.— Diane disse ao montar em seu cavalo negro e puxando as rédeas com suas mãos delicadas de uma forma que mostrou quem estava no comando, Katherine fez o mesmo que ela, mas aquea mulher não era delicada como Diane, ela montava seu cavalo como uma guerreira.

A prisioneira se virou na direção de Marie com a esperança que a empregada falasse que ela a acompanhasse por aquele bosque desconhecido, mas Marie não estava mais ao lado da prisioneira, ela já havia se infiltrado naquele lugar e a abandonadou.

Claro que a empregada iria salvar a pele dela ao invés de ajudar alguém que seria massacrada pelas patas de um certo cavalo, claro.

Olhando pela ultima vez Diane e Katherine, ela se virou e correu em direção do bosque tão cheio de vida, tomando cuidado nos lugares que pisava para que não caísse ou encontrasse a outra beira do penhasco, já que elas ainda estavam no topo dele. Ela também tomou cuidado com seu vestido também, com certo medo de que não ficasse preso em algum galho e a derrubasse, pois sabia que em questão de segundos Katherine estaria atrás dela.

A prisioneira não estava com medo, pois depois de ter enfrentado Maximus naquele pântano, ela sabia que também podia derrubar Katherine, ainda mais quando aquela mulher esnobe estava a baixo do anjo loiro. Na verdade, a certeza sobre isso sobre isso não existia, mas considerando que Katherine não possuía asas, podia deduzir isso.

Ela estava serpenteando por árvores altas e cheias de vidas com suas folhas verdes escuras em quanto corria, pois isso se tratava de uma caça e quanto mais despistasse Katherine, melhor seria o resultado em atrasá-la. Aquela dama tinha todas as vantagens sobre a prisioneira e a única coisa que ela possuía era o fato dela não conhecê-la.

Tudo bem que nem ela mesma se conhecia e isso a deixava sem nenhuma carta nas mangas, mas ainda assim, a única pessoa que passou mais tempo em sua companhia foi Maximus e talvez ele pudesse imaginar tudo o que ela iria fazer nesse jogo, mas Katherine apenas a viu em seu julgamento e nada mais.

A prisioneira ouviu o som dos cascos de um cavalo veloz contra o chão e sabia que seu predador estava próximo, muito próximo. E ela precisava de um plano para salvar suas fitas douradas antes de serem roubadas por Katherine. Se fosse Diane a perseguindo, talvez ela não estivesse tão desesperada para se proteger, a prisioneira provavelmente entregaria suas fitas para a irmã de Maximus assim que a encontrassem, pois ela estava cansada de correr. Estava obvio que a prisioneira não era o tipo de pessoa que gostava de esportes e ela aceitava esse fato, mas seu orgulho não permitia que perdesse para uma mulher tão esnobe.

Correndo sem ter uma direção, já que não conhecia esse bosque cheio de árvores que serviam de obstáculos para todos. A prisioneira não sabia para onde ir, mas quando viu arbustos grandes que podiam servir como um esconderijo, ela correu para se colocar ao meio deles, tomando cuidado para que os espinhos não a machuca-se e rasgasse algumas das fitas.

Se esconder não estava em seus planos, mas também não era tola de querer competir com a velocidade de um cavalo grande e que provavelmente era treinado para ser veloz.

Segundos após ela ter se enfiado no meio daqueles arbustros altos e que a escondiam muito bem, o cavalo negro de Katherine apareceu em frente dela, caminhando lentamente para que ela pudesse observar tudo que estava diante de seus olhos azuis e procurar pela prisioneira. Em quanto aquela mulher que pertencia ao inferno estava tão próxima dela, ela nem ao menos conseguia respirar direito e quando aquele cavalo se aproximou ainda mais daqueles arbustros, caminhar para trás até que estivesse totalmente fora do alcance de visão daquele animal foi parte de seu instinto.

A cada passo que dava ela se sentia ainda mais aliviada por estar longe de Katherine e deixar suas fitas douradas a salva, mas a prisioneira não percebeu quando o chão de terra que pisava acabou e um enorme lago se estendeu em suas costas. E tudo aconteceu em questão de segundos após ela cair, a água que sem nenhuma piedade envolveu seu corpo, como correntes pesadas que a puxaram para baixo, estava começando a fazer parte de seu corpo quando um grito era substituido por litros de águas dentro de seu organismo. Ela não encontrava o chão daquele lago para achar o impulso e mandar seu corpo para cima e também não conseguia chegar até a superficie definitivamente para respirar.

Ela não sabia nadar ou simplesmente não se lembrava como fazia aquilo, mas o seu desespero apenas aumentou quando as poucas vezes que chegava até a surperficie não era o suficiente para recuperar o ar e pedir por ajuda. Katherine estava logo atrás daqueles arbutos e ela iria ouvir os gritos desesperados da prisioneira. Ela tinha que ouvir.

A prisioneira tentou bater seus pés, movimentar seus braços e nada funcionou. Ela continuava afundando e afundando como se fosse uma pedra jogada ao mar. Era ironico pensar que de tantas formas para morrer no inferno, a maneira como morreria seria afogada. Com tantos imortais nesse lugar, ela iria morrer de uma forma tão mortal...

Ela aindanão havia desistido de salvar sua vida, mesmo que parecesse que existisse alfinetos em seus pulmões e a sensação de que água estava entrando por seu nariz, ela não desejava morrer. Não quando não existiria nem um nome em sua lápide ou uma frase sobre as pessoas que a amaram. E em uma das suas tentativas para encontrar o ar definitivamente ao invés de água, seus olhos rapidamente viram Katherine e tudo pareceu se tornar um filme que foi feito em camera lenta assim que a prisioneira a viu.

A mulher estava fora de seu cavalo, à alguns passos do lago e com uma de suas mãos brancas como porcelana sob o seu coração. Ela estava tão imóvel que poderia ser facilmente confundida com um lindo manequim que copiava a vida humana, mas nunca deixaria de ser um boneco modelo. A prisioneira voltou a pedir ajuda, mas a mulher não se moveu, nem mesmo sua expressão dura e sem nenhum sentimento mudou. Aquela dama que vivia no inferno continuou tão imóvel quanto uma montanha que era atingida por vendavais fortes.

Katherine estava a deixando morrer afogada.

Essa resposta era tão obvia que não era preciso de nenhuma pergunta para vê-la, e a força de vontada da prisioneira de salvar sua vida se dissipou em milhões de pedaços quando viu que aquela mulher arrogante jamais se moveria em direção do lago. Ela parou de se debater contra a água que a engolia como um felino sem comer à dias quando rapidamente os pensamentos que sempre a importunavam se debateram com força total contra sua mente.

Ela não pertencia a esse lugar e jamais pertenceria.

Nem ao menos sabia como ainda estava viva e isso podia se considerar como um milagre. Maximus a considerava como um problema e ninguém naquele castelo um dia iria a considerar como algo além de uma simples humana que estava vivendo no lugar errado.

Todos desejavam a morte dela para que tudo voltasse ao normal no dia a dia deles e isso ficou obvio quando o anjo loiro tentou matá-la sem ao menos perguntar quem ela era, ele desejou aquilo apenas em ver que a prisioneira não pertencia ao inferno e estava a cima de todo o seu conhecimento... Todas pessoas que viviam naquele lugar eram monstros... Todos.

A prisioneira fechou seus olhos e soltou o restante do pouco ar que existia em seus pulmões para sentir as ultimas bolhas de ar se formarem na água e deixou que aquelas correntes imaginárias a levasse para o fundo daquela água traiçoeira. Sua mente aos poucos foi ficando lenta como se houvesse tomado algum tipo de sedativo para dormir, a diferença era que seu sono seria eterno.

Ela aceitou sua morte como se fosse uma amiga sua, aceitou que não era bem vinda no inferno e que não queria viver naquele lugar, mas antes mesmo que a dor acabasse e seu corpo se tornasse apenas um incomodo para aquele lago, ela sentiu alguma coisa pesada se afundar dentro da água e perto dela. Ao abrir seus olhos, a prisioneira não viu nada além de borrões em sua frente e decidiu que fechá-los ainda era a melhor opção, porém, antes disso acontecer, ela sentiu um puxão em seu braço para debater contra algo muito duro e no segundo seguinte, seus corpo não estava mais dentro daquelas águas que quase a mataram.

Sua mente ainda estava funcionando devagar, ela não sabia dizer ou pensar muitas coisas, mas percebeu que estava deitada no gramado daquele bosque e que tossia toda a água que havia engolido para fora do seu corpo. Depois que sua respiração estava voltando aos poucos, ela abriu seus olhos para tentar ver algo e a única coisa que pode encontrar foi os olhos azuis escuros de um Maximus totalmente molhado. Suas asas brancas estavam abertas em suas costas e a água escorria por todas suas penas que agora formavam gumes e acabavam com os detalhes perfeitos delas. Seus cabelos loiros mesmo molhados ainda eram claros e continuavam a cair em frente de seus olhos com teimosia. O anjo estava ajoelhado quase em cima dela, seu rosto próximo demais para observá-la.

Ela fechou seus olhos novamente, pois sua visão ainda estava um pouco embasada e isso fazia sua dor de cabeça aumentar. Respirar também doía e dava a impressão que aqueles alfinetes eram cada vez mais enfiados contra seus pulmões que aos poucos recebiam o ar que precisavam.

Normalmente fazer trabalhos de reconhecimento para ajudar sua mente voltar ao normal era o que qualquer outra pessoa iria fazer, mas ela não sabia quem era e isso apenas a fazia ter vontade de gritar. Talvez a melhor opção era ter morrido, pois agora ela havia retornado para o mundo dos monstros.

E ela odiava Maximus por ser o responsável por isso.

A prisioneira abriu seus olhos novamente quando ouviu movimentos próximos dela, com seus instintos protetores alertas, ela tentou se levantar e uma mão grande e quente a obrigou a ficar exatamente onde estava. Ignorando os protestos de ficar deitada e tentando lutar contra a força de Maximus, a prisioneira se levantou mesmo não conseguindo ficar em pé direito. O anjo seguiu os movimentos desajeitados dela e a segurou seus braços para mantê-la naquela posição.

Ela o encarou com certo odio, pois uma pessoa aceitar sua morte não era algo que se alcançava com facilidade e mesmo que ele a tivesse a salvado, não estava agradecida pelo ato. O anjo não gostava dela, não havia motivos para que tivesse feito aquilo.

A prisioneira olhou ao seu redor e encontrou os olhares de três mulheres em sua direção, ver que todos os olhos daquele lugar estavam focado apenas nela fez com que um tic soasse em sua mente, fazendo com que ela voltasse a funcionar a mil, principalmente quando encontrou os olhos azuis perfeitos de Katherine.

— Ela tentou me matar.— A prisioneira acusou, sua voz tão grutural que a deixou surpresa.— Ela tentou me matar!—

— Pare.— Maximus disse aquilo como uma ordem, a segurando com mais força quando ela tentou se soltar dele. Mas ela não parou, ele não era seu imperador e não possuía motivos para obedecer qualquer pessoa desse lugar.

— Me solte!— Ela queria gritar, mas sua voz ainda era fraca demais para isso. A prisioneira movimentou seus braços para tirar as mãos de Maximus dela, a repugnancia cresceu em sua garganta de modo que a deixou com nojo.

Katherine ao deixá-la morrer naquele lago apenas deixou tudo claro para a prisioneira. Nenhuma pessoa se importava se ela vivia ou não, pois Marie apenas estava fazendo seu trabalho, Diane estava sendo gentil com a hospede de seu irmão e Maximus... Ele apenas desejava descobrir quem estava quebrando as regras de seu conhecimento, o anjo não desejava o bem dela a ponto de realmente ter algum desejo para salvá-la.

— Katherine não tentou matá-la.— Ele a defendeu cegamente e fez com que uma raiva que nunca houverá sentido crescer dentro de seu interior como uma bomba que explodiu e destruiu várias coisas.

— Você...— Ela começou a falar, mas viu que estava completamente errada naquela palavra.— Vocês, todos vocês são monstruosos!— Maximus encontrou o olhar dela, mas não a soltou de maneira alguma.— Tudo que fazem é apenas para o proposito de vocês, ninguém nesse inferno me deseja aqui e isso é tão monstruoso. Todos vocês são monstros!—

O anjo loiro a soltou dessa vez e ela teve que lutar para se manter em pé já que ele não a segurava mais para se manter naquela posição. O arcanjo a olhou em silencio, travando seus olhos com os dela para que visse o quão vazio eles estavam. Toda a preocupação que existiu no fundo daquele azul escuro não estava mais alí e aquilo apenas provava o quanto certa ela estava.

Lágrimas quentes escorreram por seu rosto, ela não desejava chorar na frente dessas pessoas insensiveis, mas se amava ou odiava sua verdadeira casa, a prisioneira não se importava mais. Tudo que desejava era voltar para o mundo que sempre conheceu e que agora era desconhecido para suas memorias. Ela também não desviou seus olhos de Maximus por estar chorando, pois não existia nenhum arrependimento sobre suas palavras.— Você é tão insensivel e frio quanto os outros.— A prisioneira declarou para ele, suas palavras soaram baixas e cheia de raiva para que o anjo soubesse que ela não chorava por arrependimento do que havia dito.— E defender uma assassina é o que lhe torna um monstro.—

O anjo em sua frente estava imóvel, por um momento ela podia ter certeza de que ele estava congelado, mas o movimento de sua respiração calma e a água que escorria por todo o seu corpo traiu essa suposição. Os olhos dele pertenciam somente a ela, mas a prisioneira nunca poderia descrever o que existia dentro deles, pois só via o eterno vazio. Ele movimentou seus lábios por um segundo e nenhuma palavra saiu dali, o arcanjo provavelmente desistiu do que iria falar a ela e abaixou seu olhar por um breve momento antes de levantar sua cabeça, encontrando os olhos dela novamente.

— Leve-a para o castelo, Diane.— Maximus disse sem nenhuma emoção e seus olhos não encontraram com os de sua irmã, ele apenas ergueu seu queixou como um verdadeiro soberano e ordenou aquilo. Depois suas asas molhadas se agitaram contra o ar ao se abrirem em um simples estalo, fazendo com que algumas gotas atingissem a prisioneira até que no segundo seguinte ele já não estar mais em sua frente. O arcanjo deixou a terra para encontrar o ar e o céu acima dela.

A prisioneira não se importou com a ordem, pois não havia lugar para ir. Ela estava tão sozinha e abandonada no inferno que tudo que podia fazer era conviver com as pessoas que acabará de descobrir que a odiavam. Nesse momento, ela apenas desejava ir para qualquer lugar menos ao castelo, mas obviamente essa opção não existia.


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