O tempo ruim a fazia sentir uma sensação de insegurança, tempos como aquele faziam sua estranha cicatriz doer ainda mais, Celine ainda não estava psicologicamente recuperada e provavelmente levaria muito tempo para isso, talvez nunca. A sensação de ser uma intrusa e não saber quem realmente era a deixava desconfortável.

–Está pensando em algum garoto?- Perguntou Anne ironicamente, interrompendo os pensamentos de Celine.

–Ah claro, pois eu conheço vários garotos daqui né Anne, tem o Bobb pedófilo da mecânica- Ela faz uma cara de nojo e solta um riso, Bobb era um quarentão que sempre dava em cima de garotas menores de idade e não se importava de ser deprezado por todas elas- e tem o Tommy!- Celine ri mais alto ainda, Tommy era seu vizinho de dez anos que tinha uma queda por Anne.

–Sério mesmo, não acredito que nesses dois meses que você está aqui não conheceu nenhum gatinho!- Celine adorava e odiava a personalidade de Anne, a forma ingênua e superficial que ela tratava as coisas a faziam a melhor (e algumas vezes a pior) pessoa que ela conhecia, se bem que não conhecia muitas. Anne simplesmente esquecera que em um desses dois meses Celine esteve em coma na UTI, no outro teve que fazer terapia intensiva, e isso a fazia conseguir esquecer as vezes também.

Celine sorri de leve e ignora a amiga, estava com muita dor e sem energia nenhuma para conversar, mesmo que as conversas com Anne sempre a deixavam mais humorada, naquele dia ela queria descanso.

Assim que subiu se sentiu aliviada, ela tirou a blusa laranjada e extremamente cafona que Anne a emprestara, trocou a calça jeans por uns shorts de pijama e vestiu apenas um top para que seu ferimento pudesse ventilar. Ao se olhar no espelho viu que as cicatrizes estavam cada vez mais estranhas, como se estivessem tomando uma forma exata. Se virando para ir deitar Celine sentiu como se estivesse sendo vigiada, sentira aquilo algumas vezes quando acordava a noite no hospital, o médico lhe dissera que poderia ser por causa dos ferimentos na cabeça, aquilo a irritava, não ter certeza do que é ou não real, não ter auto-controle, não ter memória. Celine não era dona de si.