Odeio o jeito que olha para mim

James, James! Se você vier com gracinha para cima de mim hoje você está ferrado, por que hoje eu estou naqueles dias. Sim, na TPM e isso não significa “Tensão Pré Menstrual”, significa “Treinada Para Matar”, então nem venha.

— Domi, ele parece realmente arrependido. – Lily dizia para mim pela milionésima vez.

— Lily, Lily, Lily... Você acredita em coelhinho da páscoa? – indaguei a ela.

— É sério, Domi. Eu conheço o meu irmão. – replicou – Ontem ele agiu mal, demos uma bela bronca nele, inclusive a Rose e o Scorpius e parece que ele está caindo na real. Até o peguei pensando depois da “conversinha” que tivemos. – fez aspas com a mão.

— Lily tem razão, Domi. – Rose reforçou – Sabe que eu não o acoberto, e parece que desta vez ele realmente se arrependeu, mesmo que não tenha verbalizado isto.

— Claro, claro. – resmunguei. – Se não se importam, eu vou comer alguma coisa, porque eu não tomei café da manhã. – e olhando para Victoire completei – É que certas pessoas não me acordaram, sabe?

Levantei-me do gramado onde estava sentada com minhas primas e minha irmã, e encaminhei-me para a cozinha a fim de pedir alguma coisa para a vovó Molly. Passei pela sala e vi Louis e Teddy jogando “Snaps Explosivos”, enquanto Alvo lia o Pasquim.

—Vov... Ah! Eu volto depois. – disse dando meia volta, ao notar James na cozinha comendo.

— Não, fica. – disse ele para meu espanto – Já estou terminando, posso terminar na sala.

O que? James Sirius sendo gentil? Com moi? Cadê as câmeras, podem sair, porque isso só pode ser piada.

— Não, tudo bem. Pode ficar. – falei com um olhar desconfiado.

Até vovó olhou para James, estranhando seu comportamento, mas voltou aos seus afazeres. Sentei-me a mesa e peguei um pedaço de bolo, despejei um pouco de suco de abóbora em um copo limpo e comecei a mordiscar o bolo calmamente.

— Tem bolacha no armário, você não quer? – indagou James, meio... Receoso?

— Não, obrigada. – respondi mais desconfiada ainda.

O que ele estaria aprontando, teria vomitilhas na bolacha? Ou outro produto das Gemilialidades Weasley?

— É daquela que você adora, de chocolate com avelã. – insistiu, pegando o pote com varias bolachas deliciosamente gostosas, e como ele mesmo disse era a que eu adorava.

— Está envenenada? – acusei pegando uma do pote e observando-a meticulosamente.

— Claro que não! Por que eu envenenaria uma bolacha? – questionou rindo.

— Sei lá, talvez seja porque você me odeia? – disse ironicamente.

E então ele fez algo que realmente me surpreendeu. Eu esperava um comentáriozinho igualmente irônico, ou algum ataque da sua parte, mas ao invés disso ele apenas abaixou a cabeça e ficou em silêncio.

Vovó saiu da cozinha e foi para o jardim, acompanhei-a com o olhar e em seguida virei para James e disse de uma vez:

— O que está aprontando?

— Como?

— Desembucha logo o que está aprontando, porque hoje eu não estou para suas brincadeirinhas de mau gosto, não. – avisei logo.

— O que? – indagou com uma confusão genuína – Não, não estou aprontando nada. Só porque eu estou lhe oferecendo uma bolacha quer dizer que eu estou aprontando uma com você?

— Bom, se o Teddy, o Alvo ou até o Louis fizessem isso, eu não diria que estariam aprontando algo para mim, mas se isso vem de você... Bom, ai a história muda. – justifiquei.

Ele levantou-se da mesa com suas louças sujas na mão e colocou-as na pia, e então virou para mim e disse:

— Não, Dominique, eu não estou aprontando nada com você. – reforçou – Eu só estou tentando ser gentil com você, já que vive dizendo que eu te maltrato, humilho, e seja lá o que mais você diz.

Eu até poderia ter dito algo para ele, ter retrucado ou algo assim, mas fiquei estática com seu argumento e não consegui formular nada para dizer. Então ele saiu da cozinha deixando-me com o pote de bolacha.

(...)

— Está na mesa crianças! – escutamos a vovó Weasley chamar da cozinha e fomos todos aos tropeços de encontro à farta mesa que nos esperavam. – Façam fila pelo amor do Merlin! – reclamou ao ver o tumulto que se encontrava perto das panelas.

Assim que todos se serviram sentamo-nos a mesa. Vovó ficou no lugar do vovô, que estava trabalhando, e ao seu lado direito estavam – respectivamente – Alvo, Teddy, Victoire e James. Á sua direita, Lily, Rose, Louis e eu.

Sobre a mesa havia dois tipos de saladas, dois tipos de suco e carne assada. E, segundo vovó, na geladeira havia pudim, sorvete de chocolate e de creme. Se havia uma coisa que eu amava n’A Toca, era a comida. A comida em primeiro lugar, depois vinha à vovó e o vovô e por último a farra que sempre havia.

Eu estava comendo minha comida, que estava muito boa, por sinal, mas sentia que alguém me observava, então levantei o olhar e encontrei James olhando-me, porém quando ele me viu desviou os olhos rapidamente.

Ok. Ele estava agindo realmente muito estranho hoje. Primeiro ele fora gentil comigo na cozinha, hoje mais cedo, e agora isso? Ele nunca ficava olhando assim para mim. Aposto que eu havia imaginado isto.

Levantei o olhar mais uma vez, para certificar-me de que eu não havia visto errado, ou estava imaginando coisas. Porém, mais uma vez ele me olhava, mas desta vez ele não desviou o olhar e continuou encarando-me. Meio envergonhada olhei para os lados, para ver se alguém nos observava e ninguém prestava atenção em nós, James continuava olhando-me, mas decidi ignorá-lo.

(...)

Estávamos todos na sala, conversando, jogando alguma coisa, ou apenas de pernas para o ar. Lily pintava as unhas da Rose, Vic e Teddy conversavam em um canto, James dormia em um sofá, vovó tricotava e Alvo estava olhando o jardim através da janela.

— Alvo. – o chamei.

— Sim?

— Será que eu poderia conversar com você um minuto? – indaguei levantando-me do sofá e indo até ele.

— Claro, Domi. – sorriu.

— Hoje de manhã Lily disse-me que vocês haviam conversado com James sobre ontem, e...

— E lhe dado uma bronca? – interrompeu-me – Sim, todos fizemos isso. Inclusive e principalmente Scorpius e Rose.

— Obrigada. – disse com um pequeno sorriso.

— Não precisa agradecer. Ele tem agido como um verdadeiro idiota, e todos sabemos o quanto você tem sofrido com isso, não é só porque James é meu irmão que devo apoiar tudo o que ele faz, inclusive se isso afeta alguém da nossa família. – retrucou educado – Não sei como se esqueceu disto.

— Eu também não, éramos melhores amigos antes, não entendo como isso tudo virou ódio. – comentei.

— Quer saber de uma coisa? – indagou e assenti com a cabeça – Parece que ele se arrependeu mesmo de tudo o que fez. Geralmente quando damos uma bronca como esta nele, ele dá de ombros e nos deixa falando sozinho. Mas, não desta vez. – assinalou – Desta vez ele ficou até o fim e ficou pensativo, como se estivesse se dando conta de tudo o que fez.

— Ele tentou ser gentil comigo hoje de manhã, e depois, na hora do almoço, o peguei olhando para mim como se quisesse dizer alguma coisa...

— Como agora? – indagou indicando o sofá onde James estava, discretamente.

Olhei para onde ele havia indicado e o notei observando-me novamente.

— Exatamente assim. – ri. – Obrigada, de novo. Acho que vou dar uma volta no jardim.

— Não há de quê!

E então lá eu fui. Já eram cinco e meia da tarde e o sol logo ia se pôr, eu adorava essa parte do dia. O céu ficava lindo, com uma coloração alaranjada que só o Sol lhe podia proporcionar. Eu também gostava de ficar refletindo sobre vários assuntos nesta hora do dia, tudo parecia tornar-se mais claro para mim.

James.

Será que ele estava mesmo arrependido? Será que agora ele me deixaria em paz com essa história de seu término com Rose? Ele finalmente havia entendido que eu não tinha nada a ver com tudo isto e que se Rose estava com Scorpius hoje era porque ambos se amavam? Será que agora ele pararia de implicar comigo?

Eram tantas perguntas, tantas respostas que eu procurava. Poderia parecer besteira tudo isso, mas essa situação realmente me incomodava. James sempre havia sido meu amigo, eu sentia falta de nossos momentos juntos e de uma hora para outra ele havia se transformado em uma pessoa totalmente diferente.

Senti olhares queimando em minhas costas e resolvi olhar para trás e o encontrei. James estava sentado no degrau da varanda observando-me com o mesmo olhar de antigamente. O olhar que tinha quando queria me contar alguma coisa quando éramos amigos, que queria me contar algo, mas no momento não podia. Mas, desta vez havia algo estranho naquele olhar.

Eu me sentia envergonhada do jeito que ele me olhava.

Virei para frente, para o sol ao horizonte e sussurrei apenas para mim.

— Odeio o jeito que olha para mim.