I Solemnly Swear escrita por Helena Jimenez
As aulas restantes ocorrem normalmente. Assim como os dias que passam, que se transformam em meses. Hogwarts está normal, os alunos estão apenas preocupados com os ataques e desaparecimentos constantes, a discussão é que a coisa já dura há uns bons anos, mas agora tudo está piorando. Lily está preocupada com isso, assim como James. Ambos vivem comentando como querem terminar a escola e se tornarem aurores para enfrentarem a força das trevas e o bruxo que falam estar por trás disso logo.
Eu costumo não me meter nesse assunto, especialmente porque acredito que toda história tem dois lados e já ouvi dizerem que este bruxo, Aquele Que Não Deve Ser Nomeado apenas deseja igualdade e que não precisemos nos esconder dos trouxas. Sirius fala que ele é realmente um bruxo das trevas e que sou ingênua em pensar que talvez alguém queira impedir que tais mudanças sejam feitas. Nós já discutimos sobre isso algumas vezes, por isso aprendi a guardar minha opinião para mim mesma.
Apesar de toda a discussão sobre Você Sabe Quem, Hogwarts e seus alunos seguem sua vida normalmente. Inclusive eu e meus amigos. Lily está sempre ocupada e fazendo mil coisas ao mesmo tempo, às vezes me questiono como ela consegue ter tempo para uma vida social, porque de alguma forma ela consegue. Os Marotos também seguem fazendo o de sempre: aprontando e fugindo da escola. Em alguns momentos estou com eles, especialmente quando decidem fugir para se divertirem em algumas noites, minhas favoritas é quando vamos para o vilarejo trouxa mais perto e entramos em alguns pubs. Sou deixada de lado toda lua cheia, já que não sou um animago como eles e não posso ficar brincando com o lobisomem pelo castelo e arredores.
É véspera de prova e estou sentada estudando na sala comunal com Remus quando Sirius passa pelo quadro da Mulher Gorda e caminha em nossa direção furioso. Remus está abrindo a boca para perguntar o que aconteceu quando ele para na nossa frente, James vem logo atrás e parece um tanto tenso.
– Alguém pode me explicar por que vocês se beijaram e nunca me contaram?
Encaro Remus que retribui meu olhar. Vejo pelo canto do olho que Lily está descendo a escada do nosso quarto e se detém observando a cena.
– Isso foi no quinto ano. – digo impaciente – E exatamente por saber que você faria uma cena idiota feito meus irmãos ciumentos que eu não te contei.
– Você sabe muito bem como nós agimos com as meninas que saímos! Não poderia escolher cara melhor para beijar?
– Poxa Sirius, obrigado! – Remus fala parecendo um tanto ofendido. – Você sabe que eu nunca faria nada para machucar a Charlie. Nenhum de nós faria.
– A não ser o Peter, talvez. – James diz rindo, mas se cala com o olhar que nós três lhe lançamos. Vejo Lily revirar os olhos de onde ela está.
– Sirius, por favor. Foi há dois anos atrás e nós dois já esquecemos disso há muito tempo. Somos apenas amigo e nada mais.
– Você pode me dizer qual de nós você beijou e não me contou também? Peter? – minha cara de nojo responde a pergunta. – James?
– Eu nunca beijaria o James. Eu sei que ele e Lily ainda vão se casar, isso seria estranho. Além do mais, ele é como um irmão para mim. – falo sem pensar e quero me dar um tapa por sempre acabar dizendo coisas demais sob pressão.
Espero Lily protestar ou James fazer alguma piada, mas todos ficam em silêncio me encarando e medindo a força das minhas palavras e especialmente a maneira que as disse, eles me conhecem como ninguém e sabem que falo sério e não estou brincando.
– O que você quer dizer com isso? – Lily pergunta se aproximando, é uma das primeiras vezes que a vejo sem palavras.
– Nada. – respondo rápido demais.
– Você está escondendo algo. – agora é Remus quem fala e eu me movo desconfortável.
– É só uma coisa que vi… – digo de maneira hesitante. Oito pares de olhos me encaram na expectativa para que eu continue. – Parece que tenho o dom da vidência. – explico usando as exatas mesmas palavras que a professora Audrich utilizou quando tive meu primeiro relance do futuro no quarto ano. Fui parar na enfermaria porque não conseguia mais dormir e no fim, meu diagnóstico foi que eu era como uma das professoras que menos eram levadas à sério na escola, de adivinhação.
– O que mais você vê? – Lily me encara preocupada.
– Nada demais. Às vezes algumas respostas de provas, outras alguns relances do futuro, mas nada muito concreto. E nem sempre se realizam, apenas algumas coisas, geralmente as que parecem mais fortes. – de repente me sinto exausta. Ainda não estou pronta para dividir o segredo que fez com que eu mudasse com meus amigos.
– Sabia que você não poderia simplesmente ir tão bem em algumas provas! – James comemora, já que sempre quis saber qual o meu segredo para tirar notas altas em alguns testes que não estudei nada. Lily lhe lança um olhar irritado.
– E essas visão minha e de Potter?
– Você parece interessada demais em saber do nosso futuro juntos, Evans – ele sorri, mas nenhum de nós está no clima para brincadeiras. Lily parece preocupada, Remus chocado e Sirius chateado. Até mesmo James parece hesitante.
– Uma das mais fortes que já tive. – sorrio sem graça por não falar a minha melhor amiga que a vi casada com o garoto que ela mais odeia e com um bebê no colo.
– Por que você nunca nos contou? – Sirius fala um tanto furioso. – Não querer dividir sua vida amorosa, eu entendo. Mas isso? Nós dividimos tudo com você, Charlie. Tudo! – e seu tom está cheio de significados: o mapa, o fato de Remus ser um lobisomem, eles serem animagos…eram muitos segredos compartilhados enquanto eu escondia outros tantos deles.
– Porque eu não quero isso! Eu odeio essas visões, de acordar sabendo o que vai acontecer. Eu não pedi por isso! – ouço como minha voz está fina e percebo que estou prestes a chorar. E detesto isso com todas as minhas forças.
– Os pesadelos… – ouço Lily começar, mas ela é interrompida por Sirius que ainda tem muito a reclamar.
– Nós todos confiamos em você e é assim que retribui? Não é assim que os amigos agem… – Remus e James apenas observam a cena calados, olhando de um lado para o outro.
– Cala boca, Black! – Lily interrompe e me encara, o rosto tomado de preocupação e dor. – O que você vê? – assim como Sirius, seu tom também está cheio de significados. Nós dividimos o quarto desde os onze anos e ela estava comigo quando os pesadelos começaram a me fazer acordar gritando e chorando. Eu nunca fui capaz de dizer em voz alta sobre o que são e ela sempre me respeitou e fica comigo até que eu me acalme quando acordo desesperada. Sirius ainda me encara furioso, enquanto isso tento segurar o choro, meus olhos ardem por causa das lágrimas. Desvio o olhar para James e Remus que me encaram preocupados, acho que eles nunca me viram chorar. Mordo meu lábio inferior, tentando evitar que isso aconteça.
– Charlie? – a voz de Lily é gentil, o que me faz desabar.
– A minha morte. – respondo sem conseguir segurar mais minhas lágrimas, que agora caem livremente pelo meu rosto, estou exausta e meu corpo parece pesar uma tonelada.
Sirius é o primeiro a me abraçar, não sei como, já que Lily quem estava mais perto de mim agora. Então sinto mais alguns pares de braços ao nosso redor e sei que Remus, Lily e James se uniram a nós. Por um segundo me sinto protegida, mas ao menos tempo exposta. Geralmente não gosto de demonstrar fraqueza ou insegurança para ninguém, nem aos meus amigos.
– Ok, acho que podemos parar com a sessão abraços. Eu estou bem. – falo empurrando-os gentilmente. – Além do mais, mal consigo respirar com tanta gente em cima – sorrio, mas eles continuam a me encarar sérios.
– Agora tudo faz sentido. Até alguns anos atrás você era uma garota normal, se metia em encrenca junto com eles – Lily diz e indica os garotos com a cabeça -, mas com o passar do tempo passou a fazer isso sozinha e cada vez mais perto de ser expulsa.
– Eu apenas não me importo mais se for expulsa. Afinal, qual o sentido de tudo isso – indico a sala comunal com a cabeça -, de estudar se eu bom…não vou realmente aproveitar meus anos acadêmicos.
– Com quantos anos? – James pergunta.
– Eu não sei quando, nem como. Não tenho a visão exata. Apenas que sou jovem, que não passo dos vinte e um anos e que vai doer antes e…
– Você tem que falar desse jeito? – Remus pergunta fazendo uma careta.
– É o que eu vejo. – falo em voz baixa – Isso sempre se repete.
– É por isso. Todas as loucuras. – Sirius diz depois de tanto tempo em silêncio. Ainda consigo dar um sorriso fraco.
– Eu demorei muito tempo para aceitar que iria morrer. O Prof Dumbledore tem me ajudado com isso. Sim, Lily, por isso eu ainda não fui expulsa. Digamos que minha condição é especial – digo antes que ela me interrompa – Ele disse que eu aceito minha morte, mas não perder a vida que poderia ter vivido e por isso eu tenho essa tendência a viver…sem pensar nas consequências. Como minhas atitudes estão cada vez piores, ele quer que eu me consulte com a professora Audrich ou com uma colega dela, fora da escola para que eu possa controlar melhor, já que nunca me interessei por adivinhação.
– Charlie, você precisa! – Lily diz e eu balanço a cabeça.
– Não. Eu não vou. Eu não quero isso, eu não quero ser capaz de prever o futuro, especialmente quando apenas vejo mortes. Eu não quero perder mais nenhum minuto onde poderia estar vivendo, presa em uma sala de aula ou aprendendo a controlar algo que não pode ser completamente controlado. Não é a vida que eu quero para mim. – todos me encaram em silêncio e eu vejo em seus olhos o que temia ver quando ficassem sabendo.
– E quando você pretendia nos contar? – Remus faz a pergunta de ouro.
– Eu não pretendia. – respondo sincera.
– Não somos dignos de saber disso? – a frieza na voz de Sirius me faz encolher.
– Cale a boca, Almofadinhas. Se Charlie não nos contou é porque tem motivos pra isso, não tem? – é James quem vem em minha defesa e me olha com expectativa. Assim como os outros. Apenas Sirius parece furioso.
– Sim. Porque eu não quero receber esses olhares de pena, que vocês temam junto comigo o dia que… – eu engulo em seco – o dia que eu não estarei mais aqui. Não é justo com vocês e nem comigo.
– Não. Mas ainda assim você precisa de nós. Você acha mesmo que eu ia te deixar passar por tudo isso sozinha? – Lily pergunta.
– Sei que não. Por isso te poupei de saber. Eu pretendo ir embora, sabe? Quando Hogwarts terminar.
– Claro! Como se fugindo você fosse melhorar as coisas? Por que é tão egoísta, Charlie? – Sirius está realmente furioso e acaba dando um soco na mesa ao nosso lado, atraindo olhares de alguns estudantes que estão passando. Antes que eu pergunte o que ele quer dizer com isso, ele continua – Acha que nos afastando vai tornar a coisa mais fácil? Não vai. Vai apenas tornar mais fácil para você que estará sozinha e não precisará se preocupar com ninguém.
Abaixo os olhos. Ele tem razão.
– Eu não sei o que fazer, ok? Todas as minhas escolhas parecem erradas e eu não vou poder fazer nada para impedir que nenhum de vocês sofra, porque vai acontecer. Eu só quero viver e esquecer o que me espera nos próximos anos. - estou exausta e sinto que vou começar a chorar novamente.
– Mas você não precisa passar por isso sozinha. Já aguentou tempo demais escondendo de nós. – Lily diz e me abraça. – Independente do que aconteça, nós somos seus amigos e não vamos virar as costas ou deixar que você carregue esse fardo sozinha.
– Lily tem razão. – Remus diz e estou chorando de novo.
– Obrigada. – então Sirius faz o que eu menos espero. Vira as costas e sobe para o dormitório masculino sem dizer uma palavra. Lá em cima escuto ruído de coisas quebrando.
– Acho que…ele não está lidando com isso muito bem. Melhor eu ir vê-lo. – James diz e corre para ajuda-lo.
Sou deixada sozinha com Remus e Lily que sorriem para mim.
– Estão revisando para a prova? – ela pergunta pegando nosso pergaminho e mudando de assunto, suspiro grata por isso e enxugo minhas lágrimas. – Acho que podemos fazer isso juntos agora.
Sentamos novamente e fingimos que estamos estudando. Minha mente está longe de História da Magia e sei que Lily e Remus também não se concentram. Muita informação para eles, afinal, não é todo dia que você descobre que sua amiga deve morrer num período de três anos.
– Eu preciso ir. Problemas para resolver nessa noite. – ele diz depois um tempo, me olhando de forma significativa, pois é lua cheia e se afasta pelo retrato da Mulher Gorda, deixando Lily e eu sozinhas.
– Você quer conversar sobre isso? – ela pergunta.
Dou de ombros e suspiro.
– Não. Prefiro que você e os meninos esqueçam essa conversa.
– Sabe que não vai acontecer.
– Sei, infelizmente. – digo e apoio a cabeça no ombro de Lily. Estou realmente exausta. Nesse momento, Sirius e James passam por nós, indo atrás de Remus com certeza. James me dá um sorrisinho antes de sair e Sirius sequer me olha.
Aperto minhas unhas na palma da mão para impedir de chorar e suspiro. Tudo o que eu queria evitar, acabou acontecendo.
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