I Solemnly Swear escrita por Helena Jimenez


Capítulo 7
Charlie




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As aulas restantes ocorrem normalmente. Assim como os dias que passam, que se transformam em meses. Hogwarts está normal, os alunos estão apenas preocupados com os ataques e desaparecimentos constantes, a discussão é que a coisa já dura há uns bons anos, mas agora tudo está piorando. Lily está preocupada com isso, assim como James. Ambos vivem comentando como querem terminar a escola e se tornarem aurores para enfrentarem a força das trevas e o bruxo que falam estar por trás disso logo.

Eu costumo não me meter nesse assunto, especialmente porque acredito que toda história tem dois lados e já ouvi dizerem que este bruxo, Aquele Que Não Deve Ser Nomeado apenas deseja igualdade e que não precisemos nos esconder dos trouxas. Sirius fala que ele é realmente um bruxo das trevas e que sou ingênua em pensar que talvez alguém queira impedir que tais mudanças sejam feitas. Nós já discutimos sobre isso algumas vezes, por isso aprendi a guardar minha opinião para mim mesma.

Apesar de toda a discussão sobre Você Sabe Quem, Hogwarts e seus alunos seguem sua vida normalmente. Inclusive eu e meus amigos. Lily está sempre ocupada e fazendo mil coisas ao mesmo tempo, às vezes me questiono como ela consegue ter tempo para uma vida social, porque de alguma forma ela consegue. Os Marotos também seguem fazendo o de sempre: aprontando e fugindo da escola. Em alguns momentos estou com eles, especialmente quando decidem fugir para se divertirem em algumas noites, minhas favoritas é quando vamos para o vilarejo trouxa mais perto e entramos em alguns pubs. Sou deixada de lado toda lua cheia, já que não sou um animago como eles e não posso ficar brincando com o lobisomem pelo castelo e arredores.

É véspera de prova e estou sentada estudando na sala comunal com Remus quando Sirius passa pelo quadro da Mulher Gorda e caminha em nossa direção furioso. Remus está abrindo a boca para perguntar o que aconteceu quando ele para na nossa frente, James vem logo atrás e parece um tanto tenso.

– Alguém pode me explicar por que vocês se beijaram e nunca me contaram?

Encaro Remus que retribui meu olhar. Vejo pelo canto do olho que Lily está descendo a escada do nosso quarto e se detém observando a cena.

– Isso foi no quinto ano. – digo impaciente – E exatamente por saber que você faria uma cena idiota feito meus irmãos ciumentos que eu não te contei.

– Você sabe muito bem como nós agimos com as meninas que saímos! Não poderia escolher cara melhor para beijar?

– Poxa Sirius, obrigado! – Remus fala parecendo um tanto ofendido. – Você sabe que eu nunca faria nada para machucar a Charlie. Nenhum de nós faria.

– A não ser o Peter, talvez. – James diz rindo, mas se cala com o olhar que nós três lhe lançamos. Vejo Lily revirar os olhos de onde ela está.

– Sirius, por favor. Foi há dois anos atrás e nós dois já esquecemos disso há muito tempo. Somos apenas amigo e nada mais.

– Você pode me dizer qual de nós você beijou e não me contou também? Peter? – minha cara de nojo responde a pergunta. – James?

– Eu nunca beijaria o James. Eu sei que ele e Lily ainda vão se casar, isso seria estranho. Além do mais, ele é como um irmão para mim. – falo sem pensar e quero me dar um tapa por sempre acabar dizendo coisas demais sob pressão.

Espero Lily protestar ou James fazer alguma piada, mas todos ficam em silêncio me encarando e medindo a força das minhas palavras e especialmente a maneira que as disse, eles me conhecem como ninguém e sabem que falo sério e não estou brincando.

– O que você quer dizer com isso? – Lily pergunta se aproximando, é uma das primeiras vezes que a vejo sem palavras.

– Nada. – respondo rápido demais.

– Você está escondendo algo. – agora é Remus quem fala e eu me movo desconfortável.

– É só uma coisa que vi… – digo de maneira hesitante. Oito pares de olhos me encaram na expectativa para que eu continue. – Parece que tenho o dom da vidência. – explico usando as exatas mesmas palavras que a professora Audrich utilizou quando tive meu primeiro relance do futuro no quarto ano. Fui parar na enfermaria porque não conseguia mais dormir e no fim, meu diagnóstico foi que eu era como uma das professoras que menos eram levadas à sério na escola, de adivinhação.

– O que mais você vê? – Lily me encara preocupada.

– Nada demais. Às vezes algumas respostas de provas, outras alguns relances do futuro, mas nada muito concreto. E nem sempre se realizam, apenas algumas coisas, geralmente as que parecem mais fortes. – de repente me sinto exausta. Ainda não estou pronta para dividir o segredo que fez com que eu mudasse com meus amigos.

– Sabia que você não poderia simplesmente ir tão bem em algumas provas! – James comemora, já que sempre quis saber qual o meu segredo para tirar notas altas em alguns testes que não estudei nada. Lily lhe lança um olhar irritado.

– E essas visão minha e de Potter?

– Você parece interessada demais em saber do nosso futuro juntos, Evans – ele sorri, mas nenhum de nós está no clima para brincadeiras. Lily parece preocupada, Remus chocado e Sirius chateado. Até mesmo James parece hesitante.

– Uma das mais fortes que já tive. – sorrio sem graça por não falar a minha melhor amiga que a vi casada com o garoto que ela mais odeia e com um bebê no colo.

– Por que você nunca nos contou? – Sirius fala um tanto furioso. – Não querer dividir sua vida amorosa, eu entendo. Mas isso? Nós dividimos tudo com você, Charlie. Tudo! – e seu tom está cheio de significados: o mapa, o fato de Remus ser um lobisomem, eles serem animagos…eram muitos segredos compartilhados enquanto eu escondia outros tantos deles.

– Porque eu não quero isso! Eu odeio essas visões, de acordar sabendo o que vai acontecer. Eu não pedi por isso! – ouço como minha voz está fina e percebo que estou prestes a chorar. E detesto isso com todas as minhas forças.

– Os pesadelos… – ouço Lily começar, mas ela é interrompida por Sirius que ainda tem muito a reclamar.

– Nós todos confiamos em você e é assim que retribui? Não é assim que os amigos agem… – Remus e James apenas observam a cena calados, olhando de um lado para o outro.

– Cala boca, Black! – Lily interrompe e me encara, o rosto tomado de preocupação e dor. – O que você vê? – assim como Sirius, seu tom também está cheio de significados. Nós dividimos o quarto desde os onze anos e ela estava comigo quando os pesadelos começaram a me fazer acordar gritando e chorando. Eu nunca fui capaz de dizer em voz alta sobre o que são e ela sempre me respeitou e fica comigo até que eu me acalme quando acordo desesperada. Sirius ainda me encara furioso, enquanto isso tento segurar o choro, meus olhos ardem por causa das lágrimas. Desvio o olhar para James e Remus que me encaram preocupados, acho que eles nunca me viram chorar. Mordo meu lábio inferior, tentando evitar que isso aconteça.

– Charlie? – a voz de Lily é gentil, o que me faz desabar.

– A minha morte. – respondo sem conseguir segurar mais minhas lágrimas, que agora caem livremente pelo meu rosto, estou exausta e meu corpo parece pesar uma tonelada.

Sirius é o primeiro a me abraçar, não sei como, já que Lily quem estava mais perto de mim agora. Então sinto mais alguns pares de braços ao nosso redor e sei que Remus, Lily e James se uniram a nós. Por um segundo me sinto protegida, mas ao menos tempo exposta. Geralmente não gosto de demonstrar fraqueza ou insegurança para ninguém, nem aos meus amigos.

– Ok, acho que podemos parar com a sessão abraços. Eu estou bem. – falo empurrando-os gentilmente. – Além do mais, mal consigo respirar com tanta gente em cima – sorrio, mas eles continuam a me encarar sérios.

– Agora tudo faz sentido. Até alguns anos atrás você era uma garota normal, se metia em encrenca junto com eles – Lily diz e indica os garotos com a cabeça -, mas com o passar do tempo passou a fazer isso sozinha e cada vez mais perto de ser expulsa.

– Eu apenas não me importo mais se for expulsa. Afinal, qual o sentido de tudo isso – indico a sala comunal com a cabeça -, de estudar se eu bom…não vou realmente aproveitar meus anos acadêmicos.

– Com quantos anos? – James pergunta.

– Eu não sei quando, nem como. Não tenho a visão exata. Apenas que sou jovem, que não passo dos vinte e um anos e que vai doer antes e…

– Você tem que falar desse jeito? – Remus pergunta fazendo uma careta.

– É o que eu vejo. – falo em voz baixa – Isso sempre se repete.

– É por isso. Todas as loucuras. – Sirius diz depois de tanto tempo em silêncio. Ainda consigo dar um sorriso fraco.

– Eu demorei muito tempo para aceitar que iria morrer. O Prof Dumbledore tem me ajudado com isso. Sim, Lily, por isso eu ainda não fui expulsa. Digamos que minha condição é especial – digo antes que ela me interrompa – Ele disse que eu aceito minha morte, mas não perder a vida que poderia ter vivido e por isso eu tenho essa tendência a viver…sem pensar nas consequências. Como minhas atitudes estão cada vez piores, ele quer que eu me consulte com a professora Audrich ou com uma colega dela, fora da escola para que eu possa controlar melhor, já que nunca me interessei por adivinhação.

– Charlie, você precisa! – Lily diz e eu balanço a cabeça.

– Não. Eu não vou. Eu não quero isso, eu não quero ser capaz de prever o futuro, especialmente quando apenas vejo mortes. Eu não quero perder mais nenhum minuto onde poderia estar vivendo, presa em uma sala de aula ou aprendendo a controlar algo que não pode ser completamente controlado. Não é a vida que eu quero para mim. – todos me encaram em silêncio e eu vejo em seus olhos o que temia ver quando ficassem sabendo.

– E quando você pretendia nos contar? – Remus faz a pergunta de ouro.

– Eu não pretendia. – respondo sincera.

– Não somos dignos de saber disso? – a frieza na voz de Sirius me faz encolher.

– Cale a boca, Almofadinhas. Se Charlie não nos contou é porque tem motivos pra isso, não tem? – é James quem vem em minha defesa e me olha com expectativa. Assim como os outros. Apenas Sirius parece furioso.

– Sim. Porque eu não quero receber esses olhares de pena, que vocês temam junto comigo o dia que… – eu engulo em seco – o dia que eu não estarei mais aqui. Não é justo com vocês e nem comigo.

– Não. Mas ainda assim você precisa de nós. Você acha mesmo que eu ia te deixar passar por tudo isso sozinha? – Lily pergunta.

– Sei que não. Por isso te poupei de saber. Eu pretendo ir embora, sabe? Quando Hogwarts terminar.

– Claro! Como se fugindo você fosse melhorar as coisas? Por que é tão egoísta, Charlie? – Sirius está realmente furioso e acaba dando um soco na mesa ao nosso lado, atraindo olhares de alguns estudantes que estão passando. Antes que eu pergunte o que ele quer dizer com isso, ele continua – Acha que nos afastando vai tornar a coisa mais fácil? Não vai. Vai apenas tornar mais fácil para você que estará sozinha e não precisará se preocupar com ninguém.

Abaixo os olhos. Ele tem razão.

– Eu não sei o que fazer, ok? Todas as minhas escolhas parecem erradas e eu não vou poder fazer nada para impedir que nenhum de vocês sofra, porque vai acontecer. Eu só quero viver e esquecer o que me espera nos próximos anos. - estou exausta e sinto que vou começar a chorar novamente.

– Mas você não precisa passar por isso sozinha. Já aguentou tempo demais escondendo de nós. – Lily diz e me abraça. – Independente do que aconteça, nós somos seus amigos e não vamos virar as costas ou deixar que você carregue esse fardo sozinha.

– Lily tem razão. – Remus diz e estou chorando de novo.

– Obrigada. – então Sirius faz o que eu menos espero. Vira as costas e sobe para o dormitório masculino sem dizer uma palavra. Lá em cima escuto ruído de coisas quebrando.

– Acho que…ele não está lidando com isso muito bem. Melhor eu ir vê-lo. – James diz e corre para ajuda-lo.

Sou deixada sozinha com Remus e Lily que sorriem para mim.

– Estão revisando para a prova? – ela pergunta pegando nosso pergaminho e mudando de assunto, suspiro grata por isso e enxugo minhas lágrimas. – Acho que podemos fazer isso juntos agora.

Sentamos novamente e fingimos que estamos estudando. Minha mente está longe de História da Magia e sei que Lily e Remus também não se concentram. Muita informação para eles, afinal, não é todo dia que você descobre que sua amiga deve morrer num período de três anos.

– Eu preciso ir. Problemas para resolver nessa noite. – ele diz depois um tempo, me olhando de forma significativa, pois é lua cheia e se afasta pelo retrato da Mulher Gorda, deixando Lily e eu sozinhas.

– Você quer conversar sobre isso? – ela pergunta.

Dou de ombros e suspiro.

– Não. Prefiro que você e os meninos esqueçam essa conversa.

– Sabe que não vai acontecer.

– Sei, infelizmente. – digo e apoio a cabeça no ombro de Lily. Estou realmente exausta. Nesse momento, Sirius e James passam por nós, indo atrás de Remus com certeza. James me dá um sorrisinho antes de sair e Sirius sequer me olha.

Aperto minhas unhas na palma da mão para impedir de chorar e suspiro. Tudo o que eu queria evitar, acabou acontecendo.


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Notas finais do capítulo

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