Você era dona de um lindo sorriso, capaz de amolecer até o mais endurecido dos corações; combinava com teus olhos brilhantes, típicos de sonhadores, e se completava com os mais maravilhosos fios acastanhados. Em cachos, caiam pelos teus ombros, inebriavam meu sistema respiratório com aquele doce cheiro, que só você tinha. Era teu cheio, natural. Nada de perfume ou algo do tipo. Aquilo era você. Nunca foste das mais altas. Você é era baixinha, até mais que eu. Mas e daí? Teu corpo era pequeno, teus traços eram delicados, você era toda proporcional. Novamente, e daí? Talvez fosse estas tuas qualidades que faziam crescer em mim aquele sentimento de proteção. Eu me sentia protegida quando tu me embalavas em teus braços, leves e quentes. E eu sentia que deveria proteger você. O mundo não te merecia, era tanta maldade, violência, pessoas cruéis e ingratas. E eu só queria te manter afastada de tudo isso. Você era tão inocente, tão pequena e delicada, doce. Eram estes os adjetivos que mais te descreviam. Tua ingenuidade, tua bondade. Você acreditava que as pessoas não poderiam ser tão más quanto demonstravam.

Talvez, no fundo, você fosse apenas mais uma manipuladora como as tuas amigas. Não te culpo, culpo a convivência que tiveste com elas. Queria te conhecer quando pequena, queria te cuidar antes que se misturasse com a falsidade. Mas te conheci tarde de mais. Você já era dona de uma personalidade forte e dedicada, mas você parecia sempre prestes a desistir. Eu conseguia ler teus olhos, de maneira que ninguém mais o fazia.

Lembro-me dos poucos momentos que tivemos juntas, dizia-me adorar o cheiro do meu cabelo. Parecia te fascinar. Mas no final, a única fascinada era eu. Era tudo em você que me fazia te adorar. Gostaria de ter me arriscado mais, tentar te ter por pelo menos alguns segundos. Mas eu era uma covarde no final das contas, ouvindo-te sussurrar teus beijos e namorados. Porque era isso que eu fazia, afinal. Ouvir-te. Aconselhar-te, abraçar-te. Eu só podia observar, e talvez nem disso eu fosse digna. Eu falava dos outros, do mundo. Criticava-os, eram todos uns hipócritas, ignorantes, infelizes. Eles nunca pareciam contentes com o que possuíam, querendo sempre mais e invejando aos seus semelhantes. Mas eu era apenas mais uma. Uma no meio de todos.

Eu te queria e eu te tinha. Mas você nunca soube. Eu te tinha quando adormecia, eu te tinha quando permitia-me derramar lágrimas; te tinha quando fechava os olhos e viajava por meu mundo. Meu mundo, porque só no meu mundo eu te tinha. Porque era só te imaginar comigo e eu te tinha. Mas era só eu que pensava assim. Sempre fui tua, mas no final, você nunca foi minha.

E agora, eu não me importo mais.