Algum tempo já havia se passado desde o acidente de Brenda e ela estava totalmente recuperada.

Thomas tinha nela uma boa amiga, mesmo não houvesse grandes coisas para serem divididas, pois tudo ali era sempre de conhecimento de todos e sem grandes eventos, tudo que compartilhavam eram brincadeiras e assuntos sobre o tempo. O que pode parecer vazio, mas não era. Havia em toda aquela calmaria e rotina uma grande certeza de que os tempos difíceis haviam acabado e isso era algo maravilhoso depois de tudo pelo que passaram.

Em uma tarde ensolarada, em um dia de descanso, Thomas estava com os amigos na beira do mar, mirando o horizonte enquanto discutiam sobre os jogos daquela tarde, quando Brenda apareceu e pediu para que ele a acompanhasse.

Ele pensou em pedir para esperar um pouco, mas expressão no rosto dela mostrava que não era uma opção possível.

O caminho pelo qual ela o levava poderia ser feito de olhos fechados. Ela o estava levando para o alto do monte onde ele gostava de ir, onde eles beijaram no primeiro dia ali naquele lugar. Ele continuou indo até lá, mas nunca mais estiveram juntos ali desde a última e definitiva conversa antes do acidente de Brenda.

Brenda se sentou e Thomas entendeu que deveria sentar ao seu lado. Após um longo silêncio, Brenda o encarou e disparou as palavras que mais temeu ouvir nos últimos tempos:

— Eu me lembrei.

Havia uma centena de palavras que ele planejou dizer quando este momento chegasse, mas nenhuma conseguiu sair de sua boca e tudo que conseguiu fazer foi abaixar a cabeça e encarar as próprias mãos.

— Me lembrei de tudo que deixou de me contar, das partes que omitiu por conveniência. Do quanto nossa amizade estava uma bela de uma porcaria e arruinada.

— Não fale assim, Brenda. Nossa amizade estava em crise, é verdade, mas isso só aconteceu porque não estava sendo capaz de lidar com meus sentimentos e você não parecia entender.

Definitivamente, aquela não fora a melhor escolha de palavras.

— Não parecia entender? Eu entendia e respeitava seus sentimentos pela Teresa e quis lhe dar tempo para assimilar tudo. Não queria que ficasse comigo por que eu fui a que sobrou pra você, por isso, me afastei.

— E custava me dizer isso? – o tom de voz de Thomas se elevou - Custava explicar tudo para que eu simplesmente não começasse a enlouquecer achando que tinha feito algo errado? Eu senti a sua falta! Me acostumei a ter você ao meu lado lá fora e aqui dentro você passa a me tratar como se minha existência fosse algo muito difícil pra você.

Brenda encarou os olhos raivosos de Thomas e pareceu se dar conta do quanto estivera sendo egoísta.

— Thomas – disse ela calmamente, tocando-lhe o rosto -, eu sinto muito. Quando me lembrei de tudo, senti tanta raiva por você ter escondido de mim e fui aguardando o...

— Espera. Você não lembrou de tudo agora?

— Não. Já faz alguns dias – e percebendo a confusão nos olhos de Thomas, tirou a mão de seu rosto.

— E ficou aguardando o que? Sua raiva por mim aumentar por continuar sem lhe contar?

— Sim. Fiquei alimentando essa raiva querendo que ela me tomasse por inteiro e, assim, fosse mais fácil te encarar agora, dizer tudo e me levantar encerrando o assunto e a nossa história. Mas tudo que consegui foi ficar criando diversas formas de te defender e justificar sua atitude e junto a isso, tudo aquilo que eu sentia antes do acidente foi somando-se ao que senti depois.

— Depois?

Brenda ergueu a cabeça e encarou os olhos ansiosos de Thomas, sabia que não tinha como voltar atrás.

— Eu me apaixonei por você ainda naqueles túneis e me apaixonei por você quando tudo que tinha eram as histórias de nós dois que me contou e a sua presença nos infindáveis dias da minha recuperação depois do acidente.

Thomas não conseguiu conter o sorriso ao ouvir aquelas palavras. Que Brenda fora apaixonada por ele nunca fora segredo, mas saber que ela ainda sentia algo por ele, ou melhor, que se apaixonou por ele uma segunda vez o fez sentir como o ser mais sortudo do mundo.

— Isso é engraçado pra você, Thomas?

— Não, Brenda. – Ele tomou as mãos dela e as colocou entre as suas. – Não sorri por achar graça, foi por estar feliz.

— Ah claro, deve ser realmente muito agradável para o ego saber que a mesma garota idiota se apaixonou por você duas vezes.

O riso de Thomas ecoou pelo ar e Brenda o encarou ofendida, puxando suas mãos das dele.

Antes que qualquer outra palavra fosse dita e os sentimentos de Brenda fossem tomados por uma raiva momentânea, Thomas encheu o peito para lhe dizer as palavras que estivera pronto e ansioso para dizer há muito tempo.

— Eu te amo, Brenda. – ela o encarou estupefata – Te amo há muito tempo e lhe peço perdão por ter sido tão lerdo para perceber isso.

— Thomas...

— Por favor, - colocou o rosto dela entre suas mãos – não diga mais nada que possa dificultar isso tudo. Nós já perdemos tempo demais...

— Por sua causa – acrescentou Brenda quase sorrindo.

— Sim, por minha causa. E não quero mais perder tempo algum. Você estava certa por achar que eu precisava de tempo para entender tudo e alinhar meus sentimentos. Mas este tempo acabou sendo demais e eu não aguento mais esperar para passar todo o resto dos meus dias ao seu lado. Tive medo de tomar decisões que definissem toda a minha vida, mas hoje não sei mais como pode haver outro jeito de viver que não seja esse. Com você. Com você do meu lado para sempre.

Na cabeça de Brenda havia uma lista enorme de coisas que poderiam ser ditas para deixar claro que a última palavra seria sempre dela, mas naquele momento, enquanto Thomas a olhava tão carinhosamente e acariciava seu rosto na espera de um sinal para beijá-la, tudo que conseguiu fazer foi sorrir e aproximar seu rosto do dele.

Thomas aproximou seu rosto ainda mais ao de Brenda e a beijou como ansiou fazer por muito tempo.

Porque, finalmente, era ela.

Apenas ela.

FIM