Avatar: A Lenda de Zara - Livro 2: Terra escrita por Evangeline


Capítulo 9
Cap 8: Dobra de Terra - Parte 2




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E o Mestre tinha razão. Em uma semana Zara aprendia a levantar blocos médios de terra. Orgulhosa de si aventurava-se até mesmo a dobrar a poeira do seu quarto.

Ainda tinha dificuldades extremas para dobrar as grandes plataformas de terra que Roen tentava ensiná-la, mas progredia facilmente com dobra de pedras menores.

Mais uma semana passada e uma decisão precisou ser tomada. Zara e seu mestre viajariam para o Reino da Terra. Ficariam numa cidade mais isolada, menos conhecida. Tudo o que precisavam era estar em terra firme. Treinar num iceberg já deixara de ser válido.

Arrumadas as malas, Zara despedira-se de seus pais com tamanha frieza que Tera segurava-se para não chorar.

– Filha, antes de ser avatar, você é a nossa Zara. – Disse a mãe quando puxou-a para um abraço.

– Não, mãe. Antes de ser Zara eu fui muitos outros. Em primeiro lugar, sou Avatar. – Negou a menina, soltando-se com calma do abraço.

Então chegara a hora de despedir-se de Leuh. Foi só então que aventurou-se a deixar seus olhos marejarem. O pequeno bebê parecia saber que aquilo era uma despedida, e que talvez demorasse muito tempo para que voltasse a ver sua irmã.

Partiram ao amanhecer, Zara conduzia a canoa o mais rápido que podia, muitas vezes assustando Roen com a ferocidade de sua obra d’água.

Longe dali, Airon corria para dentro de uma floresta escura nas montanhas, as árvores quase mortas, os troncos secos e muito largos. Estava fugindo de dois homens raivosos que seguravam espadas. A Terra sob seus pés seca, os galhos caídos e quebrados. Segurava um pacote escuro de pano nos braços, abraçando como se a sua vida dependesse daquilo. O garoto já estava ofegante, quando chegou numa caverna ainda mais escura que a floresta em si.

Ele estava com a típica roupa da Nação do Fogo rasgada e suja, usando um a capa com capuz preta, cobrindo quase todo o seu rosto. Entrou na caverna quase caindo no chão, tropeçando nos próprios pés. Em menos de três meses o garoto estava muito diferente de como havia partido de Ba Sing Se.

Os cabelos estavam maiores, o seu corpo mais forte, mais ferido. Sua dobra mais poderosa, e seu humor cada vez mais ácido e sádico.

Olhava para trás com um sorriso maldoso. Ajoelhou-se no fundo na caverna onde abriu o pacote negro onde havia apenas alguns pedaços de pão, queijo e carne. Sentia-se desprezível por comer aquelas coisas, mas o orgulho o impedia de voltar para casa.

Depois de alguns minutos encarando a comida no escuro, abaixou o tronco, deixando o rosto perto do chão.

– Vivi? – Chamou num sussurro. Nada aconteceu. – Vivi? – Chamou mais uma vez.

A ave deu alguns passos para frente, saindo do escuro e olhando para Airon com os olhinhos amarelos, famintos e curiosos.

– Quando eu chamar, apareça na primeira vez. – Falou mal humorado jogando a carne na direção da ave. Estava maior que um cachorro, e tinha as penas vermelhas. Começou a comer seu pão e queijo com uma carranca no rosto, para depois se deitar no chão da caverna.

Não olhe para trás, deixe o cadáver virar pó. Se tiver misericórdia vai ter que ficar só. Não olhe para trás, deixe a culpa se esvair. Se você se arrepender vai voltar até cair. Seja livre! Como o Fogo! Não se deixe apagar. Seja selvagem! Como o Fogo! Não se deixe abafar!

Cantarolou sussurrando. A ave deitou-se na lateral do corpo do rapaz, aninhando-se até finalmente adormecer. Com um suspiro cansado, Airon fechou os olhos. Ainda lembrava de Gumo e de Zara, mas tudo parecia um maravilhoso e distante sonho.

Quando Zara e seu mestre chegaram ao continente, não demorou para que ele a fizesse treinar mais e mais. Graças a Yue eles tinham trazido mantimentos o suficiente para passar uma semana sem precisar estar numa cidade, e era o planejavam fazer.

Zara havia saído em viajem com a roupa que trouxera de Ba Sing Se, embora Roen cismara dizendo que eram vestimentas nobres, e poderiam levantar suspeitas.

O treino da dobra de terra não parava. Zara adorava estar sempre com a mente ocupada, estar sempre treinando. Sem surpresas, sem decepções, sem saudades.

Assim como seu mestre havia alertado, a dobra de terra era quase o extremo oposto da dobra d’água. Os movimentos rígidos, com as marcações bem aparentes, eram características que Zara já conseguia facilmente impor em sua dobra. O Seu problema maior estava em manter seu ponto de equilíbrio fixo e o tronco rígido.

Num momento de descanso, a noite, sentaram-se ao redor de uma fogueira improvisada, comendo um cozido improvisado feito pelo Mestre Roen.

– Zara. – Chamou o mestre tirando a menina de seus devaneios.

– Sim – Respondeu formal e fria como sempre.

– Posso fazer uma pergunta? – Perguntou.

– Quantas quiser, mestre. – Respondeu Zara.

– Me chame de Roen, por favor... – Disse meio sem jeito. A verdade é que era a primeira vez que Roen ensinava para alguém. Fora escolhido como o tutor do Avatar por ser o melhor dobrador de terra de Ba Sing Se. – Bem... você sempre foi assim? – Perguntou.

– Assim como? – Disse a menina desentendida.

– Você sabe... Reservada. – Esclareceu.

– Você quer dizer “excluída”. – Disse a menina virando a cabeça para não encarar seu professor. – Bem, não. – Falou antes de suspirar.

– O que houve para te deixar assim? – Perguntou Roen.

– Eu virei o Avatar. – Sussurrou Zara chateada, bebendo o resto do caldo do cozido em sua tigela. Roen olhou para a menina com um certo pesar no olhar.

Tão jovem, e já tão fechada para o mundo... Imaginou como se sentiria se descobrisse que era o Avatar. Primeiro ficaria feliz, mas depois, com toda a cobrança...

– Você não gosta, né? – Perguntou o dobrador de terra, um tanto cabisbaixo.

– Essa não é a questão... – Disse a menina ainda intrigada com o assunto. – Todos que se aproximam de mim tem algum interesse ou dever. Não sobra ninguém para estar comigo só por estar. Antes não era assim. – Desabafou.

– Eu não acho que todas as pessoas sejam assim. – Comentou o mestre. Na mente de Zara, muitas respostas mal humoradas lhe vinham, mas apenas soltou um grunhido baixo em resposta. – Eu digo isso porque já passei pelo que você está falando. – Complementou, recebendo um olhar da menina em troca. – Nunca fui o Avatar, é claro, mas muita gente interesseira se aproximou de mim... Quando eu era menor, não tinha amigos. Por ser o filho do rei da terra, nenhuma criança queria estar perto de mim com medo do meu pai.

Zara sequer sabia que estava tendo aulas com o Príncipe do Reino da Terra.

– Quando cheguei na sua idade, tudo mudou muito rápido. Do nada todos queriam estar perto de mim, eu não era acostumado com aquilo e acabei ferindo muitas pessoas... – Contou Roen, olhando tristemente para suas mãos. – Havia uma garota... Jean... Ela sempre estava lá, sempre muito quieta, nunca perguntava nada, ninguém nunca deu espaço para que ela se aproximasse de mim.

“Uns dois anos depois eu criei um interesse por ela, afinal, todas as outras garotas ficavam me babando, e ela era totalmente indiferente a mim, embora sempre simpática e gentil quando eu falava com ela. Bem... Muita coisa aconteceu para eu finalmente conseguir entrar no mundo dela, e hoje somos noivos.”

Zara ficou calada por algum tempo, pensando um pouco na história do seu mestre.

– Não precisamos esperar que as pessoas sinceras cheguem até nós. – Comentou Roen. – Precisamos ir atrás delas, porquê as pessoas sinceras são iguais a água passando por rochas. – Falou piscando para a menina com um sorriso brincalhão no rosto.

– Elas passam, e não voltam mais. – Completou Zara, entendendo o raciocínio do seu mestre.

– Precisamos correr rápido se quisermos recuperá-las. – Acrescentou Roen, seguido de um bocejo.

Ambos, mestre e aprendiz, finalmente apagaram a fogueira e enrolaram-se em seus sacos de dormir para que pudessem adormecer. Naquela noite Zara não dormiu.

Lembrava-se das pessoas que foram o mais próximo de amigos em sua vida. Teria os perdido?


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