Avatar: A Lenda de Zara - Livro 2: Terra escrita por Evangeline


Capítulo 18
Cap 17: Copo d'Água




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Ter Airon dormindo no chão ao seu lado depois de um ano sem sequer vê-lo era uma sensação muito estranha. Não sabia o que levara o menino a partir, sabia que a confiança de depositara nele fora muito perigosa. Mas ainda não conseguia desconfiar que Airon tivesse alguma segunda intenção com aquela amizade turbulenta.

Pensar em sua responsabilidade e no modo como Roen havia ser ferido por sua causa, e ainda ter em mente seus pais e mais dois tipos de dobra... O desaparecimento de dobradores de fogo... Uma angústia crescia cada vez mais em seu peito, e quanto mais angustiada mais apertava sua cabeça contra o travesseiro. Queria poder enfiar a cabeça ali e nunca mais sair.

Feliz aniversário, Zara.

Foi só ao lembrar-se da voz de Airon que lembrou que agora tinha treze anos. Mais um suspiro lhe escapou, sendo abafado pelo travesseiro cruelmente esmagado contra o rosto da menina.

Quando ficou completamente imóvel, uma dor de cabeça terrível lhe bateu. Estar num lugar desconhecido depois de uma confusão daquelas era algo muito incômodo.

Airon estava deitado de lado, com a cabeça virada para a cama. O menino não dormia, mas tentava fazê-lo. Estava coberto até os olhos com um lençol fino, e pôde ver com facilidade os pés de Zara pisarem o chão. O menino fingiu mexer-se para o lado contrário, assustando Zara que soltou um suspiro aliviado depois que ele parou de se mexer e estabilizou a respiração.

Agora virado para a porta, Airon viu Zara sair do quarto com certa dificuldade, ela havia levado a mão à testa e apoiava-se nas paredes.

O garoto esperou alguns segundos depois que ela saiu do quarto, para então se levantar e colocar apenas o casaco de sua roupa habitual, já que estava sem camisa antes graças ao calor. Ao olhar com cautela pelo corredor, encontrou Zara explorando o local, soltando alguns gemidos de dor. Ele franziu o cenho e se aproximou devagar dela. Zara estava tão desligada e com tanta dor de cabeça que sequer sentiu a aproximação dele.

Com um suspiro surpreso, Zara virou-se para o menino.

Ele estava muito sério, eu via isso mesmo no escuro. Estava descalço e com a calça do Reino da Terra, mas usava uma espécie de casaco da Nação do Fogo, o casaco usual, mas sem a faixa que o prendia. Ele não usava nenhuma camisa por baixo. Os cabelos estavam soltos, e os olhos davam a impressão de que brilhavam na pouca luz do corredor.

Estava perto demais de mim. Estava tão mais alto do que antes! O cabelo já não era aquele ninho bagunçado que estava quando eu o conheci, agora estava mais sedoso e arrumado, certamente cuidado. Mas o olhar de aventureiro que costumava ter já não existia, era apenas um olhar frio.

Eu queria falar tanta coisa, mas nada me saía. Me lembrei do beijo que Gumo me dera há um ano atrás, e que na mesma noite eu sonhei com o beijo de Airon.

Aquele pensamento me encabulou um pouco, eu devo ter corado, mas espero que ele não tenha visto. Tenho medo desse rosto frio que me encarava. Passamos mais de dois longos minutos nos encarando daquela maneira.

Logo Zara abaixou a cabeça encabulada, sem entender porquê sentia-se tão insegura diante do rapaz.

Por que ela abaixou a cabeça? Era difícil me olhar nos olhos? Quem sabe toda essa situação complicada só existisse na minha mente, era difícil demais lidar com Zara.

Ela estava tão diferente. Além dos cabelos que agora eram curtos atrás e compridos na frente, ela tinha a expressão mais dura no rosto. Não sei o motivo, mas eu a via tão inofensiva dentro daquela expressão fria. Estava pouco mais alta, a postura cada vez melhor. O rosto menos infantil e a boca mais grossa.

Qualquer outra garota na minha frente eu agarraria sem hesitar. Nenhuma delas se respeita o suficiente para não ceder. Mulheres são todas assim. Mas Zara sempre demonstrou ser diferente, desde que me visitou na cadeia.

Eu queria ver seus olhos. Mas eu não podia.

– Não consegue dormir? – Sussurrou Airon depois de longos minutos, incerto.

– Dor de cabeça. – Disse a menina quase muda.

– Quer água? – Ofereceu o garoto, e recebeu um aceno de cabeça em resposta. – Volte para o quarto, eu vou pegar. – Disse e desviou do corpo dela para seguir em frente no corredor. Antes que desse mais que dois passos, Zara segurou seu pulso. Airon prendeu a respiração ao sentir o toque da jovem Avatar e parou de andar, esperando para ver do que se tratava.

– Onde está meu amigo? – Perguntou.

– Segunda porta à esquerda. – Respondeu Airon e se soltou com certa violência da mão dela, continuando a andar pelo corredor.

Zara ficou olhando o rapaz se afastar. Era realmente complicado. Depois que já não podia ver Airon, ela foi para o quarto que ele indicou, abriu a porta devagar para encontrar Roen dormindo pacificamente, com alguns curativos no rosto e nos braços. Sorriu tristemente ao ver seu mestre daquela maneira por sua causa, e prometeu para si mesma não ser tão impulsiva. Viu Sozen no canto do quarto, com os olhos abertos e a cabeça levantada, atenta.

– Venha, Sozen. – Chamou Zara num sussurro, e logo a criaturinha levantou-se seguindo a jovem Avatar. Voltou para o quarto e tirou os sapatos para deitar-se na cama. Prendeu os cabelos com cuidado e sentiu a cabeça doer um pouco mais ao fazer isso, mas sabia que não conseguiria dormir de novo, então não se incomodou muito.

Sozen se deitou embaixo da cama, e ela mal cabia lá, o que fez Zara perceber como ela estava crescendo rápido.

Desamarrou a sua faixa para checar o próprio corpo. Como de costume, meninas usavam uma faixa enrolada ao peito como se fosse uma roupa íntima, e a faixa de Zara tinha uma mancha de sangue na lateral esquerda.

Sempre fui melhor de direita... Reclamou mentalmente, tocando de leve o local para ver se ainda doía muito e não a surpreendeu que a dor fosse intensa. Ela soltou um gemido dolorido e os olhos marejaram.

Foi quando Airon entrou no quarto com o copo em mãos. Viu Zara com o wagui desamarrado e desviou o olhar, se aproximando apenas o suficiente para entregar-lhe a água. Ele não queria olhar melhor para ela.

– Eu quero voltar. – Sussurrou a menina olhando para o copo d’água em mãos. – Para o Polo Norte. – Sussurrou novamente. – Tem algo lá me esperando, tenho medo. – Continuou sussurrando, falando mais consigo mesma do que com Airon. O menino estava frustrado. Sabia que as perguntas da menina viriam logo, então porque ela simplesmente não as fazia?!

– Como pretende fazer? Estamos a dois dias de barco e três de caminhada. – Falou o rapaz, fazendo Zara ficar pensativa.

– Preciso levar Sozen, e me despedir de Roen. Posso ir com o máximo de velocidade que puder na dobra d’água... – Sussurrava raciocinando, confundindo o rapaz. Por um instante, ela parou de falar e olhou para Airon, nos olhos. – Você vem? – Perguntou a menina.

Airon ficou estático por um instante, mas aquela mesma expressão fria estava acabando com Zara e com o próprio rapaz.

– Eles não vão me deixar ficar lá. – Sussurrou desviando mais uma vez o olhar, sem querer lembrar-se do passado.

– Eu vou deixar. – Declarou a menina.

– Então eu vou. – Respondeu depois de um longo período pensando. Depois de mostrar dobra de fogo em público, o lugar mais seguro só poderia ser ao lado do Avatar, no Polo Norte. Mas ele sabia que esse não era o único motivo de estar acompanhando-a.


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Notas finais do capítulo

Capítulo chato, mas eu tinha que escrever. e-e