So Far Away escrita por Rocker


Capítulo 1
So Far Away - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Se leu, você pode comentar ou favoritar ou recomendar! Faça uma autora feliz ;)Espero que gostem XDD



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So Far Away

Capítulo Único

Written by Rocker

Eu tinha sete anos de idade quando o conheci. E por mais que as lembranças daquela idade eram tão difusas quanto em qualquer outra pessoa, eu me lembro bem de quando cheguei na São Vladimir. Não eram lembranças boas, principalmente quando se descobre que será obrigada a viver num orfanato pelo resto da vida depois que seus pais morrem em um trágico acidente de carro - ou até os dezoito anos, pelo menos. Isso nunca seria uma lembrança boa lembrança, mas a dor se amenizou depois que o conheci. Minha vida finalmente começou e, a partir daí, somente lembranças boas poderiam se seguir daquele que se tornou meu porto seguro.

Orfanato São Vladimir, 01 de setembro de 2002

"Por favor, titia, não me deixe aqui!". Eu choramingava de modo irritante para meus sete anos de idade.

Eu já nem sabia como tinha tantas lágrimas aqui depois de chorar praticamente a semana toda. Depois que a notícia tinha chegado, eu já nem sabia o quanto de água eu poderia perder a partir daí. Mas depois de uma semana, minha tia má - que sempre adorou dizer o quanto me odiava -, encontrou um lugar para onde eu pudesse ir. Achava que seria uma casa de algum parente, o que talvez me ajudasse a animizar a dor, mas eu estava enganada. Jamais tinha imaginado que, por mais que a irmã de Janine, minha mãe, me odiasse, teria coragem de me abandonar em um orfanato no meio de Montana.

"Chega de espernear, Rosemarie!". Ela disse, me empurrando em direção aos portões. "Você ficará aqui e sem mais uma discussão!"

E então ela me jogou para dentro dos jardins do Orfanato e tacou minha pequena mochila em meus braços, o que me fez cair de costas no chão. Minha baixa estatura, mesmo para minha pouca idade, era uma vulnerabilidade. Eu estava com dor de cabeça de tanto chorar e por mais que eu sentisse todo o meu corpinho fraco, as lágrimas não deixavam de cair, esgotando ainda mais minhas forças. Levantei-me rapidamente, tentando evitar que qualquer um me visse naquela posição vulnerável, e coloquei a mochila sobre os ombros. Minha tia já tinha ido embora e eu não sabia mais o que fazer. Até que uma mulher saiu de dentro do grande prédio de aparência antiga, que tinhas três torres.

"Oh, querida, venha comigo!". Ela me ajudou com a mochila e me levou para dentro.

O interior do Orfanato era completamente diferente de seu exterior. Enquanto sua fachada parecia sombria e assustadora, o interior tinha um ar confortável e aconchegante. Diferente do que pensei quando cheguei ali, até me senti bem e segura ali dentro - talvez até mais do que se tivesse ficado com minha tia. Ela era uma bruxa, isso era um fato; mas não quer dizer que ainda assim eu quisesse ficar aqui.

"Eu quero ir embora.". Eu resmunguei choramingando.

A mulher que me levava por entre os cômodos rapidamente parou ao ver minha situação e se ajoelhou à minha frente, procurando ficar na mesma altura que eu.

"Olha, Rosemarie.". Ela disse meu nome e eu fiquei intrigada. "Meu nome é Kirova e eu sou uma antiga amiga de sua mãe e senti muito com a perda dela."

Eu quase engasguei com minha própria saliva quando ela disse que conhecia minha mãe.

"Ela me pediu que não a deixasse sozinha caso algo lhe acontecesse e estou aqui para cumprir a promessa.". Ela continuou, com a expressão serena. "Não se preocupe, você será muito bem tratada aqui."

Eu a olhara meio receosa, mas no fundo sabia que não tinha escolha a não ser permanecer naquele Orfanato. Eu não podia negar que agora eu era uma órfã. Então eu simplesmente assenti timidamente, engolindo o choro mais uma vez. E ela me levou para o que eu soubera ser o seu escritório, para que pudesse me explicar as regras e o cotidiano do São Vladimir. Confesso que na época eu ouvia as palavras no modo automático, apenas rezando e sonhando com o dia que eu sairia dali. E então eu lembro que depois do que pareceu horas intermináveis, a diretora Kirova me levou até os dormitórios. Os dormitórios masculinos e femininos era na mesma parte do que parecia ser uma mansão, e eram divididos apenas por uma pequena encruzilhada no fim de uma escada.

Eu estava com medo. Mais do que medo, eu estava apavorada. Até a idade que tinha, nunca tive muito contato com garotos, pois meu pai, Abe Mazur, era muito conservador e nunca me permitia nem ao menos conversar com um, quanto mais dormir assim de modo tão próximo! Mas então algo na minha mente tinha se acendido no momento em que me lembrei de papai e as lágrimas voltaram a cair. Uma pequena vozinha na mente me dizia que meu pai não estaria ali para reclamar de algo como isso, porque ele estava morto. E o choque de realidade recebido mais uma vez era demais para uma garotinha de sete anos. E a diretora Kirova, vendo minha situação, tentou me acalmar.

"Shi, acalme-se, srta. Hathaway.". Eu não tinha o sobrenome do meu pai, pois na época que nasci, eles ainda não eram casados. "A senhorita será bem cuidada aqui.". A diretora dizia, enquanto as lágrimas escorriam ainda mais por minha face.

"Ela está bem, diretora Kirova?". Ouvi uma voz de um menino quando passamos pelo cruzamento que separava os dormitórios, em direção ao lado feminino do corredor.

Nós nos viramos para o garoto e eu me surpreendi observando um garoto de onze anos, alto, meio pálido, cabelos castanhos desgrenhados e lindos olhos azuis. Ele tinha o cenho franzido e sua boca fina estava apertada em uma linha rígida. E seus olhos me observavam de maneira preocupada.

"Não, mas ficará em breve.". A diretora de modo gentil, mas firme. "Agora volte para o quarto, sr. Ivashkov."

Eu não conhecia aquele sobrenome, mesmo que meu pai tivesse muitos contatos pela cidade por causa dos negócios. Se ele estivesse ali, eu o teria cutucado e perguntando quem eram os Ivashkov. Mas o problema era que meu pai não estava ali agora. E eu sabia que nunca mais estaria. E era por isso que não consegui segurar um soluço e abaixei o rosto, tentando me controlar. O garoto deu um passo meio receoso à frente, em minha direção, mas a diretora Kirova colocou uma mão sobre meu ombro e deu um passo em direção aos quartos femininos, e ele lidou isso como uma recusa.

"Volte para o quarto, sr. Ivashkov, vou leva a srta. Hathaway até o dela."

Mas ele não foi. Ele não arredou o pé do lugar, ele não desviou o olhar de mim; apenas ficou ali parado até que sumíssemos no corredor. E eu senti a falta de algo no meu peito, mas na época eu era nova demais para saber. Hoje eu sei, mas naquele dia fatídico da minha chegada ao São Vladimir, eu não estava com muita capacidade para analisar nada; nem mesmo meus pensamentos e sentimentos. Minha única certeza era que eu estava quebrada. Quebrada demais para uma garotinha medrosa de sete anos, mas eu estava.

"Aqui está, srta. Hathaway.". A diretora disse, antes de sair do quarto e me deixar encarando receosamente uma garota morena e um pouco baixa à minha frente.

Que sorriu assim que a porta bateu.

"Meu nome é Meredith." Ela disse. "Seja bem-vinda."

"Rose, e obrigada.". Eu disse, abrindo um sorriso forçado. Que se fechou assim que ela saiu também, dizendo que ia brincar com uma amiga chamada Mia.

E a partir daí, eu me jogara na cama e ficara chorando durante horas, até que senti as lágrimas secarem, ou acabar adormecendo com elas ainda caindo.

Orfanato São Vladimir, 16 de setembro de 2002

Eu não sabia o que fazia. Só que corria. E chorava.

Como eu vinha fazendo as últimas semanas, desde a notícia da morte dos meus pais. Mas agora o problema se tornara sério desde o momento que eu resolvera me socializar. Até aquele momento, porém, fora a pior ideia que eu já tivera, mas eu nunca tive muitas boas ideias. Mas aquela,definitivamente, era a pior. Desde do momento que eu chegara chorando no Internato, as crianças que haviam ali ficavam murmurando. Parecia que sabiam que eu era filha da amiga morta da diretora e isso não me trouxe boa fama. E ficar duas semanas enfurnada no quarta, sem querer sair nem para comer, só piorou minha situação.

Então quando eu finalmente havia resolvido sair, não tive as melhores as melhores das recepções, mas isso eu nem ligava. Na verdade, eu estava na fase que não ligava para nada, queria só ficar quieta no meu canto, com uma aura sombria de melancolia à minha volta. Mas parecia que não era isso que Mia Rinaldi queria de mim. Enquanto eu estava de luto no meu canto, sem fazer mais do que levantar da minha cama para beber água e ir ao banheiro, Mia - um demônio pior do que Lúcifer, mas que na verdade parecia um anjo de seis anos de idade - havia espalhado boatos ridículos sobre minha família. Todos agora acham que meus pais que me abandonaram e inventaram todo esse acidente para se livrarem de mim. A pior parte é que os olhares de pena são tão verdadeiros que eu estou quase até acreditando nesse boato, apenas pra tirar da cabeça que meus pais estão mortos.

E então quando essa tal de Mia apareceu na minha frente e disse que eu era tão indesejada aqui quanto na minha família - ela também espalhou sobre o fato da minha tia não me querer -, eu simplesmente não aguentei e desabei. Todas as lágrimas que eu passei dois dias tentando segurar para finalmente conseguir sair do quarto, começaram a rolar e todos no pátio começaram a rir. Eu acho que talvez o olhar de pena deles fosse um pouquinho melhor. Voltei correndo e já ia me encaminhando até o prédio quando eu trombei em alguém mais alto que eu. Qual foi meu susto quando olhei para cima e me deparei com lindos olhos verde jade me encarando. Era o garoto que se preocupara comigo no dia em que cheguei.

"Você está bem?". Ele perguntou, assumindo novamente aquela expressão de preocupação.

Gaguejei um pouco, momentaneamente sem fala e instantaneamente corada, tentando responder um simples "estou, obrigada". Ou podia ter sido um "não te interessa". Eu não sabia mais o que estava falando, de tão envergonhada tinha ficado. Ou ele viu que eu fiquei constrangida, ou viu que meus olhos inchados e rastros úmidos pelas bochechas me tornavam um monstro chorão, porque ele me olhou compreensivo. Não tinha pena em seus olhos. Ele apenas parecia compreender e entender o que quer que tenha acontecido.

"Vem.". Ele disse, olhando para algum ponto atrás de mim. Quando olhei por sobre o ombro, percebi que Mia ainda me lançava um sorriso cínico. "Melhor você entrar.". E ele me abraçou pelos ombros de forma protetora, me levando para dentro do prédio do Orfanato.

O garoto sem nome me levou para a cozinha. Ainda não sei se ele sabia que comida me deixava mais feliz, ou simplesmente chutara essa alternativa. Em ainda completo silêncio, ele acenou para que eu me sentasse numa cadeira que parecia o dobro do meu tamaninho, enquanto ele fazia um sanduíche. Colocou, então, o prato à minha frente e se sentou do outro lado da mesa, observando-me comer depois de alguns segundos de hesitação. Felizmente, minhas lágrimas já haviam secado, mas eu sabia que meu rostinho de criança estava horrivelmente inchado e vermelho.

"Por quê?". Perguntei, depois que tinha terminado de comer. E olha que comida realmente me deixa melhor. Principalmente quando passei as últimas semanas não comendo quase nada.

"Por quê o quê?"

"Por quê está me ajudando?"

"Não gostei de ver a Rinaldi te chateando.". Ele deu de ombros. "E ela não merece uma lágrima a mais sua."

Eu corei, obviamente.

"Mas você nem me conhece...". Murmurei, procurando entender.

"Então podemos nos conhecer agora.". Ele disse, sorrindo, e me estendeu a mão por cima da mesa. "Adrian Ivashkov, 11 anos."

Apertei sua mão. "Rose Hathaway, 7 anos."

E eu sorri, pela primeira vez em semanas.

Orfanato São Vladimir, 03 de outubro de 2002

"Rose, abra!". E essa era a voz de Adrian, me gritando do outro lado da porta do meu quarto.

Quase três semanas se passaram, mas ainda assim eu insistia em continuar aqui. Não queria sair e, por isso, Adrian vinha me fazer companhia todos os dias. Mas ontem ele decidira que a partir de hoje seria diferente, que ele ia me tirar daqui. Disse que eu não podia viver pra sempre dentro desse quarto. Disse que se eu não visse a luz do sol uma única vez na vida, que eu acabaria virando uma vampira. O que eu achei ridículo, claro.

"Não, Adrian, eu não vou!". Eu tirei a cabeça do travesseiro apenas para poder gritar.

Eu quase podia ouvi-lo suspirar, antes de abrir a porta. Que. Estava. Trancada. Levantei o rosto do travesseiro e me virei indignada para o moreno que entrava despreocupado.

"Como conseguiu abrir a porta?". Perguntei.

E ele abriu um sorrisinho cínico que eu adorava. "Roubei a cópia da chave-mestra há uns três anos."

Eu me sentei na cama, enquanto ele se sentava ao meu lado.

"Três anos?". Perguntei, confusa e curiosa. "Há quanto tempo está aqui?"

Então, depois de todos esses dias, quando ele me ajudava a superar a morte dos pais, sempre fazendo de tudo e um pouco mais para arrancar uma risada minha, ele sorriu. Mas não os sorrisos cínicos, sarcásticos, irônicos, felizes, realizados que eu sempre via. Foi um sorriso triste, cheio de dor oculta. E eu resolvi que estava na hora de eu ajudá-lo, e não o contrário.

"Adrian, você sabe que pode desabafar comigo.". Eu disse de modo meigo, convencendo-o a se abrir comigo.

Ele suspirou derrotadamente, e se deitou de lado na minha cama. Me deitei ao seu lado, encarando o teto, e comecei a ouvir atentamente.

"Eu nunca saí desse lugar. Eu cresci aqui, e não tenho nenhuma lembrança de qualquer tempo antes. Kirova diz que era um dia de chuva quando tocaram aqui no São Vladimir. E quando ela foi abrir, só me encontrou ali no chão, forrado com uma coberta azul. Nada de caixa, nada de cesta, apenas uma certidão de nascimento. De acordo com o que dizia, eu me chamava Adrian Ivashkov, e meus pais eram Daniella e Nathan Ivashkov. Mas eu nunca tinha visto a certidão. Pedi algumas vezes para Kirova me mostrar, mas ela nunca permitiu. Também nunca conheci meus pais, e nem ninguém que não tivesse passado por esse Orfanato. Sempre espantei qualquer um que tivesse qualquer intensão de me adotar. Não gosto daqui, mas é melhor do que fingir que sou de outra família. E durante algum tempo, também sofri com todos me julgando e me apontando como o bebê deformado que os pais abandonaram aqui."

Tínhamos ficado ainda algum tempo em silêncio, encarando o teto de gesso, lado a lado, cada um emerso em seus próprios pensamentos. Até que me levantei de repente e lhe estendi a mão. E Adrian olhou para minha mão, intrigado.

"Não era você que queria me tirar daqui?". Perguntei, sorrindo sapeca. "Vamos, quero ir ver a luz do sol antes que me torno meio vampira, meio humana!"

Adrian riu, antes de aceitar minha e se levantar.

Orfanato São Vladimir, 25 de dezembro de 2004

Era o pior dia do ano. Talvez não mais que o dia que meu pais morreram no acidente, mas ainda assim, era um dos dias mais odiados por minha pessoa. Natal não devia ser bem o dia que uma criança de nove anos mais desprezava. Mas naquela época realmente era para mim. Meus pais sempre diziam que Natal era um dos dias mais importantes do ano. Não pela parte cristã, porque eu e minha mãe não frequentávamos a igreja e meu pai era turco. Mas porque era um dia de família, onde nós três sempre fazíamos algo diferente em casa.

Mas desde que eles morreram, eu passei a odiar o Natal. Não via mais sentido algum nele, então, como eu fizera nos últimos dois anos, me escondera no alto da torre do relógio, apenas observando o céu nublado lá fora pelos vitrais do relógio. Mas também tinha me esquecido que Adrian descobrira meu esconderijo meses antes.

"E aí, dampirinha!". E isso era apenas ele vindo até mim, me chamando pelo apelido ridículo que inventara para mim. Disse que era uma mistura de vampiro com humano. E passou a me chamar assim.

Me virei para ele, fingindo estar irritada. "Já disse pra parar de me chamar de dampirinha!"

"E eu já disse que não vou parar."

E ele abriu um sorriso sarcástico, enquanto se sentava ao meu lado no chão. Mas ele tinha sentado de um jeito estranho, fazendo de tudo para deixar os braços para trás, e quase caiu; mas nem mesmo assim tirou os braços das costas e eu desconfiei.

"O que é isso?". Perguntei, tentando me inclinar para ver o que ele escondia.

Ele abriu um sorriso enigmático e colocou um embrilho retangular sobre minhas pernas. "Seu presente de Natal."

"Pensei que soubesse que não me importo com o Natal?"

Adrian me ignorou. "Abre, você vai gostar."

Contrariada, eu acabei abrindo mesmo o embrulho. E me deparei com um porta-retratos simples e delicado de madeira branca, com uma foto nossa. Eu estava com os cabelos em uma trança, sorrindo abertamente e ele tinha um braços sobre meu ombros, acenando para a câmera. Era a foto que tínhamos tirado no último dia das crianças, quando a diretora tinha trago uns dois palhaços para nos animar, mas tudo o que eu fiz foi chorar, porque tinha medo de palhaços. E Adrian me tirou do pátio principal, me levou para a cozinha e fez de tudo para me fazer rir e acabou conseguindo, como sempre. E eu sabia que a foto era a cópia que tinha ficado comigo, porque eu via uma pequena manchinha de sorvete de morango, de quando tínhamos feito guerra de comida.

"Obrigada!". Agradeci, pulando em seu pescoço e abraçando-o apertado, enquanto tentava segurar as lágrimas de felicidade.

"Eu disse que você ia gostar.". Ele disse, depois que nos separamos.

"Mas como conseguiu o porta-retrato?!". Perguntei, intrigada.

Eu sabia como ele tinha conseguido minha fotografia. Ele tinha roubado a cópia da chave-mestra há quase cinco anos e poderia muito bem ter entrado no meu quarto e pego.

"Quando de tem 13 anos e é mais velho que a maioria dos órfãos, Kirova permite dar uma fugidinha.". Disse, mandando-me uma piscadela.

Orfanato São Vladimir, 14 de março de 2006

Depois de anos, eu voltava a chorar desconsoladamente.

Não estava no meu quarto, não estava na torre do relógio, não estava na cozinha, não estava no pátio e muito menos no jardim. Não estava em lugar algum onde Adrian pudesse me encontrar. Dessa vez eu estava no terraço. Não era permitido que as crianças entrassem ali, mas eu entrara mesmo assim. E ficara de pé sobre a balaustrada, mas apoiando em uma das colunas de gesso que havia espalhadas por toda a lateral. Não era intenção minha me matar, eu estava só pensando. E chorando, claro.

"Rose, o que está fazendo?!"

Pelo tom de voz que Adrian dissera meu nome ao entrar pela porta que dava acesso ao terraço, sabia que estava ou irritado, ou preocupado. Então eu desci da balaustrada com cuidado e o encarei, enquanto ele dava os passos necessários para chegar a mim.

"Estava tentando se matar?!". Ele perguntou desesperado e nem esperou uma resposta, foi logo me abraçando apertado contra seu peito. Adrian, aos seus quinze anos, conseguia ser uma cabeça maior do que meu tamanho de onze.

"Eu não estava tentando me matar, estava só pensando!". Respondi, com a voz rouca de choro, mas nem me importei. Esperava que ele pensasse que era porquê quase me sufocava contra sua camisa.

Mas eu também tinha me esquecido que ele me conhecia como ninguém. Ele logo percebeu que algo estava errado e me afastou um pouco para analisar meu rosto.

"Por quê estava chorando?". Adrian nem passou pela pergunta de "estava chorando". Ele sabia quando estava ou não, não era preciso perguntar.

"Por nada.". Menti descaradamente, limpando rapidamente as lágrimas que escorriam.

"Não adianta mentir para mim." Ele tinha razão. "O que te deixou assim?"

"Avery." Respondi, sem me preocupar em esconder meu desgosto.

Avery Lazar, de 14 anos, aparecera no Orfanato São Vladimir há algumas semanas. E desde então passara todo o tempo com Adrian. Toda vez que eu tentava me aproximar, ela sempre dava um jeito de me enxotar dali, e Adrian não fazia nada. Eu tentara de tudo para não me deixar abater, mas acabei desabando.

"O que tem ela?" Ele me perguntou, confuso.

"Você passa tanto tempo com ela nem se lembra mais de mim." Resmunguei.

E ele abriu um sorriso e me abraçou de novo. "Você é minha dampirinha, nada vai nos separar. Nem mesmo Avery."

"Promete?"

"Prometo."

E ele tinha razão.

Pois na semana seguinte Avery foi adotada.

Orfanato São Vladimir, 19 de fevereiro de 2009

Mas eu sabia que a promessa não duraria tanto. Ou que não duraria o quanto eu realmente quisesse. Eu sempre soube que o dia chegaria, só não estivera me preparando psicologicamente para isso. E ao que parece, Adrian tinha mais noção do que eu.

"Ei, ei, ei." Ele disse carinhosamente, segurando meu rosto em suas mãos e limpando as lágrimas que escorriam.

No Orfanato São Vladimir, quando se faz 18 anos, você tem três semanas para encontrar algum outro lugar. Era regra, e Adrian seguiu-a até o fim. Ele sempre teve em mente para onde iria, mas só saiu do São Vladimir no último segundo. Que, infelizmente, era agora. E ainda ficaria ali por mais quatro anos até que chegasse minha vez. Adrian tentou conversar com Kirova, para pedir minha guarda, mas ela bateu o pé, dizendo que os únicos três jeitos de sair dali era ser adotado, ter a guarda de alguém da família, ou completar dezoito anos. Adrian insistiu para me adotar, mas ela disse que não, pois ele mal completara dezoito. Mas sabíamos que se ela não tivesse sido amiga da minha mãe, ela até permitiria.

"Eu não quero te perder!" Eu disse, tentando segurar as lágrimas quando via as duas malas de Adrian no chão.

"Você não vai me perder. Eu volto para te buscar." Ele disse, ainda segurando meu rosto. "Eu prometo."

Eu sorri, e ele fez algo que me surpreendeu, mas que eu sempre sonhei em acontecer. Adrian se inclinou e me beijou. Me beijou de verdade! Eu sempre sonhei em ter meu primeiro beijo com ele, e agora ele estava realizando esse sonho. Era um beijo carinhoso e apaixonado, demonstrando toda as saudades que já sentíamos um pelo outro. Quando nos separamos, ele me deu mais um selinho e um beijo na testa.

"Prometo te buscar."

E saiu pelo portão, deixando-me completamente sozinha.

Orfanato São Vladimir, 08 de junho de 2013

Ou não exatamente. Fiquei muito tempo apenas olhando para nossa foto que ele me dera de presente de Natal e chorando. Porque nunca mais entrara em contato comigo. Foi como se tivesse me esquecido completamente. E isso arrasou comigo. Mas no ano seguinte, um casal entrou no Orfanato. Christian Ozera e Lissa Dragomir. Eram muito velhos para entrar, mas como não tinham para onde ir, Kirova os aceitou. E quando eu fiquei encarregada de mostrar todo o lugar a eles, acabamos nos tornando amigos. Eu e Christian tivemos nossas desavenças, mas ainda éramos amigos. E agora era a vez dele de sair.

"Não chora, Liss." Ele insistiu com a menina loira e alta ao meu lado, que só faltava desabar pela despedida do namorado. "São só alguns meses. E você ainda tem a Rose."

Eu sorri tristemente. Lissa só ficaria longe dele por poucos meses e ainda tinha a mim. Eu não tive ninguém quando Adrian fora embora e ele nunca mais entrara em contato comigo.

"Eu sei, mas..." Lissa insistiu, mas Christian logo a interrompeu.

"Mas nada." Disse, entregando a ela um papel com um endereço escrito. "Vamos nos ver de novo. Aqui está o endereço da casa onde vou ficar com meu colega de faculdade. Meio que uma república, mas ficaremos só nós quatro. Isso se não se importarem de ficar com ele também."

"Eu não me importo." Disse Lissa rapidamente. Ela faria qualquer coisa para que ficasse com Christian.

"Nem eu." Eu disse quando ele me olhou questionador.

"Ótimo. É só irem a esse endereço quando for a vez de vocês."

E então Christian a beijou.

"Nos vemos em breve." Eu disse, quando ele me abraçou antes de ir.

Universidade de Lehigh, 01 de setembro de 2013 - Hoje

E hoje fazia onze anos que nos conhecemos. Eu completei 18 anos há poucos dias, mas esperei apenas os oito dias que faltavam para Lissa completar os delas. E agora estávamos em frente a uma casa próximas à Universidade de Lehigh, onde eu ia cursar Educação Física e Artes e Lissa, Medicina.

"Está pronta?" Perguntou Lissa, me olhando apreensiva.

"Nem um pouco." Eu disse nervosa, mas mesmo assim dei um passo à frente e toquei a campainha.

Segundos depois, Christian apareceu à porta e sorriu ao nos reconhecer. Abracei ele e entrei.

"Como foi o aniversário de vocês?!" Perguntou Christian, e eu percebi que tinha alguma coisa enigmática no sorriso dele e de Lissa.

"Foi libertador." Respondeu Lissa, enquanto eu ainda tentava descobrir porque eles ainda se olhavam cúmplices.

Até que ouço uma voz conhecida atrás de mim.

"Finalmente, dampirinha."

Eu me virei, surpresa, e me deparei com ele.

"Rose." Disse Christian, enquanto eu ainda ficava paralisada. "Acho que se lembra de Adrian Ivashkov. Porque ele será nosso novo colega."

"Vocês armaram isso?" Eu perguntei, saindo do transe.

"Foi tudo ideia dele." Disse Lissa, apontando para Adrian.

"Não reclama, dampirinha. Sei que sentiu minha falta."

Eu ri pela primeira vez em anos, deixando-me levar pela sensação de vê-lo novamente. E, enquanto Adrian me puxava para seus braços e me beijava, percebi que havia errado em uma coisa.

Minha vida não começara há onze anos atrás, quando eu o havia conhecido.

Minha vida começava agora.


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