Cherry Bomb escrita por Jinx Vengeance


Capítulo 1
Capítulo Único




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Cherry Bomb

Por Jinx Vengeance

Capítulo Único

– Ela simplesmente me deu o fora.

Essa frase é muito ouvida por mim. Caminhávamos lado a lado naquela manhã fria de outono. Estávamos saindo de um bairro residencial qualquer a caminho do centro da pequena cidade onde vivemos. Aos poucos, a imagem das grandes e volumosas árvores com folhas amareladas e secas fora substituída a uma típica paisagem de vários prédios e comércios. O sol acabara de nascer no horizonte e uma brisa gélida me fez colocar parte de meu rosto dentro do cachecol felpudo na tentativa falha de me aquecer. Olhei para Andy pelo canto do olho; ele carregava uma expressão vaga e sugestiva. Seus cabelos castanhos rebeldes estavam enfiados dentro de um gorro azul, desajeitadamente. Puxava e repuxava compulsivamente o lábio inferior, uma mania que sei que adquirira com o passar dos anos. Seus olhar se cruzou com o meu, flagrando-me estudando sua anatomia.

– É realmente uma pena - falei pausadamente, disfarçando o meu embaraço e rubor. Sei que responde-lo não era preciso, mas gosto de fazê-lo, é uma forma que significa que eu estava ouvindo, estimulando-o a continuar já que, como sua amiga, sei que ele não é de falar muito sobre essas paradas sentimentais.

– Hm.

Começou a chutar um pedregulho qualquer da calçada como forma de distração; estava frustrado. Conheço as mínimas expressões que Andy faz, pelos anos de convivência. Qualquer gesto ou resmungo, sei interpretar todos. Isso me faz pensar que o observo demais, mas acho que esse tipo de coisa é o que amigos fazem, não?

Depois de qualquer rolo, relacionamentos e afins, Andy fica muito deprimido como um cachorro que caiu da mudança. Só de olhar para ele, tenho vontade de abraçá-lo e dizer que tudo isso vai passar, mas sempre me contenho. Uma coisa que sempre digo é que Andy se apega demais às pessoas e quando elas partem, seu coração fica despedaçado. E sou eu quem junta e cola os cacos.

Minha vontade quando isso acontece é de dar uma surra na garota que o fez sofrer. Sou uma pessoa de pavio curto, todos sabem disso. É claro que dou um milhão de conselhos e sermões, mas quem disse que ele me ouve? É super normal não ouvir a sua amiga de infância, não é? Andy é naturalmente um cabeça oca e sempre me ignora neste quesito e sempre quebra a cara. Nesta ordem. E quem é que tem de aturar um garoto extremamente bonito resmungando e com o astral baixo? Uma balinha de hortelã para que respondeu Cassidy Reyes.

As vezes tenho saudades da época que nós éramos crianças, quando a palavra "paixão" ou "amor" não faziam parte de nosso vocabulário. Ou quando Andy não ficava babando por cada rabo de saia que avistava... Ou quando meu coração não tinha vida própria e não parava de dar espetáculos olímpicos no meu peito quando ele está muito próximo...

Não gosto de dividi-lo... Hey, que cara é essa? Não me leve a mal, quero dizer, Andy é o meu melhor amigo. Atualmente não passo tanto o tempo que gostaria perto dele. Quer dizer, qual foi a última vez que saímos juntos para sei lá, zoar um pouco, hn? Entre seus infinitos rolos e nossos horários alternados de aulas e compromissos, os únicos momentos que podemos ficar a sós é quando estamos caminhando para o Instituto (é como chamam a nossa escola) ou quando ele leva um baita fora. Se você percebeu, essas duas coisas estão acontecendo nesse exato momento.

Incrível como ele nem me olha quando está em um "relacionamento sério". É incrível também como meu querido amigo volta correndo para mim como um cãozinho quando a menina que namorava arruma uma pessoa melhor. Mas não sou uma pessoa rancorosa, muito pelo contrário. Mas essa situação monótona e previsível está me deixando pirada.

Reprimo um risada de escárnio e olho para ele de soslaio.

– Hey, não fique assim - digo dando um soco fraco em seu braço. Wow, desde quando ele é tão musculoso? Foco Cassidy, foco.

– Hm? - resmunga.

– Logo logo você arranja outra garota. Elas parecem sempre estarem aos seus pés - isso soou muito amargurado? Espero que não - E só para constar, "Hm" não é uma sentença.

Entramos em mais silêncio incômodo, com o som das folhas farfalhando nas árvores como único ruído, além de minha respiração pesada. Vejo o moreno revirar os olhos; isso quer dizer que ele está pensando em uma resposta irônica.

– É, eu sei que sou demais - diz, confiante - Você tem razão.

– Sempre tenho, não?

Então, do nada, ele pára de andar e se vira, ficando frente a frente comigo. Ergo um pouco a cabeça para fitar o seu rosto, já que ele é longos quinze centímetros mais alto. Suas mãos firmes vão para meus ombros, onde repousam e apertam amigavelmente. Andy se curva um pouco para ficar na mesma altura que eu. Seus olhos encontram os meus... Merda, mil vezes merda.

– Cherry Bomb...

– Não me chame assim, bastardo - respondo mau-humorada.

Esse apelido escroto (que não acho tão escroto assim) ganhei quando nos conhecemos e, consequentemente perdura até hoje. Éramos pirralho de oito anos, e Andy disse que eu me assemelho com uma cereja por causa de meu cabelo ruivo e, convenhamos, eu era uma bolota quando pequena. Isso é tão patético, quer dizer, ser ruivo não é uma fato inédito... Nem ser gordo, mas agradeço a todos os deuses que conheço por aquela gordura infantil ter evaporado com o passar dos tempos. Hn, onde estávamos? Enfim, mesmo eu não admitindo por causa de meu orgulho extremamente grande, gosto desse apelido tolo. Todas as vezes eu o xingo por me chamar desta maneira, mas ele sempre torna a me chamar assim, pois acho que ele sabe que eu aprecio. Talvez a mania de "observar o melhor amigo" não seja uma coisa unilateral. Ele me conhece tanto o quanto eu o conheço, mas não transparece. Deixo um sorriso escapar.

– Cherry Bomb sorrindo? O apocalipse chegou mais cedo? - Andy retruca, brincalhão. Olhando por esse ângulo, parece que eu sou uma pessoa infeliz, o que não é verdade. Só não gosto desperdiçar sorrisos com coisas supérfluas.

– Desembucha, idiota.

Ele revira os olhos, como se esperasse por essa resposta. Andy respira fundo e solta a bomba, literalmente:

– Cassie, gosto muito de você.

Arregalo os olhos. Ãhn... O-okay.

– Não quero que passe o mesmo que estou passando - ele continua - Sei que você me considera muito, então é minha vez de retribuir.

Por que ele tem que ser tão... Ele? O jeito como sorri, como é sarcástico ou quando passa a mão nos cabelos quando está nervoso. Fala sério, que garota não gostaria dele? Agora cá estamos nós, em uma rua que não recordo o nome e com o rosto a centímetros do rosto do meu melhor amigo. Ahn, amizade cadê você quando eu preciso?

– P-pode continuar - eu gaguejei? Idiota, idiota, idiota. Com certeza o apocalipse chegou mais cedo.

Então Andy curvou os lábios levemente como se estivesse se divertindo com a minha insegurança, afinal, desde quando Cassidy Reyes gagueja? Aposto que sabe o poder que tem sobre minha pessoa.

Seu olhar ganhou um brilho mais intenso, como se fosse... NÃO! Não, não, não! Ele não vai..? Mas nós somos apenas amigos, Andy não pode estar pensando em... Espera aí. Por que estou tão nervosa? Preciso relaxar, isso não é uma coisa incomum. Admito que sinto-me atraída por ele, afinal, eu não sou cega, pode apostar. Todos esses anos que passamos juntos, ah, qual é, eu meio que mereço isso. Afinal, fui eu quem teve que aguentar, apoiar e ajudar o senhor TPM eterna todo esse tempo. Talvez, pela primeira vez vou deixar-me levar pela situação, pois o que é a vida sem riscos?

Consigo sentir meu coração acelerado e minhas mãos, que estão paradas inertes ao lado do meu corpo, suarem. Será que estou oxigenando o meu cérebro direito? Ah, foda-se, é agora ou nunca. Ele vai falar, ele vai falar!

– Cassidy, você sempre me ajudou ao máximo, agora é minha vez de te aconselhar. Nunca, em hipótese alguma, se apaixone. O amor simplesmente te ilude e depois te joga na merda.

...

...

...

...

...

...

Ele só pode estar zoando com a minha cara. Fala sério, cadê as câmeras? Aposto que aquela idiota da Jeanine está por trás disso, vai colocar o vídeo no YouTube e acabar com a minha vida nem tão social.

Fiquei longos minutos encarando o nada, meio incrédula e meia desajustada.

– Hm, você 'tá bem, Cherry Bomb? - o garoto em minha frente perguntou, preocupado com meu silêncio.

– Sempre.

Oh, mais que coisa broxante! Como se ele fosse se declarar ou algo do gênero. Dou uma risada fraca, fala sério, estou parecendo uma adolescente apaixonada... O que em parte eu sou.

– Hn, então vamos indo - responde, desconfiado por eu não tê-lo xingado. Dou um breve aceno de cabeça, então Andy me larga e volta a caminhar.

Desculpe desapontá-lo querido amigo, mas acho que já estou na merda.


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Notas finais do capítulo

Então?
Até a próxima.



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