Tears of blood escrita por IS Maria


Capítulo 37
A última lágrima




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CAIUS

Assistir aos poucos ela se tornando uma vampira, sabendo que eu havia causado isso a ela, havia sido o meu pior pesadelo. Ela havia se tornado o meu mundo assim que eu a olhei nos olhos e eu não podia suportar a ideia de a ver se tornar alguém como eu. Eu conhecia muito bem o seu coração e me odiaria por toda uma eternidade por ter sido o responsável por o transformar em pedra. Quando ela abriu os olhos, agora vermelhos, temi que ela não me olhasse da mesma maneira, a segunda vez em minha vida que mais tive medo e quando ela mostrou não se lembrar, vi ali a oportunidade de me afastar. Nunca me pareceu justo que ficássemos juntos. Ela era a mais bela e pura de todas as criaturas, tornando inevitável que eu me apaixonasse por ela, porém, ela me amar, mesmo sabendo o quanto eu poderia a machucar, nunca fizera sentido algum para mim.

Desde o começo, sempre desejei que ela me odiasse, tentando muitas vezes diferentes abordagens para lhe mostrar a pedra que meu coração havia se tornado, mas isso nunca parece a intimidar, na verdade apenas pareceu a atrair cada vez mais. Não demorou muito para que eu não mais conseguisse resistir e mesmo depois que ela não mais se lembrava de nada, por mais que tive algum sucesso em me manter longe, também não demorou muito até que aos poucos eu me apaixonasse novamente, desta vez por uma Emma já não mais tão frágil. Ter me entregado havia trazido a ela tanta dor, a colocado em perigo tantas vezes que de fato me afastar parecia novamente ser o certo. Por isso foi tão fácil deixar que me odiasse quando descobrisse sobre Athenodora e o quarto de mulheres, por isso foi tão fácil me calar.

Se ela ao menos soubesse que eu já não mais procurava aquele quarto desde o dia em que a encontrei pela primeira vez... se ela ao menos soubesse que enquanto tive que me deitar com minha esposa, era o seu rosto que eu trazia em minha mente. Encontrar Athenodora em meu quarto, depois de muito tempo que eu não a via, a vendo aparecer sem nenhum aviso, deixava claro que algo estava fora do lugar. Bastaram apenas algumas palavras para que eu soubesse que Aro estava envolvido e apenas em pensar na possibilidade de colocar Emma em perigo de alguma maneira, me fez entrar em puro desespero. Eu sabia que ele arrumaria uma maneira para nos separar, eu sabia que Athenodora ali causaria uma grande dor a ela, apenas deixei que acontecesse. Me pareceu melhor permitir que ela me odiasse ao permitir que ela se machucasse de alguma maneira... pela primeira vez na minha vida, por mais que eu muito quisesse, eu não poderia ser tão egoísta.

Eu me segurava para não romper aquela sala e puxar Emma pelo braço, a deixar bem longe de tudo isso, a colocar a salvo, mas eu sabia que estar lá agora, poderia apenas tornar tudo pior. Eu podia sentir as horas passando, os minutos se arrastando e já não mais aguentava esperar para vê-la sair. Ela saiu tão rapidamente que nem sequer notou que eu estava próximo, porém, mesmo que eu não tenha falado com ela, ao menos podia notar que estava bem. Aro saiu em seguida e o sorriso em seu rosto me causava arrepios. Cruzei os braços e endureci o rosto, aquilo nem de longe poderia significar uma coisa boa.

– Irmão - disse alegremente assim que me viu.

– Aro - Tentei ao menos aparentar tão descontraído quanto ele.

– Prevejo que teremos um belo dia. - Abriu um sorriso ainda maior do que aquele que trazia.

– O que queria com ela ?

– Eu não contaria... mas sei que o seu interesse por nossa "cria" é enorme então...

– Você não faz nem ideia. - Apertei os olhos.

– Eu apenas a repreendi. - Revirou os olhos - Ela vem causado muita confusa e eu não queria demonstrar nenhum favoritismo, ela precisava ser repreendida.

– Repreendida ?

– Primeiro ela quebra um acordo que temos com os filhos da lua a séculos e depois aquela briga aqui diante de toda a guarda ? Não podia permitir... - esfregou as mãos.

– Claro...

– Agora se me dá licença. - Deu um breve tapinha em meu ombro e continuou com o seu caminho. Eu não havia comprado nenhuma de suas palavras. Emma claramente não aparentava ter sido repreendia e a felicidade de Aro não poderia ter vindo de uma simples discussão.

Eu sabia que de todas as pessoas no mundo, provavelmente eu agora era o último que ela desejava ver, porém, eu não podia permitir que minha desconfiança continuasse. Procurei por ela frenéticamente, por cada canto, porém, ela parecia ter simplesmente desaparecido sem deixar nenhuma pista de sua direção. Perguntei para alguns guardas que direção ter a visto em direção a floresta e fiz dessa a minha direção. Começava a amanhecer agora e eu sabia que ela não ficaria muito tempo fora, ao menos eu acreditava que ela ainda possuía a prudência para ao menos permanecer segura durante o dia. Aquela floresta nunca me pareceu tão grande.

Desde que eu havia a transformado, curiosamente minha ligação a ela havia aumentado se tornando cada vez mais real e desde então, consigo sentir muito além de sua presença. Eu nunca havia transformado ninguém, então demorou até que eu me acostumasse, mas eu podia sentir quando ela sentia sede, prazer, raiva, dor, em muitas vezes eu ainda podia ver por seus olhos... e o seu cheiro se mostrava muito mais forte do que qualquer outro, simplesmente ativando todos os meus instintos e me fazendo a proteger a qualquer custo. Simplesmente estar perto dela, ascendia cada pequeno pedaço de mim, tornando ainda mais agressivo o meu desejo por ela, fazendo com que em muitas vezes eu simplesmente perdesse o controle, agindo desgovernadamente. Isso havia me ajudado à salvar em muitas vezes em que ela se encontrava em perigo, porém, havia sido simplesmente doloroso demais sempre que sentia que ela poderia estar sofrendo de alguma maneira. No começo eu via isso como um problema, uma vez que eu não conseguia parar de pensar nela quando claramente deveria, porém, saber onde ela está exatamente, me tranquilizava em muitas vezes e agora, eu podia sentir que ela não estava longe.

Eu reconhecia o casabre onde ela costumava se hospedar antes de ser transformada, mas não compreendia o que poderia ter a levado até lá. No momento em que me aproximei, já não podia mais sentir sua presença e não compreendia o que havia acontecido. Eu deveria contimuar a procurá-la, porém, levado a curiosidade do que poderia ter a levado até lá, entrei uma vez que conhecia muito bem o caminho. Tudo parecia da mesma maneira que ela havia deixado e eu sabia que ela havia estado ali, o seu cheiro era cada vez mais intenso.

– Eu sabia que voltaria.. - Houvia uma voz feminina se aproximando. A garota se aproximou e quando seus olhos encontraram os meus, se assustou e deu bons passos para trás. Eu não a reconheci por um instante, mas depois de alguns segundos, eu sabia que não poderia me confundir, eu conhecia muito bem aquele rosto.

– Samantha - Disse surpreso com o encontro.

– Caius. - Disse, ainda se mantendo distante, claramente desconfiada.

– O que faz aqui ? Todos pensamos que estivesse morta. - Abri um meio sorriso, tentando a deixar brevemente mais confortável.

– Bem... não estou... - disse, cada vez mais desconfortável.

– Você costumava ser tão próxima de todos nós... tão próxima de Aro.. e de repente sumiu. - Cruzei os braços.

– Claro... até ele tentar me matar. - Revirou os olhos.

– Isso foi... lametável.. - Disse, claramente sem compreender do que ela se referia. Eu não poderia imaginar uma situação onde Aro machucasse Samantha. A garota sempre havia sido um prodigio, era quase que a filha adotada de Aro e Sulpicia.

– Sim... é difícil imaginar que um pai tentaria matar a própria filha por apenas algumas gotas. - Olhei-a confusa. - Não sabe mesmo da história ? - Perguntou, demonstrando-se novamente surpresa. Fiz que não. - Meu pai... bem... Aro... e minha mãe... enfim... - Esfregou as mãos em nervosismo. - Minha mãe era uma filha da lua e Aro se apaixonou por ela, resultando em... mim. - Apontou para si mesma com um sorriso constrangedor.

– Como ? - Perguntei, ainda mais surpreso. - Um filho da lua e um vampiro... como... ?

– Emma também é assim. - Cortou-me. - Por isso que eu e ela possuímos a nossa... peculiar condição.

– Eu não fazia a menor ideia.

– Ninguém faz a menor ideia de quem ele realmente é, ele é um bom mentiroso. - Olhou-me com os olhos entristecidos. - Bem... eu estive em perigo... Emma está em perigo... o mundo é assim... - deu de ombros.

– Como assim... Emma está em perigo ?

– Acredito que eu já tenha falado demais. - Cruzou os braços e deu-me as costas, mostrando que não diria mais nada e eu sabia que a forçar seria pior.

– Claro... - disse com um meio sorriso. - E eu agredeço pela conversa - me despedi como costumava fazer nos tempos antigos. - Só saiba que aquela mulher é o amor da minha vida e que eu faria qualquer coisa para protege-la - Disse antes de me calar e ir embora.

Emma

Eu nunca havia pensando que poderia me ver com um prazo de vida. Não tenho muito tempo e mal sei o que fazer com as poucas horas que me restam. Joguei sobre a cama depois de tomar um banho e escolher a última roupa que usaria. Enquanto fitava o nada, alguns rostos cruzaram a minha mente, rostos dos quais eu jamais me esqueceria e que eu francamente não deseja ir sem antes me despedir. Eu não havia me apegado em muitas durante toda a minha vida, mas os poucos, se mostraram inesquecíveis e da mesma maneira que sinto que jamais poderia os esquecer, seja lá para onde minha alma será levada, não desejo que me esqueçam também. Procurei por alguns papeis e apesar de não ser boa em despedidas, me esforceri em cada um deles.

Depois, com os envelopes em mãos e o relógio soando ao alto de minha cabeça, procurei por Jane e entreguei pedindo a ela que os entregasse na manhá seguinte e que não permitisse que ninguém os visse. Ela concordou de prontidão e antes que eu pudesse continuar meu caminho, desviei-me para o quarto de Caius, sabendo que eu não o encontraria ali. Ele havia passado o dia atrás de mim e possívelmente ainda estava a minha procura. Assim que saia, praguejei ao o encontrar, claramente confuso por me ver ali. Eu sabia o que tinha que fazer, era a última coisa que eu poderia fazer. Sem permitir que ele dissesse uma sequer palavra, me coloquei na ponta dos pés e deixei que meus lábios tocassem os seus. Fiz com que eu voltasse a me lembrar de tudo aquilo o que me fizera sentir, de todos os momentos em que estivemos juntos, memórias doces e inesquecíveis, todas as vezes em que ele me fizera sentir única... mesmo que eu não tenha sido. Quando senti a lágrima escorrer quente pelo meu rosto, me afastei e a rapidamente a apanhei com um dedo. Olhou-me confuso e rapidamente eu passei o dedo com sangue em seus lábios, o fazendo cair ao chão desacordado, segundos depois de provar. Era hora.

Caius

– ACORDA - Um forte tapa e em seguida, me levantei tão rapidamente que tive a sensação de sentir uma leve tontura.

– Samantha - Sussurrei confuso.

– Se não nos apressarmos, ela vai ser morta. - Ela disse desesperadamente me segurando pelo colarinho. - Já anoiteceu e provavelmente não temos mais tempo nenhum. - Mesmo sem saber o que ela dizia, me levantei rapidamente.

– O que aconteceu ?

– Ela vai se entregar para Aro, ela vai morrer para salvar aquele que você transformou. - Disse rapidamente enquanto me puxava frenéticamente em direção a porta. Despertei-me por completo.

– O que ? Quando ?

– Ela disse que ele havia dado a ela mais um dia e que tudo aconteceria quando a noite caísse. - Engoliu em seco.

– Por que não disse antes ?

– Eu tentei, mas você estava desmaiado. - Ela revirou os olhos.

– Ela fez isso... para que eu não pudesse a impedir. - Bati com força na madeira da parede.

– Não! Ela precisava quebrar a ligação de vocês ... Quando você a transformou o sangue dela ligou os dois como unha e carne, se ainda estivessem ligados quando ela morresse... você sentiria uma dor inimaginável. - Disse tão rapidamente que eu mal podia analisar suas palavras.

– Está me dizendo que... ?

– Ela se importa com você. - Revirou os olhos rapidamente e abriu a porta. - Agora vamos.

– Emma... - Sussurrei, antes de sair correndo.

Eu não tive dificuldade para encontrar a sala onde estavam. Era o segundo salão principal e estava sendo guardado por dois vampiros da guarda. Eu nem sequer havia mexido os lábios para tentar conversar e no próximo instante, havia uma das cabeças no chão e a outra eu ainda trazia em minhas mãos. Samantha passou em minha frente e abriu as portas rapidamente. Pude ver Aro em frente a Emma que agora se mantinha de costas sentada em uma enorme cadeira dourada. Em sua mão ele trazia uma taça de sangue e em seus lábios um sorriso. Olhou para Samantha e depois para mim, suspirou e em seguida fez um sinal para que nos aproximassimos.

– Manterei minha palavra... acredito que ela gostaria que levassem isso. - Ele suspirou se afastando.

Me aproximei vagarosamente. Samantha se adiantou e se colocou a sua frente antes de mim. Olhou para Emma e em seguida se voltou para mim, os olhos cheios de lágrimas avermelhadas. Passou o dedo pelo rosto de Emma e se afastou vagarosamente em silêncio. Corri ao seu encontro e sem a olhar no rosto, arrebentei as tiras de couro que a mantinham presa a cadeira. Assim que arrebentei a última, ela despencou em meus braços, se segurando com clara dificuldade. Olhei-a nos olhos e vi que agora estavam castanhos, assim como costumavam ser. Passei a mão por suas bochechas e aos poucos, pude a assistir sorrir. Sorri de volta e então, ela levou vagarosamete uma de suas mãos ao meu rosto.

– Eu amo você... - Sussurrou e aos poucos, aproximou seus lábios do meu. Depois de permitir o breve beijo, a deitei em meus braços, para que não muito se esforçasse.

– Você está bem... você está bem... Eu amo você... - sussurrei.

– Sim... eu estou bem... - Abriu um pequeno sorriso. Aos poucos, seus olhos desencontraram os meus, passando a fitar o vazio, seus lábios agora arroxeados se entreabriram e ela suspirou profundamente.

– O que ? Emma ? Emma ... - sussurrei. - EMMA... NÃO! EMMA - A apartei com força contra mim e pude escutar alguns ossos se partirem.

– Pare.. - Samantha disse, com lágrimas lhe escorrendo pelo rosto.

– Ela está bem, ela me disse que está bem, ela vai ficar bem...- Eu ainda a segurava em meus braços.

– Eu sinto muito... - ela suspirou antes de me deixar sozinho com Aro. Depositei Emma delicadamente no chão, seus olhos ainda abertos, causando uma dor extrema que eu não sabia que nem poderia sentir. Me coloquei de pé e meus olhos encontraram os de Aro.

– EU VOU ACABAR COM VOCÊ - Gritei antes de o atacar.

Ela não havia partido, ela ficaria bem, ela havia me dito que estava bem.


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