Seu olhar está perdido em algum lugar do chão cinza que se estende a sua frente. Enquanto o mundo segue o seu próprio tempo padronizado e incansável, ela está parada, nada importa, nada se mexe ao seu ponto de vista. Tudo é uma mistura de cores e pedras. Estátuas que sem querer entraram em sua vida. Estátuas que entram e saem de seu caminho por vontade própria.

         E então, o seu primeiro movimento em horas é olhar ao redor. Parece dar-se conta pela primeira vez do lugar em que esta. Seus olhos buscam algo que em seu intimo ela sabe que nunca encontrará.  A mesma sorte não bate duas vezes na mesma porta. Ela sabe que sua busca é inútil, mas ao longo dos seus dezenove anos ela fora levada a acreditar que a esperança é sempre a última a morrer, e ela sempre quis acreditar nisso.

         Ela está esperando pacientemente há algumas horas, seus olhos indo de um ponto a outro com notável rapidez, o coração desacelera aos poucos. Seus lábios comprimidos se separam em angustia e, então, conformismo, não há nada mais a fazer. Já faz tanto tempo.

         E ela não vê, enquanto está subindo no ônibus, a garota que está correndo pela multidão, ela não vê quando a pobre moça desiste de sua corrida enquanto uma única lágrima percorre seu rosto belo, assim que o ônibus parte para uma viagem sem volta, separando caminhos que nunca deveriam se afastar.

        Ela nunca ouvirá os pedidos de desculpas pelo atraso, ela nunca irá ouvir os pedidos para que não fosse embora, ela nunca irá ouvir as promessas de amor.

        Afinal, a mesma sorte não bate duas vezes na porta em que a esperança morre tão facilmente.