Entrei no site da minha escola de novo. Somente eu e o Brendon que mexíamos lá. Editei o capítulo da história e postei. Sabia que logo viriam os comentários “mas quem é você?”, “de que série você é?”, “fala o nome de um amigo seu” e essas coisas do tipo.

- Até quando vai se esconder atrás do notebook? – Brendon me perguntou quando eu atendi a ligação.

- Se você contar pra alguém, vai perder isso que você chama de pinto. – Ele riu.

- Não vou contar. Mas é que... Não entendo. Por que você esconde que escreve uma história? Todo mundo adora.

- Eu tenho vergonha, Brendon.

- Frescurenta. – Revirei os olhos.

- Boa noite. – Já estava pronta pra desligar o telefone.

- E alias o capítulo que você postou agora tá ótimo. Como todos os outros.

- Deixa de ser exagerado.

- Ainda vou te ver publicando um livro. Aí você vira famosa. – Ri.

- Não viaja.

- E vai me apresentar alguma atriz gostosa. – Revirei os olhos novamente, mas dessa vez rindo. Fui até a biblioteca, que era do lado do meu quarto.

- Você é um idiota, Brendon. – Disse pegando um livro em uma das estantes.

- Mas eu sou um bom amigo e te ajudo.

- Certo... Agora... Boa noite.

- Boa noite. Até amanhã. – Desliguei o telefone e fiquei lendo.

(...)

Ouço um barulho e depois outro barulho, dessa vez de malas sendo arrastadas. Fechei o livro, marcando a página na qual parei. Levantei-me e fui até a porta, colocando o ouvido lá pra tentar entender o que acontecia. Ouvi o barulho da mala nas escadas e esperei. Quando não ouvi mais nada, saí do quarto. Fui até o pé da escada e continuei ouvindo. No andar de baixo estavam meus pais.

- Então, você realmente irá embora? - Ouvi a voz da minha mãe. Até me segurei na parede. Como assim? Meu pai tá indo embora? É isso mesmo? Não sabia se chorava, porque achava que tudo pioraria, ou se sorria de alivio, achando que tudo ia ficar bem.

- Sem dúvida alguma.

- Só por causa de uma besteirinha? - Ela perguntou rindo. Escutei um barulho estranho e depois um gritinho de mulher.

- Besteirinha? Fique feliz por não arrebentar sua cara. - Senti algo pular dentro de mim com o susto. Dei dois passos pra trás.

- Só vai embora. - Ouvi minha mãe dizer baixo, mas com o silêncio da casa consegui ouvir. Alguns segundos depois ouvi o barulho da porta e a casa voltou a ficar silenciosa. - Não te ensinei que é feio ouvir conversa dos outros, Anne? - Estremeci. Fechei os olhos e mordi o lábio. - Te fiz uma pergunta, garota.

- Ensinou. - Minha voz saiu falha.

- Vai pro seu quarto antes que eu me arrependa. - Não hesitei. Corri pro quarto e tranquei a porta. Fui pra minha cama e fiquei a noite toda ali. Cochilei algumas vezes. Mas toda vez que escutava algum barulho, eu acordava assustada, pensando que minha mãe tinha vindoatrás de mim outra vez.