A Fúria dos Demônios escrita por Ronan Wayland


Capítulo 1
Sábado perigoso




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Correu por toda a escuridão, procurando se livrar da angústia. Mas não adiantava, pois não havia saída e o sentimento não parava. Uma luz surgiu. Brilhante como diamante. Seguiu a luz em passos lentos, e ao se aproximar, percebeu que era água. Uma linha reta de água brilhante. Tocou gentilmente; a água se moveu, como se uma pedra tivesse sido jogada. Ouviu sussurros vindo dos lados. Olhou de um lado para o outro devagar, procurando achar quem sussurrava. Voltou o olhar para água e quando recuou um passo, a água brilhante a envolveu. Puxando-a para dentro. Lutou, debatendo-se das garras feitas d'água. Se virou para a escuridão, seus braços estendidos e seus gritos imploravam para a escuridão e para os sussurros. "Me salvem!". Mas nenhum daqueles sussurros apareceu. E ela foi engolida.

Amanda abriu os olhos por conta do brilho forte do sol, que atravessava as cortinas finas. Apesar das janelas estarem entreabertas, o vento entrava devagar; o quarto estava abafado. O ar pesava ali. A pele de Amanda, branca e pálida; completamente brilhante — o suor era evidente, tanto pelo o pesadelo que sempre tinha do quê o calor.

Ela fungou. Jogou o braço na mesinha ao lado da cama, a procura dos óculos de grau. O dia podia estar lindo, mas a preguiça era maior do que ela mesma. Girou na cama e parou de barriga pra cima, encarando o teto branco. Sábado. O pior dia de semana. Nunca tinha nada para fazer, com quem conversar e para onde ir. Ergueu as costas e limpou a testa. Ainda estava suja por conta da festa de ontem. Estava tão cansada no dia anterior, que simplesmente chegou em casa e afundou na cama. As roupas fediam a bebida. Se levantou para ir ao banheiro e ao caminhar pelo o corredor, ficou se perguntando o porque tivera ido a festa. Praticamente não se divertira nada, teve que carregar a cadeira de Elena por toda a festa. Ela ainda se perguntara como sua melhorar amiga, cadeirante, se divertia mais do que ela nas festas. Parecia impossível...

Tomou um banho rápido, apenas molhando os fios negros, sem lavá-los adequadamente. Vestiu uma calça preta e uma blusa branca frouxa na cintura. Ficou parada na cozinha, enquanto comia uma maçã. Estava sentada em uma pequena cadeira, que dava visão a todo o apertamento: corredor longo se estendia até um quarto, o de Amanda. No meio, antes do quarto da menina, havia mais três quartos. Um em frente ao outro, o da sua mãe e o da sua irmã, Bianca. E por fim o terceiro quarto, destinado como quarto de hóspedes. (apesar de nunca ter sido usado). O banheiro ficava ao lado do quarto de Amanda, perto das outras portas também.
Sua melhor amiga havia feito dezessete anos na noite anterior, e na semana seguinte, seria a vez de Amanda. Ela não estava esperando por nada, e não queria nada. Não tinha uma relação estável com sua mãe. E com sua irmã... digamos, era mais "amigas" do que irmãs.

Ela respirou fundo. Aquela manhã estava mais quente do que o normal, a luz forte brilhava no apartamento. Olhou em volta e viu que o bolo de chocolate que tivera preparado para Elena estava pela a metade, em cima do balcão. Um sorriso discreto se formou em seus lábios. Após os parabéns, foi arrastada para fora de casa com Elena. A lembrança a fez rir.

Amarrou os cabelos negros nos próprios fios e deixou-os meios soltos na nuca. Como o dia estava tedioso, resolveu arrumar a cozinha até sua mãe acordar. Pegou os pratos sujos da mesa e jogo-os delicadamente na pia. A menina se mexia com facilidade na cozinha, com um tipo de leveza que adquiriu por conta da dança. Era bem flexível e se mexia como gato, quase imperceptível. Agora, que a mesa estava limpa, pulou até a pia. Lavou os pratos e talheres rapidamente. Já estava no último prato, quando o telefone tocou.
— Alô? — a voz de Elena transbordou nos ouvidos de Amanda.
— Bom dia!
— Dormiu bem, senhorita? — perguntou Elena, com um riso abafado.
— Meio... ocupada. Estava lavando o último prato. — parou e colocou o prato ensaboado em cima da pia. — Então, de ressaca?
— É, muito. E você? — perguntou ironicamente. — Opa! Você nunca bebe.
— Sou menor de idade! Não bebo. — se sentou na cadeira e colocou o pé junto, com o joelho curvado.
— Ainda bem que já tenho dezessete anos. Mais um ano e estou livre! Ei querida bebê, trate-se de arrumar. Minha festa de aniversário ainda não...

Amanda ouviu um ruído vindo de baixo. Silêncio. E então, ouviu outro barulho, um pouco mais forte que o interior. Por um instante, achou que o chão estava tremendo. O chão tremeu de novo, e quando olhou pela as janelas - em um movimento involuntário — percebeu que as árvores balançavam mais do que o normal. Ela cambaleou para trás e bateu as costas na pia. O estrondo foi forte. Se aproximava ainda mais da porta. Amanda encarou a porta branca. Assustada, tentou recuar alguns passos, mas a pia impedia o movimento. Elena, gritava no telefone.
— Amanda?! Amanda?!
— A-acho que tem alguém aqui. — gaguejou, assustada.

O vão da porta estremeceu novamente. Um ruído forte de estilhaços atravessou os ouvidos de Amanda. A parede do corredor explodiu em tijolos, gesso e poeira. A parede havia um buraco no meio, que Amanda não conseguiu ver por causa da poeira. O seu grito foi agudo, apovorante. Seu rosto se transformou em uma mascara de medo. Ela soltou celular e em um movimento involuntário arrancou uma faca do armário, preso na parede. Fez-se silêncio por vinte segundos, ­— ...18, 19, 20 — contados por Amanda. Até que o chão estremeceu outra vez. Ela ergueu o olhar assustado para a "coisa" que estava parada diante dela. Podia se dizer que tinha dois metros de altura. A pele era negra como carvão... na verdade, era carvão. Tanto que da casca grossa, caia pedaços pretos que se misturavam com a poeira. Não havia olhos, e no lugar aonde deveria haver, a testa se amplificava. Duas linhas retas ocupavam todo o lugar que deveria ser o rosto.

As duas linhas estavam uma do lado da outra, numa distancia de seis centímetros. As linhas se abriam como na posição que estavam: retas. Elas se mexiam sempre, abrindo e fechando. Amanda continuava a gritar; num rápido pensamento, avançou pelo o corredor. Os cabelos já haviam caído nos ombros e voavam na mesma velocidade que a menina corria. Ela parou em frente a porta da mãe e socou com toda a força que suas mãos permitiram. Chamava pela a sua mãe desesperada, porém, nenhum barulho vinha de trás da porta. Agarrou com força o trinco da porta e empurrou-a para trás. Sem resultado. Chutou com força até senti o estralo dos dedos dos pés. Sua respiração estava ofegante demais, o coração palpitando mais do que deveria. O chão estremecia a cada passo que a "coisa" dava. Chegando a causar pulos involuntários vindo de Amanda. Desesperada ela correu para frente, os pés escorregando na poeira. A faca brilhava na sua mão como um diamante, ela pensou em lança-la enquanto o monstro que vinha em sua direção. E o fez. A faca atravessou o ombro de carvão daquele animal e o fez cair no chão.

Amanda viu que o mesmo estava fraco e assim, viu que o banheiro estava mais perto que o quarto. Pulou na porta com toda a força que pode. E caiu no chão; foi arrastada pela a umidade do chão até a parede. Não teve tempo de fechar a porta, pois ouviu o mostro se levantar. Só soube, porque o chão estremeceu com seus passos. Ela se jogou contra a outra parede e fixou as costas nela. A parece estava meio molhada, por causa do banho que tinha acabado de tomar. Puxou a cortina-box, levando o plástico para si. Mas não teve tempo de se enrolar. O plástico cobria a garota. O silêncio era apavorante. Amanda ficou de joelhos, com os cabelos molhados jogados no rosto, misturando-se com as lágrimas. Ela não ouvia mais nada, não sentia mais nada. Ficou se perguntando se o coração ainda batia. Ouviu pequenos ruídos se aproximando; os passos estavam mais fortes e balançavam a garota.
— Isso não é real. Isso não é real! — sussurrou Amanda, tão baixo que quase duvidou se tivesse falado ou pensado. — Não é real...

Levemente, sentiu o vento bater no rosto, seco e quente. A respiração do animal. Amanda encolheu o corpo, mais do que já estava. Suas bochechas ardiam com o suor que escorria da nuca, se arrastando por toda a extensão das suas costas. Viu a sombra da monstruosidade se aproximando. A visão era ruim através do plástico que era quase opaco. A sombra ficava maior a cada movimento; ela viu que o monstro se erguia cada vez mais, e que suas costas - já não mais na visão do plástico - rachavam o teto. A mão se aproximou do plástico, calmamente, como se dançasse em seus olhos. Os dedos encostaram no plástico e arranharam-no, levando em tiras o material. Amanda escondeu o grito com uma mordida forte no lábio, e rapidamente sentiu o gosto de sangue. Fechou os olhos e desejou: Que minha morte seja rápida. Mas aí, não aconteceu nada. O silêncio ficou. Até que... o animal foi arrastado do banheiro. Amanda viu, pela as tiras rasgadas, que a "coisa" se arrastava pelo o chão. O animal, enfiou as garras nas paredes, querendo se segurar. Ele uivava ferozmente. E Amanda ficou horrorizada, pois o mesmo não tinha boca. O pedaço em que segurava a parede foi arrastado por suas garras, até desaparecer da visão da moça. Aonde o animal havia segurado, agora tinha um buraco.

Amanda hesitou. Ficou parada ali, não ouvia mais nada. Ela afundou na parede um pouco mais, relaxando as pernas. Lambeu os lábios secos e quando engoliu a saliva, sentiu que a mesma rasgava sua garganta. Ouviu passos, pesados e vozes. Os passos se aproximaram, firmes. A garota agora estava mais do que desesperada, ela abriu os braços e tentou achar uma saída. É, só tinha a pequena janela, que dava diretamente para a rua. Vou pular, pensou. No entanto, desistiu antes de ficar em pé. Viu a visão de um corpo embaçado, do outro lado do plástico. Não tinha nada ao seu alcance que pudesse machucar alguém. Apenas uma vassourinha para limpar a privada. Puxou o objeto do chão e o segurou contra o peito. Fechou os olhos e contou até dez, como sua mãe tivera a ensinado em momentos nervosos. Quando enfim, o corpo que estava se aproximando puxou o plástico para o lado, Amanda não pensou. Jogou seus dois pés na barriga da pessoa. Que foi lançada para trás com um rangindo furioso. A garota hesitou por dois segundos, e por fim pulou do chão. Caiu em cima de quem a havia derrubada. Os olhos dourados derramaram-se em sua visão, como água caindo do céu. Se encararam por alguns segundos, até que Amanda girou para o lado, o que a fez bater a cabeça no aparelho sanitário. Mesmo a dor latejando-lhe a mente, ela se arrastou com toda a força que pode para fora.
Seu corpo não doía tanto assim. Seus ossos eram bem flexíveis. Ela desabou no meio do corredor; porém, se deparou com pés um pouco mais á frente. Ergueu o olhar, e viu uma menina mais dois rapazes, cada um a olhava com indiferença. Atrás deles, alguém se mexia na cozinha, como se procurasse algo. Amanda se levantou rapidamente, estava com um olhar cansado e destruído. Ela se virou. E quando estava preparada para correr para o quarto, quando o rapaz de olhos verdes a segurou pelo os ombros, empurrando-a para trás.
— Você. Me. Derrubou. No. Chão. — disse entre os dentes. Seus olhos não paravam nela, a raiva sendo estimulada pelo os músculos na jaqueta preta.

Amanda estava atordoada demais para responder. Estava procurando alguma saída. Mas não tinha nenhuma. De um lado, o loiro de verdes brigava com ela. No entanto, ela não entedia nada o que dizia. De outro, uma garota loira, de olhos acinzentados, brincava com as pontas do cabelo; distraída. O outro, de cabelos castanhos e olhos negros como o céu a noite, a encarava como se fosse algo... inútil. E outro, de pele morena e olhos verdes, se aproximava em passos curtos, que eram bem calculados. Com o olhar curioso, ele perguntou:

— Qual o seu nome?

Amanda hesitou. E lembrou da sua mãe. Arregalou os olhos. O medo circulou em seu corpo num impacto forte; ela sentiu seus ossos enfraquecerem. Sentiu a dor no peito; o coração ficando pequeno como o estômago.
— Mãe. — sussurrou e levantou o olhar até o moreno de olhos verdes. Que já estava bem perto dela. Amanda chocou seu ombro no moreno enquanto passava. Os outros tentaram segura-la, mas recuaram apressadamente quando o moreno moveu o dedo em reprovação. Ela avançou em direção ao quarto, e antes de girar o trinco, respirou fundo. Ficou impressionada pela a porta ter aberto. E ao abri-la, — empoeirada e beirando uma queda drástica — não viu nada. Vazio. Nenhum vestígio de arrombamento ou... aquela "coisa". Nomeou, Amanda. — Mãe? — perguntou, mesmo sabendo que não haveria resposta. Sentiu as lágrimas quentes nos olhos; a respiração ofegante. — Bianca? — Amanda invadiu o quarto, procurando pelo o pequeno cômodo a sua mãe. Olhou de baixo da cama e no guarda-roupa; olhou até pela a janela. O quarto estava arrumado, como sempre deixava ao acordar. — MÃE! — gritou, desesperada. As lágrimas escorriam mais fortes, transbordando como um riacho em seu rosto até o pescoço. Não se importou com as pessoas estranhas que estavam ali, o importante era sua mãe e sua irmã. No entanto, voltou a si. E percebeu o que estava acontecendo. A "coisa". Pessoas estranhas. A parede arrancada. Parou no meio do quarto e virou o rosto para os que estavam observando-a. Na verdade, eles não estavam olhando-na. Ou melhor, apenas o moreno misterioso. — Onde elas estão? — perguntou Amanda, a voz falhando.
— Quem? — perguntou o loiro de olhos verdes, enfurecido.
— Minha mãe e minha irmã! Vocês a sequestraram, não é? O que era aquilo, hein? Uma... — Amandou começou, mas estava atordoada de mais para continuar. Tirou forças do fundo da mente e prosseguiu. — Levaram minha mãe! Minha irmã! Vocês! — acusou em um grito. — Aonde ela está? E o que era.. "aquilo"? E aonde está? Desapareceu, foi? Vocês ejetaram em mim uma droga e estão me fazendo alucinar...
— Tola. — disse o loiro, revirando os olhos. — Viemos aqui para matar aquela "coisa". — disse em um tom sarcástico. — E o nome adequado é Servo.
— Hein? — Amanda juntou as sobrancelhas.
— Ela não sabe de nada... E lá vamos nós, outra vez. — era a primeira vez que a única mulher ali havia falado. Seu tom soava tedioso. — Mas que droga. Teremos que explicar. E será aquela mesma ladainha de sempre. "Ah, eu não acredito em vocês! Isso é mentira." — deu de ombros e lançou um olhar indiferente para Amanda. — Ora, vamos queridinha. Te garanto que não é a primeira vez que passamos por isso.
Amanda olhou-na de olhos arregalados. Trincou os dentes de raiva.
— Cale-se! —ordenou. Porém, ninguém pareceu se ofender com a ordem dela. — Saiam da minha casa, saiam! — gritou.
— Não podemos... Temos que levá-la. Sabe? Um Servo te atacou. O que significa que estão de olho em você. — a loira apontou o dedo para Amanda. — Vamos logo. Se apronte.
— Hãn? — Amanda se sentou na cama, e colocou a mão no peito. Ele batia mais forte do que o normal. — N-não vou. — murmurou. Não sabia mais o que fazer. Limpou as lágrimas secas nas bochechas
— É... Qual o seu nome? — perguntou a loira.
— Amanda Stormborn.
— Bonito nome. Mas Amanda, facilite nosso trabalho. E venha conosco. Temos aulas sabe? E se nos atrasarmos...
— Não seja tão cruel Kyara! — disse o moreno. — Não vê que a moça está transtornada?
— Ora, vamos... — Kyara iniciou, mas foi interrompida.
— Não podemos leva-la a força. — o loiro de olhos dourados cruzou os braços no peito; estava encostado na parede de frente ao quarto. Pelo menos uma pequena parte não tinha caído. — Não tem condições.

Amanda, infelizmente, não se segurou. Em um movimento rápido, agarrou com os dedos finos e pequenos, o porta-retrato na cabeceira ao lado da cama. E lançou-o em direção a porta. Atacou o rosto do rapaz de olhos negros, que até agora não se pronunciara. O rapaz que se mexia na cozinha, entrou em alerta. E essa foi a chance de Amanda. Vendo que todos estavam ligados ao sangue que escorria da testa do homem, ela pulou pela a janela. Caindo em um pulo perfeito na escada de emergência. Ela deslizou com uma facilidade enorme pela as escadas. Esse era o melhor de dançar, você parecia dançar na frente dos outros sem mesmo querer. Quando os outros a olharam de cima, já era tarde demais. Amanda corria pela a rua como uma folha no vento. Praticamente, zombado da cara deles de forma passiva e, é claro, estilosa.


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