A Volta de Bianca di Angelo

capítulo III

Assim que as meninas saíram, encontraram uma Annabeth curiosa espreitando-as com aqueles olhos cinzentos arregalados. Eles podiam ser bastante intimidadores às vezes, como agora. Elas fizeram menção de voltar à sala.

—Annabeth, você está assustando as nossas recrutas novas!

As três olharam na direção da voz, e viram um menino de cabelos castanhos encaracolados e tão magricela que quase parecia desnutrido. Ele sorria e tinha olhos travessos de criança que gostava de traquinagens.

—Ah, Leo...eu só queria conversar com elas. Desculpem-me.

—Huum, sei... Annabeth, passamos meses à bordo do mesmo navio e eu não nasci ontem. Conheço muito bem essa cara: você está com uma ideia na cabeça.

—Bem, é que, quando elas chegaram, você viu...eram dezenas de monstros querendo matá-las. E eram Empousai. Eu pensei, que talvez, uma delas, ou as duas, sejam semideusas importantes. Talvez até mais que apenas importantes. Você sabe do que estou falando...filhas dos Três Grandes.

—Cara, isso não seria bom. Não seria nada bom. Apesar de as coisas estarem tranquilas agora, sem surtos de bipolaridade entre os deuses, ou titãs fortões tentando dominar o mundo e essas coisas, ainda assim não seria bom. Na maioria das vezes significa mau presságio. Rezemos para que você esteja errada e elas apenas tenham roubado a refeição de alguma empousa mãe enraivecida.

Dânae olhou para Leo Valdez, claramente não gostando daquela conversa, mas ciente que ela se fazia necessária:

—Todos esses monstros...eu sempre desconfiei que havia algo errado comigo. Quero dizer, a minha vida inteira, desde pequena eu sempre fui perseguida, expulsa das escolas, até fugi de casa para manter minha família em segurança. -Ela suspirou- Após um tempo, eu percebi que eles ficariam melhor sem mim. Nossa mãe sempre dizia que ia ficar tudo bem, mas eu não queria arriscar e vê-la morta por minha causa. Eu parti assim que ela se casou e Melina quis vir comigo, apesar da minha insistência para ela ficar. Mas ela não quis. Ela sabia que era como eu.  Deixamos nossa mãe, nosso padrasto e o filho recém nascido deles. Livramos todos dos nossos problemas Hoje, se não fosse por vocês, nós teríamos morrido. Muitos monstros. Mais do que vi a minha vida inteira. É normal haver tantos assim?

—Mesmo para um semideus, não. Na verdade, há casos e casos. Isso quer dizer que hm, provavelmente vocês vão precisar de treinamento especial.

Melina olhou para Annabeth com cara de choro:

—Nós vamos...morrer?

Leo a abraçou.

—Eii, ninguém vai morrer. Tio Leo está aqui. E ele não vai deixar nenhum monstro mau tocar em você. A gente vai pregar peças no chalé de Afrodite e fazer armas legais juntos.

Annabeth conteve uma lágrima. Não queria que ninguém a visse emotiva. Ela sempre era a campista séria. Mas...Melina a fazia lembrar de si mesma. Annabeth chegou ao Acampamento Meio Sangue com a mesma idade de Melina: sete anos. Os enfeites no seu colar, mais contas do que qualquer outro campista, denunciavam isso. As contas marcavam cada ano completo no acampamento, e Annabeth tinha muitas contas. Ela também fora perseguida por monstros desde pequena. Fugiu de casa. Deixou a família pela mesma razão. Entendia a garotinha perfeitamente. Não queria que nada acontecesse a ela. Por fim disse:

—Nós vamos cuidar de você. Vamos dormir agora, vocês precisam descansar.