Quanto o tempo inverte escrita por brassclaw


Capítulo 1
Quando o tempo inverte


Notas iniciais do capítulo

Acho que está meio longo e... Não sei se é o que você pediu (?), e desculpe a frieza de algumas partes. Espero que goste.



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“O que houve?” Perguntava o homem trêmulo, molhado, com frio e extremamente assustado. “O q-que houve? Eu estava aqui agora pouco e... E...” Ele olhava em volta como se estivesse cercado de fantasmas, mas nada havia naquela praia a não ser ele, ela e Helga.

“Acalme-se, meu senhor. Está tudo be-“ Começou Helga, mas fora interrompida pelo desespero do homem.

“Não... Não não, não está nada certo... Cadê a estrada e... E...”

Rowena e Helga se olharam, ambas sem entender nada do que acontecia. “Não há estrada alguma, meu senhor.” Disse Rowena, devagar e calma. “Como chegaste aqui?”

“Pela estrada... E depois aquele... Aquela corrente de ar... Ela parecia um ... um...”

“Um... Redemoinho?” Perguntou a mais jovem, olhando de esguelha para a amiga de novo.

“Isso, parecia um redemoinho. E ele veio para cima de mim e... e...”

Rowena virou-se para Helga, encarando os olhos dela enquanto deixava seus pensamentos se misturarem. ‘Ele aparatou com algum bruxo?’ ‘Mas não tem nenhum bruxo há quilômetros daqui, não sinto magia a não ser a vinda dele.’ ‘Ele é um bruxo?’ ‘Ele... ele tem magia.’ ‘Você tem certeza, Rowena?’ ‘Não absoluta... Mas não podemos deixá-lo aqui. Está muito perturbado.’ ‘Eu não ia deixá-lo.’ Segundos depois Helga estava ajoelhada na frente do homem que também estava ajoelhado, mais confuso que, provavelmente, jamais estivera. Rowena ouvia a conversa de longe, observando o mar com calma.

“Mas... Estava tudo aqui... Foi a guerra?”

“Guerra?” Finalmente Helga encontrou algo estranho ali.

“Em que ano vocês vivem? Há uma guerra acontecendo!” Havia um pouco de sarcasmo na voz dele que fez Rowena virar rispidamente para responder.

“1112, meu senhor. E a única guerra que existe, não se arrastou para essa área.”

Depois disso o choque do homem foi tão grande que Rowena recebeu um grande sermão de Helga antes de mandá-la fazer a aparatação mais macia possível e levá-los direto para Hogwarts, o que foi a pior coisa para o momento. Aquele homem enlouqueceu nos braços de Helga, se desvencilhando deles e se encostando contra a parede pedra com uma força como se quisesse se enfiar nela. Helga tentou acalma-lo mas ele parecia completamente fora de si, chorando e gritando e pedindo – não, não pedindo, implorando - para não fazerem nada, para deixá-lo em paz. Rowena perdeu a paciência, acenou uma vez com a mão e o homem caiu no chão desmaiado. Claro que Helga deu outro sermão.

*****

“Como é que é?” perguntou o bruxo, batendo a mão com força na mesa. Todos os itens ali dando um pulo e alguns pergaminhos rolando para o chão. “Ele é um trouxa?”

“Ele... Ele é.” Rowena respondeu devagar, escolhendo bem as palavras. “Entenda, há magia nele. Mas ele não entende nada sobre magia, não sabe nada sobre e... Não controla. Não é uma magia grande. Talvez no dia estivesse misturado com a magia que o trouxe aqui e eu não consegui diferenciar-“

“Você não conseguiu diferenciar uma magia inexistente de outra?” Urrou o homem.

“Não grite comigo, Salazar Slytherin. Você não tem esse direito.” Respondeu a bruxa, firme. “Ele é um trouxa e fim. E ele não é dessa época, ainda está muito assustado. Eu quero estudá-lo. Quero que ele fique aqui, quero entender como ele veio parar aqui e porquê. E o que é o que ele tem.”

“Ele não tem nada, Rowena. Você talvez esteja com dificuldade de separar o que é ele do que ele tem em volta e-“ Começou o ruivo, soando baixo e rouco, seu modo de impor um pouco da ordem entre os amigos.

“Eu não me engano, Godric.” Respondeu rápido, Rowena.

“Você pode-“

“Eu não estou enganada. Sei do que falo, sei do que vi. Deixe-me estudá-lo.” Cortou-o de novo.

“Ele pode ser um perigo para os alunos, pelo modo como você o descreveu antes, Rowena. Eu acho que devemos nos livrar dele antes que desgraças maiores comecem a surgir.” Comentou Salazar, agora mais calmo mas muito mais frio.

“Ah, por favor, ele é um trouxa no meio dos quatro maiores bruxos dessa época.” Disse vendo os amigos darem um sorriso de lado, meio triste meio desacreditados. “É isso o que dizem.” Encolheu os ombros um pouco antes de apoiar-se melhor na mesa. “Se ele causasse problemas seria menos complicado que uma erva daninha para você, Salazar. Além do mais, eu me responsabilizo por ele.”

“Ele não é um objeto para ser estudado, Rowena.” Helga, por fim, tentou interceder, um pouco hesitante. “Vamos deixá-lo em paz...”

“Ele é um ser humano, eu sei. Mas quero estudar de onde ele veio, como e porquê e o que ele tem... E eu irei.”

E não havia nenhuma pessoa naquela sala que discutisse com o olhar firme e a determinação da Ravenclaw. Provavelmente, não existia ninguém no mundo.

*****

Seu nome era Thomas Felix Riddle, tinha 36 anos que completara em menos de um mês. Jurava vir do ano 1942. Contara para ela fatos consistentes, histórias de reis e rainhas e pintores e músicos e tanta coisa que nem ela sabia como acreditar em tudo.

Claro, que chegar naquele nível de conversa com o homem fora extremamente difícil. Ele se fechara completamente com ela. Sempre que chegava para conversar com ele na enfermaria ele se encolhia contra a parede atrás da cama e ficava ali. Rowena falando e ele ouvindo em silêncio. Não sabia se ele prestava atenção ou não.

Pensara mais de uma vez em invadir a mente dele mas tinha muito medo de perder muita informação. Ele não era um trouxa comum, ele tinha algo a mais. E ela não podia confiar tão cegamente que nada aconteceria. Se estragasse qualquer coisa na mente dele seria o mesmo que perder a pedra mais preciosa do mundo, perder a ponte para o futuro.

Então teve paciência. Ia visitá-lo todas as tardes e fazia o seu monólogo.

De inicio tentava convencê-lo a falar mas era inútil. Trazia biscoitos e leite e bebida e carne, ele não comia nada, não aceitava nada. Quando via a bebida ele simplesmente se encolhia mais e chorava um pouco mais. Um dia a bruxa viu ele começar a se encolher e colocou a bandeja em seu colo e começou a comer e falar sobre seu dia, contar sobre os alunos e suas personalidades. Naquele dia ela conseguiu ver os olhos dele de verdade pela primeira vez. Ficou fazendo isso por mais alguns dias, parando de fazer perguntas diretas e usando apenas as retóricas, conversando com a parede que ele era. Mas um dia recebeu um ‘bom dia’ e não pode não conter o sorriso pequeno antes de começar a contar sua história.

Três semanas depois ele respondeu, no impulso, uma pergunta retórica. Ravenclaw encarou-o por um momento antes de retrucar e eles começaram a conversar sobre como era o céu. Ele dizia que nunca vira um céu tão colorido quanto aqueles que via toda a noite pela janela, Rowena achou um cúmulo e quando deu o horário de recolher levou-o até o Grande Salão e ele ficou encantado. Andou até o meio do salão, olhando para o teto que era o céu. Parecia não acreditar naquilo.

“Magia pode ser bonita.” Disse da porta do salão. O homem virou-se rapidamente, a olhando como se ela tivesse acabado de ler sua mente. Vira que acertara em cheio. Aquele trouxa conhecia magia, mas não a conhecera da forma certa.

Então ergueu as mãos para o alto, lançando vários arabescos de magia dourada para o teto. Deixou os olhos descer para o homem e quase riu da expressão dele. Lançou arabescos para todos os lados girando pelo salão, enchendo ele de uma chuva dourada. Aproximou-se do homem e soltou pequenos arabescos perto dele e ele riu um pouco.

“Magia pode ser bonita.” Ele repetiu e Rowena assentiu. Estavam no caminho certo.

*****

“Uma harpa? Sério?” Tom (era assim que preferia ser chamado) disse, sorria meio largo e balançando a cabeça negativamente.

“Claro... Porque?” disse a bruxa rindo, organizando melhor os papéis no canto da mesa. “Você toca algo?”

“Porque uma harpa...” Ele gesticulou para o nada, tentando dar alguma intensidade para... O nada... Mas não adiantou tanto. “Bem, eu toco piano.”

“Piano?”

“Vocês não tem um piano?” O choque do homem a lembrou o primeiro dia que o vira, mas ali o choque era bem menor e calmo.

“Acho que ele não foi inventado ainda.” Deu de ombros, voltando os olhos para os papéis. “Como ele é?”

“Ele... É um instrumento de corda mas não trabalhamos diretamente nas cordas... Usamos teclas e...” Rowena voltou a erguer os olhos para ele, arqueando uma sobrancelha. “Não tem um jeito mais fácil de te explicar!” Tentou se defender.

Naquele momento a bruxa poderia jurar que seus olhos brilharam, era o momento perfeito para entrar na mente dele. Com a permissão dele ela poderia entrar com delicadeza, veria o piano e muitos outros brindes do futuro...

“Ah! Eu posso desenhar.” Disse ele, apontando para o pergaminho e a pena.

E o brilho, a ideia genial e toda a esperança se foi enquanto assentia para ele pegar os materiais. No final ela vira o que era um piano e achara realmente interessante.

“Como é o som dele?” perguntou, olhando nos olhos do homem.

“Ah... Como explicar o som? Ele é...” Ele tentou gesticular de novo mas também não funcionou.

“Tom... Deixe-me ouvir? Em sua mente.” Disse calmamente, sem tirar os olhos dos dele.

O homem caiu no silêncio por muito tempo, olhando de volta para ela como se tentasse saber o que dizer. Ficara bem claro que aquela ideia não agradara a ele. Nem um pouco.

“Eu... Eu não acho que é uma boa ideia, senhorita.” Começou, abaixando os olhos para as mãos que Rowena notara estar trêmulas. “Minha mente não é um bom lugar.”

“Nenhuma mente é um bom lugar.” Retrucou ela.

“Aposto que a sua é.” Disse baixinho. Rowena tombou um pouco a cabeça, olhando bem para ele. Jurava que se ouvisse de qualquer outro homem, aquilo soaria mais como uma galanteada do que como um elogio meio defensivo.

“Você acha que eu sempre fiquei entre os muros desse castelo, Thomas? Que nunca saí e fiz coisas, vi coisas? Que nunca fiquei muito mal e nunca perdi o sono por isso? Eu desenhei e construí esse castelo e, pode parecer pouca coisa, mas nos tempos de agora, isso é pisar em um monte de regras. Não há nenhuma mente boa o suficiente para ser um ‘bom lugar’.”

“A minha é pior.” Murmurou mais baixo ainda. Sentia que ela estava um tanto nervosa ou brava. Ela não o chamaria de ‘Thomas’ por nada, não desde que disse ‘Thomas é meu pai, Senhorita. Prefiro que me chame de Tom.’.

“Então deixe-me ajudá-lo.” Retrucou, dando a volta na mesa para aproximar-se dele e força-lo a olha-la. “Você está longe de sua casa, longe de sua antiga vida, longe de tudo o que aconteceu. Aqui é outra história, Thomas, outra vida. Deixe-me ajudá-lo. Você não perderá nada com isso, eu posso te garantir.”

“Eu não tenho o que perder aqui.”

“Você tem. A sua vida.”

“Minha vida não vale nada.”

“Repita isso e levará um tapa na cara.” Murmurou arqueando uma sobrancelha. Ele finalmente olhou-a, engolindo em seco e suspirando com soluços fracos o interrompendo. “Apenas porque eu tenho pena de arrancar um dente seu com um soco.” Explicou e aquilo o fez rir fraco um pouco. A bruxa passou os braços em volta dele, o puxando para um abraço e sentindo o corpo dele tremer contra o seu a cada soluço que vinha.

Depois de um tempo ele lhe contou tudo. E tudo era realmente pesado.

*****

“Amortentia?”

“Sim. Tenho certeza. Pode verificar no seu livro. As reações que ele descreve batem com tudo o que a poção faz.” Rowena e Salazar discutiam com o livro de poções entre eles.

“Porque uma bruxa iria querer um verme como ele?” Perguntou o bruxo, observando a receita no livro com atenção.

“Porque ela era extremamente pobre e Tom parecia ter dinheiro. E ela realmente parecia amar ele cegamente.” Encolheu os ombros.

“Sim, mas... Um trouxa nojento? Tem tanto bruxo solto e solteiro por aí.”

“Como você, Slytherin? Já citei que ela parece ser sua herdeira?”

E o choque foi para o homem ali na sua frente. “Mas como ela estava pobre?”

“Eu não sei. Mas era o que ele disse, a família dela se gabava por ser seus herdeiros, ele falava que eles chiavam de um jeito estranho e pareciam se entender. Porque não me é estranho isso?” Sussurrou o final em ofidioglosia, sorrindo de lado no final antes de se dirigir para a porta. “Ah, e eu poderia ter apostado que iria conseguir o que eu queria com ele. Teria ganho.” Disse antes de fechar a porta atrás de si.

*****

“Você acredita em mim.” Disse, pegando um pedaço da pêra que Rowena cortara com sua adaga e o oferecia. Aquela estufa era a coisa mais engraçada que tinha ali. Tinha coisas que ele não imaginava que existia, e tinha coisas que ele não imaginava encontrar ali de tão simples que eram. Como aquela pêra.

“Eu acredito?” Perguntou, observando a pêra como se fosse o objeto mais interessante que jamais vira. Sentando-se no encosto do banco e olhando vez ou outra para o homem sentado corretamente ali.

“Você não acreditava.” Ele disse depois de uma pausa para mastigar. “Mas agora acredita.”

“O que te faz pensar que eu acredito?”

“Aquele dia... Você falou comigo, pela primeira vez, confirmando tudo o que eu tinha dito.” Explicou devagar, erguendo o rosto para observá-la melhor. “Dizendo como tudo ficou no passado-“

“Eu queria entrar na sua mente-“

“Como queria me ajudar-“

“Eu queria entrar na sua mente-“

“Como queria ouvir o som do piano-“

“Era a minha confirmação do que você falava-“

“E você só fica na defensiva desse jeito quando você está certa sobre tudo ou quando a outra pessoa na discussão está certa mas você não quer admitir-“

“Eu estou certa sobre tudo-“

“Só estaria se você argumentasse melhor do que ‘eu queria entrar na sua mente’.”

E o único som que subiu entre eles foi a inspiração profunda da bruxa enquanto olhava para os restos de sua pêra. Levantou-se para jogar na terra, sem olhar para ele.

“Eu sei que eu era objeto de estudo para você.” Disse ele, baixo mas não querendo que ela não ouvisse.

Rowena não teve coragem de virar para encará-lo, apenas encarando os restos da pêra na terra antes de desviar o olhar para a árvore, era melhor.

“Não a critico.” Disse depois de um longo momento de silêncio.

“Você é mais esperto do que eu esperava para um trouxa.”

“Não sei se agradeço por isso...” Comentou, olhando para os próprios pés com calma. “A questão é... Eu ainda não deixei de ser um objeto de estudo para você... O que falta?” Ele perguntou, tentando não deixar a voz tremer.

Rowena espetou uma pêra com a adaga, a puxando do galho e indo para o homem, deixando a pêra na mão dele e afastando a adaga. “Você parou de chorar quando acorda na madrugada?” Disse enquanto guardava a adaga no cinto em volta da cintura, o trouxa apenas a olhava sem saber o que responder. “Então...” suspirou, afastando-se para a porta da estufa. “Boa noite, senhor Riddle.”

*****

“Você não sabe o que tem em mãos, trouxa.” Salazar dizia entendiado. Olhava os alunos correrem pelos jardins, brincando entre si de algo que ele não prestava atenção de verdade. “Você não sabe como é o nosso mundo, nossas regras, nossas histórias.”

Tom olhava em volta, pensando se não era arriscado demais ficar ali com o bruxo. Rowena lhe disse como Slytherin era purista e odiava trouxas e para não acreditar em tudo o que ele falava. Mas Tom tinha uma curiosidade sobre o homem... Queria conhecê-lo... Mas não sabia se era certo. Ele conhecera Gryffindor e Hufflepuff e eles eram pessoas adoráveis, cada um ao seu modo. E eles criaram aquela escola juntos, as personalidades deles se completavam e faziam deles um grupo extremamente forte. Por isso queria conhecê-lo.

“Sabe por acaso o tanto de poder que Rowena tem? Sabe como ela é desejada como aliada e temida por todos os bruxos e até trouxas poderosos?” ele riu baixinho. “Ela pode te fazer de sopa em segundos. Eu adiciono o tempero.” O sorriso gelado dele fazia o trouxa tremer fraquinho. “Eu não sei o que diabos ela quer com você mas eu espero que acabe logo para ela chutá-lo para longe daqui e você parar de acreditar que isso tudo é um conto de fadas.”

Foi ali que Tom decidiu que precisaria de mais paciência se quisesse conhecer o bruxo.

*****

“Ouvi dizer que você é a maior bruxa dessa época.” Disse baixinho, observando a bruxa anotar coisas no pergaminho com uma agilidade surpreendente.

“Os alunos se surpreendem fácil.” Explicou ela, olhando para o homem rapidamente antes de suspirar e descer os olhos para suas anotações de novo.

“Não foi dos alunos que eu ouvi.” Disse quase cantarolando.

“Essa é a menor de suas preocupações.” Ela riu, enrolando o pergaminho e acenando para o corvo se aproximar. Nisso o animal assustou-se com algo, desviou o caminho e quase atacou o trouxa ali que tropeçou e ia caindo para frente. Rowena parou-o, antes que ele acertasse o chão, com sua magia. Ficou um tempo o segurando ali, vendo a escada logo abaixo dele. Puxou-o de volta devagar, o segurando na magia ainda um pouco para ter certeza que ele estava equilibrado. “Está tudo bem?” perguntou, apoiando-o melhor com uma mão.

“Está... Está.” Disse um pouco sem fôlego, apoiando-se nela e olhando a escada. “Eu... Eu quase...”

“É... Quase.” Rowena suspeitava que aquela queda poderia quebrar alguns ossos... Nem queria pensar nessa possibilidade.

Tom virou o rosto para a bruxa e encarou-a um pouco. Sua mente que antes estava tomada do susto de quase cair no chão começou a girar os fatos de que ela o fizera abrir-se com ela, passou dias a fio tentando o fazer falar, o fizera comer e ver como a magia não era tudo o que ele imaginava... Aquela mulher era a maior bruxa daquele tempo. Ele não sabia como eles viam isso, mas ela era. E ela gastara o precioso tempo dela com um trouxa alheio, o tipo de pessoa que ela não deveria depositar confiança considerando a época atual... E lá estavam eles.

“Obrigado.” Ele murmurou, o rosto tão próximo dela que tinha medo de respirar.

“Não precisa agradecer.” Rowena respondeu, olhando tão profundamente nos olhos dele que chegava a acreditar que estava se perdendo ali.

O trouxa afastou-se, sorriu pequeno e inspirou fundo, ajeitando-se. Tremia de leve, mas aquilo não era mais do susto. “Eu... Devo ir.”

*****

“Porque não gosta de Adivinhação?” Tom não sabia como a mulher ainda o aturava, ele não sabia controlar certas perguntas, as vezes desandava a falar e... Ela sempre continuava a lher ouvir, sempre o procurando e lhe mostrando coisas diferentes da magia. Aquela noite o levou para a torre de astronomia, uma matéria que ela dominava mas não lecionava. Na verdade, ela conseguia dominar qualquer matéria, menos Advinhação.

“Porque não gosta de Matemática?” Retrucou com um suspiro fraco, sem tirar os olhos do céu.

“Não que eu não goste... Apenas não me dou bem com números. Eles me odeiam.” Tom riu baixo.

“Apenas não me dou bem com Advinhação... Ela me odeia.” Deu de ombros, rindo logo depois dele. “Centauros vêem o futuro nas estrelas... É interessante os métodos que usam... Mas é complicado estudar tudo porque eles são um pouco...” Outra inspiração profunda deixou bem claro do que ela dizia.

“Um dia aquela estrela se chamará Merope.” Sussurrou ele, apontando para uma das estrelas no céu, depois de um longo momento de silêncio.

“Não estrague a noite, Tom.” Rowena virou-se para olhá-lo de novo, seus olhos tomando um tom de seriedade mas nada frio.

“Não foi a intenção.” Riddle disse quase gaguejando.

“Não foi.” Disse ela, voltando a olhar o céu, mordendo de leve o lábio inferior.

Outro longo momento de silêncio os separou por um tempo, até o homem levantar uma mão e afastar o cabelo dela para trás do ombro, podendo observá-la melhor. “Nunca vi cabelos tão longos e tão negros.”

“É momento de se provar. Você nunca viu nada como aqui, como tudo isso.” Disse ela, voltando a olhá-lo. “Talvez seja um pensamento meio... Meu, mas acho que é o que você precisa fazer, Tom. Não tenha medo, não hesite. Procure, pergunte, se solte. Nada de ruim vai lhe acontecer. Aproveite esse tempo que tem aqui e-“ Ela foi interrompida por um beijo.

Tom segurou o cabelo dela, deixando a mão ir para a nuca e puxou-a para um beijo. Era acanhado, ansioso e... Calmo ainda. Rowena ficou um tempo ainda tentando absorver o acontecimento, sentindo os lábios dele nos seus e os dedos quase enroscados em seus cabelos e estava quase deixando-se levar antes de apoiar uma mão no ombro dele e pressionar de leve, ele afastando-se mais do que depressa dela.

“Eu não ia dizer para me beijar.” Disse ela, sem olha-lo nos olhos, sentindo a lembrança da sensação dos lábios dele ali e sentindo-se estranha por isso.

“Me desculpe... Eu não... Eu quero dizer...” Ele gaguejava, afastando-se mais, até o canto da janela e olhando para as próprias mãos que tremiam de leve.

“Não... Não tem problema, Tom.” Disse baixinho, tocando de leve o ombro dele antes de ajeitar-se de novo ali e olhar o céu mais um pouco.

Depois chegaram ao acordo de que deviam descer para seus quartos. Não fora uma caminhada silenciosa, continuaram a falar sobre estrelas e constelações e sobre como os centauros eram. Quando chegaram no fim do caminho dele, ela subiu nas pontas dos pés e depositou um beijo no rosto dele e se foi, ele sorriu bobamente e entrou no quarto, se repreendendo por ter feito aquilo... Mas não conseguia se arrepender.

*****

A segunda vez que um beijo aconteceu entre eles fora alguns dias depois. Conversavam sobre telas e pinturas. Tom era fascinado como as pinturas do castelo se mexiam e falavam, como contavam histórias de seus feitos. Rowena explicou como era a magia que impregnava a tinta e como aquilo durava, como se tornava algo como um fantasma, apenas uma lembrança da pessoa em sua existência. Mas também podia não ser nada demais, se o quadro não conhecesse a sua forma humana e não criasse essa personalidade. Quadros pintados depois da morte de uma pessoa que eram assim.

Para curiosidade, Rowena levou-o para uma sala, lhe deu pincel e tinta e mandou-o pintar qualquer coisa de cabeça. Ele pintou um piano de calda (achava engraçado esse nome) com um vaso sobre e rosas de um vermelho vivo, o quarto em volta estava mais escuro e a única luz presente era a que vinha da janela. Era uma técnica de pintura completamente diferente das que vira, era bonita e tinha um traço diferente.

“Me pinte?” pediu baixinho, olhando o quadro por cima do ombro do homem que estava sentado o observando.

“Pensei que não gostava de ser pintada.” Disse ele, erguendo o rosto e o virando para observá-lo.

“Não gosto.” Sussurrou abaixando-se, quase sem pensar, e beijando os lábios dele. Tomara a frente para fazer isso sem se arrepender, era melhor do que ficar imaginando todos os dias como era a sensação dos lábios dele nos seus e como tudo aquilo poderia ser. Ela queria experimentar. Quando afastou-se de novo, encarou a face dele. Os olhos pareciam surpresos e os lábios ainda entreabertos.

“Eu pinto.” Disse mais do que rapidamente.

*****

O silêncio era um grande amigo dos dois. Deitados no sofá que tinha no quarto que cederam para Tom, estavam ele e ela, agarrados um ao outro, sem roupa mas nada acontecera. Ele tinha acabado de pintar a tela quando Rowena chegou, admirou a pintura um tempo e foi agradecer o homem. E talvez por estarem em um local bem mais reservado e bem menos espaçoso, foram acabar ali. Tom parecia realizado da forma que talvez estivesse se tivessem cedido ao amor e Rowena não se importava porque o que interessava era que Tom estava bem ali.

“Acho que a maior pergunta é... Quando eu deixei de ser objeto de pesquisa para você?” ele perguntou baixinho, acariciando o braço dela que passava pela cintura dele e tamborilava os dedos pelo lado do corpo.

E aquela era a pergunta que Rowena não tinha resposta e duvidava que um dia tivesse. Quando ela começou a se importar mais com o bem estar dele do que com a sua pesquisa? Em algum momento entre ele beijá-la e ela querer o ver todos os dias?

“Quando eu a beijei?” perguntou ainda mais baixo, abrindo os olhos para encará-la. Se ele não fosse um trouxa, ela teria ficado preocupada com a grande possibilidade de ele estar invadindo sua mente.

“Não sei.” Sussurrou, o encarando de volta.

Aquela fora a resposta mais linda que Tom já ouvira. E estava satisfeito daquele jeito porque viu que não era o único confuso ali. Como eles acabaram ali? Ele seria o ultimo tipo de homem para quem ela se entregaria daquele jeito e ela, o ultimo tipo de mulher para quem ele iria fazer aquilo. E lá estavam eles. Precisavam brindar.

*****

“Ao que estamos brindando?” Rowena perguntou rindo, observando o homem servir as taças com o maior cuidado para depois pegá-las, dar uma para ela e erguer a própria.

“Eu não sei.” Disse com um grande sorriso. “Ao que quer brindar?”

“Eu não sei... Não foi eu que tive a ideia de brindar.” Franziu as sobrancelhas, o olhando com cuidado, tentando procurar qualquer sinal de que ele estivesse bêbado já.

“À você, então. Porque é uma grande bruxa, justa e inteligente... E consegue fazer mais de uma coisa boa de uma vez só, mesmo que não seja sua ideia inicial.” Disse, fazendo novamente o movimento de ergueu a taça.

“Espere, como assim vamos brindar à mim e esquecer de você? Se for assim, a você, também. Que é um homem inteligente, um artista impressionante e com uma das qualidades que mais aprecio.” Sorriu, fazendo o movimento de erguer a taça de novo.

“À nós... Por estarmos aqui com as únicas pessoas que nunca imaginamos estar.” Ele sussurrou, erguendo de novo a taça e elas se encontrando no ar.

Ambos beberam mas quem saiu fazendo uma careta engraçada, foi ele. Rowena riu, balançando a cabeça, enquanto ele ria de si mesmo e reclamava e ela bebia o resto do copo.

*****

“Eles parecem nervosos.” Disse Helga, com o pergaminho na mão, relendo em silêncio o comunicado de como os quatro eram obrigados a comparecer no Conselho e explicar sobre o tal trouxa que vagava por Hogwarts.

“Quem denunciou-nos?” Perguntou Rowena, sentada sobre a mesa, uma mão acariciando a outra devagar enquanto pensava em uma saída.

“Centauros?” Chutou Salazar.

“Eles nem sabem do homem.” Respondeu Godric, olhando para a amiga sentada na mesa. Tinha a eterna curiosidade de como aquela cabecinha funcionava, ele a conhecia o suficiente para saber que ela já criava uma saída, e quando ela começasse a falar, iria surpreender a todos.

“Elfos?” Tentou de novo.

“Elfos que servem a dois senhores?” Godric franziu as sobrancelhas.

“A um senhor ele não será fiel.” Murmurou Rowena, erguendo os olhos para Godric. “Recebemos uma leva deles, não? De elfos jovens.”

“Mas eles... Isso não é possível.” Disse Helga, abaixando a carta e olhando para os amigos.

“Isso é possível. É o único modo possível para se infiltrar aqui.” Disse Rowena.

“Quando isso acabar temos que fazer uma limpa nos elfos...” Começou Godric.

“E dar um jeito nos intrusos.” Completou Salazar, olhando para o amigo e assentindo uma vez antes de voltar a olhar as mulheres. “O que faremos?”

“Eu disse que ele era a minha responsabilidade, por isso eu irei falar. O plano é o seguinte...” Começou Rowena. E, como sempre, surpreendeu a todos com seus planos. Haviam dois, um para cada possibilidade de resposta. O que era claro era que Tom não sairia impune do julgamento, mas ele poderia sair de duas formas: morto ou expulso. Todos torciam para expulso, até Salazar.

“Mas se esses dois planos derem errado, Rowena, que fique claro...” Slytherin começou devagar, a olhando friamente.

“Se eu protegê-lo, estarei expondo Hogwarts.” A bruxa completou. “Espero que todos estejam preparados para romper todas as relações com o Conselho. As coisas dando erradas ou não, este é o fim. Não aceitarei mais eles meterem os narizes onde não são chamados.”

“As estufas estão prontas.” Helga disse, com um suspiro meio cansado.

“E a carne?” Godric perguntou, arregalando um pouco os olhos.

“Eu darei um jeito.” Prometeu, Rowena.

"E o trouxa?" Perguntou Salazar.

Rowena olhou-o por um longo momento antes de deixar as palavras saírem. "Ele voltará de onde veio."

*****

Era errado dizer que a única coisa que sobrara depois de tudo, foi a saudade. A saudade era... Era um detalhe a mais naquele misto de sentimentos que banhavam a praia da memória. O problema é que a saudade era a maior ali. Era facilmente comparável com o oceano. A saudade era a água, o amor era o sal, a felicidade eram as algas e assim ia, para cada ser que podia existir naquela imensidão azul que só lhe lembrava ela.

Devia muito à ela. Devia algo como o valor equivalente a três vidas. E não podia mais pagar, não tinha mais como agradecer ou como pedir desculpas. Como abraçá-la ou como sentir os grossos e grandes cachos negros enroscados em seus dedos... E pensar daquele jeito era torturante.

Ele entendia mais do que bem porque voltara, mesmo tentando achar todas as soluções possíveis e talvez dificultado um pouco as coisas. Assustara-se com a rapidez da escolha e da gravidade de tudo. Fora horrível de inicio pensar que não a veria mais. Mas a dor diminuíra... Ou ele a guardara em algum lugar que não incomodava tanto.

Se perguntou como ela viveu seus últimos dias, como ela lidou com as coisas por lá. Sentia-se culpado mesmo não sabendo como tudo acabara. As vezes nada demais acontecera. Ou talvez muitas outras coisas que se aquele redemoinho estranho não tivesse surgido, tudo poderia ser evitado.

Guardava aquela ampulheta pequena que ela lhe dera sempre consigo, a levava para todo o lado. Se a esquecia, fazia questão de voltar para casa e pegá-la. Não sabia porque. Não sabia se esperava uma magia surpresa e a chance de voltar para lá. Se esperava que ela surgisse ali do nada. Só sabia que sentia-se melhor em saber que ele estava em seu bolso.

Só teve certeza de uma coisa... Hogwarts sobrevivera todo aquele tempo. Mesmo que ele tivesse descoberto da forma menos confortável do mundo... Fora quando um jovem entrou pela porta de sua casa, abordou sua família, jogou algumas verdades na cara dele e soltara aquela informação. A felicidade foi momentânea, aliviara um dos pesos que o sufocava. O resto... O resto ele não viveu para contar.


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