Clarissa

Parte 04
 

DEVOLVA OS MEUS PODERES!

Abro os olhos. Estou novamente em um mar de névoa, meu corpo tão leve como se pudesse pairar. Meu coração falha uma batida quando vejo a cena se desenrolar diante de meus olhos: James e Ashley tentando me reanimar, enquanto meu corpo se encontra desfalecido no piso.

ASSUSTADA?

A voz ecoa pelo espaço, e viro-me abruptamente. Um corpo cheio de queimaduras e ferimentos dos pés à cabeça me fita com um olhar vazio, sem pupilas. A cabeça parece desproporcional ao restante do corpo, o que torna a visão ainda mais grotesca.

Dou um passo para trás, meu corpo inteiro formigando de tensão.

— Eu não sei como devolver seus poderes — falo lentamente, tentando não aplacar a fúria dela.

Seu olhar vazio permanece focado em mim, tão intenso e profundo que me faz temer sobrenaturalmente.

VOCÊS PRECISAM PARAR COM SEUS JOGUINHOS MUNDANOS! ESTOU PERDENDO A PACIÊNCIA!

Coloco as mãos nas têmporas, tentando aplacar a dor de cabeça que a voz da Morte causa. Respiro fundo, fitando-a novamente.

— Eu quero que tudo isso acabe tanto quanto você — digo novamente calma. — Mas preciso de tempo para conseguir controlar os meus... Os seus poderes.

EU OS QUERO DE VOLTA AGORA!

Algo como um soco me golpeia no peito, fazendo-me perder o fôlego. Meu corpo começa a ter espasmos nos braços de James, que tenta me conter.

— PARE! PARE! — grito, caindo de joelhos.

A Morte caminha até mim, sem pressa.

NÃO ME PROVOQUE CLARISSA WAYNE! ESTOU A QUASE UMA DÉCADA BUSCANDO PELOS MEUS PODERES!

Sinto um aperto no meu pescoço, fazendo-me perder o ar por completo. Ergo o rosto a tempo de ver uma sombra preencher o rosto escamoso da criatura.

— E-Eu preciso... Conseguir... A outra parte — sussurro, por um segundo sentindo medo do que me aguarda. A fúria incandescente da Morte preenche o ambiente, e altera meu estado físico no lado onde James e Ashley se encontra.

CONSIGA O RESTO DOS MEUS PODERES E ME DEVOLVA! OU VOCÊ E SEUS AMIGOS SOFRERÃO AS CONSEQUÊNCIAS!

Grito, sentindo como se fosse empurrada e me chocasse com o chão, vários metros abaixo de mim. Uma dor perpassa minha nuca e segue por minha coluna até se instalar na minha panturrilha e se espalhar por todos meus membros.

— Clarissa! — James parece prestes a ter um infarto, chacoalhando-me mais uma vez. Consigo me sentar, massageando o peito e o pescoço. — O que aconteceu?

— A Morte quer os poderes dela de volta — respondo com um fio de voz, sendo ajudada por Ashley a ficar de pé. — Todo o poder dela.

Os irmãos Turner se entreolham com preocupação evidente.

— Você precisa encontrar...

Uma explosão chacoalha as estruturas do prédio, interrompendo a fala de Ashley e lançando-a contra a parede ao fundo do quarto. A força do vento me golpeia, mas consigo resistir.

— QUE PORCARIA É ESSA? — berra James, colocando os braços à frente do corpo.

Consigo sentir a essência desse poder, e o modo como está sendo usado. Trinco a boca, voltando meu olhar para James e Ash.

— LEVEM LEXI PARA A TORRE STARK! — meneio a mão abrindo um portal à minha direita.

— Não seja burra! Eu não vou deixar você aqui! — James grita com irritação em seu tom de voz.

— Eu vou ficar bem! VÃO! — ordeno impaciente.

James hesita mais uma vez, fitando-me com intensidade.

— Não morra — Ele diz jogando Lexi sobre o ombro e ajudando Ashley a seguir até o portal.

Balanço a cabeça positivamente, observando eles partirem e a passagem se fechar diante de meus olhos. Suspiro quando o golpe de vento para repentinamente, e os saltos chocam-se contra o piso lentamente.

A figura para diante da porta, um sorriso chegando aos seus lábios, tão falso que me dá enjoo.

— Emeline Vaunce — falo lentamente, em tom desafiador.

Sorridente, ela avança um passo.

— Clarissa Wayne — retira as luvas bordadas de suas mãos, jogando-as em um canto do quarto. — Que bom te encontrar!

Semicerro os olhos.

— Imagino que queira o poder que agora está em mim — falo ironicamente, embora sinta meu íntimo se revirar.

— Como você cresceu tão rápido? — Emeline indaga com um ar alegre. — Lembro-me de ter visto você andar pela primeira vez... Não quer me contar como foram seus anos neste lugar... Tão agradável?

Rapidamente agarro-a pelo pescoço, contudo ela consegue reverter à situação e me golpear na costela, puxando meu braço até ouvir o estalo. Grito em uma mistura de raiva e dor.

— Olha que linda! Enfrentando a mamãe — Emeline sussurra, mexendo em meu cabelo.

Sinto seu salto atingir minhas costas, e caio no chão. Viro-me rapidamente, soprando os fios de cabelo que caem pelo meu rosto.

— Você está sendo tão burra! Têm exatos quatro minutos para a bomba explodir — diz Emeline agachada à minha frente, sorrindo. — Agora, que tal me entregar os seus poderes antes que eu comece a ficar malvada?

Consigo passar a energia para fora do meu corpo, acendendo a lareira no hall do prédio.

— Esqueceu que eu tenho a vantagem, Emeline? — cuspo as palavras, determinada, ficando de pé novamente. Os olhos dela semicerram-se para mim diante das minhas palavras.

Com outra descarga de poder, tranco as portas e as janelas. Emeline vira-se, franzindo o cenho.

— O que... — Ela desfaz o sorriso por uma fração de segundos.

Dou uma joelhada na altura de seu queixo, lançando-a para trás. Emeline cerra os dentes, mas antes que possa levantar subo em seu corpo e prendo-a no chão.

— Você e eu — chamas saem de minhas mãos, queimando a pele dela e fixando-a ao piso. Emeline grita e se debate embaixo de mim. — Para que nossos poderes voltem a quem deve voltar.

— SUA IDIOTA! — os gritos da loira invadem meus tímpanos como facas. Cerro os dentes, com ainda mais raiva. — Se arrancar os poderes de você, vai causar danos irreversíveis, contra si mesma! Seus amigos valem tal preço?

As chamas da lareira se alastram pelo hall, começando a se espalhar rapidamente pelo corredor do primeiro andar. Meu controle torna tudo ainda mais interessante.

— DYLAN NUNCA MAIS VAI SE LEMBRAR DE VOCÊ!

Continuo rasgando sua pele com as chamas em minhas mãos, sentindo o ápice do poder na região do meu peito. O vento forte nos rodeia, e as chamas atingem a porta do quarto.

— Então que ele não se lembre mais — falo, mesmo sentindo como se levasse uma facada em meu coração.

Emeline grita de dor conforme seus braços rasgam, seu rosto sangra e suas roupas pegam fogo. Sinto as chamas me golpearem, cada vez mais intensas, cada vez mais fortes.

— ISSO É POR VOCÊ TER ACABADO COM MINHA VIDA! — grito tentando ser mais forte que os elementos que nos atingem.

Sangue deixa meu nariz e a garganta queima. Antes que eu perca o controle de tudo, consigo golpear o peito dela, minha mão se fechando ao redor de seu coração que ainda bate cada vez mais rápido. Ela emite um grito, seus olhos perdendo o foco conforme aperto o órgão, sentindo-o pulsar ao redor da minha palma.

— Essa é a dor que eu senti por dezesseis anos — falo friamente ao pé de seu ouvido, movendo a mão rapidamente. — Não tive chance de ter uma vida graças a você, sua vadia loira imunda! Por ter enganado a Sophia, por ter feito-a sofrer tanto quanto eu, vou permitir que sinta o máximo da dor humana!

Emeline grita, tentando se libertar. Sou abraçada pelas chamas, e fecho os olhos, aceitando o que está por vir.