James

Muitos sofrem com a perda dos pais, contudo neste momento só consigo sentir alívio.

Josh Turner se encontrava cuidadosamente empoleirado em uma poltrona na sala do diretor. Lia algum livro sem se ter ao fato de que estava à poucos segundos de perder sua patética vida.

Clarissa me encarou antes de se aproximar de Josh lentamente, dando a volta na poltrona do mesmo. Retirou uma segunda lâmina de seu cinto funcional e posicionou-a rente à nuca do Turner.

Ashley se encolheu ao meu lado, seus olhos levemente arregalados logo que Clary afundou a faca na pele que cobria aquele membro. Josh não teve tempo de gritar ou reagir. O horror permaneceu estampado em sua face conforme sua cabeça pendia e chocava-se com a mesa. Os papéis voaram e gradativamente o livro aberto recebia as gotas de sangue que jorrava ardentemente do ferimento aberto.

A alma de Josh foi arrastada pelas mesmas sombras que levaram Laurence. A única diferença foram os gritos de “Socorro!” que o desgraçado covarde conclamou para comprovar seu desespero.

Josh deixou para trás seu corpo inútil que em breve seria encontrado pelos vilões. Cerrei os punhos. Eu estava mais do que satisfeito com a condição atual do jogo.

— Ansioso para voltar à vida? — pergunta Aurora com um sorriso percorrendo seus lábios carmesins.

Meus dedos chegam ao seu rosto, acariciando-o. Mal acredito que ela enfrentou a morte comigo. Que esteve ao meu lado durante meu pior momento.

— Eu te amo — É a única coisa que consigo dizer, meu semblante sério indicando a verdade em minhas palavras. — Você... Morreu comigo.

Seus olhos brilham, e ela me abraça escondendo o rosto em meu pescoço.

— Entenda James, eu não conseguiria continuar vivendo sem você — sua voz adquire um tom embargado pelo choro que está por vir. — Eu perdi tudo o que eu acreditava... Você é a pessoa mais preciosa em minha vida.

Fito-a. Seus olhos azuis que retém uma luz e um sentimento tão forte... Beijo sua testa, afagando seus cabelos.

Sophia facilmente consegue abrir um portal. É surpreendente como ela e Clary adquiriram seus poderes, e como sempre o tiveram dentro de si sem terem qualquer noção disso.

— Os corpos de vocês dois foram incinerados. Vai levar mais tempo para ressuscitá-los. — alerta Clarissa com um suspiro. — Eu vou fazer o máximo que posso agora junto com a Soph.

Meneio a cabeça positivamente.

— Não temos muito tempo, Clary — diz Stella, um tanto preocupada. — Tentem ser rápidas.

Ambas concordam. É estranho como o espaço entre o inferno a morte e a eternidade parece vivo. Permanece a mesma Nova York, só que sem qualquer sinal de companheiros entre nós. Apenas oito adolescentes no meio de uma das avenidas mais cheias da cidade, agora fantasma.

Foi completamente assustador transitar pelo espaço da morte durante o tempo que se passou até encontrarmos Clarissa. Fiquei sozinho por um bom tempo, adentrando casas vazias e sem lembranças vivas, até descobrir como ver meus amigos e até mesmo os inimigos, descobrindo assim muitos fatos que ocorriam durante minha morte.

Vi Clarissa se desestruturar perante minha perda, Stella lutar contra Magneto, Sophia enfrentar sua avó maluca, Ashley em Asgard, e Dylan ser dominado pela Lexi. Então presenciei o prazer descomunal dos Turner com a minha morte, e finalmente encontrei Aurora.

Ela estava tão linda. Seus cabelos escuros caíam pelas costas, e seus olhos azuis cintilavam com algum tipo de alegria em me ver. Trajava um vestido branco longo, e suas mãos carregavam rosas. A princípio pensei que o mundo estivesse me pregando uma peça, até descobrir a verdade.

— Não. — murmurei, estarrecido. Aurora tinha morrido. Assim como eu. E embora meu amor por ela fosse extremo, eu não conseguia desejava que tal sacrifício.

Aurora meramente se aproximou sorrindo.

— Estamos juntos — Ela depositou uma das rosas em minha mão. Seus olhos buscaram os meus, e por um segundo a tristeza de sua morte desapareceu. — Você e eu. Pela eternidade. Porque eu te amo.

Ainda sim não conseguia aceitar aquilo. Aurora abriu mão de sua vida por mim? Eu não merecia tal gesto. A solidão naquele espaço era minha penitência por todos os males que cometi até o final da minha vida.

Clarissa e Sophia uniram suas mãos e fecharam os olhos. A carga de poder emanou de ambas, e soube de imediato que seria insensato qualquer um interromper.

Afastado delas Simon realizava seu planejamento, com Zack, Stella e Ashley lhe dando apoio. Aproximo-me com Aurora, a atenção voltada completamente para a linha de pensamento do nosso líder.

— Com certeza os heróis estão conseguindo segurar a barra durante nossa ausência, mas a morte deles ainda é preocupante. Clarissa e Sophia estão dominando seus poderes agora. Combater Lexi vai ser uma tarefa difícil.

— E trazer Dylan de volta — acrescenta Aurora, sendo observada por todos. — Temos que trazê-lo de volta.

— Isso é a menor das preocupações agora — Simon fala com um suspiro.

Bruscamente Aurora solta minha mão.

— Como assim a menor das nossas preocupações? — questiona irritada. — Ele é nosso amigo! Faz parte do grupo!

— Temos milhões de pessoas em jogo, Aurora — insiste Simon, seriamente. — Eu entendo. Eu me preocupo com Dylan. Mas a prioridade é a população.

Seu espírito de liderança se mostra em total evidência. Há alguns meses ele não conseguia se imaginar como um líder, e agora está carregando tal manto com firmeza.

Aurora entrelaça os seus dedos aos meus novamente, a preocupação sustentando seu semblante.

— Pelo visto NovaHead é o ponto de controle dos vilões. Desestruturando a Lexi vamos conseguir mandar todos eles para o inferno de uma vez — prossegue Simon, cruzando seus braços.

— E ao mesmo tempo temos que parar as bombas — Stella relembra, arqueando as sobrancelhas.

Zack pensa por um segundo.

— Washington, Califórnia, Nova York, Texas... — Ele faz uma pausa.

— O que tem? — indago franzindo o cenho.

— Existe uma última bomba. — comenta com certa confusão. — Mas não está destinada ao centro do país como seria o mais óbvio.

— Não conseguimos rastreá-la — observa Simon, meneando a cabeça.

— Lembram quando estávamos em Vegas e um ataque foi contra Nova York da torre da Liga da Justiça? — relembra Zack, e todos concordamos. — Não seria mais uma boa chance da Lexi mostrar o poder dela?

— Ainda não foi comprovado o que aconteceu. Alguns disseram que foi um acidente — comentou Ashley, reflexiva.

— Certo. Mas e os pais do Dylan? — continua Zack, uma súbita urgência invadindo-o. — A Mulher-Gavião e o Flash. Eles desapareceram, não foi?

— Por causa de algo envolvendo a S.H.I.E.L.D... Onde você quer chegar, Zack? — questiona Aurora, franzindo o cenho.

O loiro respira fundo, meneando as mãos na tentativa de manter a própria calma conforme fala.

— Os pais do Dylan sumiram. Okay. S.H.I.E.L.D envolvida nisso? Beleza. Agora ataque da torre da Liga da Justiça contra Nova York justamente quando todos os vilões estão fazendo a festa? Não é muita coincidência?

— Está dizendo que Lexi pode ter controlado tudo isso? E que agora está com o controle da torre da Liga da Justiça? — Stella se encontra completamente estarrecida diante das palavras do Zack.

Este suspira.

— Lexi é maluca! E ela sempre quis o Dylan. Afastando dois membros da Liga da Justiça, ela faria o grupo inteiro sair em missão para buscá-los. Então aprisionaria todos. E controlaria a nave deles, tendo em mãos a arma mais perigosa junto.

— O pior é que faz sentido — falo, cruzando os braços. — Caramba Zack! Pensei que você só pensasse com a cabeça debaixo...

— Haha — debocha o loiro, e dou risada.

— Se isso for mesmo verdade, temos que ser mais rápidos. Com a torre da Liga da Justiça, Lexi pode facilmente controlar todo o mundo. — Aurora parece completamente desconfortável com a possibilidade.

— É por isso que ela está tão tranquila — Ashley respira fundo, colocando as mãos na cintura inquieta. — É claro. Teremos que pará-la em uma hora ou menos! Desestruturando o país em seguida ela acaba com os outros países e consegue o controle. Aquela vaca!

Meus olhos atingem Clary enquanto a mesma se mantém concentrada com Sophia.

— O que foi James? — questiona Stella, franzindo a testa. — Você ficou pálido de repente... Quero dizer, mais pálido do que a morte pode proporcionar...

Volto a encarar meus amigos, minha mente montando o quebra-cabeça em uma velocidade surpreendente.

— Qual é o maior ponto de ódio da Lexi? — indago, e todos me encaram confusos. Suspiro. — Clarissa.

— É. Elas são meias-irmãs e tem o problema com o Bruce Wayne que faz a Lexi ser toda revoltada com o mundo — Zack dá de ombros, desinteressado.

— E o que isso tem a ver com o que estamos falando? — pergunta Ashley, arqueando uma das sobrancelhas.

— Lexi odeia a Clarissa e odeia o pai. Bruce está em Gotham detendo vilões com Selina! Charlie com certeza vai para lá. A arma da Liga da Justiça é um brinquedo nas mãos de uma psicopata! Vamos lá grupo — falo quando ninguém parece entender aonde quero chegar. — Vocês já foram menos burros!

— Lexi não pode fazer isso! — exclama Stella, alterada. Ela capta meu pensamento alguns instantes atrasada. — Não! Clarissa tem o poder de ressuscitar os mortos agora. Isso... Isso não vai ser problema... Não... — Stella nega firmemente a ponto de chorar.

— Clarissa está aqui e não sabemos ainda se tudo pode dar certo. Estamos tecnicamente presos se as duas não conseguirem — Aurora fala completamente assustada. — Céus! Se Lexi realmente for fazer isso...

Volto a encarar a figura da Clarissa, o medo perpassando meus membros como uma serpente traiçoeira.

— Clary perde a família... Para sempre.