Seis meses depois...

Aurora coloca os pés em um balde de gelo, sentindo o imenso alívio que isso lhe causa. Respira fundo, deixando sua cabeça pendendo no encosto da poltrona.

O apartamento no centro de Los Angeles tem quatro cômodos e um banheiro espaçoso com direito a uma banheira de hidromassagem.

Aurora está feliz. Quatro meses antes decidiu persistir em suas vontades de ser atriz, e fez o teste para três faculdades de arte nos Estados Unidos: passou na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, conceituada por sua proximidade com Hollywood (além de ter como um de seus ex-alunos Tim Robbins).

Sua situação escolar incompleta em NovaHead foi “facilmente” resolvida com uma semana de provas em que Aurora se dedicou assiduamente. Mediante seu esforço conquistou as notas desejadas pela Universidade da Califórnia.

O curso de artes cênicas mal havia começado e já exigia um tempo excessivo dela. Haveria uma peça para dali três meses envolvendo música e dança, o que resultava em períodos a mais de treinamento e inúmeras aulas.

Ela encara o telefone que pisca continuamente. Deve haver inúmeras chamadas e recados dele. Seus olhos desejam alcançá-lo, matar sua curiosidade e o desejo de ouvir aquela voz. No entanto, eles decidiram escolherem se aquilo era o que realmente queriam.

E se estarem juntos for a decisão final, James e Aurora assim ficariam. Além disso existe outra questão: a família da Clarkson. Assim como Simon e Stella ela descobrira a verdade sobre si.

Que era uma criação de laboratório meramente ativada com a explosão causada por James em seus tempos com a Liga das Sombras.

Aurora retira os pés do balde com gelo, respirando fundo antes de caminhar para o quarto.

Para diante das vidraças extensas em seu cômodo pessoal, observando a cidade com vislumbre. À noite Los Angeles mostra-se ainda mais bela. Iluminada pelos prédios bem arquitetados parece aconchegante para Aurora. É como se ela sempre quisesse estar ali.

Tira a camiseta e o short seguindo para o banheiro. É então que percebe o barulho vindo do local. Chuveiro ligado? Aurora caminha vagarosamente, pegando atrás da porta do quarto o taco de baisebol que guarda por segurança. Gira a maçaneta rapidamente, escancarando a porta em posição de ataque.

James sempre foi ousado e para reencontrar seu amor não poderia ser diferente. Ele deixa a água cair lavando seu cabelo e encara fixamente Aurora.

Ela está incrédula, e é possível reconhecer facilmente em seus lábios entreabertos e olhos tão arregalados.

— Você tem duas opções — diz James com um meio sorriso. — E me dar a toalha ou tomar um banho também.

Aurora suspira baixando o taco.

— James. Porra, você não... Não poderia bater na porta?

Ele dá de ombros, fechando o chuveiro sai do box caminhando até Aurora sem deixar de fitá-la.

— Achei que iríamos esperar até... — Ela desvia o olhar do corpo dele. — Eu voltar.

— Faltam dois anos para isso — fala James com a sobrancelha arqueada. — Eu quero você agora, Aurora.

Ela se afasta, meneando a cabeça.

— Você não está falando sério. Não pode... Estar falando sério — Aurora ri com incredulidade ao mesmo tempo em que deseja se apegar àquelas palavras com todas as suas forças.

James sorri de canto, percebendo que a barreira entre ambos é o puro medo. A proposta que ele fizera meses atrás foi um choque a Aurora que de imediato repensou sobre seus planos de ser atriz e deixou que o tempo dissesse o que os dois deveriam fazer.

Contudo, James sabia exatamente o que queria. Queria Aurora para sempre.

— Aurora — James a chama gentilmente. — Eu escolhi você. Sabe disso.

— Para casar? — exaspera-se a Clarkson levando uma das mãos aos cabelos (um gesto que a deixa mais linda na opinião de James).

James pega a toalha no suporte da parede e enrola na cintura. Aurora deixa a porta do banheiro frustrada.

Será que ele não via que um casamento seria loucura? Eles não tinham o mínimo de tempo que uma relação normal deveria ter. A necessidade do tempo entre os dois era para justamente provar isso a ele.

Aurora está prestes a completar vinte e um anos. Passou quatro adormecida. Como James pode impor-lhe algo assim?

— Você está com medo, Aurora! Confesse — Hames fala seguindo-a de perto pelo corredor.

— Eu não posso assumir algo tão sério agora! Não... Assim!

— Se o problema é eu estar pelado, juro que me visto — brinca o Turner recebendo um olhar indignado dela. — Escuta... — segura seus ombros encarando-a. — Você é tudo o que eu sempre quis. Eu não tenho nada! E você me mostrou o caminho certo quando acreditei não existir amor. Aurora...

James pende a cabeça, desejando a todo custo que ela aceite. Ele não quer perder mais tempo. Precisa ser feliz.

Gentilmente Aurora segura sua mão, beija sua bochecha e em seguida sua boca. Afasta-se deixando nele o gosto de seus lábios de mel, algo inebriante capaz de viciar.

— Nada melhor do que você se aceitar. Porque apenas assim vai conseguir seguir em frente e aproveitar uma nova vida — Aurora sorri, afagando o rosto dele. — Eu te amo. Mas não posso me casar com você apenas para que se sinta melhor com os erros que cometeu.

James desvia o olhar a mente pesada e a vontade de correr para longe. Fugir da maldita sensação de que não está completo...

— Clarissa pagou pelos erros dela de um determinado jeito. Você precisa encontrar o seu, meu amor. E assim poderemos ficar juntos. Sem medos.

Ele a encara com os olhos carregados de dor.

— E o seu medo? De ficar com um apostador de merda? Alguém que provavelmente não vai saber constituir uma família?

Aurora meneia a cabeça negativamente.

— Não! James!

Ele se afasta pegando suas roupas largadas em um canto imperceptíveis do quarto e vestindo rapidamente.

— Para! James! Para com isso! — grita Aurora obrigando-o a encará-la. — Eu acredito em você! Acredito que será um ótimo marido um dia, mas... — Ela suspira. — Eu preciso me estabelecer. Tecnicamente não tenho família, aqueles que eu achava serem meus pais eu matei e desde criança tudo que sabia sobre casamento era o homem dominando a mulher! Você consegue entender isso?

No entanto James já coloca a jaqueta de couro, atormentado pelo seu sentimento de culpa e pela rejeição.

— James! Dorme aqui hoje! — pede Aurora, desejando que tudo fique bem. — Eu quero ficar com você!

Ele se vira com a mão na maçaneta da porta do quarto.

— Antes de amanhecer você vai despertar e perceber que seu lugar é com eles — indica a cidade esplendorosa refletida pela vidraça do quarto, sorrindo de canto. — E mesmo assim vou amá-la intensamente apenas pelo privilégio de te ver feliz.

Batendo a porta, ele a deixa, sozinha com seus pensamentos turbulentos. Aurora tinha uma única chance de ser feliz. Por que não agarrá-la?