Andando pelas ruas dessa pequena cidade, sozinha, pensativa, as mãos no bolso da blusa. Chuto as pedrinhas que encontro no caminho. Por um motivo estranho e desconhecido por mim, eu estou animada, eu estou feliz. Eu me sinto bem. Eu me sinto diferente.

Ergo a cabeça, será uma das metas desse ano: andar de cabeça erguida.

Há muitas pessoas na rua hoje. Algumas ansiosas, falam ao telefone com alguém que pouco me importo em saber quem é; algumas andam em grupo, adolescentes, eles riem, eles brincam, eles se sentem assim como eu. Eu sou igual à eles, eu pertenço à um grupo similar ao deles.

Vejo famílias. Vejo casais apaixonados. Vejo aqueles que se acham superiores à todos os outros, não suporto esse tipo. Mas hoje isso não importa, pois eu me sinto bem.

Olho essas pessoas diretamente nos olhos, é um pouco constrangedor e estranho fazer isso, porém não importa, hoje eu quero ver o que os olhos dessas pessoas me passam. Quero tentar conhecê-las.

E, então, decido fazer algo mais estranho ainda, eu começo a sorrir para elas e dou um pequeno aceno de cabeça. Uma forma de dizer: olá, como vai hoje?

Eu me sinto bem, e quero mostrá-las como eu me sinto. Quero dizer isso à elas desta forma.

Alguns ignoram, fingem não ver, fazem o mesmo que eu fazia há alguns anos atrás, elas me olham estranho. Outros correspondem, mesmo alguns achando estranho, eles correspondem. Alguns, ainda, correspondem com o mesmo sorriso sincero que eu lhes ofereço.

Essas pessoas se sentem bem, assim como eu. Talvez seja o clima de ano novo, quem sabe?

Só sei que, pela primeira vez, eu vejo compaixão nos olhos dessas pessoas - dessas poucas pessoas que me correspondem sorrindo. Eu vejo a chama da esperança, mesmo que já quase apagada, esquecida, ela é reascendida com o sorriso de uma estranha. Isso é maravilhoso. Essa sensação é incrível.

Andando pelas ruas dessa pequena cidade. Eu me sinto bem hoje, eu mostro à essas pessoas como eu me sinto. Eu vejo compaixão nelas, eu vejo esperança, eu vejo algo que há muito não via, eu vejo humanidade.