Azul Kaiju escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
azul kaiju


Notas iniciais do capítulo

Cellinha... mil desculpas por estar curtinha e diferente do que você pediu ): mas espero que você goste.



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Talvez fosse um efeito colateral de usar números demais. Números são organizados, uma conta pode dar apenas um resultado e nada mais. Nada de interpretações erradas, nada de resultados errados. Números são organizados e a organização tem sempre uma só resposta certa e direta. Sendo assim, talvez a organização dos números se infiltrara em sua mente, fazendo-a ficar organizada como eles.

Mas ai ele decide compartilhar a sua mente com Geiszler e onde só haviam números bem organizados em equações e resultados corretos agora havia também partes de kaijus e enormes línguas brilhantes de kaijus tentando pegá-lo e música alta e gravatas desfeitas e bagunça. Muita bagunça. Imagens que iam e vinham com tamanha velocidade que era impossível se concentrar em um só pensamento, imagens coloridas demais que faziam doer a cabeça, sons fortes demais que deixavam os ouvidos tinindo, idéias estranhas demais que pipocavam do nada e logo tomavam toda a sua mente.

A mente de Newton era tão bagunçada e cheia quanto o seu torso e braços cobertos por tatuagens de kaijus. Era um amontoado de pensamentos confusos e fortes demais que se espremiam ali dentro e, quando tinham a oportunidade de sair, invadiam todo o espaço que lhes era concedido. Mas o pior não era isso. O pior era que, mesmo depois da conexão acabar, mesmo depois de o último kaiju ser morto, mesmo depois de toda a excitação da guerra baixar, aquele barulho alto, aquelas cores fortes, aqueles pensamentos repentinos continuavam a aparecer.

Seus números não mais eram bem organizados e brancos no fundo preto como o giz em um quadro negro, mas pareciam piscar cores fortes a todo instante. Em um dado momento seu número quatro era branco, depois ficava amarelo e, depois, vermelho e por ai ia. Suas equações, sempre organizadas e bem alinhadas, pareciam começar a dançar do nada em sua mente, seguindo as batidas das músicas irritantes de Newton. Suas anotações – preto no papel branco, preto no papel branco, preto no papel branco – pareciam assumir as formas de Slatterns e Otachis e Leatherbacks...

Ainda se perguntava se Newton tinha o mesmo problema, se a mente bagunçada dele se tornara um tantinho mais organizada graças a conexão, porque não era possível que só ele fosse o afetado com aquilo. Mas, quando se encontravam, o outro não parecia diferente: continuava falando alto e sobre kaijus, mesmo sem ter mais kaijus por perto... Só os ossos deles, é claro, em museus que Newton visitava e visitava e visitava e nunca parava de falar sobre e a voz dele parecia virar uma de suas músicas altas e de som distorcido, tomando a forma de kaijus e surgindo em frente aos seus olhos em cores.

Era estranho e era assustador, mas era diferente. E o diferente o assustava naquele sentido. Porque ele não deveria querer passar mais perto de Geiszler por causa dessas sensações, não deveria querer conectar-se ao cérebro dele toda vez que o via nos encontros do pessoal do Programa Jaeger. Nessas horas, ele devia celebrar com os outros a vitória sobre os kaijus e lembrar dos mortos na guerra, e não querer implorar para outra conexão para ver tudo aquilo outra vez, para sentir tudo aquilo outra vez.

Ele não deveria perceber que encostar em Newton fazia aumentar ainda mais aquela bagunça em seu cérebro. Muito menos querer mais por esse exato motivo: aquilo deveria irritá-lo e não fasciná-lo. Ele não deveria perceber que um toque, um beijo – que ele ainda não entendera de onde viera, talvez tivesse sido uma comemoração um pouco mais exagerada de um ano desde o fim dos kaijus – fazia com que tudo aquilo, toda aquela bagunça sinestésica em sua mente se intensificasse mais e mais e mais e... Não deveria querer mais daquilo. Não mesmo.

Mas era como quando alguém sujava uma roupa com sangue de kaiju: aquela tinta azul não saía nunca mais, ficava para sempre manchado. A mente de Newton misturada na sua era como o azul kaiju só que de diversas cores e mais vibrante e fazendo barulho, era algo extremamente difícil de se livrar.


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Notas finais do capítulo

Não sei se 'kaiju blue' ficou azul kaiju em português... Agora ficou. :3