My Little Grace escrita por Bilirrubina


Capítulo 1
Capítulo único




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Abriu os olhos e se viu deitada naquela imensa e confortável cama. Estava sozinha e ao se dar conta de que era tarde, virou-se preguiçosamente, enrolando-se ainda mais nos lençóis e pode sentir o aroma do café que estava em sua cabeceira. Como era seu dia de folga, o mordomo sempre levava seu desjejum por volta de 10:30h. Foi só o tempo de levantar, ir correndo para o banheiro, chegar perto da pia para colocar todo o conteúdo do estômago para fora.
– Argh!
Praguejou ao ver sua imagem no espelho. Seus fios castanhos claros estavam desgrenhados, seu rosto amassado e com o adicional de uma marca vermelha causada por uma dobra da fronha. Maria Clara revirou os olhos e pegou a escova de dentes, começando sua higiene matinal logo a seguir.
Voltando para o quarto, fitou a refeição disposta numa bandeja de prata e antes que seu estômago embrulhasse mais, foi diretamente para seu closet, onde escolheu um vestido solto verde claro e sapatilhas marfim. Não colocou nenhuma joia extravagante, pois, a princípio, ficaria apenas em casa, optando por brincos de pérola. Saiu daquele cômodo e sem se deixar abalar pelo cheiro do café, foi o mais rápido que pode para o seu escritório.
Mesmo estando de folga, ela ainda tinha alguns projetos para dar andamento e como seu marido só retornaria na hora do almoço, Maria tinha o resto da manhã livre para isso. Tinha se formado há dois anos em Arquitetura e Urbanismo e desde então nunca ficara sem trabalho algum. Estava muito feliz assim: seu casamento ia de vento em popa e sem dúvida, eram os melhores anos de sua vida.
Quando Dimitry chegou, Maria Clara estava sentada a mesa, terminando alguns diagramas. Ela ergueu os olhos e sorriu ao vê-lo se aproximando. Ele, sem nada falar, tomou as mãos da mulher, tirando-as de cima dos papeis e do computador, levando-a daquele lugar. Passaram pelos corredores e por fim, foram para a sala de jantar requintada. Toda a casa era decorada no estilo vitoriano e mesmo quando Maria se mudou para lá, nada modificou, pois simplesmente achava-a perfeita, assim como o marido.
– Era só você me chamar que eu vinha comer... – falou ao sentar-se na cadeira.
– Sério? – ele falou ao ajeitar sua cadeira – Já fiquei sabendo que não tem tomado seu café da manhã, Senhora Albuquerque...
Maria Clara revirou os olhos e murmurou um xingamento. Apesar do serviço da criadagem funcionar muito bem, algumas vezes se sentia num reality show.
– Já foram falar pra você, né?
Dimitry deu de ombros e sentou-se à cabeceira da mesa.
– Acontece que... – abriu o guardanapo de pano sobre seu colo – Eu gosto de me manter informado.
– Ah... – ela fez o mesmo – Então é você que manda ficarem de olho em mim?
Ele sorriu timidamente enquanto o almoço era servido. A comida estava deliciosa e Maria comeu tudo o que estava em seu prato. Embora não tivesse apetite algum pela manhã e um simples cheiro era capaz de lhe deixar com náuseas, em outros períodos do dia ela ficava faminta.
Depois de comerem, foram para o jardim, onde se sentaram num banco, lado a lado, aproveitando um pouco do calor do Sol e da companhia do outro. A mulher apoiada no tórax do marido, sorria, enquanto ele lhe acariciava os cabelos.
– Em momentos como esse me dá uma vontade tão grande de faltar o trabalho... – ele riu.
– Amor, você precisa tirar mais folgas, como eu. – ergueu o corpo, para fitar seus olhos – Eu sei que o trabalho vai continuar lá quando você voltar no outro dia, ainda mais porque é o diretor do Instituto, mas você precisa de descanso, de um tempo pra nós. – sorriu ao pronunciar a última palavra.
Dimitry também sorriu e aproximou da esposa, depositando um suave beijo em seus lábios.
– Eu vou tentar, eu juro... Mas agora, – levantou-se – eu tenho mesmo que ir...
Ela observou o moreno saindo e ainda permaneceu sentada. Depois de um tempo, voltou para dentro da mansão. Era sua folga e precisava aproveitá-la. Ana Carolina, sua irmã mais velha, estava cuidando dos gêmeos, ligou para Kateh, porém ela estava no trabalho, Rosa estava fotografando na Europa e Íris estava no restaurante. Apesar de a última estar ocupada na cozinha de seu estabelecimento, Maria Clara sabia que ela poderia arrumar um tempinho pra jogar conversa fora.
Dirigiu por alguns minutos até chegar ao Canto da Gaia, estacionou o coupé em frente ao restaurante, desceu e entrou. Aquele lugar era a cara de sua dona, pequeno e aconchegante, com móveis coloridos e diminutos enfeites em cada canto. Maria Clara se orgulhava em ter contribuído com aquela conquista da amiga. Assim que viu os curtos cabelos castanhos e o par de olhos verdes, Íris sorriu e veio ao encontro de Maria, tirando o avental e o toque.
– Que bom ver você... – abraçaram-se – Estava com saudades, Maria Clara!
– Eu também...
– Venha, – pegou sua mão – vamos nos sentar ali.
A ruiva a puxou para uma mesa do canto, sentaram-se e ficaram batendo papo até que Íris levou a mão ao abdome, fazendo uma careta de dor.
– Aconteceu alguma coisa? – perguntou Maria, preocupada.
– Não... – ergueu a mão – Quer dizer, acho que fiquei menstruada e me deu cólica agora. Vamos ao banheiro comigo, rápido.
Elas levantaram-se e foram até o sanitário feminino. Enquanto Maria retocava o batom, Íris foi verificar sua situação.
– Hum... Fiquei mesmo... – falou da cabine sanitária – Tem um absorvente para me dar? Eu acho que deixei um na minha bolsa que tá lá no armário do escritório.
– Só um segundo.
Maria Clara procurou por sua bolsa, no entanto, nada encontrou, era estranho, sempre carregava um quando estava perto de... Foi então que se deu conta de que não precisou usar um desses há certo tempo. Quanto tempo? Dois, três meses, ou mais?
– Maria Clara? – a voz de Íris a tirou de seus devaneios – Se não tiver, não tem problema, é só você pegar lá pra mim.
Ela abriu a pequena porta e viu uma atônita amiga olhando para sua bolsa.
– A-aconteceu alguma coisa?! Está tudo bem?
– Não... – ela olhou para Íris – É que me esqueci quando foi a última vez que precisei de um absorvente... – riu, sem graça.
– Você acha que pode estar grávida? – a ruiva ergueu uma sobrancelha.
– Que grávida o quê... – fez um gesto com mão, afastando a possibilidade.
– Então você se precaveu de alguma forma?
Ela pensou um pouco antes de responder e acabou ficando quieta, pois a resposta era negativa e não queria aceitar essa possibilidade logo de cara.
– Maria! Como assim?! Espere só um momento que a gente vai descobrir.
Íris pegou o celular e ligou para a farmácia, pedindo um pacote de absorventes e um teste de gravidez. Não demorou muito para que a entrega fosse feita. Após seguir as instruções da embalagem, Maria Clara esperava pacientemente o resultado.
– E aí? – Íris perguntou.
– Ainda não apareceu... Espera, ta mudando aqui. Deu...
Ela prendeu a respiração ao ver o que mostrava a pequena peça de plástico.
– O que significa uma listra vermelha e uma azul? – perguntou ao abrir a porta.
A amiga leu novamente o texto da caixa e sorriu abobalhada para Maria Clara. Não foi preciso dizer nada, ela logo soube qual era o resultado. Mais uma vez elas se abraçaram e a menor fez de tudo para segurar as lágrimas. Não tinha planejado, porém não tinha feito nada para evitar uma possível gravidez.
– Como será que ele vai reagir? – perguntou tensa.
– Não eram vocês que sempre vinham com este assunto? – Íris brincou – Castiel suava frio só de ouvir a palavra, mas Dimitry, não... Fique tranquila, ele vai explodir de felicidade...
– Espero que sim...
– Claro que vai, sua bobinha. Agora vá, – ela lhe deu um tapinha no ombro – vá contar logo pra ele!
Nervosa, ela despediu-se e foi até seu Audi A5, onde ficou sentada por alguns minutos antes de dar a partida. Dirigiu vagarosamente enquanto sua mente vagava pelos cantos mais obscuros da maternidade. Tinha muitas dúvidas e principalmente não sabia se seria uma boa mãe, já que a sua não foi um exemplo com o passar do tempo. Será que Dimitry realmente ficaria feliz ou ele poderia querer esperar mais um tempo?
Adentrou aos portões da mansão, percorreu toda a alameda, parando em frente às escadas. Foi diretamente para o quarto, onde pode pensar com um pouco mais de clareza. Os enjoos matinais, a amenorreia, as mudanças de humor, o apetite acentuado... Tudo falava a favor da gravidez e ela não fora capaz e perceber. Sua vida estava num ótimo momento e um filho só viria a acrescentar, certo?
Por volta de 19:00h Dimitry finalmente chegou, ficou sabendo onde a esposa estava e foi ate lá. Ao passar pela porta, viu que ela estava encolhida em cima da cama, como uma criança assustada. Calmamente, foi até ela e sentou-se ao seu lado.
– Amor, está tudo bem? – perguntou ao tocar em suas mãos.
Ela fez que sim com a cabeça e depois que não. Dimitry riu e falou:
– Você pode me contar o que houve?
– É que... Assim... – colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha – Eu... Nós... Eu acho que... – suspirou – Dimitry, – fitou seus olhos – ainda não é oficial... Mas... Eu acho que estou... Grávida. – sorriu hesitante.
Ele abriu e fechou a boca algumas vezes, bem como os olhos até ser capaz de falar:
– V-você tem certeza?
– Então... – passou a mão na nuca – Não, porque só fiz o teste da farmácia. Queria te falar antes de ligar pra Dra. Sophia.
– Não acredito... Marie Claire! – ele sorria – Meu Deus! – levou a mão à boca – Estou tão... Feliz!
Abraçou a mulher e a beijou, repleto de felicidade e alegria.
– Você me faz tão feliz! – beijou-a novamente – Não estou acreditando! – levantou-se – É sério?
Ela anuiu e Dimitry a pôs de pé, fazendo-a rodopiar pelo quarto. Já tontos, deixaram-se cair sobre a cama, rindo. Maria acariciou o rosto do amado, que lhe beijou o dorso da mão.
– Eu te amo. – falou ao afagar lentamente suas costas.
– Tanto quanto eu? – perguntou, lânguida ao brincar com os botões de sua camisa.
Mais uma vez, Dimitry apoderou-se dos lábios da esposa, num beijo terno e suave, demonstrando todo seu afeto. Suas mãos se incumbiam de acariciar o delgado corpo de Maria Clara enquanto retirava suas vestimentas. E assim, calmamente, aproveitando cada sensação que despertavam um no outro, amaram-se.
Na tarde seguinte, uma consulta com a ginecologista de Maria Clara já estava marcada. Dra Sophia estudou junto com Maria no Instituto Francesca de Albuquerque, um internato apenas para meninas. Mesmo depois de tantos anos passados, as duas ainda mantinham contato. Chegando ao consultório, Maria Clara e Dimitry sentaram-se na sala de espera muito ansiosos, apesar de não terem planejado, ansiavam por aquela vidinha.
Durante a consulta, Dra. Sophia fez perguntas pertinentes à vida de Maria Clara, como a data da última menstruação, fez o exame físico e por último, solicitou exames laboratoriais e fez algumas recomendações.
– Mas fique tranquila, – sorriu a doutora – vai dar tudo certo. Eu realmente espero que você esteja grávida.
– Eu também, Dra Sophia... – Dimitry acrescentou e todos riram.
Na manhã consecutiva, os exames foram realizados e após alguns dias souberam do “resultado oficial”, Maria Clara está grávida e dentro de alguns meses a casa teria um novo pequenino habitante. Independente do se.xo do bebê, os futuros pais já estavam em êxtase com a novidade, não somente eles, mas também toda a família e amigos.
A gestação de Maria foi calma e sem intercorrências, como Dra. Sophia disse “de risco habitual”. Conforme seu ventre crescia, também cresciam as expectativas, qual seria sua primeira palavra, quando daria o primeiro passo, de quem seria mais chegado, quais seriam suas preferências... Como o bebê em todas as ultrassonografias mantinha as pernas cruzadas, eles não puderam saber se era menino ou menina, todavia a futura mamãe tinha certeza de que seria uma menina.
Maria Clara já estava com 38 semanas de gravidez quando resolveu pintar o quarto do bebê de branco e colocar uns adesivos de bonequinhas. Dimitry achava que do jeito que estava, paredes amarelas com pequenos ursos, estava muito bom.
– Mas ele está quase nascendo, Maria... Assim tá bom... – falou encostado no berço.
– Eu não acho, nossa menina vai preferir bonequinhas. – passou a mão sobre a barriga – Não que os ursos estejam feios, mas sei lá... – sorriu.
– Eu acho que você que prefere bonecas, não o bebê. – virou-se para ver a outra parede – Olha, está muito bonito assim, o bebê vai gostar e se sentir confortável aqui...
Como ela demorou um pouco para responder, ele virou-se novamente e a chamou.
– Eu acho que fiz xixi, mas eu não tava com vontade... – olhou desconcertada para ele.
– Eu acho que isso não é urina... – olhou as pernas molhadas da esposa – Eu acho que a bolsa pode ter estourado. Você tem sentindo cólicas?
– Sim, hoje o dia inteiro, elas vão e voltam.
– Por que não me falou? – passou as mãos nos cabelos – De quanto está o intervalo?
– Ah... Não sei. Ai... Tá vindo uma agora...
Ela se contorceu um pouco e se segurou na beirada do berço, emitindo uns gruídos. Dimitry atento ao que estava acontecendo com a mulher, pegou a bolsa do bebê e assim que a dor passou, puxou Maria pela mão.
– Você acha que estou em trabalho de parto? – perguntou já no corredor.
– Sim, vou ligar pra Dra. Sophia.
Pegou o celular no bolso e continuaram a andar. Foi um pouco difícil para Maria Clara entrar e sair do carro e assim que chegaram ao hospital, foram diretamente para o pronto socorro. Não demorou muito para que a mulher já estivesse no quarto. Apesar das intensas dores que sentia, Maria transbordava de felicidade, assim como Dimitry, pois o momento mais importante de suas vidas estava prestes a acontecer.
Após algumas horas, Maria Clara já estava no centro cirúrgico, deitada na mesa obstétrica, com o marido ao seu lado, segurando sua mão.
– Só mais um pouco. – falou Sophia – Quando vier a dor você faz força, tá?
– Aham... – Maria respirava ruidosamente – Eu vou... AAAAHHHHH!
Dimitry apertou mais forte sua mão, como se pudesse transferir um pouco de sua força para Maria Clara, que ainda gritava. Ela parou um pouco para puxar o ar e voltou a gritar. Isso se repetiu mais algumas vezes até que por fim, um choro estridente se fez ouvir naquela sala. Rapidamente a obstetra cortou o cordão umbilical e passou o recém-nascido para o pediatra que já estava à espera.
Passados longos cinco minutos, o médico voltou com a criança, para que os pais a conhecessem.
– Meus parabéns! – ele falou – É uma linda garotinha.
Inclinou-se um pouco para que a mãe pudesse vê-la e logo que viu, lágrimas escorreram por seus olhos. Dimitry as enxugou e perguntou se podia pegar a filha. Com cuidado, o pediatra colocou a criança em seu colo.
– É linda, Marie Claire... Linda... – falou emocionado.
– E qual vai ser o nome? – perguntou a enfermeira.
Os pais entreolharam-se e sorriram. Foi decidido que cabia a Dimitry a tarefa de escolher o nome, caso fosse menina.
– Anya. – respondeu sem tirar os olhos da esposa – É Ana em russo e significa graça. – fitou a filha em seus braços – Minha pequena graça...


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Notas finais do capítulo

Faz tempo que eu postei esta oneshot no Amor Doce, mas resolvi por aqui também. Espero que gostem.



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