Já era tarde da noite aqui em Tokyo, mais ou menos meia noite e alguns minutinhos.  Jaejoong e eu estávamos no dormitório que sempre ficamos quando agente vem pra cá no Japão, eu estava cochilando no sofá da sala quando ouvi uma voz um pouco exaltada. Claro que os únicos ali eram eu e meu amigo loiro, estávamos promovendo nosso single  - mais isso não era tão importante naquele momento – o que me chamou atenção foi o porque ele tinha se exaltado e com quem?!

 

Me aproximei pé ante pé da porta entreaberta do nosso quarto e o vi sentado em frente ao notebook preto, no qual notei que conversava com alguém pelo microfone embutido no mesmo. Não queria atrapalhar, ele estava tão entretido na tela do aparelho que não notou quando entrei sorrateiramente no quarto escuro, sendo iluminado apenas pela luz da tela. Sentei-me no sofá que ficava entre minha cama e a do Jae onde eu teria uma visão boa dele e mais ou menos do notebook, porque ele estava sentado de lado. Bom! Sei que é feio ficar espiando, mais alguma coisa me dizia que eu deveria ficar por perto, talvez um pressentimento ou sei lá.

 

Ele ficou um tempo calado e eu só observando, mais ainda não tinha descoberto quem era a pessoa com quem ele falava, pois a pessoa do outro lado da tela parecia muda também, ou de repente havia se levantado para fazer algo. E acabei constatando que estava certo na segunda opção.

 

- Nossa você demorou hein – reclamou Jaejoong.

 

- Desculpa Jae, mais eu precisava atender a ligação sobre a gravação de amanhã – respondeu a pessoa que imediatamente reconheci a voz.

 

Era Yunho! E não sei por que eu não estava surpreso.

 

- Tudo bem Yun – soltou um suspiro.

 

- Mas eu queria saber o que custa você cumprir o que promete. – ele continuou, e pelo tom de voz parecia irritado.

 

- Desculpe-me, mais nem sempre posso cumprir a risca tudo.

 

- O QUE? – se exaltou e eu tomei um susto pelo seu grito repentino, mais continuei em silêncio observando.

 

- Não precisa gritar também – falou exasperado meu amigo do outro lado da tela, pelo menos parecia pela voz, já que eu não tinha uma visão da mesma, mais pude constatar que se falavam pela web cam.

 

- Yunho... Porque você sempre faz isso? Você diz que vai cuidar de seu corpo e cai desmaiado na filmagem por conta de contrações de músculos faciais? E você ainda diz que não pode cumprir a risca tudo? – disse irritadiço.

 

.... – Pelo que parece Yunho permaneceu em silêncio.

 

- Você sempre se esforçando tanto e esquecendo que não é de ferro... – Jae hesitou em continuar e pude ver na sua expressão que ele estava muito chateado e preocupado.

 

Eu também fiquei quando soube o que acontecera com nosso amigo lá na Coréia, mais depois fiquei aliviado ao saber quando Junsu me ligou dizendo que tudo não passou de um susto. Mas pude ver que não era assim que nosso amigo loiro aqui pensava e tinha dó do moreno pela bronca que estava levando. Mas Jae sempre era o mais preocupado com todos, chegava exagerar algumas vezes e isso era uma das coisas que eu mais admirava nele, sua preocupação genuína por nós. Isso aquecia nossos corações.

 

- Mas eu estou melhor, não foi nada grave Jae – Meu amigo tentou amansar a fera que agora havia abaixado a cabeça e aquilo me preocupara.

 

Quando Jae ficava cabisbaixo assim, ou ele iria explodir tudo de uma vez em cima de Yunho, ou iria quebrar algo, já até conhecia essa leitura corporal do meu amigo irritadinho.

 

Mas o que aconteceu a seguir foi uma surpresa tanto pra mim quanto para Yunho do outro lado da tela.

 

- Mesmo assim... – sua voz saiu trêmula – você tem idéia de como eu fiquei quando eu li isso na net?  Mesmo na coluna do nosso site dizendo que não havia sido nada grave meu coração ficou apertado, me senti mal por que eu queria esta aí ao seu lado e... – ele voltou a ficar em silêncio e o vi fungar.

 

Droga! Ele estava chorando e aquilo me deixava angustiado e com vontade de bater no Yunho agora, mais resolvi continuar na minha por enquanto.

 

- Jae? Você ta chorando? – perguntou surpreso.

 

Claro idiota o que você acha?

 

- Y...unho – sua voz estava trêmula e embargada pelo choro.

 

- Por favor, não faz isso comigo – disse um Yunho aflito – Se continuar chorando eu vou acabar chorando também, não quero te ver triste.

Jaejoong levantou o rosto e puder ver seu belo rosto manchado por lágrimas que ainda desciam abundantemente, e aquilo estava cortando meu coração. Aposto que o de Yunho também.

 

- Você sabe o quanto eu amo vocês e me preocupo não sabe? – disse agora olhando fixamente para a tela.

 

- Sei... m-me..des..culpe – sua voz saiu soluçante.

 

Droga de novo! Agora tinha dois amigos se debulhando em lágrimas e aquilo iria acabar me fazendo chorar também, mas me segurei. Estava parecendo um dramalhão mexicano.

 

O loirinho levantou sua mão esquerda e tocou a tela de forma carinhosa, como se tivesse acariciando o rosto de alguém com as costas da mão. Aquela cena me emocionou e o que ele iria dizer em seguida mais ainda.

 

- Não chore meu Yunho... meu doce e amado Yunho – sorriu – Eu te amo tanto, quando li que tinha ido ao hospital era eu quem queria estar lá do seu lado, era eu quem queria ter passado a noite do seu lado zelando por você. Você e os meninos são minhas jóias preciosas e não suportaria que nada de grave viesse acontecer com vocês.

 

- J-jaee ... – Pude ouvir que Yunho soluçava e tentava fazer um esforço em vão para sua voz não sair trêmula.

 

- Eu ainda não terminei... – interrompeu - Eu sinto sua falta quando ficamos muito tempo sem nos vermos, tanta que meu coração chega a doer ás vezes. Quando sei que você se machuca eu sinto uma dor, como se você fizesse parte de mim e fico angustiado quando não responde meus sms. Isso dói Yun... Você é minha outra metade, sabe neh? Eu queria muito te abraçar agora, cuidar de ti e te beijar até faltar ar.

 

Eu não pude deixar de sorrir ao vê-lo falando desse jeito e do tom avermelhado que tomou sua pele apesar da pouca luz, pude o ver corar. O relacionamento dos dois não era nenhuma novidade pra nós do grupo, mas confesso que nunca tinha visto o Jae se mostrar tão sensível e carinhoso como estava sendo naquele momento. Não que ele não o fosse, era com todos nós e principalmente com Yunho. Mas ele dizer assim abertamente para o moreno não era usual, já que a maneira dele demonstrar seu amor era mais em atos do que em palavras.

 

- Ahh meu amor... É a pessoa mais incrível que já conheci em toda minha vida. Eu não sei se mereço tanto amor, mais suas palavras me deixam feliz e triste ao mesmo tempo. Eu quero não ter que ficar te preocupando assim, ver você magoado me magoa também e isso me deixa triste. – disse já com a voz recomposta.

 

- Então por favor se cuida, por você, por mim, por nós mor.

 

Ele continuava com a mão na tela, como se assim realmente pudesse tocar a face de Yunho.

 

- Eu vou amor... Eu te amo muito e queria poder estar aí com você também. Mais eu prometo que quando você voltar vai ver um namorado saudável, é o mínimo que posso fazer por te feito você chorar.

 

Era notável a melancolia em sua voz. Como eu queria poder fazer alguma coisa, mais o que poderia? Só torcer para que voltássemos logo para nosso país de origem e esses dois matassem todas as saudades possíveis e ambos se curassem.  Por mais que eu tentasse consolar o Jae, sei que era de Yunho que ele precisava.

 

- Não fica assim mor, eu acredito em você e se chorei é porque estou um pouco sensível ultimamente, você sabe neh?... E  afinal eu te fiz chorar também – sorriu sem graça e eu sorri junto.

 

- Eu sei amor, por isso queria estar aí com você, mais infelizmente não é possível. Mas quando você voltar nós vamos matar toda saudade e carência ta bom?! Sabe que és único não é?

 

 

Jaejoong assentiu e sorriu carinhosamente -  Uhum... eu sei, você também é único Yunho... Agora vou deixar você descansar, também preciso dormir. Boa noite mor e sonhe comigo.

 

 

- Sonharei certamente Jae, sonhe comigo e deixa um abraço no Youchun por mim.

 

- Deixou sim – ele se inclinou e beijou a tela – Te amo.

 

- Também te amo. Não se preocupe amor.

- Ok!

 

- Me prometa amor?

Suspirou.

 

- Por favor Jae...

 

- Ok! Eu prometo que vou tentar não me preocupar tanto.

 

- Tudo bem! Então até breve amor.

- Até mor.

 

Continuei ali no sofá quietinho até o ver desligar a webcam e em seguida desligar o notebook, ele suspirou mais uma vez encostando-se na cadeira. Acho que agora era a hora de revelar minha presença ali.

 

Levantei-me do sofá e me aproximei vagarosamente da cadeira pondo minhas mãos em seus olhos, o que de certo o fez se sobressaltar e soltar um grito agudo.

 

- Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... Chuniie que susto.

 

- Ahhhh!! Não precisava me deixar surdo também – coloquei os dedos nos ouvidos.

 

- Desde quando você está aqui no quarto hein? – indagou desconfiado.

 

- Desde muito tempo hehehe – sorri amarelo, mas ele não pode ver pela escuridão.

 

E só aí fui me dar conta de que estávamos no escuro, só não estávamos no breu total por conta da luz da lua que invadia o quarto pela janela aberta.

 

- Deixe-me acender essa luz – fui até o interruptor perto da porta e depois me voltei para meu amigo.

 

- Hum... você tava espiando minha conversa neh? – ele levantou da cadeira fingindo aborrecimento e deu um tapa na minha testa. O que me fez sorrir.

 

- Sim – afirmei com a cara mais deslavada do mundo – mas eu fiquei preocupado quando o escutei falando alto, e daí vim ver o que acontecia. Desculpe – me.

 

- Ah para com isso, você é meu melhor amigo e agente não esconde nada um do outro mesmo – ele sorriu e beijou meu rosto.

 

- Eu sei... tava só querendo fazer média hehehe!! – ele bufou e jogou o travesseiro da minha cama na minha cara.

 

- Mais você me viu chorando neh? – afirmei com a cabeça e me aproximei segurando sua face com ambas as mãos em sinal claro de preocupação.

 

- Hm... – murmurou.

 

- Você esta bem Jae? – perguntei mesmo sabendo da resposta.

 

- Não! Mais vou ficar, tenho que ficar neh... por mim, por nós, por todos. – ele me sorriu tristemente.

 

Eu o puxei para mim e o abracei forte, ele retribuiu e encostou a cabeça no meu ombro,  afaguei seus cabelos. Ficamos assim calados e abraçados por um certo tempo, até que o levei para cama ao lado da minha, tirei seu tênis e o cobri com o fino lençol branco.

 

- Qualquer coisa to aqui – disse e beijei sua testa já me afastando indo fechar a janela para depois cair na cama.

 

- Obrigado chuniee. Boa noite! Te amo. – disse me fitando e depois fechando os olhos para dormir.

 

- Boa noite Jae!! Também te amo – me virei para fitar melhor seu rosto sonolento. Mais algo ainda me incomodava, precisava dizer algo, mas não sabia ao certo o que.

 

- Jae?

 

- Hum?...- resmungou sonolento.

 

- Não se preocupe tanto com o Yunho, ele sabe se cuidar. Ele se ama e principalmente... Ele te ama.

 

- Eu sei. Obrigado mais uma vez – o vi sorrir de forma sincera, mesmo que ainda de olhos fechados.  Aquele sorriso deixou meu coração mais confortado.

 

Bocejei e finalmente fechei meus olhos tendo a certeza de que tudo ficaria bem, que logo voltaríamos pra casa e que meu amigo voltaria para os braços daquele que ele tanto ansiava e amava.

 

 

~ The End ~