1 de Maio de 2125

David Briel sorria enquanto o primeiro treinamento da semana começava. Ele e Isabelle deviam apertar um botão vermelho no meio de uma espécie de sala onde pequenos canhões disparavam bolinhas de tinta neles e o chão girava. Ele havia estudado como ganhar isso por semanas, era apenas uma questão de percepção. David ensinou Isabelle como ganhar e seria fácil impressionar os cientistas.

– Preparados? - perguntou o cientista Wiggin.

– Sim - gritou Isabelle sorrindo para David que sorriu de volta. O chão começou a girar e Isabelle já tinha ido para o chão só que dessa vez de propósito, ela começou a se rastejar abaixo da linha de tiro das bolinhas de tinta em direção ao botão, mas ela não deveria aperta-lo. Ela deveria puxar David para ficar a sua frente e ele deveria apertar o botão.

Era esse o plano.

1 de Maio de 2149

David estava farto dessas lembranças. Sempre lhe trazendo dor. Ele não gostava de se lembrar de Isabelle e pensar o que poderia ter feito para impedir que ela morresse. Bom ele não poderia fazer nada. Foi tudo que os médicos disseram. Que isso acontecia com qualquer um.

Um mar de cabelos castanhos escuros o impediu de continuar andando. Melanie. Ela tinha esbarrado nele.

– Melanie - ele disse e ela quase saiu correndo. Quase. Se ele não tivesse segurado seu braço esquerdo com força seus longos dedos agarrando seu pequeno pulso formando um torniquete, seus dedos se sobrepondo - Eu preciso falar com você.

– Eu não tenho nada para falar com você - ela disse com raiva.

– Por favor.

28 de Agosto de 2132

Ela era simplesmente perfeita aos olhos de David. Tudo nela. Sua inocência, seu otimismo. Seu incrível poder de se comunicar com os animais. Seu corpo perfeito. Seus cabelos que caiam em cachos no fim de sua cintura. Seus lábios volumosos que ele adorava beijar. Isabelle era a garota perfeita para David e ela sentia o mesmo por isso a primeira noite deles juntos foi tão especial.

Os dois se amavam mais do qualquer coisa. Apesar de serem proibidos de terem relações amorosas entre si os cientistas e líderes do Instituto não podia simplesmente obriga-los a parar de se amar.

Isso seria impossível.

1 de Maio de 2149

– Você tem dois minutos.

David respirou fundo e começou a explicar toda sua historia com Isabelle, o rosto de Melanie foi se suavizando ao ver como o rosto de David mudava quando ele falava sobre Isabelle. Ele parecia completamente triste ou decepcionado. Como se pudesse ter feito alguma coisa para salvar essa tal de Isabelle em alguma coisa que a fez se perder.

1 de Maio de 2133

Isabelle gritava de dor enquanto a enfermeira limpava o suor em sua testa e David segurava sua mão fingindo não sentir a dor em seus dedos graças a força que Isabelle usava para segurar a mão do amado.

– Empurre Isabelle - disse o médico do instituto - Empurre.

Isabelle respirou por dois segundos antes de voltar a gritar e a empurrar seu bebê para fora de seu corpo. O médico olhou assustado para as enfermeiras presentes e elas souberam o que ele quis dizer. Isabelle estava perdendo muito sangue. Muito.

Isabelle continuou gritando e todos dentro da sala poderiam jurar que ouviram uma matilha de lobos uivar para ela. Isabelle sabia o que eles estavam dizendo. Eles diziam "Cuidado Isabelle, você deve esperar seu bebê nascer para ir. Você não tem muito tempo. Nós te amamos"

Ela gritou mais uma vez e de repente toda sua dor sumiu, mas ela ainda se sentia fraca. Isabelle olhou com o resto de sua força para um bebê ensanguentado que o médico segurava.

– É uma menina - ele disse e entregou o bebê para David que o segurou e sorriu mostrando para Isabelle que tinha seus olhos opacos e seus batimentos cardíacos fracos. Uma das enfermeiras pegou o bebê e levou até a balança onde o pesou, limpou e o deixou perfeito.

– Isabelle - David disse - Isabelle!

Uma das enfermeiras fechou os olhos de Isabelle e empurrou David para fora. Ele estava desesperado. David se sentou ao lado da porta e abraçou seus próprios joelhos enquanto começava a chorar.

Ela estava morta.

O amor da vida dele morreu.

Morreu ao dar a luz a uma filha dele.

David se sentia um lixo. Queria destruir a si mesmo, mas... Sua filha precisava dele. Ela era a única coisa que restou de Isabelle. Ele precisava dela. Assim como ela precisava dele.

1 de Maio de 2149

– Então Jason não é meu irmão? - Melanie perguntou com um nó na garganta e os olhos marejados depois de ouvir a história de David.

– Não, quando eu fui recrutado como agente eu fui informado que não poderia mais criar você então eu precisava de alguém para cuidar de você e foi quando eu me lembrei de Jason, você tinha apenas três anos então eu sabia que você não iria se lembrar de mim cuidando de você o que tornou tudo mais fácil.

– Eu me lembro de você - ela disse com a voz embargada - Eu tinha alguns sonhos com você.

10 de Maio de 2133

David colocou a mão atrás da cabeça de sua filha e a outra em suas pernas a segurando como a enfermeira lhe ensinou.

– Ela precisa de um nome David.

O homem olhou para o rostinho da filha e sorriu ao perceber o nome perfeito para ela.

– Melanie.

1 de Maio de 2149

– Eu sou parecida com ela? - Melanie perguntou - Com a minha mãe.

– Sim, você até herdou o poder dela - David sorriu ao ver a careta de confusão no rosto de Melanie - Você é capaz de se comunicar com animais. Nunca se perguntou por que toda vez que você quer que um animal se afaste de você ele se afasta se você falar diretamente com ele?

– Não - Melanie engoliu em seco ao ver Khaos alguns metros atrás de David segurando uma arma que ele provavelmente roubou de algum guarda - É verdade? Você não está mentindo para mim?

– Sobre o que?

– Você é o meu pai? - Khaos fez uma cara de espanto e gemeu de frustação ao perceber que Melanie ia fazer merda.

– Sou.

– Mas você o matou. Você matou Jason.

– Ninguém te contou mesmo não é Melanie?

– Não me contou o que?

– Jason está vivo.