Hurricane escrita por Iasmin Guimarães


Capítulo 5
Minha mão é pequena, mas meu tapa dói.


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos novos leitores, uhu lol



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–Vocês estão sabendo que vai ter uma festa de despedida amanhã, certo? –Pergunta Nicolas, um amigo de Mateus.
No momento estamos em uma praça perto da minha casa, eu e alguns conhecidos da escola que moram perto de mim.
–Despedida do quê? –Pergunta Stephany, confusa.
–Das férias, claro! –Responde Matt.
–Oh, não. Nem me lembrem de fim das férias. Acho que vou ter que voltar a escola amarrada. –Digo com a voz mais sofrida que consigo.
–Não seja tão dramática, Marina. Ainda temos as férias no meio do ano. –Diz Fernanda.
–Daqui a meses! Eu não vou aguentar até lá.
–Pelo menos vamos voltar a ver umas gatinhas. –Diz um garoto que não me recordo o nome.
–Pra que mais gatinhas? Tem todas nós aqui da rua. –Diz Nicole, uma menina que estudou comigo ano passado, rindo.
–Miau miau miau. –Tento imitar o miado de um gato, sem sucesso.
–Tradução do que a Mari disse: Já tenho dono. –Diz Nicolas em tom de indireta.
–De quem você fala, Nicolas querido? –Pergunto.
–Do Mateus! –Respondem Nicolas, Stephany, Fernanda, Nicole e o garoto que não me lembro o nome juntos para caírem na risada logo depois.
–Que absurdo, gente. Nós somos só amigos. –Digo.
E para dar ênfase no que falo puxo Mateus para um abraço de lado.
–Sim, como best friends. –Diz Matt, tentando forçar um sotaque na parte em inglês, sem sucesso.
–Quase irmãos. –Completa Fernanda com um sorriso irônico.
–Ai meu Deus, está rolando um incesto aqui?! –Pergunta Nicolas enquanto força uma expressão assustada, atraindo algumas risadinhas, mas antes que alguém o responda David aparece no grupinho.
–Só pra constar, Mateus: Seu inglês é péssimo, percebi a pronuncia errada lá do outro lado da praça. –Ele fala enquanto se senta em um banco perto da gente.
–Oh, o gringo resolveu dar o ar da sua graça, isso mesmo? –Pergunta Matt.
–Eu não consideraria “gringo” uma ofensa, muito pelo contrário. Acho melhor você inventar outro apelido, Matt. –Diz Nicole se aproximando de David. Meu Deus, ela não perde uma! –Aliás, prazer.
–O prazer é todo meu. –Fala David com uma piscadela. Quase sinto vontade de rir da bizarrice daquela cena.
–Enfim, acho que você já conhece a maioria de nós, David, mas vou apresentar de novo já que nossa amada Nicole só apresenta a si própria. –Fala Nicolas olhando pra Nicole no final da frase. –O Mateus você já conhece, hm... Aquela ali é a Mari, Stephany, Fernanda... Do lado dela está o Raffael. A Nicole você já conheceu também e, bem... eu sou o Nicolas.
Acho que as apresentações não eram tão necessárias considerando que o David já deve conhecer todo o bairro a essa altura. Impressionante como ele faz amizade rapidamente.
Nos minutos seguintes Nicolas explica como vai ser a festa do dia seguinte e então todos vão para suas devidas casas.
Acabo decidindo não entrar em casa e fico apenas sentada na calçada da minha casa mexendo no celular. É impressionante como fica bem mais fresco quando está quase anoitecendo, é uma sensação maravilhosa. De repente, sinto uma presença ao meu lado, de início acho que é o Mateus, mas quando viro para olhar percebo que é David. Não sinto vontade de provoca-lo, então apenas ajo normalmente.
–Olá. –Digo.
–Oi. O que faz aqui sozinha? –Pergunta ele.
–Estou tomando uma ar, faz bem de vez em quando. –Digo, guardando meu celular no bolso. –E aí, gostando do pessoal daqui?
–Sim, todos bem receptivos. Só sinto medo de errar nome de um ou outro, só nesses últimos dias já conheci umas cinquenta pessoas. Não está fácil pra minha memória.
Rio imaginando como é pra ele.
–Ah, você está se saindo bem. Apesar de um pouco idiota, é simpático. Se eu estivesse no seu lugar estaria ferrada, sou muito antissocial em lugares que não conheço. Aposto que ficaria trancada em casa até ser obrigada a ir fazer algo na rua e talvez aí eu fosse conhecer uma pessoa ou outra. –Digo com sinceridade.
–Ah, não acredito. A menina que brigou comigo no primeiro dia que falei com ela está se fazendo de tímida? Oh, Deus. –Ele diz com um drama exagerado.
–Acho bom você ficar quietinho antes que leve uns tapas. Minha mão é pequena, mas meu tapa dói. –Ameaço rindo. –E eu não disse que era tímida, disse que era antissocial. E não aqui, digo em lugares que não conheço. Aqui eu falo com todos, fui obrigada a isso, até porque nasci aqui.
–Entendo, eu acho. Mas também é bom conhecer novos lugares, novas culturas, novas línguas... Tirando a parte de se sentir um alienígena, é claro.
–Você se sente um alienígena aqui? Porque não parece. –Rio. –Digo, você fala tudo corretamente e até usa umas gírias de vez em quando, e sabe até jogar futebol! Só o seu sotaque que te denuncia, mas acho que isso não é um problema. A maioria das meninas gostam.
–Você gosta? –Ele pergunta com um sorriso.
–De sotaques? Ah, eu adoro. Acho muito engraçado o fato de uma palavra poder ser pronunciada corretamente de várias formas diferentes.
–Sabe, você é bem legal quando não está me xingando.
–E você é até legalzinho quando não está me irritando.
–Legalzinho? Poxa, achei que fosse pelo menos um pouco legal. –Ele diz se fingindo de ofendido.
–Nem vem. Ainda não perdoei suas zoações e suas falsas especulações.
–Bom, pelo o que eu percebi não sou o único daqui a ter “falsas especulações”, sou? –Ele fala me encarando.
–Não, mas isso não vem ao caso.
–E qual é o caso?
–Não te interessa.
–É impressionante como você se estressa facilmente. –Ele diz rindo.
–Olha, estou tentando manter uma conversa civilizada aqui, faça o favor de colaborar.
–Tudo bem, tudo bem.
–As brincadeiras dele não te incomodam? –Ele pergunta depois de um tempo.
–Não, eu já me acostumei. Se você tivesse o conhecido um tempo atrás saberia que ele sempre foi assim.
–Ele sempre ficou roubando beijos seus? E você acha isso completamente normal? –Ele pergunta desconfiado.
–Ah, não. Eu não sou uma peguete do Mateus que ele fica quando tem vontade, tudo bem? –Digo revoltada. –E ele começou com isso depois que você chegou, na verdade. Começou naquele dia que você ficou nos encarando e ele achou legal me deixar constrangida.
Ele ri.
–Acho tão engraçado quando você fala “peguete”, isso parece nome de comida italiana.
–Verdade! –Concordo começando a rir logo em seguida. –Me lembra espaguete.
–Então quer dizer que você não é o espaguete do Mateus? –Ele pergunta rindo junto comigo.
–Ai Senhor! Quantos anos nós temos mesmo? Cinco?
–Na verdade eu daria essa idade mesmo pra você, sabe... Com essa altura e carinha de bebê.
–Tinha que falar alguma coisa pra acabar com a graça... –Comento revirando os olhos.
–Se te consola, também me zoavam por causa da minha altura nos Estados Unidos.
–Oi? Mas você não é baixo! Deve ter... 1,70? –Pergunto enquanto tento imaginar sua altura.
–Exatamente. –Ele diz rindo. –Como você sabe?
–Ah, eu gosto de olhar as pessoas e imaginar quanto elas tem de altura.
–E você, quanto tem? –Ele pergunta.
–Ah, não. Se eu falar você vai me zoar.
–Eu já te zoo, qual a diferença?
–A diferença é que de “baixinha, pequena, anã” vai passar pra “baixinha de menos de 1,60” e coisa e tal. E, sério, isso não é legal.
–Você é dramática demais, Mari. Qual o problema em ser baixinha?
–Não veria problema algum se não me zoassem por causa disso.
–Só zoam porque você se importa.
–Só me importo porque zoam.
–Meu Deus, você não existe!
De repente, percebo que David não é o intrometido metido a sabe-tudo que achei que ele era. Um pouco metido? Sim. Intrometido? Também. Chato? Ah, com certeza. Mas também é um garoto legal.


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Notas finais do capítulo

Capítulo curtinho, mas espero que tenham gostado.



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