Sorria! Você está sendo observada! escrita por Child of Lilies


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Esta história teve origem quando eu estava na aula, entediada (não façam isso crianças!).
Uma garota, amiga da filha do amigo do meu pai (relação complicada esta, hein!) sempre me olhava feio e nunca a vi sorrindo. Nem uma vez! E foi assim que tive esta ideia.
Espero que gostem :)



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Minha vizinha é uma mulher séria, bem sucedida e mais importante: solteira. Sempre que a vejo, ela me parece brava ou triste. Nunca a vi sorrir e coloquei na cabeça que veria seu sorriso antes de morrer...

Mas irá demorar até isso acontecer (e sou extremamente impaciente), por isso resolvi bolar um plano para arrancar pelo menos um entortar de boca dela. Abaixo segue algumas ideias que rabisquei em um bloco de notas enquanto estava no banheiro (quer lugar melhor para pensar?):

1) Cócegas;

Fala sério! Vou chegar a casa dela, tocar a campainha e quando ela abrir a porta, fazer cut, cut, cut (isso é uma onomatopeia e não o verbo cortar no inglês)? Se ela não sentir vai ser muito frustrante!

2) Piadas;

Nunca conversei com ela antes. Nem sei se ela sabe da minha existência. Imagina chegar já contando piadas? Ela vai me achar a pessoa mais retardada do mundo! (algumas vezes me acho idiota sim, mas tem gente que me supera).

3) Presentes;

Não sei do que ela gosta. And I don’t have any money!

4) Carta;

“Querida vizinha, gostaria de relatar que a senhorita anda muito séria ultimamente. Poderia dar um sorriso de vez em quando? Por mim?”

Colocar em um lindo envelope perfumado e jogar por debaixo da porta dela.

Não! Além de ser clichê.

5) Flores

Ela parece gostar de flores. Sua casa é cercada por elas. É outra coisa clichê de se fazer, mas não se for feita com classe! Hahahaha!

Cheguei à floricultura, olhei para o senhorzinho no balcão e falei:

- Quero o buquê mais lindo que o senhor tiver!

Pra quê fui fazer isso...?

Foram 500 contos. Quinhentos contos!

Tirei o dinheiro da carteira, segurando as lágrimas que teimavam em vir à tona, e entreguei para o extorquista disfarçado de velhinho simpático.

Pelo menos um sorriso vale mais do que quinhentos contos...

Voltei para casa, segurando as rosas azuis com todo o carinho e amor que tinha. Foi um caos mantê-las intactas.

Eu sabia que ela fazia os plantões ao anoitecer (sim, ela é médica!) e sempre deixava uma chave reserva debaixo do tapete da porta dos fundos. Vesti minha roupa “ninja” (blusa preta com capuz, gorro preto, óculos de nariz e bigode) e esperei ela sair da garagem com o carro. Corri para o quintal da minha casa e pulei com estilo (lê-se: usando a escada) a cerca de dois metros para a casa dela.

O que não estava nos meus planos é encontrar um inimigo.

Um grande e feroz...!

Yorkshire?

Ri de mim mesma por ter achado aquele projeto de cachorro perigoso. E parece que o bicho não gostou, pois veio me atacar! Fui obrigada a dar uma volta correndo no quintal para conseguir pegar a chave sem ter a bunda da calça rasgada. Uma segunda volta e eu consegui entrar com sucesso na casa, deixando para trás aquele Cerberus em miniatura.

Andei pela casa a procura de um local perfeito para deixar as flores e o recado que escrevi. Confesso que fiquei curiosa e empolgada. Explorei tudo! Até o segundo andar, onde ficava o escritório, o quarto (ela tinha uma cama box de casal!) e um banheiro. Perdi muito tempo fazendo isso e acabei me desviando de meu objetivo principal. Voltei para o primeiro andar.

A mesa da copa era a melhor opção, além de ter uma localização estratégica perfeita! Escolhi o melhor lado da mesa (onde ela pudesse ver logo de cara) e...

Cadê o buquê?

Mal pude acreditar! Eu (em toda a minha inteligência incomum) havia esquecido as rosas azuis e o recado. Passar novamente pelo quintal até minha casa e voltar seria um sacrifício com aquele cão lá. E além do mais... Como irei pular aquela cerca?!

- Como posso ser tão burra!?

Fiquei minutos incontáveis ali, jogada no chão frio. Meu plano infalível (tá, não tão infalível assim) foi por água abaixo...

Mas sempre há esperança e uma ideia passou pela minha cabeça. Subi para o escritório, peguei uma folha de papel da impressora, uma caneta no porta-lápis e escrevi: “Sorria! Você está sendo observada!” Coloquei na mesa e ia embora quando uma voz veio a minha mente (não, eu não sou louca):

- Isso parece uma mensagem de stalker ou de um assassino.

Nenhuma outra ideia me ocorreu para escrever. Ouvi o barulho do carro. Ela havia chegado mais cedo!

- Shit! Logo hoje?!

Corri para a porta dos fundos e aquele cachorro assassino estava a minha espera. Entrei na casa novamente, aos trancos e barrancos sem um dos tênis. Tive que sacrificá-lo para um bem maior: minha sobrevivência.

O som do portão da garagem. Nunca em minha vida estive tão desesperada! Nem nas provas de Física eu ficava assim! Num impulso, praticamente voei degraus acima em direção ao segundo andar. Eu podia ter entrado em qualquer cômodo, mas entrei no quarto dela. E para onde ela se dirigiu depois de entrar em casa? Para o quarto! Pulei pela janela, sentindo-me o Leon S. Kennedy de Resident Evil (só faltou o vidro estilhaçado voando para todo lado). Consegui segurar em um dos galhos da árvore que ficava perto dali. Suspirei de alívio por conseguir tal proeza. Até que um crack...

E despenquei!

Nossa Senhora das Hortênsias não deixou que eu me esborrachasse no chão.

A coisa mais burra que fiz na vida foi me cortar com macarrão instantâneo cru (pior seria se eu tivesse me cortado com ele cozido), a segunda foi invadir a casa da minha vizinha. Tive que engessar o tornozelo que torci na hora que cai da árvore, gastei quinhentos contos e quase fui devorada viva pelo projeto de cão demoníaco! E não consegui o que queria.

Enquanto bebericava meu chá e assistia a uma comédia romântica que passava na TV, registrei uma nota mental: “não invadir a casa de vizinhas bonitas, dando uma de ninja”. A campainha tocou e foi um sacrifício sair de meu confortável sofá para abrir a porta. Fui mancando até lá, quase me arrastando, e adivinha quem era? Minha vizinha!

- Pois não? – tentei parecer o mais natural que pude, esboçando um sorriso. Ela com certeza pensou que eu estava com câimbra facial.

- Eu devia denunciá-la por invasão de domicílio!

Como ela sabia que fui eu?! Quem contou para ela?!

Engoli em seco e permaneci calada. Ela cruzou os braços e franziu o cenho.

- Não vai se explicar?

Explicações nunca foram o meu forte.

- Eu só queria fazê-la sorrir...

- Invadindo minha casa e destruindo minhas hortênsias?

- Elas me salvaram. – falei sem pensar e ela ergueu a sobrancelha. Ter boca grande é o caos! – Pelo menos deixei um recado...

- Este? – tirou o papel dobrado do bolso da camisa – Parece-me que está infringindo minha privacidade. – encolhi os ombros. Game Over. Ela estava furiosa comigo!

- Era para eu ter deixado as rosas, mas acabei esquecendo...

- Rosas?

Assenti e virei-me para buscá-las. E o que eu vejo? Meu gato de estimação comendo as benditas rosas! Nem sabia que gatos comiam flores! Corri (lê-se: pulei com uma perna) para salvá-las, mas já era tarde demais. Meus quinhentos contos estavam na barriga do meu gato, sendo digeridos.

- Ótimo! – apoiei-me na mesa, tentando segurar a vontade de me jogar de um prédio (se tivesse algum por ali). Olhei para as pétalas espalhadas sobre a mesa e uma luz! Havia sobrado uma rosa inteira. Peguei-a e voltei até onde minha vizinha esperava com impaciência – Eu não tenho mais o buquê... Mas tenho essa única. Aceita?

Ela me encarou insistentemente e fez algo inesperado: riu. Pegou a rosa azul de minha mão e indagou:

- Que tal um jantar?


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Notas finais do capítulo

Não façam o que a protagonista fez, viu? RsRs
Se eu merecer, deixem um comentário ;)
Até a próxima o/