Daylight escrita por JulySantos


Capítulo 4
Simples ato


Notas iniciais do capítulo

4/11



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– Você veio. - Ela sussurrou baixinho, e ele só sabia o que ela havia falado por que ele leu os lábios dela.

– Eu disse que viria. - Ele disse beijando as bochechas dela... Ela cheirava bem, ele notou.

– Não pensei que viria tão rápido. - Ela confessou com um meio sorriso.

– Nem eu. - Ele confessou baixinho, fazendo com que ela franzisse a testa. - Como você está? Esta se sentindo bem? - Ele sentiu-se um pouco idiota por perguntar aquilo.

– Um pouco enjoada, mas está tudo bem.

Como no dia anterior, ele puxou uma poltrona para perto da cama dela e sentou-se com o corpo inclinado em direção a ela.

– Onde está sua mãe?

– Eu disse para ela ir para casa descansar um pouco. - Ela deu de ombros.

– Você sabe quando vai voltar para casa?

– Talvez amanhã, vai depender do meu pulmão que está querendo morrer. - Ele arregalou os olhos.

– Você esta tendo falência dos órgãos? - Ele perguntou sentindo a garganta apertar-se um pouco.

– É. - Ela tossiu um pouco, e um pouco de sangue escorreu de seu nariz, Edward sentiu uma estranha vontade de chorar, misturado a de vontade de abraçá-la e dizer que ficaria tudo bem.

Ela colocou a mão em frente ao nariz, sem tocar realmente nele, estendeu a mão e pegou uma caixa de lenços, parecendo estar incrivelmente envergonhada pelo acontecido, pegou alguns dos lenços e limpou-se rapidamente, abaixou a mão que estava com o lenço sujo e simplesmente soltou em um pequeno cesto que ficava ao lado de sua cama, justamente para esses pequenos acontecimentos.

– Desculpe. - Ela murmurou ainda envergonhada. Não era nada legal isso acontecer na frente de um homem como Edward.

– Você não precisa pedir desculpas, você não pisou no meu pé. - Ele riu tentando aliviar o clima.

– Isso por que eu estou em uma cama, se não você já teria provado a intensidade de minha pisada. - Ela riu um pouco também, e ele notou que quando ela ria, seu rosto se iluminava, e ao escutar o som de sua leve risada ele esquecia onde estava e por que ela estava ali.

– Quer dizer que você é uma desastrada?

– Assumida, consigo tropeçar até em uma área plana, é um dom. - Deu de ombros, mantendo um sorriso leve nos lábios.

– Eu era um desastrado também, mais quando fiz dezesseis anos, comecei a me interessar por esportes, então tive aprender a me equilibrar e a me mante de pé. - Brincou fazendo-a rir.

– Então você é um esportista?

– Um pouco, gosto de tudo quanto é esporte faz com que eu me sinta vivo, e você gosta?

– Contanto que não envolva bola, força ou qualquer esforço físico, sim eu gosto. – Edward riu com gosto da resposta dela.

– Você é engraçada. – Ela suspirou olhando o sorriso bonito dele, era perfeito, com os dentes branquinhos e no lugar, quando ele sorria os olhos ficavam ligeiramente menores, ela sentia vontade de sorrir quando via o sorriso dele.

–Você mora sozinho? – Ela perguntou puxando o assunto quando o silencio ficou desconfortável.

– Não, ainda não sinto essa necessidade, até tenho um apartamento, que foi presente de dezoito de anos, não quero me mudar de casa ainda. – Deu de ombros.

– Não quer deixar o colo da mamãe? – Ela perguntou, sem fazer piada, era simplesmente uma pergunta inocente.

– É. Minha mãe é uma mulher incrível.

Ele ficou calado por alguns segundos, e quando pensou em falar algo a mais, o seu celular tocou, fazendo uma meia careta, como se não houvesse gostado de ter uma interrupção na conversa.

– Oi Rosie. – Ele cumprimentou a irmã.

Oi, maninho. Onde é que você tá?– Ela questionou-o.

– Hum... Oque que você quer?

– Perguntei onde você está. – Ela repetiu calmamente.

– No hospital.

Hum... E a tal Bella tem alguma coisa haver com isso? – Ele deu um risinho nervoso.

– Não precisa pirar.

Sei, alguém já te disse que você mente super mal?

– Oque você quer Rosie?

Quando você for pra faculdade, pode passar aqui é me dar uma carona?

– Claro, vim com o papai, mas volto pra casa de taxi, e então vamos, ok?

Ótimo, até mais tarde maninho.

– Tchau.

Ele guardou o aparelho no bolso sob o olhar atento de Bella.

Sabe aquele ciúme bobo de alguém que você acabou de conhecer? Pois é.

– Namorada?

– Não, minha irmã, Rosalie.

– Você tem algum compromisso...?

– Ah, não é agora, é só a tarde, quando eu for para a faculdade.

– Você só tem ela de irmã? – Ela perguntou interessada.

– Sim, e você tem irmãos?

– Tenho uma, a Leah, mas ela não mora aqui, está em um intercâmbio na Austrália. – O canto de seus lábios se curvaram levemente, quase um sorriso ao lembrar-se da irmã.

– Sente muita falta dela?

– Demais, ela é minha única amiga de verdade sabe? As vezes algumas pessoas vem me visitar, e ficam completamente desconfortável perto de mim, sem jeito, eu não gosto disso, queria que me tratassem normalmente e tentassem esquecer essa doença que tenho, parece que quanto mais falam do que tenho, mais a doença se faz presente, as vezes eu esqueço do por que estou aqui, ai chega uma pessoa e me faz lembrar o por que, e sempre falando a mesma coisa : Oh, Bella, você é tão jovem para passar por tudo isso, essa doença maldita não irá tomar conta de você. Chega a ser cansativo.

– Enche o saco não é? – Ele disse isso apenas para não ficar calado, já que nunca havia passado por algo assim, o caso mais grave que ele havia tido, foi quebrar a perna aos dez anos enquanto tentava subir em um pé de goiaba.

Ela suspirou sem olhar nos olhos dele.

– O que foi? Aconteceu alguma coisa?

– Acho que não vou sair mais daqui, estou piorando mesmo recebendo os medicamentos.

Ele sentiu uma certa necessidade de abraça-la naquele exato momento, mas com medo de como isso poderia ser interpretado por ela, ele delicadamente pegou em sua mão com carinho.

Em momentos como esse ele não fazia a mínima ideia do que falar, por que tudo parecia inadequado a ser dito.

– Queria poder fazer alguma coisa. – Ele disse baixinho.

– Sei disso, acredite, eu sei disso. Sabe, se eu pudesse pedir qualquer coisa o mundo, eu só pediria uma coisa.

– Para ser curada? – Ele perguntou imaginando que ela fosse assentir, ou que respondesse com um simples ‘’sim’’, por isso se surpreendeu quando ela negou com a cabeça.

– Eu iria querer entender as pessoas.

– Por que?

– Por que eu não consigo entender as pessoas que estão a minha volta, elas sabem que existem pessoas a beira da morte, elas sabem que existem crianças passando fome, e mesmo assim não conseguem dar valor ao que tem, não conseguem agradecer pela saúde ou pela comida... São ingratas e egoístas.

– Mas isso acontece por que temos tudo isso, quando perdemos é que começamos a sentir falta e desejar voltar atrás.

– é como quando perdemos os pais, nós queremos que eles voltem, ao menos para termos a chance de dizer que os amamos, se queria dizer isso poderia ter dito todos os dias ao acordar e encontrá-los. – Ela deu de ombros, e ele agradeceu mentalmente a Deus por tê-la colocado em sua vida.

Uma enfermeira adentrou o quarto sem sequer bateu, e depois envergonhou-se ao perceber que a paciente não estava sozinha.

– Bella...

– Pode me dar um minutinho Célia? – A mulher assentiu e encostou a porta esperando do lado de fora.

– O que é?

– Tenho que ir fazer a quimioterapia.

– Oh, ok. Venho te ver amanhã, tudo bem?

Ela sorriu assentindo.

Ele inclinou-se para dar um beijo nela, e ela virou querendo beijar sua bochecha, o que resultou em um suave encostar de lábios, que fez o coração de ambos bater em um ritmo super acelerado. Mesmo tendo percebido o que tinha ocorrido ele não afastou-se, e ela não virou o rosto para encerrar o contato, ambos fecharam os olhos.

O selinho não evoluiu para um beijo mais profundo, não precisava, tudo o que era necessário ser dito foi falado ali, naquele singelo ato.


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