Break Of Dead #2 escrita por Write Style


Capítulo 3
V3 - Capítulo 2 - Safety Over the Bridge


Notas iniciais do capítulo

Depois de algum tempo difícil para postar, aqui vai o próximo =)



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– Ah, água! – Chris ficou completamente radiante quando chegamos pouco depois ao rio que Dennis ouvira à distância. Pegou logo no seu cantil e quase que escorregava na lama toda da margem para se colocar pelos joelhos na corrente e enche-lo. Não o censuro muito, porque estávamos mesmo a ficar sem água, por isso seria bom abastecer antes de voltar à estrada, como estava planeado.

– Por muito que isto tenha sido uma boa descoberta, temos de continuar. Mais alguns metros para norte e depois voltamos à estrada. – Estava Liza a dizer, mas poucos tomavam atenção. Até mesmo eu a ouvi, mas estava concentrado em levar alguma água na minha garrafa velha de meio litro.

– Aquilo ali é uma ponte? – Comentou Jordan, que subiu a um pedregulho e observava o horizonte. Quando olhei na mesma direção dele, também a vi, cinzenta, robusta e enorme ali ao fundo, algo metade de um quilómetro de distância.

– É mesmo. - Respondi, quando recolhi a garrafa para dentro da mochila após lhe dar uns bons golos nela.

– Ponte? – Marcus estava a fazer uma concha com a mão na testa, de maneira a ver melhor ao longe por cima do sol que por vezes vinha furioso do seu esconderijo entre as fracas nuvens do céu. – Será que a ponte está neste mapa? – Desdobrou o velho mapa entre as mãos, foi passando de centímetro em centímetro. Ainda demorou um bocado a orientar-se. – Será aquela que atravessa a Liberty Road? Aqui… - Apontou, onde Elizabeth e Stan pudesse ver.

– Ao que parece. – Concluiu o pai de Jordan. – Sendo assim nem estamos muito longe de encontrar a estrada. Seguindo a Liberty Road para oeste vamos dar direito à nossa antiga trajetória. – Disse ele e enquanto Marcus continuava a segurar o mapa, foi deslizando o dedo para a esquerda. Vi até onde o seu dedo foi e ainda era um bom bocado.

– Sim, é algo que podemos fazer. Entretanto aquela ponte pode ter carros e carros podem significar gasolina. Se houver casas também podemos procurar por comida. – Anunciou Liza, confiante. A voz dela parecia estar a mudar. Á dias que a força parecia ter diminuído nas suas palavras, mesmo que nem por um minuto tivesse mostrado derrota. Agora finalmente parecia-mos estar a sair daquela floresta sem sentido e a tomar finalmente as rédeas da situação.

Assim que o pé ainda torcido de Allison foi analisado novamente, pusemo-nos a caminho. Ao início estávamos a adquirir um passo cada vez mais acelerado e falo por mim quando digo que estava desejoso de ver aquela ponte e perceber se finalmente voltaríamos à estrada e deixaríamos as florestas e todo aquele lamaçal para trás. Depois de Allison muito timidamente se queixar do pé, voltamos a um passo mais lento, até que Marcus se ofereceu para a carregar nos últimos metros da viagem. A menos de um quilómetro da floresta dar lugar a uma rua aparentemente rudimentar e deserta, a maior parte do grupo preparou-se e precaveu-se para qualquer presença indesejada. E das experiências dos últimos meses, falo em coisas indesejadas mortas, ou vivas…

Elizabeth e Dennis tomaram a dianteira do grupo, ambos com as suas mãos quase que cravadas nas suas armas: Ela com a caçadeira e ele desta vez mais inclinado para empunhar o machado de bombeiro. Marcus ficou do lado esquerdo e Kyle do direito. Mais uma vez fui ignorado e esquecido, como alguém pouco importante do grupo, restando-me quase tropeçar entre as pernas dos restantes que ocupavam uma posição em círculo, no centro.

De qualquer das maneiras o meu bastão de beisebol estava pronto na mão para qualquer eventualidade e mais uma vez a pistola foi deixada para segundo plano, ainda presa no meu cinto.

– Chris, a sério, não precisas de me carregar mais… eu…

– Não há problema. – Respondeu ele a Allison, que agora ia às suas cavalitas. – Nem és assim tão pesada. – Riu-se com gosto, mas ela não. Elizabeth olhava séria para eles de tantos em tantos passos, demonstrando não estar assim tão confortável com toda aquela situação. Mas não falou uma única vez, como Dennis teria feito um milhar de vezes para mandar uma boca, se estivesse naquela situação.

Deixámos a floresta propriamente dita quinze ou vinte minutos depois, quando a terra batida deu lugar ao asfalto e alcatrão da estrada velha de degradada. Dava para ver que mesmo antes da rutura (nome que ultimamente usávamos para denominar tudo o que estava a passar), aquele local não era tratado e arranjado para a passagem de carros, por não ser uma rua principal e de muito trânsito, concluo eu. Os ventos e neves do recente inverno tinham arrastado folhas e entulho da natureza para ali também, deixando muitas vezes aqui e ali, o chão envolvido numa mistura de castanhos e amarelos.

Ainda assim, para uma rua pouco movimentada, o local estava atafulhado de automóveis, uns completamente desfeitos em acidentes em cadeia, outros simplesmente abandonados sem uma única porta por fechar; outros ainda estavam tão intactos que ao olhar para eles ninguém diria que algo se tinha passado com o mundo a seu redor.

– Investiguem os carros. Podemos encontrar algo de útil neles… Quem sabe comida. – Afirmou Marcus, quando baixou por momentos o machado e se aproximou da porta dianteira de um Chevrolet Cruze azulado. E ao contrário de Chris, que se afastou um bocado para deixar Allison no chão segura, todo o restante grupo escolheu algum veículo de entre os muitos que estavam na estrada e começaram a sua rusga.

Eu acabei por fazer o mesmo. Percorri alguns metros mais para norte, já que os mais próximos estavam a ser investigados por Elizabeth e Stan. Houve um que me chamou mais à atenção, preto e cheio de pó. Nunca fui muito bom a decorar marcas de carros e por isso aquela passava-me completamente ao lado. Só sabia que era pequeno, pouco espaçoso, mas até que com algum estilo.

As portas estavam fechadas, mas não foi necessário forçar muito aquela do lado do pendura, para que com um pequeno estalido e ranger, se abrisse sem problemas. O interior estava completamente remexido, sujo e peganhento. Sobressaltei-me ao reparar que estava um corpo no lugar do condutor, mas depois de uma maior observação, consegui ver que não passava de um esqueleto quase no fim de decomposição. Aquele não tinha reanimado como tantos outros que ainda andavam por ai, mas de certa forma cheirava pior que muitos. Tentei suster a respiração por breves segundos enquanto tentava encontrar por ali escondido alguma coisa que nos fizesse falta. Até que os meus olhos se cruzaram com uma lanterna.

Algo bastante útil, já que ultima que tínhamos tido partira-se durante uma rusga por comida á alguns dias atrás e aquela, para além de cheia de pó, parecia à distância em muito boas condições. Entrei um pouco mais no carro, pousando os joelhos sobre o banco e lançando a mão para a frente, em direção à lanterna que estava caída aos pés do condutor morto. Estiquei-me mais um pouco, tentando alcança-la bem perto do pedal da embraiagem. E então o silêncio foi perturbado por um leve gemer.

Antes mesmo de puder raciocinar, já o meu corpo se preparava para fugir, como um instinto adquirido nos últimos tempos, mas o reflexo não fora rápido o suficiente e o espaço também não ajudava nada já que ao ficar sobressaltado, levei a cabeça ao teto e bati nele com força. Uma mão encerrou-se no meu antebraço e voltei a ouvir um grunhido.

Fui burro ao ponto de deixar que um dos mortos me apanhasse tão de perto e agora estava no meio do interior do carro, meio desorientado a ouvir aquele gemer com fome. Virei-me várias vezes e puxei para cima e para baixo, de maneira a tentar largar-me dele, mas a mão ainda parecia forte e não se libertou de mim. No momento em que levei a outra mão para pegar o taco mais agilmente, a outra mão do zombie enterrou-se mais perto do meu ombro, empurrando-me para baixo com uma força bruta. E foi quando o meu corpo embateu num estalido contra os acentos e o travão de mão, que eu o consegui ver bem. Tinha a falta de alguns dentes à frente e a sua cara já pouca carne tinha, mas isso só o tornava mais ameaçador a meu ver. Continuava a torcer-se para a frente, para me abocanhar, mas algum do seu corpo devia estar preso, pois ele não avançava muito para a frente. Mesmo assim estava perto demais do meu corpo.

Puxei para mim o zombie, na esperança que ele finalmente me soltasse, mas nada aconteceu. Levantei o bastão de beisebol para lhe dar com ele na cabeça, mas pelo caminho ele embateu contra o vidro mais à frente e isso fê-lo descair dos dedos e encontrar o maldito buraquinho que fazia entre a porta e o acento do condutor, fazendo-me perde-lo de vista. E num ato desesperado, levei o punho à cara dele, só para me aleijar e deixar o comedor ainda mais furioso e desesperado pela minha carne.

Num compasso de puxa para a frente, empurra para trás, tive de continuar a manter dificultosamente a minha distância dele. Ao olhar em redor, pelos vidros empoeirados todos do maldito automóvel, não consegui encontrar ninguém para me acudir, mesmo que soubesse que eles estariam por ali.

A adrenalina subiu-me pelo corpo acima e com isso, comecei a dar abanões mais fortes, ao mesmo tempo que grunhia pela força exercida, ao ritmo dos gemidos do zombie. Não pode acabar aqui! Merda, não preso nos braços num maldito morto no interior de um caralho de um carro! Não depois de tudo o que ele fez para eu estar aqui hoje…

Quase sem pensar puxei do meu revolver e espetei-o na cabeça do monstro. Primeiro não funcionou, mas depois dei a segunda investida e logo segundos depois a terceira. Foi penetrando na pele rançosa dele, pouco a pouco. A fúria do ataque fez com que com a quinta estocada, ele parasse de fazer qualquer tipo de som. E foi quando deixei de sentir a pressão das mãos dele no meu braço que puxei novamente, libertando-me mais facilmente do que o meu corpo tinha calculado, fazendo-me ir contra o para-brisas.

A respiração não acalmou durante algum tempo, mas nem isso nem as dores do embate me importaram. O que interessava é que eu tinha conseguido escapar.

– Brian!? – Foi pouco depois que ouvi alguém chamar por mim. Kyle apareceu preparado para atacar o quer que fosse, com a faca de mato empunhada na mão. Olhou para o que estava atrás de mim e dava para perceber que estava a contemplar o cenário do zombie morto, dos estofos sujos de sangue, assim como os salpicos que tinham penetrado nas minhas roupas. – Está tudo bem?

– Sim… - Tentei não respirar muito profundamente, de forma a ocultar a minha falta de fôlego. – Ele só me apanhou desprevenido, só isso. Ele não ficou convencido, eu podia ver isso no seu olhar a desviar.

– Esta área está livre por agora. Viste mais algum andante?

– Para além daquele não. – Ainda controlava a respiração, mas foi quando puxei o ombro para trás de maneira a mexe-lo um bocado depois de todas aquelas pancadas, que me veio uma pontada aguda de dor onde antes fora o local onde a bala de um gajo qualquer me penetrou na pele á meses atrás. – Arf! – Levei a mão contrária até ao local, quase sem pensar. Liza tinha feito um trabalho de mérito na extração e no impedir que infetasse, mas por vezes com certos movimentos, voltava a doer, como se ainda lá estivesse dentro acabada de ser disparada. Eu sabia que aquele local nunca mais estaria em perfeito estado novamente.

– Ei, estás…

– Sim Kyle, não fui mordido e estou bem! – Aquela frase saiu-me bastante na defensiva, não tanto por estar chateado com ele, mas devido à dor que ainda sentia no ombro. - São apenas antigas feridas de guerra. – Tentei brincar mais com a minha frase seguinte, para que Kyle não pensasse que eu tinha alguma coisa contra ele. Não falou mais no assunto.

Seguimos mais alguns metros em frente enquanto nos íamos reunindo com o resto do grupo que estava espalhado a investigar a zona. Sempre que um deles se aproximava, trazia sempre boas noticias: o local estava seguro. O último a juntar-se a nós foi Chris, que ficou com a parte mais distante a norte da ponte, vinha a sorrir.

– Isto é fantástico. Encontrei apenas um mordedor no fim da ponte, ali ao fundo. – Apontou para o vazio, no fim da longa ponte. – Existe uma barreira de carros, por isso mais nenhum vai conseguir passar por ali.

– O rio impede que eles passem pelos lados. E por isso só nos teríamos de preocupar com esta zona se quisermos fazer uma paragem por uns tempos aqui. – Comentou Marcus, recostando-se ligeiramente na pedra no limite da ponte.

– Não será difícil fazer uma barreira deste lado também se for necessário. Com algum trabalho… pode ser um bom local para descansar uns dias.

– Eh… Não estou a ouvir bem… - Dennis aproximou-se de Liza, com as mãos em volta de um ouvido. – TU, queres acampar e parar? Tu?!

– E se te fosses foder Dennis?! Claro que eu prefiro continuar, já que estamos com escassez de comida, mas também sei que já não viajo com o Chris apenas, o estado do resto do grupo importa também. A Allison tem o pé torcido, o Stan não tem a nossa idade, sem ofensa – Este consentiu com a cabeça, sem problemas. – E todos nós estamos cansados de andar pela floresta. Este pode não ser o nosso acampamento, mas será a nossa estadia por uns dias, até que consigamos prosseguir sem problemas.

– Concordo com a Liza. – Cheguei-me à frente para falar. Esperava que levassem um bocado em consideração também às palavras de um adolescente. – Deve de haver casas para aquele lado e por isso podemos compor um pequeno grupo para ir procurar o que resta de comida por ali.

– O Brian tem razão. E afinal, se não encontrarmos nada, podemos sempre ir embora depois desta noite. Mas nós precisamos todos mesmo desta noite aqui. – Anunciou Kyle, pousando um pouco a sua arma no chão.

– Nesse caso se ninguém tiver nada contra, ficaremos por aqui. Precisamos de arrastar pelo menos uma fila de carros de maneira a impedir o acesso fácil ao meio da ponte. Se deixarmos depois uma pessoa de guarda aqui, não teremos muitos problemas. – Disse Stan, lambendo os lábios. – O outro lado está seguro, certo Chris?

– Certo.

– Nesse caso não nos precisamos de preocupar. Depois de isto estar organizado, vamos formar uma equipa encarregue de procurar os mantimentos. Segundo o mapa, para oeste existem algumas casas, afinal Eldersburg deve ficar a poucos quilómetros daqui. – Toda a gente consentiu com a cabeça, cada um a seu tempo. – Está decidido…

– Sabem o que é mais engraçado? Os zombies não nadam! Como pensam eles que nos vão apanhar agora?! – Ninguém se riu. Ele encostou-se à ombreira da ponte, observando o rio, cujas pequenas ondas reluziam com o sol. Por acaso aquela piada teve um bocado de graça e por momentos sorri e esqueci as dores no ombro.

***

– Allison, como está o teu pé? – Perguntei quando estava a passar perto de um dos carros que estávamos a usar como abrigo, onde ela estava sentada no banco do condutor, com o pé torcido descanso, esticado no asfalto.

– A Elizabeth já tratou dele novamente… dói… mas se repousar um bocado deve passar num instante. – Dava para reparar que não existia qualquer convicção nas suas palavras, mas nesta altura acho que já todo o grupo percebeu que Allison é uma pessoa que tem muito receio das coisas, assim como um pessimismo doentio. À que saber ignorar o máximo, para que não fiquemos como ela. Foi por isso mesmo que lhe acenei em confirmação e continuei a andar, antes que me sentisse uma merda também.

Fui até ao encosto da ponte, de maneira a espreitar um pouco lá para baixo, para o rio. O ambiente estava calmo e pela primeira vez em meses, senti que podia estar ali apenas a apanhar um pouco de ar, nem que fosse por breves minutos. Como me encostei do lado oeste, dava para ver o por do sol a avançar no céu, quase a deitar os últimos raios de calor do dia. Brevemente anoiteceria. Levei o olhar pelas árvores durante algum tempo, até que comecei a ouvir passos na minha direção. Kyle encostou-se do meu lado esquerdo, sacudindo e mexendo no cabelo para lhe dar mínimo de forma apresentável. Ficámos ali, sem dizer nada por algum tempo.

– Eles voltaram agora mesmo. Acho que não foram muito longe e encontraram algo para desenrascar um dia ou dois. – Aquilo fez-me olhar lá para o fundo, perto do lado da ponte que usávamos para nos ligarmos a Eldersburg, onde reparei em Marcus, um dos que saíram á algumas horas atrás com o pequeno grupo à procura de suprimentos, tal como Stan tinha proposto.

– Ainda bem. Ao que parece esta ponte vai mesmo ter o nosso local de repouso.

– Ao que parece… - Kyle suspirou. – Todo o caminho que já fizemos… eu estive a ver o mapa e fomos capazes de percorrer assim á vontade uns 70 ou 80 quilómetros desde o asi… - Ele lembrou-se, porque parou a meio.

– O asilo… sim, estamos bem longe agora… - Kyle era uma das poucas pessoas com quem eu gostava bastante de falar, como um bom amigo que mesmo com os seus 21 anos, era o mais perto que eu tinha de um colega como antigamente, igual a Jordan. E ele já sabia que eu não gostava de relembrar nada do que se passara no asilo.

– Brian, peço desculpa… Não tinha intenção de te... relembrar.

– É impossível relembrar uma coisa que nunca foi esquecida. – Mantive o olhar no horizonte, distante. Não estou a observar nada em concreto, estou apenas a tentar abstrair-me. – Não tem mal amigo, sei que não foi por querer.

– Sabes bem que sim mano. – Deu-me três palmadas nas costas, mas aquilo não aliviou nada, só aumentou as más lembranças e a cicatriz da bala. – Já que estamos numa de pousar as coisas e parar a nossa grande caminhada, o que me dizes de amanhã finalmente tratarmos desse bastão e de eu te ensinar alguns truques?

– Parece-me bem. Vamos a isso! – Tentei mostrar-me entusiasmado, o que realmente devia de estar se não fosse o asilo encher-me de recordações.

– É esse o espírito. Vou-me deitar um bocado que não prego olho á horas. O teu turno na barreira é antes do meu, certo?

– Não te preocupes Kyle, eu acordo-te quando for.

– Obrigado mano. – Despedimo-nos com um punho a bater em punho, até que deixei de ouvir os passos dele por perto.

Resolvi deixar aquele panorama e talvez arranjar alguma coisa útil para fazer até à altura do meio turno, quando a noite caísse, logo a seguir ao meu “grande” amigo Dennis.

– Brian, chega aqui, preciso da tua ajuda! – Gritou Marcus, no mesmo sítio onde o vi quando estava encostado à ponte. Não perdi tempo e levantei a mão em confirmação, caminhando para lá.

Durante o caminho, reparei em quem estava por ali, perto da fogueira no centro da ponte. Jordan estava sentado no chão a tentar aumentar um pouco o fogo, enquanto Kelly se mantinha bem perto, faltando pouco até para os seus peitos estarem encostados no corpo dele. Ela ultimamente andava muito perto dele e isso era bastante doentio.

Da última vez que tinha confirmado com o grupo, principalmente Stan, Kelly fora uma stripper em Nova Iorque e estava já bem perto dos seus 30 anos. Fizera-se a todos do grupo e nenhum lhe ligara e estava agora na hora de Jordan. Mas por incrível que parecesse, ele foi o único que não a afastou de uma vez e a deixou andar a rondar, sem lhe ligar de qualquer forma.

Mas Lucy parecia cada vez menos contente com isso. Enquanto passava por ela, podia ver quem não olhava para mais lado nenhum a não ser Kelly e Jordan, a poucos metros dela. De braços cruzados nem reparou na minha passagem de certeza, mas assim que os ultrapassei e olhei para trás, vi que ela se apressou para a fogueira, dizendo alguma coisa que fez a stripper rir um bocado. Aquilo vai dar merda e da grande… tenho de falar com o Jordan sobre aquilo, ou ainda perde a namorada…

A partir dali, esqueci-me do assunto e concentrei-me em ajudar Marcus a levar uma caixa para o carro que preparamos apenas para os alimentos e as armas. Tivemos mais um fraco jantar à base de feijões e caldo e eu esperava sinceramente que isso mudasse nas próximas refeições. Não era algo que eu estivesse a apreciar muito, mas era tudo o que havia, no final de contas.

Ainda me fui deitar por algumas horas, de forma a estar pronto para assumir o meu posto após Elizabeth sair de lá. Consegui o banco de trás da carrinha branca de cinco lugares onde Jordan também dormia com Lucy, na bagageira.

Demorei algum tempo a mergulhar num leve sono e este foi tão suave que nem sonhei com nada, conseguindo por algum tempo abstrair-me de tudo o que se passou e passava no mundo. Por momentos até parecia uma daquelas vezes em que ia numa grande viagem com os meus pais e acabava por ter de dormir uma pequena sesta no banco traseiro, enquanto o meu pai continuava a conduzir por boa parte da noite. Até o som do motor conseguia ouvir na cabeça, o “zrum” constante e confortante. Só que logo a seguir ouvia o silêncio, aquele sombrio silêncio, igual ao que se podia contemplar na maldita floresta de onde tínhamos saído á pouco. E era isso que me fazia voltar a mim e á realidade, aquele monte de nada que agora percorria o mundo. Sentia falta do barulho dos carros, de vozes humanas a passar numa estrada movimentada. Tudo o que tínhamos agora era o vento, a chuva, o rio e o gemido incessante dos zombies.

Mexi-me e coloquei-me de barriga para cima, passando as mãos por trás da nuca, como que fazendo uma almofada. Voltei a fechar os olhos, mas sabia que já não ia descansar, muito menos dormir mais.

– Tás acordado? – Ouvi Jordan dizer lá do outro lado, na bagageira.

– Ya… Não consegues dormir?

– Não, ainda não consegui. Estou á espera que a Lucy chegue.

– Ela não tá ai contigo? Está a fazer o turno de vigia agora?

– Não. Quer dizer… não sei. Nós estamos numa situação delicada sabes. Não sei se já reparaste?

– Kelly. – Disse, adivinhando do que se tratava.

– Kelly… A mulher tá-se a fazer a mim meu! Achas normal? – Ouviu-o a remexer-se, irrequieto.

– Já deu para reparar. Não lhe ligues.

– Foda-se, eu não lhe ligo um cu! Mas ela continua sempre ao pé de mim, a tentar alguma coisa. A Lucy já se chateou mais de uma vez, comigo principalmente. Á bocado, ao pé da fogueira, ela chegou-se ao pé da Kelly e mandou-a novamente embora, mandou-a afastar-se. Sabes o que a gaja fez?! Riu-se na cara dela e não se mexeu um milímetro! Tive de ser eu a ir embora com a Lucy para longe dali, ou ainda havia briga. – Aquilo deu-me um bocado de graça e por isso ri-me baixo, até que Jordan suspirou. – Não tem graça.

– Eu sei, desculpa. É só que a gaja parece andar mesmo desesperada!

– Pois, eu sei do que ela precisa. – Deu uma gargalhada pequena, assim como eu logo a seguir. – Mas ela que não espere isso de mim. A Lucy é uma pessoa muito importante para mim, sabes? Ela foi a minha primeira namorada a sério… Conhecemo-nos no liceu. Já estamos juntos á pelo menos 2 anos e eu não quero perder tudo o que tenho com ela por uma merda destas.

– Eu entendo. Fala com a Lucy, ela vai entender.

– Eu estou a tentar, mas como podes ver, nem sei onde anda ela agora.

– De certeza que está com os outros… – A mão de Dennis bateu com força no vidro por cima da minha cabeça e eu consegui vê-lo a espreitar um bocado para dentro. Levantei-me ficando sentado no banco. – Vou fazer o meu turno.

– Ok.

Fechei a porta com cuidado para não fazer demasiado barulho. Dennis já tinha avançado para perto da fogueira e deitou-me um leve olhar antes de ser ir sentar. O carro onde eu tinha ficado a dormir ficava um bocado afastado do centro da ponte em si, tendo a fogueira como ponto central e ainda tinha de andar mais alguns metros para chegar à barreira provisória de carros que tínhamos feito naquele dia. Quando passei perto do fogo, onde ainda algumas pessoas do grupo se aninhavam antes de dormir, não consegui ver Lucy entre eles.

– Sabem da Lucy? – Lembrei-me de perguntar a Dennis, Elizabeth e Chris, os que estavam ainda por ali.

– A Lucy? Não está com o namorado no carro? – Questionou-se Chris, intrigado.

– Eu acabei de vir de lá e não está. Estranho…

– Já deve para lá ter voltado, não te preocupes. A rapariga não é burra ao ponto de se afastar da ponte. – Anunciou Liza.

– Sim… - Voltei para trás.

– Ei, a barreira! – Gritou Dennis.

– Eu sei que é o meu turno. Esqueci-me da arma no carro, volto já. – Uma mentira. Liza podia ter razão, Lucy já poderia ter voltado ao carro. Mas estava com vontade de confirmar isso.

Olhei para a bagageira do nosso carro e só consegui ver Jordan deitado, sem se aperceber de mim ali. Olhei em redor confuso. Ocorreu-me uma coisa, mas não sabia onde Kelly tinha arranjado abrigo e para procurar por ela, tinha de revistar todos os malditos carros na ponte.

Avancei para a zona mais esquecida da ponte, aquela onde Chris tinha encontrado a barreira acidentada de automóveis. Se ela ainda estivesse na ponte, seria para aquele lado, já que do outro lado ninguém a vira.

– Lucy? – Falei baixo, quase num sussurro, mas tudo o que recebi em troca foi o fraco som do rio a correr lá em baixo. – Lucy?

Ao caminhar, ouvi um leve “splash” no pé, o que me fez recuar e olhar para o chão. Tinha acabado de pisar uma poça negra à luz da lua. Passei o pé levemente por ela, até que me baixei e tenter ver de mais perto. Os meus pelos eriçaram-se todos quando percebi que era sangue, não seco, mas acabado de derramar.

Nesse momento comecei a correr, em frente.

– Lucy?! – O que caralho teria acontecido?! Aquilo cheirava cada vez pior. – Lucy! – A minha voz estava cada vez mais alta, que dali a pouco tempo todo o meu grupo daria por mim. Agarrei o meu revolver apressadamente e a tremer, levantei-o ao nível dos ombros. Teria um zombie conseguido penetrar na ponte e… não há tempo de pensar, tenho de a encontrar!

Mais uma poça de sangue alguns metros à frente, desta vez no capô de uma carrinha. E do outro lado, uma nuca cabeluda mexia-se perto do chão, sem que eu conseguisse ver bem o resto do corpo. Arranjei um angulo seguro para contornar a carrinha pela frente, sempre de arma na mão.

– Lu…cy?! Merda… – A sua faca de mato estava numa das mãos ensanguentadas, a pingar. Toda ela pingava sangue, de joelhos no chão. Nem o cabelo escapara.

– Brian… Não é o que parece… - Perto dela, jazia um corpo, com a boca aberta em terror. Kelly estava completamente esfaqueada.


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