Break Of Dead #2 escrita por Write Style


Capítulo 2
V3 - Capítulo 1 - Lost and Aimless




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A mochila já pesa nas costas, mas não que esteja cheia, muito pelo contrário, nunca esteve tão vazia. Mas já se pega às costas, como se fizesse parte delas e de alguma forma, cansa os ombros.

A floresta que tenho pela frente fecha-se de uma forma sinistra e sem luminosidade, mas não estou preocupado com surpresas indesejadas. É só mais um ponto da rotina diária. As folhas secas do chão marcam os passos lentos que vou dando, ressoando levemente à medida que vou avançando mais e mais.

A gasolina que tínhamos andado a poupar ao máximo acabou por ser insuficiente ontem pela manhã e portanto não tivemos outra opção a abandonar todos os carros, alguns deles ainda com algum em sobra, que logo se viram esvaziados quando Marcus pegou no tubo e sugou o restante para um bidão, que agora leva dentro da sua mochila. Pouco paramos nestes dois dias depois de começarmos a avançar a pé, procurando por algum carro abastecido, mas isso seria a porra de um milagre, porque vendo bem as coisas, nós não necessitamos de apenas um, mas sim no mínimo 2 para que transporte toda a gente de uma forma aceitável.

– Está a ficar calor novamente. – Ouviu-se Chris dizer, enquanto caminhava dois metros à minha frente. – O inverno está finalmente a recuar como deve ser. – Ninguém lhe respondeu. Apenas um misto de passos vagaram após as suas palavras. Mais uma vez, ele tentou puxar conversa, desta vez, olhando para a sua namorada, Elizabeth, que caminhava do seu lado direito, com a espingarda na mão. – Deve ser quase verão, já devem ter passado uns bons meses…

– Podes calar a puta dessa boca rapaz?! – Dennis, 3 metros à frente de Chris e de Elizabeth olhou para trás por alguns instantes enquanto lançava para o ar tal comentário. – Esta caminhada já está a dar comigo em doido, não preciso que juntes a isso os teus comentários desnecessários.

– Ele só está a pegar conversa Dennis. – Desta vez foi Marcus a falar a seu lado, rodopiando o machado na mão. – Estamos todos estafados e os últimos dias não têm sido fáceis. Mas temos de continuar unidos e…

– Não Marcus, estou farto desta merda! Já por dois dias que andamos aqui no meio do nada, entre árvores e porra de arbustos, com lama e folhas nas botas, sempre à espera que o próximo andante apareça atrás de um rochedo e não vamos dar a merda de lugar nenhum! É aqui no meio do caralho do nada que vamos encontrar um carro!?

– Podes sempre seguir o teu próprio caminho. O que não falta por ai fora é lugares suficientes para tu ires onde bem entendes… - Comentei, algo que me saiu da boca para fora. O canalha tem de estar sempre a criticar todas as opções que são feitas pelo grupo. Ora não está satisfeito com o racionamento da comida, ora se queixa do frio, ou então dá-lhe na gana de ter calor e da mesma maneira repreender todo o grupo como se isso fosse a merda da culpa de alguém.

Dennis virou-se para mim e arregalou-me os dentes. Confesso que ultimamente não lhe tenho dado muitas segundas chances. Ele sempre me pareceu ser o tipo de pessoa que não está bem em lado nenhum, desde que as coisas não sejam feitas da maneira que ele quer e até me admiro que isso não o tenha morto já á muito tempo. Mas desde que… saímos do asilo, as nossas diferenças e divergências de pensamento aumentaram muito. Acho que não passa um único dia em que não existam bocas vindas dele para mim, ou vice-versa.

– Porque não vais tu por mim seu grande pedaço de… - Ele ainda andou um bocado para trás e todos pararam. Fiquei tentado a puxar o cabo do bastão de beisebol que estava à vista de dentro da mochila, mas sei também que sou lento demais para esse movimento ser eficaz. Todos ficaram parados, de olhar a cruzar aqui e ali por pelo menos cinco segundos.

– Wow, ei! Parem já com isso. – A autoridade veio da Liza. – Ficámos sem combustível e tivemos de abandonar a estrada, nada mais nada menos. Agora pelo amor da santa, parem de se culpar uns aos outros por estarmos no meio da floresta. Alguém tem uma ideia melhor? – Stan, o filho e a namorada mantiveram-se em silêncio; Kelly, olhou para o lado, como se nem estivesse preocupada; Allison não tirava os olhos do chão; Kyle limitou-se a bater com o calcanhar da bota no chão; Chris apenas ajeitou a mochila que levava às costas e ambos os bombeiros permaneceram igualmente estáticos. Claro que nem eu disse nada. – Pois bem, então continuamos. Todos viram que não tínhamos gasolina suficiente para sustentar todos os carros e também todos viram como a única estrada de Eldersburg, em milhas, estava completamente bloqueada. – E dito isso, começou a andar e com ela, o resto das pessoas continuaram a sua jornada para o nada.

O que ela tinha acabado de dizer estava correto, pois ainda perdemos um dia inteiro a caminhar pela estrada à frente, a caminho da próxima cidade das redondezas, segundo o mapa que Marcus transportava e ao fim de todo esse tempo, deparamo-nos com um enorme choque em cadeira de carros, carrinhas e veículos ainda maiores. Ainda se pensou na hipótese de avançar e continuar a procura, mas assim que Chris desceu no cimo de um caminhão tombado e deu a notícia que por milhas, o caminho estava cheio de zombies de uma ponta à outra, soube-se que a única hipótese de os contornar seria penetrar bem na floresta e voltar para trás muito tempo depois, esperando ainda alcançar parte de Eldersburg. Ainda estávamos na primeira parte do “plano”, mas preferia estar ali a ter de me encontrar numa situação idêntica à da estrada de Richmond, quando Marcus e Dennis nos encont… me encontraram pela primeira vez.

Depois de mais um “ps” como queixa mínima e quase inaudível do nosso semi-careca preferido, a viagem correu sem mais nenhuma conversa até que o sol se começou novamente a por no céu. À já algum tempo que o grupo se reduziu a algum silêncio, mas quero acreditar que isso se deva a estarmos aqui, no meio do nada, sem qualquer rumo e sem um teto para nos proteger, mas ao mesmo tempo nem mesmo eu tenho qualquer vontade de conversas. Penso que isso de deva à fome também. Desde que saímos dos carros que penso ter comido duas ou três refeições muito mal sustentadas e se as nossas reservas já estavam escassas no inicio, passados quase três dias estamos mesmo no limite do possível. Temos de encontrar Eldersburg ou qualquer outro local com rasto de humanidade para nos sustentarmos mais de um dia.

Durante a seguinte meia hora, o caminho tornou-se sem dúvida muito mais difícil e perigoso. Estávamos numa zona cheia de altos e baixos, com valas, vales pouco profundos e montanhas com meio metro de altura. Andar por ali naquelas condições com toda a certeza que tinha como desvantagem a pouca rapidez com que avançávamos pela floresta, fazendo o enorme grupo olhar e estudar todas as pedras e pedrinhas antes de meter um pé de novo no chão após iniciar o próximo passo da marcha. Allison torceu pouco depois o pé numa dessas subidas e descidas traiçoeiras, mas mesmo que ao olhar para ela, eu conseguisse perceber o seu receio no olhar, ela tentou levantar-se, para cair logo a seguir e voltar a tentar.

– Não, eu estou bem, eu estou bem… - Da vez seguinte conseguiu-se mesmo por de pé, mas o apoio naquele pé parecia bastante comprometido. Deu um passo e pareceu esconder a dor, mal, porque eu consegui percebe-la. – Foi só… uma pequena entorse, eu consigo tratar dela. – Ao menos desta vez Dennis não criticou nada por termos parado mais uma vez e não ter sido por causa exclusiva dele.

– Ela não está em condições de continuar para já. – Stan chegou-se à frente e ninguém o interrompeu. – Mesmo que pudesse, está a escurecer. Vamos ter de montar acampamento aqui.

– Já o fizemos três vezes nesta imensa floresta e a ideia de acampar aqui ainda não me parece a melhor das ideias… Mas que escolha temos? – Questionou-se Liza, retirando a mala que transportava das costas e remexendo nela ao seu aproximar de Allison. – Deixa-me lá ajudar nisso…

– Nesse caso vamos ficar por aqui. – Comentou Marcus, coçando a testa suada. – Chris, Kyle, importam-se de ficar com o primeiro turno de vigia?

– Sem prob´s. – Anunciou Chris, enquanto o colega de vigia se limitou a acenar em confirmação.

– Brian, procura alguma madeira. Precisamos de uma fogueira. – Aquela, ele dirigiu para mim e mesmo que aquilo me parecesse uma tarefa no mínimo… estúpida, não via muito mais que se pudesse fazer para além de aceitar, pelo bem de todos.

Marcus estava a dar as ordens, mas isso não fazia dele um líder do nosso grupo. Pensando bem, nós não possuímos um. Acho que cada pessoa dá a sua opinião e depois existe um porta-voz, geralmente um poder gerido entre Marcus e Elizabeth, que lança para fora as ideias que ficaram estabelecidas por todos. Na minha opinião as coisas correm muito melhor assim, se todos tiverem de acordo, ou semi-acordo com alguma coisa tornasse mais fácil de aceitar algo, que apenas pensado por uma única cabeça que faz tudo apenas a seu belo prazer. De qualquer forma Allison não parece estar muito familiarizada com tal, pois sempre que paramos para decidir as coisas em conjunto, como uma equipa, ela poe-se a olhar cada cara com atenção, como se temesse algo, sei lá. A mulher não as bate todas.

Algo que intriga é de onde terá ela vindo. Sei que veio naquele dia com o B… veio naquele dia do ataque ao asilo, mas nós nunca chegamos a perguntar-lhe nada do seu passado. Realmente nunca chegou a ser discutido nem foi levado em consideração como algo relevante. Terá ela dito a alguém, num momento em que eu não estivesse presente? Enfim, fugimos todos juntos e estamos aqui juntos por meses a fio. Realmente não faz muita diferença, para além de aguçar um pouco a minha curiosidade.

O primeiro madeiro estava entre um emaranhado de folhas secas a pouco mais de cinco metros de onde foi estabelecido o centro daquele nosso acampamento improvisado. Tive de o forçar um pouco para fora, tal não estava ele encrustado com toda aquela folhagem e terra ainda a recuperar do severo inverno. Depois encontrei mais dois, minúsculos e miseráveis a alguns metros para a frente, mas melhores que nada. Ao fim de alguma investigação pelas redondezas, sem nunca me afastar demasiado, conclui que tudo o que encontraria seria conjunto de quatro pedaços de madeira de vários tamanhos, insuficientes para resultar numa fogueira decente. Iria entrega-los a Marcus e logo se decidia se usariam os machados dos bombeiros para cortar mais alguma vinda diretamente das árvores. E foi então que um pequeno som me desviou da atenção de voltar.

Era baixo e quase inaudível, mas sempre tive um bom ouvido quando o ambiente ao redor era calmo e pouco barulhento como aquele onde me encontrava. Levei-me a caminhar entre as árvores, afastando-me mais um pouco do meu grupo. Ao dobrar a esquina à direita depois de um enorme arvoredo, descobri o que estava na origem de tudo aquilo.

A um canto meio escondido, entre um tronco enorme disposto no chão e um pedregulho com mais de seis metros de largura, cordas de cânhamo envolviam, ou pelo menos, estavam anteriormente a envolver um corpo. A decomposição tinha apanhado bem parte dele, pois a metade esquerda estava a cair aos bocados, em carne apodrecida e moscas. A pele estava branca demais, o que me fez presumir que estava ali desde o início do inverno. Os olhos cegos e brancos ainda procuravam por algo, mesmo com dois pedaços enormes de vidro encrostados nos glóbulos oculares, fazendo o esquerdo ficar manchado de sangue seco até à parte inferior da bochecha. Era o zombie de uma mulher, percebia-se pelos longos cabelos e pelas poucas feições femininas que ainda lhe restavam. Não tive receio de avançar um pouco mais, pois dava para reparar no estado das suas pernas, esmagadas pelas canelas, abaixo da saia e com osso amarelado a aparecer por debaixo de crostas de sangue e pele negra. As mãos avançavam em frente, para me tentar alcançar, mas parecia não ter forças suficientes para o fazer por muito mais tempo. Foi o mordedor mais lento e fraco que eu alguma vez tinha visto. E isso deixou-me um pouco em baixo. Afinal, é nisto que estamos destinados a transformar-nos se formos mordidos? É assim que temos de acabar? É fodido, só isso…

A arma atrairia visitas indesejadas, isso eu sabia perfeitamente. Por isso é que puxei do bastão de beisebol e peguei-o com força. Não a vou deixar ficar assim…

Empurrei-o para trás, para as costas, ganhando o balanço necessário para que a estocada fosse poderosa o suficiente para dar cabo do cérebro à primeira. Se o ia fazer, ao menos que fosse à primeira sem que tivesse de estar ali mais que o necessário. Suspirei e olhei mais uma vez para a sombra do que em tempos fora uma mulher.

– Quem eras tu? Uma advogada? Empresária? Escritora? Desenhista? – Comentei para mim, numa voz baixa, enquanto a zombie se mantinha na tentativa falhada de se levantar e fazer alguma coisa contra mim. – O que importa… não és nada agora. Deixa-me tirar-te essa merda de miséria. – E lancei o primeiro golpe, com a força que foi possível, ouvindo um pouco de osso estalar quando chegou à sua cara, mas depois de trazer o taco de novo para perto de mim, a cabeça voltou a mover-se, rosnando e rangendo os dentes para mim. Sem pensar, mandei o segundo golpe, com um pouco mais de força e intensidade, fazendo-me quase tropeçar nos meus próprios pés para arranjar equilíbrio depois de acertar. Mesmo assim, com parte da nuca à frente completamente esmagada, ainda emitia sons profundos. Sem que quisesse, pus-me a pensar em Marie e no que lhe teria acontecido. Seria ela agora assim, a vaguear pelo asilo? O Bruce nunca me pode explicar e eu nunca perguntei a ninguém… Não, para. Não penses mais nisso. Tive de afastar os pensamentos dando o próximo golpe com força bruta, fazendo o taco quase ressaltar na pedra atrás da cabeça ao separa-la em dois pedaços.

Durante uns momentos o bastão ficou preso na minha mão a pingar com algum sangue e mantive-me em silêncio ao observar aquilo que acabara de fazer. Os sons tinham parado e isso só poderia querer dizer que estava finalmente morta, se é que aquele estado não se pudesse chamar por ele de morte.

Dá para perceber nestes gestos que ainda me sinto uma merda em combate. Necessitei de três golpes para que o zombie finalmente acabasse por morrer de vez e isso era prejudicial se algum dia estivesse num aperto. Cercado por eles, não teria tempo para mais de um golpe ou dois por zombie se tanto e se a minha fraca pontaria com a arma se mantivesse, não sobreviveria muito tempo. Não quero ter sempre Elizabeth, Marcus ou o estúpido do Dennis a disparar e acabar com eles enquanto eu fujo daqui para ali como um rapazinho assustado. Nem no início o fui de todo e não seria agora que me iria habituar a viver na sombra e proteção dos outros.

Quando tive a certeza que ela estava completamente e absolutamente morta, aproximei-me mais para procurar por algo útil. Não era algo que eu nunca tivesse pensado fazer, mas foi á umas semanas que durante uma busca por suprimentos que eu e o Kyle vasculhámos alguns corpos e chegamos a encontrar uns fósforos, que foram importantes para nos aquecermos nessa mesma noite. Agora sempre que há oportunidade de o fazer, não a perco.

O corpo estava peganhento só de vista e por isso onde a situação parecia demasiado mole e putrefaça nem me atrevi a mexer. O casaco que ela possuía tinha os bolsos vazios e igualmente estava um dos bolsos da saia, o único que não estava desfeito. Foi apenas na sua mão esquerda, encerrado entre alguns dedos que deveriam ter perdido a mobilidade, que encontrei um pedaço de papel todo amarrotado e enrolado numa bola.

Tirei-lho, mais movido pela curiosidade que a utilidade que poderia ter. Desenrolei-o e espalmei o pedaço de papel no meio de ambas as mãos, até que fosse possível permanecer esticado. Senti um calafrio.

Uma foto cheia de dobras. Duas mulheres e três homens, sendo que um de cada sexo tinha perto da minha idade e os restantes eram adultos. Estavam todos a olhar em frente, agarrados aos braços uns dos outros, no que parecia uma espécie de festa. Uns sorriam e outros apenas mostravam felicidade nas suas caras. A família… e tu eras esta. A rapariga, agarrada à mulher mais velha que eu presumo ter sido a sua mãe encaixava nas poucas feições que estavam disponíveis na zombie que acabara de matar. Onde estão todos eles agora, han? Mortos? Vivos e a tentar por ai sobreviver? Olhei para a rapariga morta, mas claro que não esperava que me respondesse àquilo. Também sinto falta dos meus pais… e dos meus amigos…

– Brian! – Alguém me chamou. Demorei um pouco a perceber que era a voz de Jordan. Apressei-me a dobrar a imagem e guarda-la num bolso. Apanhei desajeitadamente os madeiros que deixara no chão, ao mesmo tempo que tentava segurar o taco meio ensanguentado com uma das mãos. E corri para o acampamento.

Quando a noite finalmente caiu por completo, a fogueira estava finalmente a ganhar firmeza e consistência, com as chamas a rodopiar para aqui e para ali, cada vez maiores. Foi com ela que aquecemos as últimas duas latas de feijões, que estavam guardadas nas nossas coisas. Para além disso, restava-nos pouco mais uma garrafa de água e algo seco a que Allison chamava de “barra de energia” e até pareciam, minimamente, mas o nosso grupo decidiu deixa-la para o fim depois de Chris ter provado uma dentada e quase se ter vomitado. Ao que parece não estamos assim tão longe de a necessidade de a comer finalmente.

Dividir sempre me pareceu uma tarefa árdua e difícil e por isso mesmo, nunca me cheguei à frente quando era necessário racionar uma refeição (nem penso que eles me incumbiriam, a mim, um adolescente de o fazer…). Outra das tarefas partilhadas entre os dois “cabeças” do grupo, Elizabeth e Marcus, sendo que foi este último a fazê-lo hoje. Tive direito a uma placa de madeira, daquelas onde improvisávamos um prato, com um total contável de quinze feijões grandes, quentes e acastanhados. Devo dizer que aquela foi uma boa refeição, analisando todas as outras nos últimos tempos.

– Desculpem ser pouco, mas somos bastantes e duas latas são insuficientes para que qualquer um de nós fique satisfeito… - Anunciou o bombeiro, ao qual ninguém respondeu. Eu também não o fiz, não só porque já estava habituado àquelas desculpas de racionamento, mas porque estava a devorar avidamente os restos da minha miserável refeição. Quando terminei, a barriga ainda resmungava.

– Quanto tempo falta até voltarmos a seguir para a estrada? – Acabei por dizer, quando lambi o resto do molho deixado pelos feijões. – Não vamos mantermo-nos a afastar cada vez mais e mais eternamente, não?

– Não Brian, não vamos. – Comentou Liza, coçando a cara e puxando as mãos para a frente, de forma a aquece-las na fogueira. Todos estavam a ouvi-la atentamente, já que tínhamos formado um círculo à volta daquele ponto quente, até os que estavam na altura de vigia, ainda Kyle e Chris, ouviam de certeza. – É arriscado voltar já, pois podemos não ter andado o suficiente. O que o Chris viu foram milhas deles e nós não sabemos ao certo quantas. Podemos ir dar à boca do lobo.

– É um risco a correr Elizabeth. – O pai de Jordan andava ultimamente muito cansado e isso reparava-se na rouquidão da sua voz. Acredito que não seja fácil para um homem com os seus 40 e poucos anos andar por ai a correr de lado a lado. – Uma refeição como a de hoje não se pode prolongar por muitas mais vezes, ou em vez de comidos pelos andantes, acabaremos mortos de fome, ou a fazer pior…

– Temos de nos esforçar, só mais um pouco. A floresta até tem estado relativamente calma quanto a zombies e se aguentarmos mais um dia que seja, pode ser o suficiente para nos encaminharmos depois à estrada de novo e encontrar o resto do caminho completamente desimpedido.

– Não é uma ideia que me agrade de todo. Temos o exemplo da pobre Allison que torceu o pé neste local traiçoeiro. Se nós continuarmos a avançar por estes caminhos acidentados e nos começarmos a lesionar, um após outro, avançaremos cada vez mais devagar.

– Ele tem certa razão Liza. Não podemos andar assim por muito mais tempo. – Afirmou Marcus, levantando-se do chão. – Mais algumas horas de viagem para nordeste, ou algo que se pareça com isso. Depois temos de pensar voltar para a estrada.

– Finalmente a merda de um semi-plano! Não é muito mais fácil assim?! – Claro que Dennis tinha de comentar…

Nada disse, só para não ter de mandar uma nova boca que tinha mesmo na ponta da língua. Levantei-me, pronto para preparar as coisas para me deitar mais tarde. Não que tivesse esperança de dormir a noite completa descansado, mas sim algumas horas, ou minutos dependendo dos pesadelos que me atormentassem esta noite.

Passei de relance por Jordan e Kelly meteu-se à minha frente, passando por mim com aquele seu estilo de puta. Voltei a olhar para trás e vi que foi ter com ele, colocando-lhe as mãos à volta do pescoço, ao que ele se tentou afastar logo de seguida. O que nos faltava agora era uma pedófila qualquer, mas eu não a iria censurar, afinal durante todo este tempo ela já se fez a quase todos os homens do grupo. Primeiro Marcus, que lhe deu com os pés; Depois Dennis, que jura não ter feito nada, mas lembro-me perfeitamente de alguns sons suspeitos numa noite perto da estrada. De qualquer forma, agora quase que fingia que ela não existia; Kyle afastou-a logo à primeira investida. Por isso restava apenas os dois mais jovens: eu e Jordan. Parece-me que começou pelo comprometido. Penso que Lucy não vai gostar lá muito disso.

***

Foi logo de madrugada que nos pusemos de novo em caminhada. Não foi difícil para mim, já que pouco dormi. Allison estava ligeiramente melhor, mas reparava-se de longe que ainda coxeava bastante, para não falar da sua cara de sofrimento completamente explícita. Mas se alguém lhe perguntava como estava o pé, obviamente consciente da dor dela, apenas respondia que estava tudo bem e continuava como se nada fosse. Ao menos nisso até poderíamos ficar descansados quanto a ela: tivesse vindo de onde viesse, era uma péssima mentirosa.

Estou farto de ver apenas árvores e começo a ficar também cansado de ter de subir e descer a cada minuto pelos pequenos montes de terra. Mas mesmo ao observar por horas a Liza a avançar, não vi nem uma réstia de vontade de dar semi-volta e seguir para a maldita estrada.

– Brian… - Kyle aproximou-se quando eu estava nos meus pensamentos, mas virei-lhe logo a atenção. – Temos andado metidos nesta maldita floresta que me esqueci completamente de te dar isto. – Mexeu na mochila á tiracolo e tirou de lá uma pequena caixa de papel que ressoava sempre que ele a revirava para me mostrar algo que não conseguia ver.

– O que tem isso?

– Pregos, demais até. Encontrei-os enquanto revistava aqueles carros na estrada, quando ficamos sem gasolina. Eu prometi-te ajudar com esse taco. – Era verdade, Kyle dissera muitos meses atrás que aquela arma seria muito mais eficaz com aqueles metais presos nas pontas.

– Sim, é verdade. Quando voltarmos a parar, ajudas-me a coloca-los? Não estou muito confiante de o conseguir fazer bem. – Realmente não sabia ao certo como enfiar aqueles pregos na madeira dura do taco.

– Claro, eu não me esqueço desta vez. – Disse, sorrindo para mim. Depois, voltou a deixar-me com a minha caminhada solitária.

Desde que… desde que tivemos de fugir daqueles monstros no asilo, que prefiro conversar o menos que conseguir. Isso deixa-me, sei lá, de certa forma mais relaxado. Claro que uma conversa com Kyle, um insulto a Dennis ou algo do género, sabe bem de vez em quando, mas mesmo que tenha passado tanto tempo com esta gente toda (dando prioridade aos bombeiros e ao casal de Dale City, que conheço há consideravelmente mais tempo continuo a sinto-me estranho ao falar com elas, como se fosse a primeira vez que os vi e comuniquei com eles. Pode ser que passe, mas também tenho de pensar que posso-me sentir assim para sempre.

– Ei, olhem-me só para isto! – Jordan parecia bem entusiasmado lá pela frente. Fomos parando à medida que nos aproximávamos dele, prontos para descobrir o se seria. Quando finalmente cheguei perto o que havia para ver era um monte pequeno de latas, sacos e papeis, ali caídos perto de um tronco envelhecido e podre.

– Se ao menos fosse comida… Isto são só resto de plásticos, rapaz idiota. – Comentou Dennis, pronto para continuar a avançar, mas os restantes não o fizeram.

– Alguns passaram aqui o inverno, mas outros parecem recentes. Não sei… - Analisou Chris, tocando com os dedos num deles.

– Isso quer dizer que pessoas passaram recentemente nesta floresta? – Questionou-se Lucy, puxando madeixas do seu cabelo acastanhado para o atar melhor.

– Tudo é possível… Não… - Elizabeth foi interrompida por Dennis.

– Oh, gentinha! Calem-se lá um bocado!

– Vai à merda Dennis, nós…

– Vai-te foder Marcus. Estou a ouvir a puta de um rio!

Era verdade. Quando se fez silêncio, até eu o consegui ouvir.


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