Strip, Las vegas ~ 1992 - 3:00 AM

Ela segurou firme a cesta nas mãos frias. Seria madrugada, e todos estariam na cama se isto fosse uma cidade normal dos Estados Unidos. Mas não, era Las Vegas. Pessoas circulavam pela rua, as luzes estavam mais acesas que nunca e ela escutava ruídos, risadas, música e a buzina dos carros. As luzes neon derramavam cores na calçada íngreme, e os reflexos de letreiros e prédios brilhavam nas poças d´água. A moça apertou o passo para chegar até seu destino.

Caminhava por Las Vegas Boulevard, indo para o Norte e qualquer turista acharia estranho uma mulher com uma capa carregando uma cesta andando em plena Freemont Street. Mas com um certo feitiço deinvisibilidade, ninguém a notaria. Pelo menos, nenhum mundano. Os carros nagrande avenida corriam como sangue pulsando nas veias, assim como o resto da cidade e não demorou para ela virar na Convention Center Drive e avistar o Hotel Cassino que lhe fora informada. Ela olhava para todos os lados, esperando alguém pousar os olhos em sua figura, mas o local parecia limpo. Ela passou pelo Riviera, brilhanto exageradamente com suas estrelas e correu até o próximo quarteirão, se afastando da massa mundana e dos carros.

Sentiu uma movimentação atrás de si e se virou. Duas figuras vestidas de preto a seguiam não de tão longe ao ponto de serem discretos. Ela acelerou o passo, segurando ainda mais firme a cesta, e um segundo após, estava correndo.

O capuz voou para trás, deixando seu rosto exposto mas ela continuou firme e rápida até a entrada do The Down. O ar colidia cada vez mais rápido contra seus pulmões e quando ela chegou em seu destino, já tinha jogado a capa de veludo no chão, revelando seus braços pálidos cheios de marcas negras entrelaçadas e sua roupa de combate preta.

Ela tocou o interfone ao mesmo tempo que seu chicote electrum desenrolava de seus braços. As duas figuras se aproximavam, mas ela pretendia os afastar. A resposta no interfone não foi lenta, e ela logo sussurrou:

— Entrega para Ragnor Fell.— disse ela, e ao mesmo tempo a portão começou a abrir. Ela correu com a cesta até a entrada e a colocou dentro dos limites da propriedade. Ela observou as duas figuras se aproximando e mordeu a boca.

— Me perdoe, pequena.— ela sussurrou, mesmo sem poder ver o rosto adormecido da filha que estava coberto por seda. Ela tirou seu colar de prata com a marca Stamina forjada e deixou no meio das cobertas. Uma lágrima rolou na sua bochecha. Não havia outro jeito. Não havia.

Ela correu até a calçada no mesmo segundo que os portões foram fechados. As figuras já a esperavam do lado de fora, encostadas no muro entre as sombras.

— Tarde demais.— falou ela, e a primeira figura saiu das sombras. Tinha pele laranja escamosa e olhos vermelhos pulsantes.

— Acha que esse cabaré a salvará de seu destino?— o demônio sibilou, a língua de lagarto tremendo antes de voltar a boca.

— Enquanto ele viver, sim.— ela falou— E meus queridos, ele é imortal.

O demônio pulou em cima dela, e os dois rolaram no chão. Ela se levantou e puxou o chicote, enrolando no pescoço da criatura ao mesmo tempo que a segunda se aproximava. Ela girou o chicote, acertando um demônio no outro e puxando uma lâmina serafim de sua veste.

—Adnachiel!— ela gritou e observou a lâmina acender. O demônio de pele laranja agachou e tentou pular nela, mas ela desviou e cortou sua cabeça. O icor preto borbulhou de seu pescoço e logo ele desapareceu.

Ela se virou para procurar o segundo, mas este já havia desaparecido. Assim como a cesta, dentro do Hotel Cassino.