Capítulo 13 – Kokiri Forest

Ele correu até o grande tronco de árvore oco entre as folhagens e pode confirmar o que Zelda* vira. Havia um menino ruivo ali, como se estivesse de guarda. Roupas verdes, uma expressão de tédio em seu rosto, e uma fada voando ao seu redor.

– Mido!!

Ele saltou para trás de susto, estivera distraído até então. Voltou-se de olhos arregalados para olhar a outra extremidade do tronco oco e viu uma figura adulta, mas de alguma forma familiar abaixada ali. A princípio seu rosto denunciou confusão, até que sua expressão começou a mudar para o reconhecimento com o passar dos segundos, e ficou assustado de novo quando viu surgirem por trás dele uma mulher Sheikah, a princesa de Hyrule, uma mulher muito esquisita de pele cinzenta e cabelos ruivos e um casal mais jovem, cujo garoto era idêntico ao primeiro.

– L-Link?! Você é o Link que vivia aqui há dezessete anos?!! E essa com você... É a princesa de Hyrule?!! – O menino questionou ainda de olhos arregalados.

– Sim – ele respondeu com um grande sorriso.

Mido nunca havia se dado bem com ele na infância, mas Link nunca dera importância às implicâncias do garoto, também tinha sentido falta dele. Continuava exatamente igual ao que era da última vez que haviam se visto, aparência de criança, voz infantil e roupas verdes, como todos os Kokiris permaneciam a vida toda.

– Quem são os outros?!

– A guardião da princesa, a princesa de Twilight e dois parentes de um reino distante.

– Por isso vocês dois são tão iguais!

Ele não disse mais, sabia que seria complicado inventar mais uma história ou se desmanchar em longas explicações para Mido se ele soubesse a verdade sobre Link* e Zelda* e também Midna.

– Mas... Como?! Você sumiu! Desde a última vez que Saria te encontrou você disse que estava indo encontrar a princesa Zelda e nunca mais voltou!! Todos te esperaram por todos esses anos! E você simplesmente desapareceu! E agora volta do nada?! O que está acontecendo?!

– Mido! Me escute! Eu me perdi depois que deixei Zelda. Eu entrei em uma floresta esquisita quando estava procurando por Navi e fui parar num lugar estranho chamado Términa. Quando eu voltei me perdi, não conseguia encontrar nenhum dos lugares que eu conhecia. Eu vaguei por tanto tempo que perdi a memória até poucos anos atrás.

– E por que não voltou imediatamente?!

– Isso é uma longa e complicada história...

– E por que toda essa intimidade com a princesa de Hyrule? Quem você pensa que é pra chama-la pelo nome?!

Link riu. Em todos aqueles anos, o garoto continuava implicante com ele, lá no fundo sentira falta disso também.

– Eu a chamo pelo nome porque eu sou o marido dela.

O garoto ruborizou e arregalou os olhos de novo. Link se segurou para não dar uma grande gargalhada.

– Q-QUÊ?! – Ele conseguiu responder simplesmente e olhou para a princesa.

– É verdade – ela lhe disse com um sorriso.

O menino nunca vira a princesa pessoalmente, mas, estando sempre como vigia da entrada da floresta, podia ver e ouvir vez ou outra o que se passava do outro lado e ela batia perfeitamente com as descrições que ele já ouvira da princesa.

– Mido – Link chamou, tirando-o de seu transe – Eu preciso ver Saria, preciso entrar na floresta.

– E o que é que você quer fazer aqui?

– Preciso resolver questões inacabadas do passado. Você mesmo reclamou de eu ter demorado tanto a voltar!

– Eu vou deixar você e seus amigos entrarem só porque não é todo dia que se recebe a visita de duas princesas de uma vez só, e com certeza todos eles são muito mais legais que você, Link! Sejam bem vindos à Kokiri Forest.

Link riu e passou para o outro lado, sendo seguido pelos demais. Quando o grupo se distanciou, um sorriso cruzou o rosto de Mido, ele também sentira falta do amigo.

– O Skull kid estava certo! – Link disse olhando em volta e flashs de memória correram por sua mente - Agora eu me lembro! Aquele caminho é o dos campos de Hyrule! É por onde eu ia e vinha... Nesses anos, passei tantas vezes por ele, mas nunca consegui encontra-lo. E aquele leva a Lost Woods, de onde raramente se consegue sair depois de ter entrado... E onde fica o portal de Términa.

– Não acha melhor tomar providências pra que esse caminho seja fechado? – Midna sugeriu.

– Eu farei isso quando encontrar Saria.

– Link... Tem um monte de crianças vindo pra cá – Zelda* observou.

– Parece que lembram de você – Link* disse.

Ele olhou para onde indicavam e viu um aglomerado de crianças vestidas de verde e um monte de fadas correndo para ele e vozes familiares gritando seu nome. Reconheceu todos eles, inclusive as duas crianças gêmeas que viviam ao lado das casas de Saria e Link. Viu também alguns rostos novos, finalmente descobrindo de onde vinham algumas casinhas a mais que Link tinha contado. Após ser derrubado no chão por eles, morrer de rir, colocar alguns assuntos em dia e lhes apresentar sua esposa e amigos, Link descobriu durante a conversa que sua casa ainda existia, tudo estava quase exatamente como antes. Após se levantar ele seguiu para a ponte da pequena cachoeira, também do mesmo jeito de antes, ajudando os demais a subirem e todos seguiram até a casa em frente.

– Saria... – ele sorriu e seus olhos se encheram de ternura ao olhar para a casa, bem ao lado da sua, que parecia também não ter sido modificada com os anos.

– Não tem ciúmes disso? – Midna brincou com um sorrisinho, sussurrando para Zelda, que riu baixinho.

– Não. Saria era a melhor amiga de Link quando ele vivia aqui. Ela também é uma sábia. Em um outro futuro, nós fomos muito próximas.

Link tirou de seus itens a ocarina cor de palha que ganhara da amiga quando tinha dez anos de idade, para que nunca esquecesse dela e sempre voltasse para vê-la. Ele levou o instrumento aos lábios e todos puderam ouvir claramente a Saria’s Song. Ao fim da canção, puderam ouvir a porta de madeira se abrir lentamente e uma fada de luz rosa saiu voando por ela. Uma criança de cabelos verdes espiou o lado de fora. Ela olhou bem para todos ali e seus olhos pararam em Link*.

– Link! – Ela correu para fora, mas então reparou em Link*, ficando extremamente confusa.

– Saria... Eu estou aqui – ele se abaixou para ficar à altura dela.

Seu olhar caiu para a ocarina em suas mãos, depois voltou ao rosto de Link, encarando-o. Seus olhos se encheram de lágrimas ao reconhecê-lo.

– Link! – Ela correu até ele e o abraçou com toda a força que podia, sentindo Link retribuir seu gesto – Você ainda tem minha ocarina!

– Eu nunca me livraria dela.

Link sentiu as lágrimas dela molharem seu ombro e por alguns instantes só se ouvia o choro da menina, que recusa-se a soltá-lo. Link afagou os cabelos curtos, tentando acalmá-la, sentiu seus olhos também encherem-se de água e chorou junto com ela.

– Mesmo que não encontremos Navi, isso deve ser um grande alívio para os dois e você também – Zelda* sussurrou para a princesa de Hyrule.

– Sim... Nesses anos todos, Link foi verdadeiramente feliz, mas muitas vezes a tristeza e as lembranças o pegavam e eu sempre sofri junto com ele por isso.

Quando os dois estavam mais calmos sentaram-se na grama por algum tempo, tentando recuperar-se. Saria se virou para o restante do grupo e reconheceu imediatamente a princesa e sua guardiã.

– É uma honra que visitem nossa floresta – ela saudou todo o grupo.

– Nos sentimos honrados em finalmente conhece-la, Saria – Zelda lhe respondeu com um sorriso.

Em seguida os olhos de Saria passaram por Midna e Zelda* e pararam em Link*.

– Por que há dois de vocês? Por um momento pensei que o Link que eu conhecia fosse você – ela falou, se referindo a Link*.

– Saria... É uma longa história... Eles dois são noivos e também se chamam Link* e Zelda*. E esta é Midna, a princesa do reino de Twilight.

– Twilight... Ouvi falar nisso dez anos atrás. E por que vocês quatro têm os mesmos nomes e são tão parecidos?!

– Saria – Zelda lhe chamou – Como uma sábia e grande amiga de Link, você deve saber de algumas coisas. Só pedimos que não conte a mais ninguém.

– Tem minha palavra de que não o farei. Poderemos conversar sobre tudo isso, mas, princesa... Por que também está aqui?

– Eu e Link estamos casados.

– Casados?! – Ela arregalou os olhos, mas depois abriu um grande sorriso – Estou feliz por isso.

– Obrigado, Saria... – Link falou após algum tempo – Nós chegamos até aqui procurando Navi. Eu nunca consegui encontra-la... – ele não sabia bem como perguntar por sua fada azul.

– Está com sorte, Link – Saria sorriu – Eu já ia te falar sobre ela. Quando vocês desapareceram nós ficamos muito aflitos. Um dia Navi apareceu vindo da entrada daquela floresta estranha. Ela estava abatida e confusa. Encontrou um Skull Kid e duas fadas, mas não você. Ela ficou semanas perdida até conseguir chegar aqui. Como você nunca voltou, a árvore Deku ofereceu outras crianças pra ela cuidar, mas ela recusou. Você sabe que, assim como nós, as fadas não saem sozinhas daqui. Desde então, ela esteve esperando você voltar.

– Então ela está mesmo aqui?!

Saria olhou para a casa ao lado, a casa de Link.

– Nunca foi ocupada. Eu ajudo Navi a mantê-la em ordem. Ela está vivendo ai dentro desde aquele dia.

A casa estava toda fechada, não sendo possível alguém de dentro ouvir muito bem o barulho de fora. Saria se levantou e adiantou-se até a porta.

– Como ela ainda não nos ouviu? – Link* questinou.

– Deve estar dormindo – Midna supôs.

– Como alguém que nós conhecemos – Zelda* falou, fazendo todos rirem, e recebendo um olhar dos dois Links.

– Então você ainda é assim? – Saria perguntou ao amigo – E você também? – Perguntou dessa vez a Link* - Ela pode estar dormindo... Às vezes cai no sono no começo da tarde.

– Ela costumava dormir dentro do meu chapéu – Link lembrou com um terno sorriso.

Saria bateu na porta, aproximando o ouvido. O coração de Link descompassou. Sabia que Saria dizia a verdade, mas reencontrar Navi finalmente depois de tantos anos... Ele sentia ao mesmo tempo a tristeza de anos, toda a sua dor e preocupação por ela e a grande felicidade de poder vê-la de novo.

– Navi? – Nada por alguns segundos – Navi? Está acordada?

– Saria...? – Puderam ouvir uma vozinha sonolenta de dentro da casa.

Só então Link notou que havia um buraco na porta e pode ver uma luz azul ali. Seu coração quase parou. A fada azul saiu voando pela espaço aberto na madeira e por um momento pareceu confusa voando de um lado para o outro, até que parou na frente dos dois Links.

– LINK! Não acredito! Link! Link! Hey, listen! Por que dois?! Qual de vocês dois é o meu Link?! Onde você esteve?! Por que sumiu?!

“Hey, listen!” Pela primeira vez na vida ele sentiu seu coração encher-se de felicidade por ouvir aquilo e antes que alguém desse à fada alguma resposta, Link a puxou com as mãos para perto de seu rosto, já que não podia abraça-la, e suas lágrimas retornaram, dessa vez com mais intensidade.

– Link?! É mesmo você?!

– S-sim, Navi!

Ela abraçou seu nariz e ele pode sentir pequenas gotas molharem seu rosto.

– Link! – Ela repetia, também com a voz alterada pelo choro – Você voltou! Está tão alto! Já é um homem!

– Sim, estou de volta – ele ainda chorava, mas a alegria permanecia visível em seu rosto.

Assim como os demais, Zelda sorriu aliviada enquanto olhava os dois. Nunca se incomodara ou se irritara quando Link demonstrava sua dor. Ela havia sofrido junto com ele e sempre estivera ao seu lado. Também gostava de Navi e também sentia sua falta. Finalmente Link teria sua felicidade completa e o pedaço que faltava do seu coração de volta.