Unconditionally escrita por Lara


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem da história, meus queridos! Foi feita com muito carinho e dedicação. A história toda é narrada por Kariya. Fanfic yaoi e de universo alternativo, por isso não se assustem com detalhes que nunca existiram. Boa Leitura...



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Era uma noite fria, como todas as outras, já passavam das 11h00min da noite, e eu resolvi ir, finalmente, para casa. Vir-me-ei para a grande vista da cidade de Inazuma baixo de mim, os carros andando nas enormes avenidas, as luzes brilhantes, e alguns helicópteros sobrevoando o enorme céu azul escuro.

A Torre de Inazuma sempre foi o meu lugar preferido para treinar. Silencioso e com uma vista privilegiada da cidade, aquela área sempre me ajudava a me concentrar em meu treinamento.

Esse espaço não é conhecido por muitos e isso faz com que eu tenha privacidade e certo conforto, o que não é fácil de achar, já que a maior parte da população de Inazuma é apaixonada pelo futebol, desde que o time Inazuma Eleven se tornou popular há dez anos.

Após arrumar minhas coisas, saio da Torre e vou caminhando lentamente para casa. Não estava com pressa. Não haveria ninguém me esperando em casa. Meus pais, com certeza, devem estar trabalhando no hospital, fazendo plantão, como sempre.

Olho para o céu noturno e me lembro dele. Os olhos dele são tão escuros quanto um buraco negro. Seus cabelos de um violeta exótico me atraiam a atenção de tão brilhosos e, aparentemente, macios eles são.

Ele não sabe, é claro, que eu o observo todos os dias, durante os treinos e na sala de aula. Observá-lo se tornou meu passa-tempo preferido. Sei todas as suas manias e seus defeitos. Conheço cada expressão facial que ele faz. E todo esse conhecimento sobre ele, eu adquirir sem nem ao menos perceber. No começo, eu o achava interessante, intrigante, e com o passar dos dias, eu passei a ter uma curiosidade insaciável por saber mais sobre aquele garoto tão ingênuo.

Eu nunca fui do tipo que me importava com a opinião dos outros, mas com ele tudo era diferente. Eu queria descobrir cada segredo de sua alma, queria saber a opinião dele em relação às coisas que eu fazia.

Enquanto caminhava para casa, passo pelo campinho em que todo o time da escola treino ao término das aulas. Encaro aquele lugar com carinho. Por mais que eu não demonstre, eu amo o futebol. Esse esporte é como uma parte de mim.

Olho ao redor e percebo que não estou sozinho. Mais a frente, vejo dois garotos sentados na grama próxima ao campo. Não consigo dizer ao certo quem são, mas tenho a impressão que os conheço.

Aproximo-me, lentamente, dos dois rapazes na intenção de não ser notado e ainda tentar reconhecê-los. Não entendo o motivo de querer tanto saber quem são aqueles indivíduos, pois raramente dou atenção para esse tipo de coisa, no entanto, algo dentro de mim dizia que eu deveria descobrir.

Aos poucos, começo a ouvir as vozes e noto que são estranhamente familiares. Resolvo parar a poucos metros dos dois e tento prestar atenção na conversa.

- E o que você fará? – Pergunta a primeira voz. Eu tinha certeza que conhecia o dono da tal.

- O que você quer que eu diga? Não irei estragar tudo só por egoísmo. – Fala o segundo com o tom de voz sofrido. Eu reconheci, imediatamente, o dono dessa voz. Era ele. O dono da segunda voz é aquele que perturba minha mente desde que chegou em mim vida. Arregalo meus olhos, surpreso por vê-lo a essa hora naquele lugar.

- Oh, por favor, Hikaru! – exclama a primeira voz, exasperado. – Egoísmo? Você gosta dele desde que o viu. Eu nunca conheci uma pessoa que poderia amar alguém por tantos anos como você. Há quanto tempo você gosta dele? Três anos?

- Quatro anos e meio. – Responde abaixando a cabeça. – Mas eu não irei fazer isso, Tenma. Eu jamais conseguiria me declarar para ele.

Ouço um suspiro alto de Tenma. Ele parecia contrariado com a decisão de Hikaru. Eu me encontrava, completamente, surpreso com o que eu havia ouvido. Isso era sério? Hikaru é apaixonado por uma pessoa a mais de quatro anos? Kageyama Hikaru? Eu não sabia o que pensar.

- Tudo bem, Hikaru. Eu não irei te obrigar a nada, mas saiba que eu sou contra você esconder o que sente por ele. Enquanto você continuar com esse seu medo bobo, nada vai mudar – diz Tenma. Ele passa a mão pelos cabelos em sinal de nervosismo.

- Eu sei, Tenma. De qualquer forma, me prometa que não vai contar para ninguém. Você é o único que sabe meu segredo. – Hikaru pede a Tenma com os olhos brilhando. Mesmo de longe, qualquer um consegue enxergar o brilho daqueles olhos ônix.

Tenma suspira alto, mais uma vez. Ele se levanta e estende a mão para Hikaru. O outro o olha tentando entender o significado daquele gesto. Mesmo confuso, Hikaru aceita a mão e se levanta. Tenma o abraça com carinho e diz em seu ouvido:

- Eu jamais trairia a sua confiança, Hikaru. Você sabe disso. Eu guardo esse seu segredo há tanto tempo, então, por que eu iria dizer algo para alguém, justamente, agora?

Aquela cena mexeu muito comigo. Eu estava com raiva. Muita raiva. Quem o Tenma pensa que é para sair abraçando o meu Hikaru? Tudo bem que ele não sabe disso e nem ninguém, para ser sincero, mas eu odeio quem sequer o toca.

Resolvo sair dali. Eu sabia muito bem que se eu continuasse a presenciar aquele momento entre os dois, eu poderia cometer uma loucura e me arrependeria depois.

Chego em casa, rapidamente. A conversa daqueles dois não saia de minha mente. Enquanto tomo meu banho, as palavras de Hikaru viam como uma avalanche. Eu estava angustiado. Eu tinha a sensação de estar perdendo algo. Esse sentimento é uma tortura.

Tento dormir, mas o sono não apareceu em nenhum momento. Eu não consegui pregar o olho a noite toda. Meu corpo, pela manhã, doía como nunca. Entretanto, não era meu estado físico que me incomodava, mas sim meu coração. Eu sentia como se estivesse carregando mil toneladas de pedras dentro dele.

Vou para a escola, desolado. Não saia da minha cabeça que Hikaru gostava de outra pessoa. Eu nunca sentir uma angustia tão grande quanto a que eu sinto neste instante.

As pessoas da escola tentavam puxar conversa comigo, mas eu nem lhes dava atenção. Eu dava uma resposta curta e grossa e logo elas se tocavam que eu queria ficar em paz. Durante todo o período de aula, eu ignorei a todos, inclusive Hikaru que não parava de me perguntar o que estava acontecendo comigo. Eu não conseguia olhar em seus olhos e evitava ao máximo conversar com ele.

- O que estar acontecendo com você? – Pergunta Tenma com seu olhar de preocupação.

- Nada. – Respondo secamente.

Estávamos na sala do clube de futebol. Todos do time estavam reunidos. No momento em que Tenma veio falar comigo, todos se calaram para prestar atenção na conversa. Tsc, bando de curiosos!

- Oh, vamos, Kariya, nos conte o que aconteceu. Você nunca foi do tipo de ficar o tempo todo calado. Todos nós estamos preocupados com...

- Ah, cala-se, Tenma! – Interrompo Tenma com um grito. A minha reação pegou a todos de surpresa. Eu estava irritado com ele. Eu não conseguia para de pensar no momento em que ele abraçou Hikaru. – Eu não preciso de sua preocupação. Na verdade, eu não preciso de você para nada. Acho até que você deveria sumir!

Tenma arregala os olhos e abre a boca levemente. Ele parecia muito espantado com o que eu havia dito. Não o culpo. Nem mesmo eu estava entendendo meu comportamento.

- Ka... Kariya? – Tenma gagueja assustado.

- Hey, não fala assim com ele! O que foi que deu em você? Por acaso enlouqueceu? – Hikaru toma as dores de Tenma e vem defendê-lo. Isso faz meu sangue ferver. Eu odeio essa situação. Eu não queria que ele defendesse o Tenma. Eu queria que ele me defendesse!

- Ah, então agora você vai defender o amiguinho? Que gracinha! – Falo ironicamente. – Por que vocês não se casam? Acho que formariam um casal perfeito! Oh, imaginem só: Um idiota bobinho e sem noção e um burro que se faz de amiguinho de todos, quando na verdade é um falso e infiel, juntos? Eu posso ser o padrinho do casório?

Todos estavam assustados. Eu não conseguia controlar minha boca. Eu, simplesmente, queria descontar minha raiva. De repente, sinto um dor forte em meu queixo e acabo caindo no chão.

Olho para a direção em que estava anteriormente e percebo que recebi um soco de Tsurugi. Ele parecia com muita raiva.

- Cale a maldita boca, idiota! O Matsukaze só queria lhe ajudar e é assim que você o trata? Pense antes de dizer asneiras! – Fala Tsurugi exasperado.

Olho ao meu redor e percebo que todos me olhavam com indignação, com exceção de Tenma que se encontrava sério, mas eu não via raiva e nem decepção em seus olhos. Ele parecia compreender o que estava acontecendo. Vejo-o dar um discreto sorriso e balançar a cabeça negativamente. Passo meus olhos para àquele que realmente me importava.

Hikaru me olhava com descrença e decepção. Ele segurava o choro com força. A expressão em seu rosto fez meu peito se apertar. Seus olhos, normalmente brilhantes e alegres, agora, estavam opacos e tristes.

- Eu... Olha, eu... – Tento dar uma explicação, mas essa tarefa se tornava impossível quando eu sentia o olhar magoado de Hikaru sobre mim.

- Quer saber, Kariya? Eu nem sei por que ainda me surpreendo com suas atitudes. – Diz Hikaru com lágrimas nos olhos. Ele olha para Tenma como se pedisse desculpas e sai.

- Hi... Hikaru – sussurro assustado. Aquilo foi como mil facas perfurando meu peito. Eu não sabia o que fazer.

Resolvo que devo ir atrás dele, mas antes de sair, sinto alguém segurando meu pulso. Olho para trás, furioso. Estava pronto para mostrar o inferno para o individuo que me incomodava pessoalmente, mas me controlo ao ver que quem me segurava era Tenma. Eu ainda estava bem arrependido do que havia falado, então, permaneci calado e esperei que ele revelasse o porquê da interrupção.

Ele analisa meu rosto sem expressar sentimento algum. Senti-me, completamente, exposto e por algum motivo fiquei nervoso. Eu não estava entendo mais nada, mas sabia que devia ir atrás de Hikaru.

- E então? – Pergunto impaciente. Eu não queria ser grosso com Tenma, mas eu precisava me encontrar com Hikaru.

- Eu vou deixar você ir vê-lo, mas primeiro preciso conversar com você. – Fala Tenma, inexpressível.

- Eu não tendo tempo – digo com sinceridade. – Eu preciso vê-lo – completo em tom suplicante.

- Eu sei, mas acredito que não irá se arrepender de conversar comigo. – Tenma dar um sorriso acolhedor e começa a andar em direção a saída. Ele para, de repente, olha para mim, dar uma piscadela e continua a andar.

Olho ao meu redor e percebo que todos encaravam a entrada do clube, completamente, confusos. Não demoro muito, saio atrás de Tenma, tentando entender quais eram suas verdadeiras intenções.

Em pouco tempo, consigo alcançá-lo. Andamos em silêncio e isso me incomodava um pouco. Tenma parecia relaxado e despreocupado, como se o que estivesse acontecendo.

Eu juro que eu nunca vou entender as pessoas idiotas do time em que jogo. Uma hora eles se matam e são contra um companheiro de time ou outro, no outro momento, eles se amam e matam qualquer um que critiquem os outros e, agora, para completar, um ofendo o cara o chamando de falso e outros nomes e ele está, simplesmente, feliz. Dar para entender?

Quando chegamos ao campinho de treinamento do time, Tenma para e começa a encará-lo. Seu olhar era distante e pensativo. Aparentemente, ele estava pensando no que iria dizer. O dia estava nublado e serenava um pouco. O frio que fazia naquela tarde não era intenso, mas ainda nos obrigava a estar com pelo menos uma blusa de frio.

- Por que me trouxe aqui? – Pergunto tentando entender o que estávamos fazendo no mesmo lugar onde eu o havia visto com Hikaru.

- Sei que estava aqui ontem. – Fala com naturalidade.

- O que? – Digo surpreso.

- Eu vi uma pessoa ontem, aqui. Tinha as mesmas características semelhantes a sua. Infelizmente, eu não tinha certeza, por estar muito escuro, mas eu tinha uma leve desconfiança. Decidi tirar a prova dos noves e hoje eu comprovei que era você – explica com um sorriso no canto do rosto.

- Não estou entendendo aonde quer chegar, Tenma.

Ele suspira, parecendo estar cansado da situação.

- O que eu quero dizer é que já passou da hora de você dizer a Hikaru o que sente por ele. Você não tem noção do quanto vocês dois estão me cansando. – Ele coloca a mão na testa e balança a cabeça negativamente.

- Como? – Arqueio uma das sobrancelhas. – Quer que eu diga o que sinto para Hikaru? Do que estar falando? Enlouqueceu? – Tento disfarça meu nervosismo, mas pelo que pude ver no olhar que Tenma me lançou, eu não havia o convencido.

- Oh, Deus, o que eu faço com esses seres de cabeças duras e, incrivelmente, orgulhosos? – Fala Tenma levantando os dois braços e olhando para o céu. Confesso que a cena é bem engraçada. Ele parece àquelas tias revoltadas com os sobrinhos correndo pela casa recém arrumada. – Você me atacou hoje, porque está com ciúmes dele. Eu não entendo o motivo de você ainda tentar negar para mim a sua reação. Depois, eu é que sou o burro do time. – Ele revira os olhos, irritado. Decido não dizer a ele, que, sim, ele é o mais burro do time. Na verdade, ele é o mais ingênuo do time, mas dar quase no mesmo.

- Certo. Vamos supor que você esteja certo. Mas, do que adianta eu gostar dele e ele estar apaixonado por outro? Eu só iria me machucar. – Digo, me dando por vencido.

- Ah não, não me venha com essa conversa, por favor. – Fala Tenma colocando as mãos em meus ombros e olhando em meus olhos com ternura. Estranho, muito estranho!

- O que quer que eu faça? Eu ouvi a conversa de vocês. Sei que ele gosta de outra pessoa a mais de quatro anos. Não vou revelar o que eu sinto só para receber o toco em seguida. – Afasto-me de Tenma e me sento no chão molhado, sem me importar com mais nada, e observo a paisagem.

- Como esses dois são idiotas. – Ouço Tenma sussurrar para si mesmo.

- O que quer dizer com isso? – Pergunto olhando para o garoto que ainda se encontrava em pé.

- Que você estar perdendo tempo aqui, em vez de ir atrás do Hikaru para se desculpar e evitar que ele faça uma bobagem. Sem contar, que, com certeza, você terá uma grande surpresa dele.

- O que você estar escondendo, Tenma? – Questiono achando muito estranho essa atitude dele.

- Ele estar no parquinho abandonado do outro lado da cidade. Acho que você deveria correr. – Após dizer isso, Tenma começa a andar de volta para o clube.

Olho para ele, tentando compreender o que aquele louco falou. Tudo bem que ele nunca foi normal, mas ele já estar passando dos limites. Sem perder tempo, começo a correr para o parquinho abandonado que Tenma havia citado.

Vendo que eu demoraria demais para chegar até lá correndo, pego emprestada a bicicleta de um garoto que estava passando perto de mim. Ok, eu confesso que eu o empurrei e sai pedalando, mas eu ainda tinha a intenção de devolver depois.

Pedalo com todas as minhas forças na intenção de chegar o mais rápido possível ao outro lado da cidade. Passo pelas calçadas esbarrando nas pessoas e atrapalhando bastante àqueles que passavam pelo lugar. Não ligava muito para os xingamentos das pessoas e as inúmeras buzinadas que recebi enquanto atravessava as ruas feito um louco. Quase fui atropelado umas duas vezes, entretanto, tudo valeu a pena. Cheguei em menos de vinte minutos no antigo hospital infantil da cidade, onde, hoje, havia restado apenas um parquinho abandonado com alguns restos do hospital, que deixou de existir com um grave acidente que ocorreu há anos.

- Hikaru – grito, tentando obter respostas, mas, infelizmente, não consegui nada.

Observo o lugar e tudo parecia mais sombrio que o normal. O tempo e a paisagem só me deixavam mais angustiado do que eu já estava. Largo a bicicleta de qualquer jeito e começo a procurar por Hikaru.

Desde quando eu era criança, não venho a esse parquinho. O incêndio que ocorreu quatro anos atrás marcou a todos da cidade. Todos ficaram de luto por meses. Centenas de crianças morreram queimadas, inúmeros médicos e enfermeiros não conseguiram salvar as pessoas que se encontravam no local no dia do incidente. Foi uma das maiores tragédias da história da cidade de Inazuma.

Caminho devagar, analisando onde piso e o que sobrou daquele belo lugar. As lembranças daqui ainda estão em minha mente. Eu estive aqui diversas vezes. Não consigo nem imaginar quantas crianças que eu conhecia morreram no incêndio.

Meus pais trabalhavam no Hospital Regional Pediátrico de Inazuma e, naquela época, eu amava vim visitar as crianças que ficavam internadas ali. O parquinho do hospital era o meu lugar favorito.

Pensar naquela tragédia fazia meu peito doer. Sinto um aperto no coração ao me lembrar das cenas dos familiares chorando com a perda das crianças e parentes que se encontravam no hospital naquele dia.

Um som de choro chama a minha atenção. Paro de andar, imediatamente. Presto mais atenção e logo vejo que não vem de longe. Solto um suspiro de alívio por, finalmente, ter encontrado Hikaru.

Ele estava sentando em um balanço, com as mãos no rosto e tremendo levemente. Aquilo partiu meu coração. O meu Hikaru chorava por minha culpa. Ele parecia frágil e delicado. Seus soluços se tornavam cada vez mais alto. Ele parecia exalar a dor e a tristeza, como eu jamais havia visto. Eu sentia como se tivesse quebrado as asas do mais belo pássaro.

Ando calmamente até ele. Meu peito doía só de imaginar queele jamais me perdoaria. Se isso acontecesse, eu não poderia culpá-lo. Eu em seu lugar, nunca mais olharia em minha cara.

A cada soluço que ele dava, mais a vontade de correr e abraçá-lo, na tentativa de lhe arrancar aquela dor que meu pobre pássaro sentia, se tornava maior.

Quando estava próximo o suficiente para tocá-lo, acabo por chutar uma pedra e isso faz com que perceba que estou presente. Ele me olha assustado e, por um momento, para de chorar. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. O brilho que sempre se via neles, agora estavam opacos e sem vida, sem cor.

- Ka... Kariya. – Hikaru se levanta apressadamente, limpando os olhos com as costas das mãos.

Ao tentar sair, seguro seu braço, o impedindo que saísse. Olho em seus olhos, determinado a consegui perdão. Eu já nem me importava com essa tal pessoa que ele diz amar a tanto tempo. A única coisa que eu queria era mostrar o quanto eu o amo.

Escute

- Espere, por favor. – Peço em tom de suplica.

- O que você quer? – Diz Hikaru rispidamente.

Oh, não, eu cheguei perto demais?

Oh, eu quase vi

O que está realmente por dentro?

Todas as suas inseguranças

Toda a roupa suja

Nunca me fizeram piscar uma vez

- Você precisa me escutar, Hikaru.

Procuro ignorar todas as dúvidas e incertezas em saber se o que eu faria era certo ou não. Resolvo jogar fora todo o meu maldito orgulho junto com o medo de que ele pisaria em meus sentimentos se eu os revelasse. Rejeito todo e qualquer sinal de alerta que minha mente me manda.

- Estou ouvindo. Diga de uma vez e me deixe ir embora, de uma vez por todas. – A magoa estava mais presente do que nunca em sua voz.

Incondicional, incondicionalmente

Vou te amar incondicionalmente

Não há medo agora

Se liberte e apenas seja livre

Eu vou te amar incondicionalmente

Suspiro alto e digo diretamente, sem rodeios, sem desculpas, apenas digo:

- Eu o amo. – Vejo Hikaru arregalar os olhos com surpresa e incredulidade. - Eu te amo muito mais do que posso suportar. Sei que acha que eu estou mentido, que isso é loucura, mas eu estou lhe dizendo a verdade.

- O... O que? – Hikaru estava atordoado. Era possível ver a confusão em seus olhos. – Mas... Mas... Você... Você me odeia. Sempre deixou claro isso. Quero dizer... Você sempre mostrou isso... Eu... Por quê? Por que agora?

Venha até mim exatamente como você é

Não preciso de desculpas

Saiba que você vale a pena

Vou acabar com seus dias ruins através dos seus dias bons

Caminhar por esta tempestade, eu iria

Eu faria isso tudo porque eu te amo, eu te amo

- Eu estava com medo. Como não estaria? Tudo o que fiz até hoje, foi fugi de meus sentimentos, esconder o que eu realmente sentia por temer a rejeição. Eu sempre fingi que não me importava para com as coisas que eu imaginava que poderiam me atingir, porque eu tinha medo. Medo de me machucar e machucar àqueles que amo. Eu nunca fui a melhor pessoa para demonstrar carinho, amor, paixão, mas... Desculpe-me. – Digo, olhando em seus olhos perdidos. As lágrimas queriam rolar pelos meus olhos, no entanto, as prendo com teimosia.

- Desculpar-te pelo que? – Ele ainda me olhava confuso, mas parecia tentar compreender o que eu estava querendo dizer.

- Por amar você de modo tão egoísta a ponto de não permiti que você se entregue para outra pessoa. Por ser tão egoísta a ponto de não admitir que outra pessoa lhe toque. Por ser egoísta a ponto de querer que olhe somente para mim, que ignore a todos ao seu redor e que eu seja o único a estar em seu mundo. Por ser egoísta a ponto de ser o motivo de seus sorrisos e querer que seus carinhos e doçura sejam apenas para mim. – Digo com sinceridade.

Incondicional, incondicionalmente

Vou te amar incondicionalmente

Não há medo agora

Se liberte e apenas seja livre

Eu vou te amar incondicionalmente

Ele me olha de maneira diferente. Vejo um brilho único em seus olhos. Um brilho que jamais tinha visto em seus olhos. E então ele sorriu. Sorriu como eu nunca imaginei que seria capaz. Sorriu como um anjo. E, o mais importante, ele sorriu para mim.

- Desculpe-me. – Ele diz ainda sorrindo.

- Pelo que? – Pergunto encantado por sua beleza.

- Por isso.

Então abra o seu coração e apenas deixe começar

Abra seu coração e apenas deixe começar

Abra seu coração e apenas deixe começar

Abra seu coração

Aceitação é a chave para ser

Para ser verdadeiramente livre

Você vai fazer o mesmo por mim?

Hikaru me puxou pelo pescoço e selou nossos lábios. A sensação que tive ao sentir seus lábios sobre os meus foi inexplicável. Foi algo que jamais sentir. Completamente inexplicável.

Nunca imaginei que o meu maior desejo estava se realizando. Tê-lo em meus braços, não por ser obrigado, mas, porque queria. Sentir seus lábios sobre os meus, demonstrando que aceitava os sentimentos que eu guardei por tanto tempo, como os meus maiores tesouros.

Incondicional, incondicionalmente

Vou te amar incondicionalmente

Não há medo agora

Se liberte e apenas seja livre

Eu vou te amar incondicionalmente (oh, sim)

Resolvo tomar a iniciativa. O puxo para mais perto de meu corpo e invado sua boca com minha língua. Travamos uma deliciosa batalha em busca do controle do beijo. Nossa sintonia era mais forte e intensa do que jamais imaginei. O gosto de sua boca era algo viciante. Seu gosto, seu cheiro, tudo aquilo estava me alucinando.

Sinto suas mãos em minha nuca, acariciando meus cabelos. Aquilo só me incentivou a tornar o beijo mais selvagem. A sincronia que nossas línguas estavam era mágica, encantadora. Era uma dança sensual e inigualável.

Aperto cada vez mais a nuca e a cintura de Hikaru o trazendo para mais perto de mim – isso é, se ainda fosse possível -, e o sinto estremecer. Dou um sorriso em meio ao beijo por saber que eu poderia causar aquele tipo de reação nele.

Pensamentos pecaminosos começam a passar pela minha mente. Isso me fez sentir um tarado, mas o que eu posso fazer? Aquele beijo estava me levando a loucura. Ouvir seu suspiro de satisfação era demais para minha consciência que, temporariamente, se encontrava sã.

Como pode, em apenas um beijo eu senti tantas coisas e não compreender nem metade?

Eu vou te amar

Eu vou te amar

Eu vou te amar

Incondicionalmente

O oxigênio já estava se tornando escasso. Vamos parando aos poucos. Por fim, dou inúmeros selos em seus lábios e rosto. Colo nossas testa e sinto sua respiração um pouco falhada. Observo sua face, com carinho, e o vejo de olhos fechados, ainda. Provavelmente, estava com medo de que aquilo não fosse real, assim como eu.

Seu rosto estava corado, seus lábios vermelhos e um pouco inchados. Incrivelmente, encantador.

Ainda com os olhos fechados, Hikaru fala algo que aquece meu coração de uma maneira única.

- Eu também te amo.

Aquela frase com quatro palavras fizeram algo dentro de mim se agitar. Aquilo era mesmo verdade? Ele realmente me amava?

- Isso... Isso é sério? – Pergunto com um sorriso no rosto, numa mistura de alivio e felicidade.

- Sim. Eu te a mais de quatro anos, para ser sincero. – Diz encabulado, olhando para o chão. Suas bochechas estavam mais avermelhadas que anteriormente.

- Como? A mais de quatro anos? Como isso é possível? Quero dizer, nós nos conhecemos há um pouco mais de oito meses. – Questiono confuso.

- Na verdade, nos conhecemos bem antes da escola. – Fala, agora olhando em meus olhos. O que veio a seguir me surpreendeu. – A primeira vez que nos encontramos foi aqui nesse hospital. Na época, eu estava com pneumonia. Você não foi muito com a minha cara, por alguma razão que desconheço. Mas, mesmo não gostando de mim, você me animava e me fazia ri com seu jeito engraçado. A maneira como você ajudava as crianças, aqui, neste hospital, acabou por me encantar. Só tivemos contato por alguns meses. Dois dias antes do acidente, eu tive alta, no entanto, antes de sair daqui, você me levou naquele balanço – ele apontou para o balanço no qual ele estava sentado antes da minha chegada. – e começou a me balançar, sem dizer uma única palavra. Eu preferir não dizer nada, eu era tímido demais para iniciar uma conversa com você. De repente você parou de me balançar. Pediu que eu olhasse para você. Você estava estranho. Quando eu te olhei, você me deu um selinho. Aquele ato me assustou muito. Depois disso, você se virou de costas para mim e começou a andar para o hospital, mas antes de sair, você se virou para mim e me disse que ainda nos encontraríamos e que gostava de mim, por isso pediu para que eu não ficasse doente de novo, porque gostava de me ver bem. Você não sabia que eu ia receber alta, eu nem havia te contado. Eu não queria me despedir de você, pois seria muito doloroso. Talvez você não tenha me reconhecido, por imaginar que eu tivesse morrido no incêndio.

Eu o olhei com boquiaberto. Eu me lembrava disso. Quer dizer, depois dele relatar o fato, eu me lembrei. Depois do acidente, eu evitava pensar nos momentos que passei naquele hospital, porque doía saber que todos aqueles que eu amava e admirava morreram.

- Hikaru. – Eu o abracei com força. Ele corresponde o abraço com a mesma intensidade. – Eu pensei que você havia morrido. Imaginei que aquele garotinho puro e fofo tivesse partido para sempre. Eu sofri tanto com esse pensamento, que acabei trancando em meu peito todas as lembranças daquele tempo. Sinto muito por não reconhecê-lo.

- Como você poderia me reconhecer, se nem ao menos eu lhe disse que estava vivo? – Sussurra em meu ouvido.

- Então, espere um momento. A pessoa que você comentou com Tenma que amava a mais de quatro anos era eu? – Pergunto, tentando esclarecer todas as confusões de minha cabeça.

- Sim. Quem mais seria? Achei que você já tivesse percebido que eu amo você. – Diz me olhando confuso. – Tenma sempre disse que todo mundo já devia estar desconfiando, porque eu não sabia disfarçar meu interesse.

- Eu não fazia ideia. Pensei que era outra pessoa. Nunca me passou pela cabeça que você poderia gostar de mim como eu gosto de você. Cheguei até mesmo a pensar que você poderia estar gostando do Tenma. – Digo fazendo um leve bico de irritação ao me lembrar desse detalhe. Ele sorri e morde meus lábios de leve.

- Você é um tonto mesmo! – Responde rindo. – Eu? Gostando do Tenma? Só se fosse para o Tsurugi me matar. Além do mais, só ele sabia que eu gostava de você, por isso éramos tão amigos.

- De qualquer forma, o importante é que tudo foi resolvido, não é mesmo? – Falo dando um selo em sua testa.

- Hum, não sei. – Ele ri quando eu começo a fazer cócegas nele. – Ok, ok, tudo já foi resolvido. Mas, eu só te perdôo, porque você fica muito engraçado quando você está com ciúmes.

- Quem disse que eu estava com ciúmes? – Indago com um sorriso irônico no rosto.

- E você não estava? – Questiona de volta com uma sobrancelha erguida.

- Talvez um pouquinho. – Ele olha para mim como quem não acredita no que o outro diz. – Ok, eu estava com muito ciúmes. Satisfeito agora?

- Muito. – Ele responde rindo e pula em cima de mim. Por muito pouco nós dois não caímos.

Olho em seus olhos brilhantes e acaricio seu rosto. O mesmo olha para mim, com ternura. O abraço mais uma vez. Era bom estar com ele. Só Deus sabe o quanto o desejei e o almejei e quantas noites em claro eu passei, pensando se um dia ele corresponderia aos meus sentimentos.

- Eu te amo. – Sussurro em seu ouvido. – Eu te amo muito.

Hikaru suspira e se separa de meus braços. Olha em meus olhos mais uma vez.

- Eu também te amo muito.

O beijo mais uma vez. Dessa vez o beijo foi mais carinhoso e calmo. Estávamos, apenas, aproveitando e degustando das sensações e emoções. O calor que ele exalava de seu corpo, era o suficiente para me aquecer naquela tarde de outono, que já estava chegando ao fim com o sol se pondo.

Afasto-me a contra gosto e inspiro seu cheiro. O perfume de sua pele era suave e delicioso. Não resisto ao sentir o calor daquela pele de aparência macia e de cor pêssego. Mordo seu pescoço, sentindo sua pele arrepiar e o ouço soltar um longo suspiro.

- Kariya. – Hikaru fala de maneira dengosa e, ao meu ponto de vista, extremamente sexy.

- Não acabe com meu alto controle. – Digo sorrindo maliciosamente. Ele cora e abaixa a cabeça com um sorrisinho no rosto.

- Eu não estou fazendo nada. – Responde baixo, mas alto o suficiente para que eu escutasse.

- Vamos embora. – Falo, o arrastando pelas mãos.

- Para onde? – Pergunta confuso.

- Para qualquer lugar. Temos coisas bem mais interessantes a fazer do que ficar nesse parquinho abandonado. - Respondo sorrindo maliciosamente.

- Kariya! – Hikaru me repreende.

- O que? Você que é o culpado. Não posso fazer nada se você fica me provocando. – Faço-me de inocente e ele começa a ri, balançando a cabeça negativamente.

Saímos do parque e andamos até a bicicleta que peguei emprestada do garoto. Eu acho que vou ficar com ela até achar o dono. O único problema é que eu não me lembro da cara da pessoa.

Antes que eu falasse qualquer coisa, ouço uma pessoa gritar para um policial e apontar para mim.

- Olha ele ali, policial! Foi ele que roubou a minha bicicleta.

Droga, me ferrei!

Depois de explicar toda a situação e pedir inúmeras desculpas ao carinha do qual eu tinha pego a bicicleta, nós finalmente somos liberados.

Hikaru não se agüentava de tanto ri da minha cara. Perguntando-me como eu poderia ser tão louco de roubar uma bicicleta.

Eu me fingia de bravo, mas na verdade eu estava feliz por vê-lo sorrindo. Sua risada me divertia e encantava.

Encaro o céu noturno e vejo a bela lua cheia brilhando. Olho para meu lado e vejo meu Hikaru ainda rindo divertido. Andávamos de mãos dadas pela alameda próxima da escola. Apesar da noite fria, a mão de Hikaru me aquecia. Tudo estava lindo e perfeito. Eu me sentia em um sonho.

- Kariya? – Ouço a voz doce de Hikaru me chamando com carinho.

- Sim?

- Está tudo bem?

- Melhor impossível. Por quê? – Pergunto calmamente. Pela primeira vez na vida, eu me sentia em paz, completo.

- Você estar tão pensativo. Algum problema? – Questiona preocupado.

- Não. Só estou pensando o quanto eu estou feliz. – Respondo sorrindo para ele.

- Mesmo? – Pergunta corando e apertando minha mão com mais força.

- Com certeza. – Digo o puxando para mais um beijo.

Eu me sentia tão bem naquele mundo onde só eu e ele existimos. Eu não me importo com muita coisa em minha vida, tenho que admitir. Posso fazer uma lista do que eu me importo. Em primeiro, eu me preocupo com a minha família e Hikaru, em segundo com o futebol e com os meus amigos e em terceiro é comigo mesmo. Mas, por me importar com tão poucas coisa, é que eu quero sempre proteger as coisas importantes para mim.

Agora que estou com Hikaru, não importar o que aconteça, eu farei o possível e o impossível para protegê-lo. Enfrentarei o céu e o inferno, se for preciso, para estar com ele, pois eu o amo incondicionalmente e para sempre amarei, com toda a certeza do mundo.

OoO


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Capítulo grande, não é mesmo? Espero que não tenha sido cansativo. Escutaram a música? Acho que ela dar um ar mais romantico durante a declaração. Sinto muito, mas sou mega romantica! Deixem a opinião de vocês! Beijoos meus amores ;* ♥



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