Secrets escrita por Brigith


Capítulo 4
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Hey! Então, aqui está um outro capítulo. Espero que gostem!



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Isabelle POV:

Acordei assustada, sem a menor ideia de onde me encontrava. Minha cabeça estava explodindo e eu tinha quase certeza de que não estava no meu quarto em Londres... ah, não. Com uma estranha sensação de que eu já tinha passado por isso, lembrei-me do fato de que Londres não era mais a “minha cidade”. Suspirei e tentei achar o interruptor. Depois de ter um dedo do pé quase assassinado pelo canto de minha cama, consegui ligar a luz. Franzi o cenho. Parecia que algo estava faltando.

Revirei os olhos para mim mesma, nada estava faltando, é claro, eu estava apenas acostumada demais ao meu antigo quarto, na casa de meu pai. Praguejando mentalmente, sai de meu quarto e fui até a cozinha, comer meu café da manhã. Olhei para o relógio pendurado na parede e descobri que já eram dez horas e meia da manhã. Como eu pude dormir tanto?

Tomei um café com leite apenas e fui até a sala, deitando-me no sofá e acolhendo em meu colo Ozzy, o cachorro mais pequeno e fofo que eu já havia visto. Acariciei sua minúscula cabeça e virei minha atenção para a televisão, que eu acabara de ligar. Estava passando “Harry Potter” e, novamente, senti que algo estava faltando.

– Belle? – chamou Frank, as minhas costas – Tudo bem?

Ele se encaminhou até a poltrona e sentou-se, olhando fixamente para mim, como se esperasse que eu saísse correndo, ou algo assim.

Seus olhos negros refletiam preocupação através das grossas lentes de seus óculos.

O encarei, erguendo as sobrancelhas.

– Tudo ótimo... – respondi, cautelosa – Por que não deveria estar?

Ele sorriu, mas o sorriso não foi convincente. Por alguma razão, ele próprio não era nada... convincente. Aquele suéter, aquela blusa de colarinho abotoado, tudo tão certinho, nele parecia simplesmente tão errado. E aquele sorriso, tão forçado.

– Hum? – perguntou, em resposta – Não, é só que você acordou tão tarde e, bem, você geralmente acorda tão cedo, então...

Assenti.

– Besteira, estou ótima. – disse – Mas e você?

Meu irmão franziu o cenho para mim.

– O que tem eu? – perguntou

O encarei.

– Você está estranho. – respondi – Aconteceu alguma coisa?

Ele negou com a cabeça e se virou para a televisão, onde Dumbledore levava um feijãozinho de todos os sabores (sabor cera de ouvido) até a boca.

– Impressão sua, Belle. Estou normal.

Eu suspirei e resolvi deixar para lá... por hora.

*

Quando Stela chegou, meu estômago já estava doendo e meu humor estava péssimo. Assim, durante o almoço, virei-me para ela e pedi, chateada:

– Afinal, por que demorou tanto para vir para casa? Já são quase duas da tarde!

Senti Frank ficar tenso, ao meu lado, quando minha mãe olhou para mim. Seus olhos estavam injetados e parecia que ela havia passado a noite em claro, o que não fazia sentido, já que eu lembrava claramente dela subindo as escadas e indo dormir.

– Desculpe, Isabelle – disse ela, enquanto mastigava um pedaço de bacon – mas ontem a noite houve um assassinato, por isso eu sai aquela hora. Fiquei interrogando suspeitos e fazendo relatórios até agora a pouco.

– Ontem a noite? – perguntei, confusa – Mas... FRANK!

Gritei, ultrajada, quando meu irmão derrubou molho em meu colo. Levantei rapidamente, mais pelo choque do que por qualquer outra coisa.

– Frank, você tem de tomar mais cuidado, filho – disse Stela, com a voz arrastada

– Desculpe, desculpe – pedia meu irmão, enquanto se levantava e ia correndo buscar um pano, para limpar o molho do chão.

Bufei, irritada, e decidi que já não seria capaz de comer mais nada. Corri escada acima e entrei feito um furacão no banheiro, me despindo e entrando debaixo do chuveiro sem nem me dar o trabalho de trancar a porta.

À medida que a água morna batia em meu corpo, fui relaxando. Respirei fundo várias vezes e, quando acabei de enxaguar meu cabelo cheio de xampu, desliguei o chuveiro, certa de que encontraria minha toalha de banho pendurada no box. Reprimi um suspiro de frustração, como eu não havia notado que não tinha toalha alguma ali?

– Mãe? – gritei, esperançosa – Mãnhêê?

A porta do banheiro se abriu e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, meu irmão entrou.

Sobressaltei-me e me virei de costas, não sem antes notar um olhar de total assombro no rosto de Frank.

– Frank, por acaso você mudou seu nome para “Mãe”? – perguntei, com raiva, sentindo meu rosto queimar. Merda, eu estava nua!

– Não, mas ela foi dormir sua desmiolada! – respondeu, sussurrando – E eu achei que, não sei, tivesse entrado uma barata ou algo assim, não que...

– Tá, tá, anda logo – sussurrei de volta, olhando para a parede e corando ainda mais – vai buscar uma toalha logo caramba!

Ele saiu e, antes que eu pudesse assimilar a vergonha que estava passando, ele voltou e, aparentemente sem se importar com o fato de eu estar nua, se aproximou de mim e me envolveu com uma toalha, provocando-me arrepios.

– Pronto. – disse Frank

Ajeitei a toalha em meu corpo e me virei para ele, pronta para explodir, quando percebi o quão próximo ele estava de mim.

Perdi o fio da meada e esqueci que o mesmo garoto que estava a centímetros de mim, era a causa de toda a minha raiva.

– Eu quero que fique com isso. – disse Frank, pegando minha mão e colocando dentro da mesma algo que eu deduzi ser um colar. – Use, está bem?

Eu assenti, ainda perdida na imensidão de seu olhar.

Ele sorriu, afagou meu rosto e saiu do banheiro, me deixando sozinha, envergonhada, confusa... e com um belo colar prateado na mão.

*

Já completamente vestida, sentei-me em minha cama e suspirei. Estava me sentindo cansada, sem motivo aparente. Olhei ao redor do quarto, pesarosa. Sentia saudades de meu antigo quarto em Londres. Sentia falta de minha sacada e até mesmo do gato que vivia me arranhando – Lúcifer. Mas, é claro, só por que não estava satisfeita vivendo ali, não significava que poderia voltar a meu antigo apartamento. Ah, não. Ainda mais com a noiva de meu pai – Michelli – a antipática.

Entretanto, apesar de insatisfeita com a situação em que me encontrava, percebi que estava feliz por não estar nela sozinha. Frank estava comigo. Todo satisfeito, simpático e certinho, como sempre, mas estava ali.

Balancei a cabeça para clarear os pensamentos e foi então que percebi que algo realmente estava fora de lugar. Mr. Bear, meu ursinho de pelúcia, estava em cima de meu criado mudo, olhando diretamente para mim e eu tinha certeza de que não fora ali que eu deixara meu pequeno amiguinho.

*

Frank POV:

Mesmo após horas pensando e remoendo o assunto eu ainda não tinha a menor ideia do que havia dado em mim ou mesmo nela. Não, eu não estava colocando a culpa por eu ser um monstro chupador de sangue em minha irmã, mas por que ela tinha feito aquilo? Aquele beijo, aquele toque... Grunhi, me ajeitando melhor na cama.

Ainda antes de ser transformado, às vezes me pegava pensando, com repulsa de mim mesmo, em como gostaria que Isabelle não fosse minha irmã. Eu sempre a desejara, mas, acima de tudo, eu a amava e faria de tudo para protegê-la. Quando morri, pensei em partir, abandonar tudo, até mesmo ela. Afinal, como poderia protegê-la de mim mesmo? Minha avó, então, sempre esperta demais para o próprio bem – bondosa demais para o próprio bem – me fez reavaliar minha decisão.

“Você tem ideia do que sua partida significaria para Isabelle?” disse ela, quando contei-lhe que partiria , “Você não é o monstro que pensa que é, Frank”. E então eu ri, gargalhei, mostrando minhas presas para aquela que tantas vezes cuidara de mim com tanto carinho. “Eu matei uma pessoa. Eu matei uma pessoa! Se isso não é ser um monstro, me diga então o que é.”

Minha avó, então, pegou minha mão e me encarou nos olhos. Naquela época perguntei-me como ela conseguia olhar para mim daquele jeito – com aqueles olhos cor de sangue – mas nunca tive a coragem de perguntar. “Meu filho, eu conheci muitos de sua espécie quando eu era mais jovem e uma coisa que aprendi é que, mesmo para quem é eterno, quase nada é para sempre. Você vai aprender a controlar sua sede, eu sei que vai. Mas para isso você não pode se desligar das coisas que te deixam mais... humano. Eu sei que você ama Isabelle, talvez mais do que devesse, mas a ama. Então, não se afaste. Isso não irá ajudar em nada, tenho certeza”.

Dois meses depois, Dona Sofia teve um ataque fulminante. Fomos ao enterro e, uma semana mais tarde, embarcamos em um voo para Londres, para longe das memórias. Eu havia seguido seu conselho. Eu aprendera a controlar a pior parte de mim... pelo menos até agora. Se Isabelle descobrisse o que eu era... o que eu fiz... o amor que eu sentia por ela não significaria nada, eu tinha certeza.

*

Isabelle POV:

Eu havia beijado meu irmão.

Sentada em frente a meu computador eu senti uma lágrima cair, molhando meu rosto. Olhei para Mr. Bear, agora atirado na cama , com um olho faltando. Então, era isso. A razão dele estar agindo estranho todo o dia. Frank não tinha como saber, é claro, que eu nunca deixava Mr. Bear fora do guarda roupa. Como ele poderia adivinhar que o ursinho que eu ganhara de minha avó na verdade continha uma câmera embutida em seu assustador olho de vidro?

Não, Frank não tinha como saber. Assim como eu não podia sequer desconfiar que meu irmão todo perfeito não era tudo que deixava transparecer. Levei minha mão ao pescoço, mas sabia que não encontraria nada ali. Ele havia me curado... com seu próprio sangue. Eu me sentia doente. Doente por não saber mais até que ponto eu conhecia meu irmão. Doente por amá-lo mais do que devia. Doente por saber que ele não era, nem de longe, humano, mas, acima de tudo, doente por saber que ele retribuíra o beijo que por tanto tempo sonhei em lhe dar.

Suspirei e, fechando o vídeo em meu computador, comecei a caminhar até o quarto de meu irmão.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?



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