Meu celular estava em cima da cama. Eu o observava, resolvendo se ligaria ou não para minha mãe. E se ela ficasse irritada e gritasse comigo, mesmo não estando frente a frente comigo? É claro que qualquer mãe normal gritaria com o filho caso ele fosse expulso de um colégio, principalmente se essa fosse a terceira vez que isso acontecesse. Confesso que não tenho sido a filha mais exemplar do mundo, mas eu amava minha mãe, e queria poder dar o melhor para ela. O problema é que não havia como. Depois do divórcio dos meus pais, mamãe não trabalhava direito, vivia desanimada e de cabeça baixa. Duas semanas depois, ela fora despedida e, sem condições de pagar a casa que vivíamos, nos mudamos para a casa da vovó. Mamãe disse que as escolas internas seriam melhores para mim, e me ajudariam a esquecer um pouco alguns acontecimentos. O problema é que não me adaptei muito a elas. Aos quatorze anos, fui expulsa de uma. Aos quinze, de outra e, novamente, fui expulsa de uma nova escola interna aos dezesseis.

Meu pai deve estar irritado comigo, mas em parte, a culpa era dele.

Disquei os números da casa da vovó. Minha mãe atendeu, com uma voz não tão alegre como há cinco anos atrás.

– Georgia? - ela disse, animando um pouco a voz - Filha, não posso acreditar que seu pai não teve a responsabilidade de tirar seu celular depois de todo o ocorrido - dei uma pequena risadinha - Acho que vou trazer você de volta.

– Esse é um dos motivos pela qual liguei - a animação no tom de voz da minha mãe diminuiu quando ouviu essas palavras - Não quero deixar você sozinha, mãe.

– Não estou sozinha, Georgia - disse ela - Sua avó está aqui.

– Não estou falando nesse sentido, mãe. E, além do mais, não quero morar com papai. Quero passar o Natal com você, como sempre fazemos.

– O problema, mocinha - pude perceber que ela sorriu ao dizer isso - É que precisamos melhorar você. Precisamos melhorar seu comportamento. E talvez seu pai possa fazer isso.

Pude perceber o jeito que ela falava a palavra pai. Soava com um tom duro. Ainda era difícil para ela.

– Mãe, por favor... - retruquei - Olha, se deixar eu voltar, posso terminar com Justin. Deixo você me colocar em uma escola normal e tento não arrumar confusões nem nada do tipo. Mas por favor, não me deixe ficar aqui com ela - essa última palavra saiu com um tom duro e ruim.

– Já conversamos sobre isso, Georgia - disse ela, suspirando - Ligo para você depois.

E então, ela desligou. Mamãe não estava mais animada como antes. Desde o divórcio, ela não saía com outros homens, nem namorava, nem se divertia com os amigos, nem nada. Ela apenas ficava em casa, assistindo filmes melosos e tomando sorvete.

– Georgia? - a voz de meu pai ecoou pelo quarto - Com quem estava conversando?

– Liguei para mamãe.

– E o que ela disse? - perguntou ele, sentando-se ao lado.

– Que eu iria morar aqui com vocês, e ponto final. Será que ninguém entende que eu não quero ficar aqui? - suspirei - Eu tenho uma vida lá fora. Tenho amigos, um namorado legal e uma mãe incrível. Não preciso ficar aqui.

– Espera - ele sorriu, ironicamente - Como assim um namorado legal?

Meu pai era ciumento. Vivia dizendo que eu apenas namoraria depois dos trinta anos. Nunca duvidei de que isso fosse verdade.

– O nome dele é Justin. Estudamos juntos ou, pelo menos, estudávamos. Olha... Acho que posso cuidar de meus relacionamentos sozinha, afinal, já tenho dezesseis anos.

Ele suspirou, levantando-se e indo em direção a porta.

– Espero que você mude, Georgia, de algum jeito.