Todos olhavam para mim, e a coisa mais fácil de se fazer era encarar o presente em minhas mãos. Todos esses dias que se passaram tentei não pensar em quem eu havia tirado. Fui em diversas lojas procurando o presente ideal para meu amigo oculto. Eu realmente queria que fosse um bom presente, mas estava sendo difícil achar algo legal. Por fim, comprei algo que aparentava ser bom, pelo menos para mim.

– Não sei o que falar para vocês. Se disser que sou próxima dessa pessoa, estarei mentindo. Acho que as coisas não são tão fáceis quando deveriam ser - suspirei, sorrindo logo em seguida - Quando a vida nos derruba, devemos escolher se vamos nos levantar ou ficar no chão. E acho que essa pessoa ainda não fez essa escolha. Ela sempre agiu de uma forma diferente, nunca se abriu com muita gente e nem mesmo se relacionou com poucos. Mas acho que os amigos que ela tem são para a vida toda, sabe? Já os amigos que tenho... Não sei nem se duram para uma semana! - pude ouvir risinhos ao dizer isso - A questão é que escolhemos quem somos, e sei que ela ainda está escolhendo quem ela é de verdade. No meu caso, ainda estou pensando nessa decisão também, mas sei que ainda tenho tempo. Mas mesmo tendo toda uma vida, quero mudar agora. Quero ser diferente. Quero que ela seja diferente - dessa vez, olhei para Anne, que me encarava com um pequeno sorriso se formando no canto dos lábios - Me desculpe pelas diversas vezes que errei com você. Me desculpe pelas diversas vezes que ri da sua cara e não te ajudei a levantar. Me desculpe pelas diversas e diversas vezes que fui idiota. Acho que vou escrever um livro me desculpando com você - todos rimos, incluindo Anne - E comprei isso para você pensando em tudo o que aconteceu e em como quero me desculpar com você. Acho que algumas coisas me fizeram perceber que não devemos destruir a vida das pessoas. Não devemos fazer isso. Por mais que a nossa vida esteja um lixo, esteja horrível, ou algo pior, devemos deixar que as pessoas sejam livres. E por mais que alguém tente destruir a sua vida, devemos escolher nos levantar e devemos ser corajosos. Talvez não tenhamos vencido a batalha, mas com certeza venceremos a guerra final - andei em direção a Anne - E isso é para você. Espero que me desculpe.

Todos aplaudiram. Anne sorriu e, surpreendentemente, me abraçou. Eu a abracei também. Gostaria que esse fosse um problema a menos na minha vida, e eu sabia que seria dali pra frente.

Um pouco mais tarde, enquanto todos conversavam, Anne parou na minha frente e ficou apenas sorrindo.

– Olha, sei que nunca fui muito com a sua cara, mas... - ela sorriu um pouco mais - Podemos mudar isso, afinal de contas.

– Podemos - concordei.

– Me desculpe por ter sido idiota aqui com você. Acho que tentei mostrar para você o quão difícil é ser rejeitado.

Abaixei a cabeça, e apenas concordei.

– Me desculpe, de verdade, por tudo - estendi a mão - Amigas?

Anne olhou para minha mão estendida, talvez pensando se aquilo era seguro, até que ela estendeu a mão também.

– Amigas.

Ganhar uma amiga era algo legal. Ganhar uma amiga que não tinha muitos amigos talvez fosse melhor ainda. Provavelmente, essa amiga tinha mais tempo e não ficava com um amigo por dia, como acontecia no colégio interno. Normalmente, quando seu amigo tem muitos amigos, você apenas observa quando eles conversam, tentando evitar que tenham uma conversa sobre algo que você não entenda.

– Parece que vocês se entenderam - disse Will, abraçando Anne - Fico feliz por isso.

– Pois é. É estranho conversar com Georgia depois de tudo, mas... Sabe, G, até que você é uma pessoa legal.

– G? - sorri - Pelo jeito, pareço ser mesmo legal.

Will e Anne pareciam como um casal. Anne iria embora amanhã. Os pais dela iriam para a casa dos parentes, e ela iria junto. Will não parecia ser o tipo de cara que olha para os defeitos de alguém. Quando o amor é verdadeiro, os defeitos se tornam efeitos.

– Anne vai embora amanhã - disse ele, enquanto ela estava conversando com alguns dos tios da família - Ela é uma grande amiga. Conversamos sobre tudo aqui.

– É, ela parece ser legal. Acho que quem estava errada em tudo era eu.

Ele me encarou, dando um pequeno passo e ficando de frente para mim.

– É verdade toda aquela história sobre bullying?

– Sim - concordei com a cabeça também - Olha, eu era super chata, estranha, louca e essas coisas. Na verdade, ainda sou, mas um pouco mais diferente. Tá, estou falando como se eu tivesse passado um ano longe do colégio e tivesse mudado completamente - Will sorriu - Mas eu apenas mudei, de uma hora para outra.

– Eu entendo - ele concordou com a cabeça - Ainda bem que você mudou. Quando Anne me contou tudo o que você fazia, não consegui acreditar. Como uma garota que lê a culpa é das estrelas é capaz de ser tão horrível assim?

– Sinceramente, não sei.

– Ei - ele olhou pela janela - Quer dar uma volta no jardim?

– Seria um prazer.

Will pegou na minha mão, abrindo espaço entre seus familiares. Poderíamos conversar sobre tudo, afinal. E eu queria conversar com ele. A família de Suzanne era uma família legal. Eles não olhavam para as minhas mãos entrelaçadas nas mãos de Will. Se olhavam, era algo discreto. Mas eu olharia se fosse outra pessoa. Eu sou estranha. Ele não é estranho. Eu sou louca. Ele não é louco. Eu sou diferente. Mas afinal, ele também é diferente.