Last Memories escrita por Shin Damian


Capítulo 1
Last Summer


Notas iniciais do capítulo

Enfim, postando uma fic que eu ia postar há 4 meses... Espero que gostem.

Música tema: Wake me up when September ends - Green Day



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.:Nagato:.

O dia começava novamente, e mais uma vez eu não sabia o que fazer da minha vida. Tocava aquelas mãos gélidas e tentava me conformar que aquilo era normal, que dessa vez não deixaria trauma, mas ver daquele jeito me deixava pior que a minha habitual e doentia saúde permitia. ‘Há algo melhor, apesar da morte’.

Tremia com aqueles barulhos tão altos e as nuvens escuras, mesmo que estivesse envolvido pelos braços de uma pessoa muito importante na minha vida. No entanto, minha cabeça só pensa no passado, em todas as coisas que aconteceram e nas que não aconteceram, mas poderiam... Deviam.

...

—Prometem que nunca vamos nos separar! – falava o menino de cabelos alaranjados, estendendo uma das mãos para o centro da rodinha que formávamos.

—Hai! – a garota de cabelos azulados e olhos claros concordava. E o que eu podia dizer? O que eu queria dizer? Eu não sabia, apenas sorri e estendi a mão pra eles.

Havia acabado de chegar naquele lugar e já me sentia confortável ao lado de amigos. O alaranjado, Yahiko, sempre confiante, mantinha um sorriso no rosto, apesar de tudo o que já passara, mesmo com a pouca idade. Seus pais foram mortos quando era ainda menor e pouco conviveu com ele, mas eu estava certo naquele dia, que se fossem vivos, estariam orgulhosos, pois o filho era um líder nato e muito bom amigo.

Konan, doce e gentil, Konan. Sempre seguia o mais velho da turma, sempre como uma boa amiga e diziam até mesmo que eram namoradinhos naquele tempo. Mas tínhamos sete anos. A azulada pouco se importava com aquelas coisas, apenas tentava esquecer que os pais a abandonaram naquele orfanato, dando ainda uma esperança de voltarem para busca-la. Nunca voltaram.

Quanto a mim... Eu era o novato. Se não fosse pela companhia deles, continuaria sendo o “novato-medroso” pelo resto dos meus dias ali.

Naquela época eu não comia, não dormia e nem ao menos podia ouvir o barulho da chuva. Meus olhos ficavam estáticos na janela e meus braços inteiros tremiam, assim, levando as ondulações para o restante do corpo.

As mãos de Yahiko sempre estavam junto as minhas, mesmo que ele não entendesse o que significava, aquele gesto significava muito pra mim. Não só aquele, mas também todas as noites que ele passou em claro, tentando me convencer de que não tinha nada debaixo da cama, ou dentro dos armários, que ninguém entraria no meio da noite para nos separar.

E ele tinha razão. Ninguém entraria no meio da noite, ou sairia de baixo da cama e de dentro dos armários. As pessoas vieram mesmo durante o dia. Primeiro levaram Konan, depois meu único amigo naquele lugar se foi, o que me deixou doente e sozinho.

...

Murmurava em meus pensamentos, enquanto deixava aquele lugar mais uma vez. Caminhei em uma estreita trilha, enquanto aquelas pessoas se afastavam para os portões. Não queria mesmo estar com eles.

Em meio à tosse interminável, tentei não seguir o abismo de minha memória ao chegar naquele esconderijo de trás do orfanato onde passei longos anos de minha vida. Toquei o sino pendurado ainda perto da portinha e sentei-me no que parecia ser uma varanda.

Era meu primeiro ano ali, quando penduramos aquele pequeno objeto. O primeiro de muitos. Muitos e muitos anos.

Fechei os olhos por momentos, tentando não pensar em nada, mas logo o dia inteiro passou e eu continuava ali, porque não podia fazer mais... Não tinha mais jeito de voltar ao passado e fazer com que nada daquilo tivesse acontecido.

—Mas talvez fosse pra ser assim. – ouvi a voz calma de meu amigo, que há pouco me reencontrou e era como se nada tivesse mudado daquele dia. Tocou o sino e sentou-se, abraçando-me. – É triste saber... Que um dia, vamos embora.

—Talvez eu atraia essas coisas. – tentei sorrir como ele sempre fazia, mas meu coração estava doendo. Doendo e feliz ao mesmo tempo. – Vinte anos, não é?

—Passou rápido. – comentou, deixando-me ver a mentira que tentava esconder. – Você está mais pálido do que nunca, Nagato.

—E você... – tentei achar algum adjetivo, mas apenas me calei e voltei a olhar pra cima, deixando a chuva cair em meu rosto. – Estou te devendo algo ainda, não é?

—Sim, mas isso não importa agora. – abraçava-me mais forte e eu sentia meu peito estourar, mesmo que fosse impossível. – Você foi bom a vida inteira, Nagato, e eu não estive ao seu lado pra te acompanhar.

—Errado. Você sempre esteve. – toquei suas mãos e senti tudo aquilo que sempre neguei, mesmo em memória. – Talvez eu tenha te guardado em meu coração por muito tempo e aquilo só me deixou mais e mais triste, porque eu sabia que nunca mais te veria.

—Estamos juntos agora. – sentia seu sorriso e também percebi o jeito que se ajeitou atrás de mim, enlaçando-me a cintura. – Pra sempre, não é?

—Sim. – deitei a cabeça em seu peito. – Yahiko... – sussurrei. – Eu te sentia ao meu lado, mesmo nos meus piores dias.

—Porque eu estava lá. Sempre estive. – beijou-me a bochecha e pude sentir-me arrepiar. Era impossível, mas as sensações eram aquelas.

—Talvez não era pra ter sido naquele dia. Podíamos estar juntos até hoje.

—Muito mais que amigos. – completou. Isso fez com que eu virasse para encara-lo e visse que estava como antes, bem mais alto, é claro, mas ainda assim, com aqueles olhos e o sorriso cativante.

Segurou-me o rosto calmamente e puxou para próximo do dele, tomando-me os lábios com carinho e saudade. Mesmo surpreso, correspondi ao contato, mas logo seguindo um abraço apertado e desesperado.

—Eu os vi morrer na minha frente, Yahiko. – falei em meio ao choro que começava, já com um nó em minha garganta. – Eles foram mortos bem na minha frente... Assim como...

—Não precisa contar, Nagato, eu sei o quanto isso machuca, e sei o que aconteceu. – falou de um jeito que me consolava.

—Você se tornou uma família pra mim, você e a Konan, mas ela encontrou alguém, não é mesmo? – seus olhos eram tão calorosos que me fazia sorrir em meio ao choro e tentar não lembrar outras coisas, mas elas vinham à tona.

—E eu encontrei você. – sussurrou. – Desculpa ter te deixado daquele jeito.

—Você não teve culpa.

—Eu corri pra atravessar a rua, queria te falar uma coisa, mas aquele caminhão...

—Eu vi, Yahiko. – aquele silêncio era o que eu mais odiava, mas nosso abraço foi o que restou para um consolo mútuo de uma situação que ninguém deveria passar. – Você ainda sussurrou “Continue vivo até onde der. Algum dia iremos nos encontrar novamente” E estamos aqui.

—Vinte anos, Nagato. Vinte anos esperando pra te dizer o que eu queria ter dito naquele dia.

—Vinte anos com apenas com a memória de como você era, Yahiko.

—Vinte anos pra dizer que você é a única pessoa que eu queria por perto.

Eu não sabia o que fazer nesse momento, então, apenas fiquei quieto, tentando entender toda a minha vida, mesmo sabendo que agora nada disso importa mais. Afagou-me os cabelos e nos separou um pouco, mostrando-me a primeira folha avermelhada ser soprada para perto de nós.

Enfim, eu vivi pra ver meu último verão...


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Notas finais do capítulo

Então, mereço reviews?