Não posso te perder escrita por Gjura


Capítulo 1
One Shot




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Gray se via encurralado, não tinha como recusar aquela oferta, ainda mais com aqueles olhinhos azuis brilhantes suplicando em sua direção feito cachorrinho sem dono, ainda mais que essa era a quarta vez que Juvia lhe chamava para uma missão e ele sempre recusava, deixando para uma próxima, mas já haviam sido tantas próximas que ele já nem se lembrava mais. Mas ele sabia que por mais que recusasse agora a garota voltaria a lhe convidar.

– Tudo bem – diz ele, suspirando – Qual é a missão?

Qualquer um perceberia que os olhos da azulada passaram a brilhar ainda mais de animação.

– Juvia te chamou, porque achou uma missão perfeita para ela e Gray-sama – ela pega uma folha de papel em que estava anotado o trabalho.

– É? – ele lê a folha de papel por cima do pescoço dela.

– Hai – diz animada – aqui diz que Juvia e Gray-sama terão que ir para a cidade vizinha onde está tendo uma grande seca a um tempo – explica fitando o papel.

– Mas esse não seria o trabalho perfeito pravocê? – questiona ele.

– Hai – ela ainda fita o papel – mas aqui também diz que as criancinhas da aldeia sempre sonharam em ver neve, por isso Juvia pensou que Gray-sama podia... – ela deixa a frase no ar enquanto o fitava esperançosa.

– Tudo bem – assente ele sem chance e se assusta quando Juvia solta um gritinho animado.

– Até mais Gray-sama! – se despede ela – amanhã nos encontramos na estação! – diz ela saindo da Guilda.

Gray pega o papel da missão e a avalia, não seria difícil completar aquela missão, levando em conta que Juvia podia fazer chover facilmente. E a recompensa era boa, mesmo se dividissem no meio ainda ficaria uma boa quantia para cada.

Não demoraram muito para chegarem a cidade vizinha, menos de duas horas de viagem.

Juvia estava animada em poder fazer uma missão com seu amado e não escondia isso de ninguém, se pudesse, gritaria para todo o reino que ia fazer uma missão com seu Gray-sama, mas em vez disso resolveu aproveitar o tempo ao lado dele; Gray que parecia perceber suas vontades, suspirou de alivio quando ela não tomou nenhuma atitude extrema.

Ao chegarem lá Gray percebeu porque as crianças de lá sempre desejaram ver neve. Qualquer um desejaria isso num calor infernal como aquele.

Depois de apenas alguns minutos de caminhada Gray já estava sem camisa e estava se contendo para não tirar as calças na frente da azulada que mal conseguia se manter animada, pois sua roupa era quente e sol martelava na cabeça.

A cidade mais parecia um deserto, passaram por vários lugares onde, pelo jeito, deveriam ser campos antigamente, mas a terra agora era árida e infértil.

O horizonte ao longe ainda era infértil, não havia mata, não havia água, não havia nada de verde, nada de vida. A única coisa era o sol e o céu que agora havia se tornado meio alaranjado por conta da poeira que tomava conta do ar por conta das brisas quentes e sufocantes.

– Assim não vamos chegar nunca – diz ele depois de muito tempo andando ao lado dela, já não aguentava mais aquele ritmo. Voltou a andar depressa, mas seus passos foram se tornando mais lentos, até estar andando da mesma maneira que antes – Juvia, não tem como você fazer chover?

– Hm? – ela o encara, parecia estar cansada – Juvia poderia fazer isso com facilidade, mas Juvia está feliz por vir fazer essa missão com Gray-sama, por isso não consegue ficar triste, e ficar triste seria bom agora para fazer chover, só que Juvia não consegue nem tentar, aqui é muito seco, nada de água, nada de humidade... Desculpe Juvia, Gray-sama.

– Tudo bem – ele dá de ombros percebendo que a garota estava fraca.

Caminham por mais algum tempo, Gray desejava saber se estavam indo pelo caminho certo ao menos.

– Ah! – a garota soltou um grito animado e Gray se virou para fita-la – um cacto! – diz animada e uma gota se forma na cabeça de Gray.

– Um... Cacto... Que animador! – diz ele de maneira irônica.

– Gray-sama nunca se perguntou como cactos conseguem sobreviver no deserto? – questiona Juvia olhando a planta repleta de espinhos – eles absorvem a água Gray-sama! Juvia acha que consegue fazer chover, mas vai demorar um pouco... – ela coloca um dedo na boca de maneira pensativa.

– Que bom que ninguém dessa cidade pensa assim – uma voz surge do nada, Gray olha para todos os lados, alarmado, mas não vê ninguém.

– Onde...? – se pergunta, até que um pouco de areia a sua frente passa a se levantar...?

– Oh! – exclama Juvia se levantando e ficando ao seu lado.

A areia se junta e em alguns momentos forma um corpo de um homem de aparentemente 40 anos, mas seus cabelos eram amarelados como se tivesse passado muito tempo no sol e ele tivesse queimado as madeixas.

– Então são vocês dois que querem acabar com a minha alegria? – o homem os encara de cima abaixo com um olhar cortante – não vai ser difícil acabar com vocês – diz ele de maneira simples.

– Como?! – Juvia fica indignada – então é você que está causando a seca na cidade?! Juvia acha isso repugnante! – avança para ataca-lo, mas um pouco de areia se levanta no ar e atinge seus olhos.

O homem ri.

– Vocês pensam que podem me vencer? – ele sorri, revelando dentes amarelados – tentem.

– Ice Maker: Lance! – diz Gray, uma lança de gelo está prestes a atingir o homem, que apenas ergue a mão, fazendo com que ela derretesse – o que...?

O homem ri mais uma vez e joga a cabeça para trás.

– Como vocês são ingênuos mesmo – dá um sorriso de canto.

– Water Slice! – lanças de água são projetadas na direção do homem que vira areia no mesmo instante e logo volta a sua forma humana.

Ele estala a língua em sinal de reprovação.

– Não gostei de você garota – diz ele balançando as mãos, a areia abaixo dela começa a levantar, fazendo muito pó que gira em torno dela formando uma bolha de poeira. No mesmo instante a garota cai.

– Muito... Quente – ela arfa tentando respirar – o corpo de Juvia...

Gray a encara e percebe que ela está em sua forma de água, mas a bolha de poeira devia estar muito quente mesmo, já que Juvia começava a evaporar.

– Juvia, deixe seu corpo normal – grita ele.

– Juvia... Não consegue – diz ela.

O homem ri.

– Eu invadi a psique dela, a única coisa que ela irá se lembrar é de querer seu corpo transformado em água – ele fita Juvia – parece que ela realmente gosta de você – afirma.

– Luta como um homem! Ice Maker Cannon! – avança contra o homem que mal desvia do caminho.

– Sharp sand – ele fala com calma, várias pedras de areia vão na direção de Gray que se desespera na hora, mas nada acontece.

– Essa é a sua melhor magia? – ele ri – você me fez pensar que era forte! – ele avança contra o homem, mas tem uma sensação estranha.

– Não me subestime – o homem caminha ao redor dele com as mãos para trás – sabe essas pequenas pedrinhas? Elas colam em sua pele como cola e depois de um tempo começam a ingerir e queimar sua pele – explica com calma.

– O que?! – pergunta tentando arrancar as pequenas bolotas de seus braços.

– Demorou demais – ele estala a língua em sinal de reprovação – sua amiguinha também já esta perdida – Gray se vira em direção a Juvia que mal conseguia ficar ajoelhada no chão.

– Juvia... – murmura ele – Ice Maker: knukle! – são criados vários punhos de gelo na direção do homem que cria um escudo de areia.

– Cuidado – ele estala a língua mais uma vez – senão você irá se cansar.

Com isso Gray cai no chão, seus braços, pernas, peito; tudo ardia. Sentiu a visão ficar turva, junto com um enjoo, a última coisa que viu antes de desmaiar foi de Juvia desmanchando a bolha que a envolvia, com uma expressão nada amigável.

– O que?! – Gray acorda assustado e franze o cenho ao perceber que esta em um quarto, suas pernas e braços estão enfaixados.

– Calma Gray-sama – Juvia surge da porta – é melhor Gray-sama ficar parado, aquela magia era muito forte.

– O que...? Onde nós estamos? – pergunta confuso.

– A cidade era bem perto de onde Juvia e Gray-sama lutaram com aquele homem, vamos ficar em uma pensão enquanto esperamos – diz ela com um sorriso maníaco.

– Ah tá... Você venceu ele? – pergunta inocentemente, mas Juvia lhe lança um olhar como se avisasse que não era bom falar sobre aquilo – hm... – ele se senta.

– Juvia avisou que não é bom Gray-sama se mexer! – avisa ele, e como que por obra do destino ele fica enjoado.

– Ok – diz ele se deitando de novo e adormecendo sem perceber.

Gray podia vê-los, sentiu o peito se encher de alegria, como se o ar mais puro tivesse entrado pelos seus pulmões, correu até ele, seus pais estavam ali, ele não podia acredita. Como se tivesse voltado no tempo, se vê como uma criança, corre até os pais que estavam do outro lado de um parque, mas quando está prestes a toca-los eles se desfasem em fumaça.

Ahn?! – pergunta ele olhando para as próprias mãos. Ele ouve uma risada conhecida e se vira para trás. Ur! Corre até ele do mesmo jeito que correu até os pais, mas assim como eles a mulher também se desfaz em fumaça – o que...? – ele olha para o chão, se perguntando o que havia acontecido, quando volta a olhar para frente, vê Ultear, a mulher a qual ele mal havia falado, mais havia a considerado, caminhou até ela trôpego, temente ao que ia acontecer e seus piores temores se concretizaram, ela também virou fumaça.

Gray-sama! – ele ouve, se vira para trás, a tempo de ver a garota correndo até ele, seus cabelos esvoaçavam ao vento, a pele branca como marfim, um sorriso escultural saindo de seus lábios, se viu agora com sua idade normal, correu até ela, ele precisava abraça-la. Mas antes de conseguir alcança-la garras saindo do céu a puxam pelas costas a levantando. As pontas dos dedos se tocam por alguns breves segundos, antes de as garras sumirem, levando Juvia consigo.

AH! – Gray solta um grito agoniado, que sai do fundo de sua alma. Porque aquilo sempre acontecia?!

Gray acordou assustado, estava suando; claro, com aquele calor.

O brilho da lua entrava pelas frestas da cortina mal posicionada, a janela estava aberta tentando capturar qualquer vestígio de vento que não vinha e quando vinha era quente demais.

O moreno se levantou silenciosamente, percebeu que Juvia estava deitada numa cama ao seu lado, bem próxima. Não conseguiu conter um pequeno sorriso irônico.

Mas seu sonho invadiu novamente sua mente e ele se sentiu sufocado naquele quarto, andou até a janela e fitou o céu que não tinha nem um pequeno vestígio de nuvens.

Então era por isso? Perguntou-se. Era por isso que a evitava, que a ignorava, que afastava ela e as demais pessoas, será que era por isso? Ou era apenas medo?

Medo de perdê-la assim como havia perdido as outras pessoas as quais amou? Medo por ela poder ser tirada de si, porque achava que mantê-la afastada lhe traria mais segurança. Mas como poderia mantê-la longe se a azulada sempre ficava atrás de si?

Se virou para trás e fitou a azulada. Porque isso sempre acontecia? Porque as pessoas que ele amava sempre morriam? Ainda estava no lucro por nada ter acontecido com a Guilda, mas ela tinha vários membros, agora Juvia era só uma, isso era arriscado.

Sentia-se confuso, por mais que tentasse não conseguia mantê-la afastada, tinha uma enorme vontade de protegê-la, de estar junto dela, mesmo com suas esquisitices.

Pensar não estava ajudando.

Dormiu novamente.

Acordou no mesmo momento em que Juvia saia do banheiro, ela cantarolava baixinho enquanto se arrumava.

Havia arranjado outra roupa, vendo que as que sempre usava eram quentes demais.

Agora trajava um vestido azul liso sem mangas, Gray a admirou de costas por alguns instantes enquanto a azulada penteava os cabelos que pareciam se camuflar por serem da mesma cor que o vestido. Balançou a cabeça, não podia ter pensamentos como aquele, não em relação a ela. Não podia arriscar perde-la também, ainda mais por um capricho seu.

Se levantou lentamente, percebendo que já não sentia mais dores pelo corpo. No mesmo momento Juvia se virou para trás.

– Gray-sama, esta melhor? – pergunta ela andando em sua direção.

– Estou sim – responde ele desviando dela e indo em direção do banheiro.

Eles vão em direção a cozinha, Juvia estava pensativa desde que Gray havia perguntado como faria chover. Eles se sentam em uma mesa e uma mulher rechonchuda lhes serve o café da manhã.

Juvia apenar bebericava o café, pensativa enquanto Gray comia.

– E então? – pergunta ele – já pensou?

– Ahn? – ela meio que volta para a realidade – Ahn... Juvia não conseguiu pensar em nada... Como Juvia disse antes, ela está muito feliz por estar fazendo essa missão com Gray-sama e...

– Juvia – ele a interrompe – eu estou aqui apenas como seu namaka e companheiro de Guilda.

– Sim, mas Juvia...

– Só isso Juvia, também porque você insistiu muito e eles realmente estão precisando – conclui.

A garota apenas assente voltando a tomar seu café.

Naquela tarde choveu.

Gray estava no terraço da pensão, aproveitando a leve garoa que se desprendia dos céus. Havia chovido bastante instantes antes, mas agora a chuva estava se acalmando.

Gray se odiava por ter falado aquilo para Juvia, mas era para seu próprio bem, não podia arriscar perde-la, era melhor mantê-la longe, assim como tinha feito com tantas outras pessoas.

Seus pensamentos agora focavam em uma maneira de fazer nevar, como podia realizar os sonhos daquelas criancinhas? Mesmo a chuva tendo esfriado um pouco o clima, ele ainda sentia um calor sufocante que impediu que tivesse alguma ideia.

Ficou lá em cima até tarde, se cansado de ficar ali saiu para caminhar. Andou ao redor da humilde pensão e identificou o quarto em que ele e Juvia estavam hospedados.

Uma sensação ruim se instala na boca de seu estomago e ele corre até a janela, pela primeira vez ele sente uma coisa fria demais, o vidro que o separava daquele quarto.

O homem que tinham lutado antes estava dentro do quarto, segurando Juvia pelo pescoço e a socando. Ele desferia golpes certeiros na face da azulada que nem ao menos tentava recuar. Mas por quê?! Ela podia transformar o corpo em água, porque não fazia isso?!

– Então você se acha boa demais – dizia o homem a socando – acabar com minha brincadeira, deixar essas pessoas felizes – ele continuou a soca-la.

Gray se perguntou por que estava parado lá, ele tinha que impedir aquele homem. Se sentiu preso dentro de uma capsula, que o impedia de sair do lugar, permitindo que apenas visse o homem a agredindo. Porque não quebrava aquela janela?! Quantas vezes já havia feito aquilo? Quebrado as coisas por mero engano. Seria tão fácil quebrar o vidro, transforma-lo em pedacinhos... Então porque não o fazia?! Porque não reagia?! Porque ficava apenas assistindo, como um mero telespectador?!

– O que?! – nesse momento o corpo de Juvia se transformou em água e ela se desfez nas mãos do homem, voltando a tomar forma atrás dele e o socando nas costas, fazendo com que ele caísse de joelhos – Você fez isso por mera diversão?! – os olhos dela brilhavam em fúria e um trovão ribombou no céu. A sombra de Gray apareceu no chão, mas nenhum dos dois prestou atenção.

– Claro – o homem sorriu sarcasticamente – aqui é uma terra fértil, azulzinha, eu me alimentei dela, junto com as forças desses cidadãos. Cada vestígio de calor que eles sentiam era mais poder para mim.

– Juvia acha você... Desprezível – ela cospe as palavras – Você acha engraçado as pessoas sofrerem?! Vê-las chorando por causa de um pouco de alimento?! Porque é isso que elas fazem, elas choram. E quando param de chorar arranjam forças de lugar nenhum e voltam a trabalhar, esperançosas. Você já viu uma flor nascer?! Provavelmente não. Você já viu uma garota recebendo uma flor do namorado?! Juvia aposta que também não. Provavelmente esse era o sonho das pessoas dessa cidade, para muitos esse é um sonho simples, mas que são proibidos de serem realizados por causa de pessoas egoístas como você.

O homem ri.

– Você acha que vai me conquistar com essas suas palavrinhas?! – ele sorri torto – pois saiba que a desgraça deles é minha força.

Juvia dá um soco certeiro em seu nariz.

– Você provavelmente nunca sofreu – diz ela – Juvia viu. Existiam missões que iam direto pra casa de Juvia, de cidades que não chovia há muito tempo. Juvia viu, eu vi. Juvia viu criancinhas chorando, mães chorando ao verem as lágrimas dos filhos! Pessoas suplicando por um pouco de água! Pessoas abandonadas, passando até mal – lágrimas começam a escorrer do rosto dela e passa a chover mais forte – sabe o que Juvia fez?! Juvia chorou com elas, e quando elas pararam de chorar, Juvia chorou por elas, e o céu chorou por Juvia! Assim como hoje. Em muitos lugares a seca é algo inevitável, uma causa própria natureza, mas aqui não. Aqui Juvia encontrou o causador disso tudo, um egoísta. E Juvia vai acabar com o motivo delas chorarem.

O homem arregala os olhos.

Juvia tem uma expressão fria, despida de sentimentos. A mesma que tinha quando estava na Phanton.

Sem mover os lábios ela cria uma bolha de água ao redor do homem, provavelmente gelada, pois o homem se sacudia todo.

Gray tocava o vidro como se tentando empurra-lo, Juvia devia saber... Saber que estava praticamente anulando a magia do homem e para um mago, ficar sem magia custava a própria vida.

Ele não suportou mais ver aquilo.

Voltou para o terraço, repassando as cenas em sua mente. Por incrível que pareça a única que não saia era a de Juvia chorando, falando que chorava, isso o deixou mal, pois sabia que havia feito ela chorar aquela tarde.

A chuva foi se acalmando aos poucos. Será que Juvia havia matado o homem? Não conseguia parar de pensar nisso, mas achava que tal ato era radical demais para a azulada, mas a expressão fria que ela havia assumido dizia outra coisa, que ela era capaz sim de matar – mais tarde Gray descobriria que ela havia apenas apagado o homem e o entregado para as autoridades, mas isso não vem ao caso agora.

Volta a tentar pensar em uma maneira de fazer nevar, as muitas crianças que estavam na rua brincavam na chuva, como se ela fosse um dádiva.

– Nem sempre a chuva é algo ruim – diz ele a meia voz – Juvia – ele tem uma ideia.

Desce as escadas apressado e vai até o quarto, se sente aliviado e apreensivo ao perceber que o corpo do homem não estava lá.

– Juvia! – chama ele.

– O que foi Gray-sama? – pergunta ela. A azulada havia acabado de sair do banho e se trocar.

– Eu queria te convidar pra dançar... – convida ele meio desconcertado.

– Chamar Juvia pra... Dançar? – pergunta ela mordendo o lábio inferior, Gray podia ver as engrenagens de sua mente trabalhando.

– Sim – diz ele – mas se você quiser tem que dizer logo.

– Então Juvia aceita – diz ela animada com o rosto levemente corado.

– Porque Gray-sama chamou Juvia pra dançar no terraço? – indaga ela confusa.

– Sh... – ele a silencia – faça somente o que eu disser.

– Mas Gray-sama sabe que Juvia não dança muito bem... – diz ela meio vermelha.

– Isso é verdade – diz ele sorrindo ao se lembrar da única vez que ensaiaram para dançar e ela pisou em seu pé inúmeras vezes.

Mas aquilo havia acontecido porque ela ficava fitando seu rosto e não prestava atenção onde colocava os pés, agora ela parecia mais concentrada. Gray torcia que sim.

– Aqui – ele coloca uma mão dela em seu ombro e a outra a entrelaça com a sua, coloca sua própria mão na cintura fina dela, absorvendo o calor que emanava do corpo dela – um, dois pra lá... – ele a conduz – um, dois pra cá... – ela o segue, concentrada. Eles ficam dançando assim por um tempo, Gray a conduzindo e Juvia seguindo. Dessa vez ela não pisou em seu pé, quer dizer, tropeçou pouco e nessas poucas vezes ambos apenas riam divertidos e voltavam a dançar mais uma vez – agora... – diz ele – pense na chuva, uma leve garoa, pequenas gotas se desprendendo dos céus lentamente, como pequenos pregos leves e transparentes – sussurra no ouvido dela – calma... Devagar... – uma fina garoa se iniciou – continue assim... – sussurra ele – o resto sou eu quem faz... – ela assentiu, fechando os olhos e se concentrando, aproximando o corpo ao dele.

Era difícil para Gray pensar em alguma coisa gelada com ela perto, tão quente e aconchegante, mas tentou e conseguiu. Pensou em pequenos flocos de neve, nas pequenas gotas se congelando lentamente num processo calmo.

Dançavam agora mais lentamente, quase sem se mexer. Gray observava nevar no resto da cidade, Juvia estava abraçada a ele de olhos fechados até que um floco de neve cai no seu nariz, e, assustada, ela abre os olhos.

– Ah... – arfa – Gray-sama... – ela olha para o céu – está nevando – fica impressionada e depois sorri. Após ver aquele sorriso, tudo valeu a pena para Gray.

– Oe, você parou de pensar nas pequenas gotas?! – ele assume uma voz de repreensão e ao mesmo tempo divertida – venha – a puxa para dançar de volta.

Dessa vez Juvia fica com os olhos abertos, observando as crianças e até mesmo adultos saírem das casas, admirados e passando a brincar com os pequenos flocos.

No outro dia eles fecham a conta na pensão, ou melhor, tentam. A mulher, dona do lugar diz que eles fizeram um favor pela cidade e que não precisavam pagar.

Gray ficou insistindo em pagar por meia hora, mas a mulher não mudou de ideia de jeito nenhum, até que ele desistiu.

– Onde Gray-sama está indo? – pergunta Juvia.

– Are, para onde mais? Para a estação – afirma ele.

– Gray-sama não esta esquecendo de uma coisa? – pergunta Juvia com um vestígio de sorriso nos lábios.

Ele pensa um pouco.

– Acho que não.

– Nem da recompensa? – ela finalmente abre um sorriso quando Gray assume uma expressão de compreensão.

Eles caminham pelas ruas repletas de pessoas que de vez em quando os barram para agradecer ao favor.

Chegam à casa do contratante – que mais tarde descobririam ser o prefeito da cidade.

O homem lhes paga, agradecendo de minuto em minuto pelo favor até que ouvem a campainha ser tocada.

– Acho melhor nós irmos – diz Gray – o Senhor tem visitas...

– Mas eu não estou esperando ninguém – diz o homem com o cenho franzido.

A empregada volta a sala, seguida por duas pessoas as quais Juvia e Gray reconhecem.

– Natsu-san?

– Lucy?

– Picolé?

– Juvia?

– O que vocês estão fazendo aqui?! – perguntam os quatro.

– Viemos pegar a recompensa da missão – diz Gray.

– E vocês? – indaga Juvia.

– Viemos saber mais sobre a missão, tem um criminoso sendo procurado – diz Natsu.

– Tem? – Juvia arqueia uma sobrancelha.

– Tem sim – o homem enxugou a testa com um paninho – mas resolvi separar as missões, pois assim seria mais fácil de encontrar magos dispostos a lutarem, vendo que na Fairy Tail há apenas uma maga d’água... – ele fita Juvia que assente.

– Então acho melhor nos irmos então – afirma Gray – agora seu assunto é com eles.

– Uhum – o homem assente e a empregada os conduz até a porta.

– Uma dica: não ofereça comida para ele – Gray aponta para Natsu.

Algum tempo depois...

A missão que haviam feito juntos já era praticamente passado, embora Gray não conseguisse esquece-la e de vez em quando se pegasse fitando Juvia que raramente não estava o olhando de volta e sim rindo das brigas idiotas e sem sentido de Gajeel com Levy.

Embora a visse sorrindo, nenhum poderia substituir aquele sorriso que ela tinha dado quando percebeu que estava nevando.

Gray estava virando um idiota romântico.

Juvia havia mesmo conseguido acabar com suas barreiras de gelo, barreiras qu havia construído com muito custo, perda, sofrimento e dor.

Mas ele não podia, nem conseguia menosprezar o esforço com o qual ela havia conseguido realizar tal feito.

Gray se viu no papel dela, não a perseguia nem nada tão possessivo assim, ou melhor, nada tão óbvio, seus olhos a perseguiam a qualquer lado que andasse e fosse. Seu olhar percorria a pele branca com suavidade, absorvia cada sorriso. De vez em quando se impressionava por saber que havia alguns poucos fios de cabelo fora do lugar.

Se sentia bem apenas de vê-la entrar pela porta da Guilda, vê-la sorrir então, era como uma lufada de ar fresco em seu rosto.

Será que é isso que chamavam de amor? E porque ninguém nunca havia dito que era tão bom?

Juvia saia calmamente da Guilda, havia se despedido de todos animadamente e agora só pensava em descansar.

Mas estava muito calor e ela não sentia vontade de ficar debaixo das cobertas, por isso resolveu tomar o caminho mais longo para a Fairy Hills.

O céu estava limpo e completamente estrelado, leves brisas geladas batiam em seu rosto fazendo com que ela sorrisse sem perceber.

– Juvia! - ela se vira e vê Gray andando em sua direção com as mãos nos bolsos. Ele não podia permitir que ela fosse embora sozinha, ainda mais hoje que o clima estava tão bom.

– Sim Gray-sama? – pergunta ela.

– Tome – diz ele pouco corado, estendendo a ela uma tulipa vermelha – veio da cidade que nós fizemos aquela missão.

– O-Obrigada Gray-sama – ela agradece, afagando a flor com o nariz.

Eles ficam parados por algum tempo, várias pessoas passavam por eles.

Sem nenhum motivo, Juvia reparou numa mulher que carregava um bebê no colo, o pequeno girou no colo da mãe com os pequenos bracinhos estendidos. Juvia sorriu em sua direção e lhe entregou a tulipa, ele sorriu e bateu as pequenas mãozinhas, ainda segurando a flor.

Gray disfarçou um sorriso, não se sentiu muito satisfeito, pois era ele quem havia lhe dado a tulipa, mas ao ver o sorriso de Juvia, tão satisfeito quanto aquele dia que haviam estado no terraço, Gray sentiu seu peito ser completo.

Eles recomeçam a andar em direção a Fairy Hills novamente.

– Juvia... – ele a chama baixinho.

– Hm? – ela se vira na direção dele.

– Feche os olhos – pede e ela assim faz.

Mal conseguindo conter o tremor das mãos, Gray acaricia com as pontas dos dedos o rosto dela, afaga o cabelo azulado e o coloca atrás da orelha delicado dela, passa o nariz pelas pontas dos fios azuis sentindo a leve fragrância adocicada e finalmente se permite aproximar-se dela, mesmo que meio hesitante e finalmente colar os lábios dela aos seus.

Pela linguagem corporal da azulada ela estava tão surpresa com esse ato quanto o próprio Gray, os delicados lábios se abriram como um botão de flor e, Gray se controlou para não perder o pouco controle que tinha.

Eles se separam lentamente, aproveitando o momento e se fitam com sorrisos envergonhados no rosto.

– Aqui – dessa vez Gray lhe dá uma tulipa de gelo.

– Obrigada Gray-sama – as palavras dela não passam de um murmúrio, mas mesmo assim Gray ouve e dá mais um leve sorriso de satisfação.

Ambos caminham pelas ruas repletas de pessoas, aos mãos juntas e os dedos entrelaçados, pequenos sorrisos estampados nas faces.

Pela primeira vez Gray se sentiu completamente satisfeito, a angustia de antes agora esquecida, havia se tornado uma amargura passada, Juvia havia mostrado outra realidade para ele, poderia acontecer qualquer tipo de coisa e ela sempre estaria ali.

E sim, ele havia descoberto que poderia, ou melhor, sim! Podia ama-la.


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Notas finais do capítulo

Beijos de Brigadeiro.



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