Despertar escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 5
Capítulo 5




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Aoi entrou no apartamento e estranhou o silêncio. Olhou em volta e, como não encontrou a moça, se dirigiu até o quarto. Parou na porta aberta e recostou-se no porta, com as mãos nos bolsos. Akaya estava sentada na cama, abraçada ao travesseiro dele. O moreno não disse nada, observando a ex namorada.

- A gente se dá tão bem, não é? – ela perguntou, baixinho.

Ergueu os olhos e ele percebeu que ela tinha chorado. Apesar do sentimento, ele não se aproximou.

- É, Akaya, a gente se dava bem. – ele concordou, neutro.

- Porque não podemos voltar atrás? – a voz dela soou inconformada, ignorando propositadamente o tempo verbal na resposta dele – Por que tem que ser assim? Porque temos que nos separar? Ele não te ama mais, então por que?

- Não é por causa dele, apesar de parecer. É por minha causa, eu não quero mais viver me sentindo assim.

- Assim como?

- Como se usasse uma máscara o tempo todo.

Ela o encarou atentamente. Apesar do tom choroso, se manteve firme sem chorar.

- Não podemos tentar mais?

- Eu não quero tentar mais nada.

- Você está sendo egoísta. E eu? – ela deixou o travesseiro e se levantou - Você não se importa com meus sentimentos?

Ele suspirou, exasperado.

- Estou fazendo o melhor para nós, Akaya e é isso o que você não quer ver. Eu sinto muito por tudo, mas não consigo.

- Nada do que eu disser vai adiantar, não é?

- Sinto muito.

Ela concordou e se dirigiu até o armário, abrindo-o. Em silêncio, Aoi a observou separar suas coisas e joga-las de qualquer jeito sobre a cama. Virou-se e resolveu esperar na sala.

Depois de algum tempo, ela apareceu segurando uma pequena mochila. Ele se ergueu, pegou a carteira e separou uma pequena mochila com o que ia precisar para ir e voltar de Mie, juntando com as malas que Akaya havia feito. Em silêncio, desceram até o estacionamento e Aoi acomodou as coisas dela no carro. Quando ele entrou e ia dar a partida, ela se virou para ele, segurando-o pelo braço.

- Desculpe pelo que eu disse... – hesitou, constrangida – Eu não queria chantagear. Eu...

- Não se preocupe com isso. – ele respondeu, sério.

- Porque não fica comigo por um tempo, longe daqui? – ela perguntou, esperançosa – Podemos descansar um pouco dessa loucura toda e talvez...

- Akaya...

O tom do moreno e o cansaço que ela viu no olhar dele a detiveram. Aoi deu a partida e saiu do estacionamento, tomando o caminho para Mie. Levaria um bom tempo dirigindo, mas pelo menos podia se cansar o suficiente para desmaiar quando chegasse à casa de seus pais. Notou que a moça o olhou, ferida, e se fechou em silêncio. Não estava irritado com ela, mas não podia deixa-la falar o que quisesse. Aquela separação era o melhor para os dois.

 

****

 

Kai encarou o vocalista descontrolado, chocado com o que ele contou. Ruki não estava fazendo muito sentido, mas pelo menos o baterista tinha entendido o que aconteceu. E se culpou por não ter tido mais pulso naquela situação.

Enquanto Ruki murmurava contra si mesmo, o líder se afundou no sofá, consternado. Estava surpreso com sua capacidade de ignorar aqueles acontecimentos todos e ficou frustrado consigo mesmo.

- Temos que fazer alguma coisa... – murmurou, sem saber direito o quê.

Ruki parou o monólogo e o encarou, mostrando os olhos vermelhos.

- O quê? Uruha não vai nos deixar chegar perto, e com razão. Eu detonei a vida dele e nem percebi isso! E agora Reita... – o pequeno olhou para o lado, detendo-se.

- Não devia ter agido desse jeito, Ruki. Se tivesse dito...

A reprimenda fez o vocalista se encolher diante do olhar do líder.

- Eu não pensei em nada na hora. Só queria aliviar a barra do Aoi para ninguém brigar com ele... eu realmente não pensei...

O abandono nos olhos escuros fez Kai recuar. Não podia julgar Ruki de algo que ele mesmo tinha sua parcela de culpa.

- Agora temos que nos concentrar em ajudar esses dois. Eu encontrei Aoi mais cedo e ele disse que terminou com Akaya.

O pequeno passou a mão pelo cabelo, sem parecer surpreso. O baterista deu um sorriso cansado.

- Você sabia que ele ia fazer isso, não é?

- Aoi pode ter demorado para perceber e mais ainda para aceitar, mas nunca ia ficar nesse relacionamento depois disso. Acho até que demorou muito.

- Se ele tivesse feito isso antes... – Kai comentou, encolhendo os ombros – Antes de Kovu e antes de...

Ambos se entreolharam, perplexos.

- Só posso pensar que ele estava bêbado demais para se lembrar – Ruki concluiu, sombrio, depois de alguns minutos em silêncio – Ele não faria isso assim, só por fazer e não se comportaria como um bastardo inocente depois, como se nada tivesse acontecido.

- Eu penso a mesma coisa e pelo jeito que Reita agiu, tanto ele quanto Uruha também. – Kai terminou, recostando-se no sofá. – Deve ser por isso que ninguém fez nada quando aconteceu.

Ruki se levantou e caminhou até a janela, olhando para fora.

- Eu não sei o que pensar. Talvez seja melhor que a gente conte para o Aoi...

Kai olhou para ele, boquiaberto.

- Não está pensando em fazer isso, não é?

O vocalista se virou para ele, confuso.

- Porque não? Aoi tem o direito...

O baterista se levantou, nervoso. – Mas não se trata do Aoi, Ruki. Se Uruha não contou para ninguém... – moreninho encarou o outro, escolhendo as palavras – Isso não é qualquer informação, ele pode querer que ninguém saiba...

Ruki se aproximou, sustentando o olhar de Kai.

- Mas, Aoi tem que saber... ele pode... – parou, incerto.

- Ele pode o quê, Ruki? O que ele pode fazer depois disso tudo? – o olhar penetrante do líder fez o vocalista desviar o rosto e abaixar a cabeça – Não acho que os interesses de Aoi sejam os mais importantes agora.

- Mas se ele souber, ele pode... – o pequeno parou, ainda sem encarar o baterista – Ele pode se aproximar e talvez... eu não sei... Uruha pode aceitar e...

- É uma escolha do Uruha contar ou não. Eu acho que não temos que nos meter nisso se ele claramente não quer. E você tem que admitir que até agora, não o ajudamos muito. – Ruki o encarou, um pouco surpreso e Kai encolheu os ombros – Ele pode não aceitar e até mesmo ficar magoado conosco. Já chega de tensão entre nós, Ruki.

O vocalista assentiu e sentou-se, acendendo um cigarro. Kai ficou em silêncio, pensando no guitarrista loiro. Apesar de concordar com o amigo, Ruki não achou que o silêncio era a melhor opção.

 

 

****

 

Os dois dias passaram rápido. Aoi voltou de Mie um pouco mais deprimido, mas não conversou sobre o assunto com ninguém. Reita ficou com Uruha o tempo todo, num consolo silencioso e Ruki, apesar de magoado com a distância do amante, tentou entender.

Na quinta, Nadao-san estava na sala ao lado, esperando pela reunião dos músicos. Apesar de Uruha parecer que ia desabar a qualquer minuto, os cinco cumpriram a agenda de compromissos.

 

Aoi não explicou muito para os companheiros. Falou por alto sobre a separação e fechou-se em silêncio. Se por um lado o moreno estava deprimido e sentindo-se culpado, por outro Uruha estava dando o melhor de si para simplesmente não sair correndo. Kai tentou administrar os dois guitarristas, dividindo com Reita e Ruki a maioria das responsabilidades e notou, entristecido, quando o guitarrista loiro voltou a beber. Não que ele exagerasse, afinal era um profissional, mas o fato de sempre estar com um copo de saquê na mão deixou todo mundo com um sentimento de impotência. Reita tentou ficar ao lado dele o máximo que Uruha permitiu, sem invadir o espaço pessoal dele. Se fizesse isso, sabia que a reação não seria das melhores.

 

- Uruha, dá uma olhada nessa seqüência. Acho que está bom, não é? – Aoi perguntou, aproximando-se do guitarrista distraído.

O loiro olhou para o papel na mão dele e, por um segundo, o moreno achou que não conseguiria tira-lo daquele universo paralelo em que estava preso desde a morte de Kovu. Ficou aliviado quando ele puxou a melodia e olhou-a com atenção. Yuu recostou-se, observando o loiro repetir as notas na guitarra em seu colo. Ele inclinou a cabeça e fechou os olhos, executando com perfeição a canção e Aoi sorriu de leve. O companheiro realmente tinha talento.

- Está boa. Precisa do quê? – a voz rouca e profunda pareceu mais rascante pela falta de uso.

- Não sei... de repente uma seqüência maior ou um complemento.

De longe Reita observou, preocupado, a aproximação do moreno e quando os dois começaram a conversar sobre a música. Aoi sentou-se ao lado do loiro e pela primeira vez em muitos meses, desde antes do acidente, puderam conversar.

- Obrigado. – o moreno murmurou, depois de alguns minutos.

- Não precisa agradecer, a música é boa. – Uruha respondeu, respirando fundo.

- Estou agradecendo por não me manter longe.

O moreno sentiu que o guitarrista loiro estremeceu de leve, mas ficou firme. Uruha inclinou a cabeça e o encarou, sério.

- Não tenho como te manter longe, tocamos na mesma banda.

O tom seco da resposta fez Aoi se contrair um pouco, lamentando que as coisas não pudessem ser diferentes.

- Sinto muito, Uruha.

O loiro o encarou por alguns minutos e Aoi não desviou os olhos, deixando que ele encontrasse o que quer que estivesse procurando.

- Eu também sinto, e muito mais do que imagina. – Uruha respondeu, levantando-se e colocando a guitarra sobre o sofá.

Aoi o segurou pelo pulso, levantando-se também.

- Talvez algum dia? – o moreno perguntou, soltando-o diante do olhar quase fulminante.

- Eu não sei.

O guitarrista moreno observou Uruha dar a volta pela mesa e sair da sala. Reita elevou uma sobrancelha e Kai suspirou.

- Cedo demais, Aoi.

O guitarrista olhou-os, incerto. – Eu precisava tentar alguma coisa, esse silêncio dele estava me matando.

Ruki olhou de um para o outro, pensativo.

- Eu vou atrás dele. – Reita afirmou, saindo da sala.

Kai suspirou e saiu também. O vocalista encarou a porta fechada e depois para o amigo, desconsolado.

- Aoi, eu preciso te contar uma coisa.

O moreno o olhou, esperando. Ruki se levantou de onde estava e se aproximou, sentando-se a seu lado.

- Kai e Reita acham melhor você não saber, mas eu discordo.

Aoi ergueu uma sobrancelha, curioso. – O que é?

O vocalista o encarou e respirou fundo. Em voz baixa, contou ao amigo tudo o que sabiam sobre aquele live no início da carreira, há três anos. Ruki viu Aoi empalidecer mortalmente e quase desistiu quando os olhos dele se encheram de lágrimas amargas. Parou, tocado pela consternação do moreno.

Aoi se levantou e deu alguns passos pela sala, sem saber direito como se sentir.

- Porque ele nunca disse nada? Eu nunca imaginei... – lamentou, abraçando-se.

- Ele sabe que você não se lembra. – Ruki explicou, penalizado – Por isso não disse nada.

Ambos ficaram em silêncio e depois de alguns minutos, a porta se abriu. Reita estreitou os olhos ao notar o clima e encarou o amante, desconfiado. Ruki desviou os olhos, culpado.

Aoi encarou os amigos, tentando se controlar.

- Onde Uruha foi? – perguntou, limpando a garganta.

- Está lá fora, fumando. – Kai explicou.

O moreno ficou ainda mais nervoso com o olhar impiedoso de Reita sobre si, mas conseguiu se conter. Uruha voltou depois de um tempo e eles discutiram sobre o próximo live. A turnê começaria depois do show inicial e seria a maior da carreira deles.

 

Apesar da empolgação, Aoi ficou aliviado por voltar para o apartamento. Tirou os sapatos e entrou lentamente, deixando a bolsa e as chaves sobre o sofá mais próximo. Sem se deter, encaminhou-se para o quarto e sentou-se na cama.

Sozinho, as palavras de Ruki voltaram e ele fechou os olhos, consternado. Sem que pudesse se conter, seus pensamentos se voltaram para o guitarrista loiro. Os sorrisos, os olhares distantes... mesmo quando estava com Kovu não podia deixar de admirar a beleza do jovem.

Riu no meio do choro que não sabia quando tinha começado. Uruha sempre tão confuso e divertido.

Não tinha gostado de vê-lo chorando, triste e abatido por ama-lo. Se saber alvo dos sentimentos de Uruha o fez ficar muito feliz e muito preocupado. Depois todo aquele problema e a saída do loiro da banda.

A época sem ele... se pudesse dizer quando se sentiu diferente em relação ao guitarrista, foi nesse época. Sentia falta da figura do loiro a seu lado, de conversar com ele, uma saudade quase que inexplicável. Antes não conseguia explicar por que.

Depois de cada fracasso nos festivais, o primeiro pensamento que passava era que se fosse Uruha a seu lado, não teria acontecido. Akaya nunca esteve à altura do loiro a seu lado. Apesar de confuso, ele sabia exatamente o que queria e porque queria, essa era a diferença básica entre eles. Akaya era guitarrista para ficar ao lado dele, Uruha porque amava tocar.

O moreno se virou na cama, encarando a parede.

O loiro era confuso, sim... às vezes se perdia em pensamentos... mas era também divertido e apaixonado, com um sorriso devastador. Apesar do jeito sensual e ousado, eles sabiam que era tímido e envergonhado.

Simples, profissional, bonito, verdadeiro, de gênio forte e decidido... um belo homem com uma alma bonita. Alguém realmente apaixonante.

E ele deixou tudo passar... nem parou para considerar na época e quando se deu conta... Kovu surgiu na vida deles para mostrar o que era aquele sentimento estranho que o fazia se sentir pesado quando o guitarrista loiro estava longe. Detestou descobrir justamente quando o casal estava bem, e durante todo o tempo de namoro deles, se segurou até que não conseguiu mais.

Fechou os olhos com força.

Ainda se chutava por ter perdido o controle daquela vez e provocado toda aquela situação. Não era culpa deles que tivesse se apaixonado pelo loiro numa patética inversão do destino. Podia rir se não estivesse chorando.

E agora mais aquilo. Ele tinha forçado Uruha. Não interessava que estivesse bêbado e não se lembrava. Ele tinha feito. Cometido um crime horrível e indesculpável. Não podia avaliar o estrago feito nos sentimentos do guitarrista depois daquilo, mas isso explicava muita coisa. A tristeza disfarçada, a bebida, a distância...

Não podia ignorar que tinha machucado Uruha muito mais do que sabia. Além do crime, tinha contribuído para a morte do homem que ele amava. Isso era muito e não era de se admirar que Uruha o mantivesse a distância. Não podia ser diferente.

Deixou-se pensar no loiro, saturando-se das lembranças até que adormecesse, exausto.

****

 

Aoi, para consternação e confusão de Ruki, não tomou nenhuma atitude em relação à descoberta do que tinha feito. O moreno se limitou a ficar perto de Uruha, sem se aproximar demais. Reita e Kai observaram com atenção o comportamento dos dois, atentos.

O problema é que o loiro não tinha explodido depois da morte de Kovu. Ele simplesmente não disse nada. Se fechou em seu próprio mundo e raramente deixava alguém saber o que estava sentindo ou pensando. De uma forma controlada, participou das brincadeiras e pareceu não guardar mágoa sobre os acontecimentos depois da briga, mas invariavelmente se distanciava, pensativo. Nessas horas nem Reita conseguia alcança-lo.

 

Uruha estava abençoando ter tanto trabalho. Às vezes o cansaço era tanto que acabava adormecendo nos lugares mais impróprios, mas ele não reclamou. Queria aquela loucura toda para evitar pensar. Sem que pudesse evitar, afastou-se do pessoal de apoio, mantendo apenas um relacionamento profissional. Os antigos amigos comuns entre ele e Kovu estranharam um pouco, mas não puderam fazer nada. O loiro sabia que estava se isolando, mas não conseguiu parar até que se sentisse mais confortável.

Notou com estranheza a aproximação de Aoi e sinceramente queria que ele não fizesse aquilo. Não iria brigar ou gritar mais, o que estava feito não dava para desfazer e não importava mais. Soube bem depois que ele e Akaya terminaram na mesma semana do acidente e sinceramente, não queria ter nada a ver com aquilo. Apesar de não falar nada, ele ainda não tinha conseguido superar os motivos daquilo tudo ter acontecido. Concentrou-se no trabalho, disposto a superar a perda e construir uma nova realidade sem o namorado, mas estava difícil.

À noite, sozinho no quarto, era impossível não se lembrar de Kovu e por mais que tentasse se controlar, muitas vezes caía no choro e lamentava que tivesse que ser assim.

 

Ruki teve que admitir que tinha passado dos limites sobre tudo. Ele e Reita ainda se estranharam um pouco durante o luto de Uruha, mas conseguiram superar. O vocalista recuou, ciente de que sua postura tinha prejudicado em vez de ajudar, mas teve que enfrentar outros tipos de problemas. O pai tinha reaparecido e dito que desejava que ele tivesse sucesso. Ruki teve que respirar fundo várias vezes antes de sequer conseguir dizer que aceitava vê-lo.

- Ele nunca me apoiou antes e me mandou sair se eu realmente quisesse isso. Porque aparecer agora e dizer que torce por mim? – perguntou, incrédulo e ferido.

- Ele não achava que fosse dar certo, mas entendeu que você conseguiu. Não é uma coisa boa? – Reita perguntou, tentando acalma-lo.

- Agora, depois de todos esses anos? – Ruki estava inconformado.

- Bem, ele é seu pai. Às vezes os pais fazem coisas incompreensíveis. – Kai respondeu, encolhendo os ombros.

O olhar de Ruki se tornou glacial.

- Ele me convidou a sair de casa por não concordar com meu estilo e meu desejo. Disse coisas das quais nem gosto de me lembrar e agora simplesmente quer que eu esqueça tudo?

Os músicos o encaram e então, a voz baixa e suave de Uruha soou, fazendo-o se virar.

- Ele é humano, Ruki, e como você comete erros. Ele pensou que seu sonho nunca ia se tornar realidade e que fracassaria, mas agora admitiu que você tem talento e que estava certo em lutar por isso. Não acho que tenha que ignorar isso. Não precisa voltar para casa e tudo o mais, apenas deixe-o saber que você entendeu e siga em frente.

Ruki encarou o guitarrista por alguns minutos, pensativo.

- Ele não precisava dizer nada a essa altura. – rebateu, sombrio.

- Imagine como deve ser difícil para ele admitir que você teve força e coragem o suficiente para não correr de volta para casa na primeira dificuldade. – Uruha suspirou – Além do mais, quem ia imaginar que conseguíssemos com um visual chocante como o que usávamos antes. No máximo, o circuito underground e olha lá.

Reita e Kai riram e acabaram arrastando Ruki juntos.

- É verdade, começo de carreira é sempre problemático. – o vocalista comentou, irônico.

- O nosso foi um verdadeiro pesadelo, mas a gente conseguiu superar. O reconhecimento da nossa família é importante, por mais que não vá influenciar em nada agora.

O vocalista sentou-se ao lado de Uruha, suspirando.

- Obrigado.

Uruha deu um sorriso simples. – É só a verdade, você ia chegar nela de um jeito ou de outro.

 

****

 

Ruki foi o primeiro a querer as mudanças. Aoi e Kai o seguiram, exaustos e loucos por qualquer coisa que pudesse ser diferente. Reita e Uruha não entenderam bem os motivos, mas concordaram que estava na hora de algo que fizesse a banda diferente das outras. O sucesso de Cassis ainda estava recente, mas eles não hesitaram.

Um novo nome para um novo começo. No início 2006, a banda Gazette passou a se chamar The GazettE e o novo trabalho, NIL, estava pronto para o lançamento antes da maior turnê da carreira deles até aquele momento. A partir de fevereiro daquele ano, estariam na estrada com a Standing Live Tour 2006 - Nameless Liberty Six Guns com previsão de mais de 30 shows pelo Japão inteiro.

 

Os problemas pessoais passaram a ficar secundários, diante da enormidade do que estava acontecendo. Com o aumento do sucesso da banda, as cobranças ficaram ainda maiores e o nível de profissionalismo teve que crescer. Os músicos passavam até vinte horas juntos e só o esforço conjunto não transformou isso num barril de pólvora. Tudo pelo qual lutaram até ali estava se realizando, e não queriam perder por nada.

 

Depois dos primeiros shows, a mudança ficou consolidada para a banda e para os fãs. Para alívio dos músicos, a alteração foi bem aceita e o público mostrou o sucesso que estavam fazendo. Os itens comercializados nos shows se transformaram em objetos de desejo dos fãs e ficaram em primeiro lugar na loja de divulgação da PSC, e além disso, os músicos tinham que se desdobrar para conseguir atender aos pedidos de entrevistas e ensaios fotográficos, além de programas de televisão.

 

 

Apesar de todos os problemas, a banda conseguiu consolidar sua marca e não podiam ficar mais felizes do que já estavam. Na estrada, contando apenas uns com os outros, a relação de amizade aumentou. Às vezes ficava meio problemático, quando Aoi e Uruha tinham que dividir o quarto. Reita não aceitava bem, mas não podia fazer nada. Kai, ainda com a consciência pesada por antes, sempre se oferecia para dividir ou então colocava o loiro com ele sem nem mesmo perguntar. Depois de algum tempo, Uruha pareceu não se importar tanto e Aoi comemorou poder ficar mais perto.

 

O relacionamento deles, para desgosto do moreno, se manteve estritamente profissional. Uruha até brincava um pouco, mas logo se retraia e voltava para detrás dos muros que ergueu. Aoi queria morrer cada vez que o loiro se referia a ele como Aoi-san, não por causa do respeito e consideração, mas por causa da distância que o tratamento impunha. Diversas vezes tentou fazer Uruha parar, mas não conseguiu.

O único momento mais descontraído que conseguia com o loiro era quando compunham juntos. O moreno tentava não se perder no brilho do olhar do companheiro e sentia o vácuo no estômago quando ganhava um sorriso verdadeiro. Esses momentos passaram a ser muito valiosos para o guitarrista porque era neles que Uruha deixava cair, pelo menos um pouco, as próprias defesas. Conversavam, riam e compunham juntos, dividindo às vezes a mesma guitarra.

 

Quando se separavam para que pudessem descansar, Aoi quase podia suspirar de frustração. Não era o bastante e por mais que considerasse que agora era melhor do que antes, começou a temer que nunca teria o suficiente do loiro.

 

*****

 

Ruki se deixou cair, exausto, na cama do hotel e Reita encarou o pequeno, preocupado. A distância entre os shows tinha diminuído e estavam no meio da turnê. Ao lado dele, Kai também estava preocupado. Os músicos estavam drenados.

- Vou dar um banho nele e coloca-lo para dormir. – o baixista explicou, suspirando.

- Aqui não tem quartos suficientes, Reita. Eu não sei o que aconteceu. – Kai respondeu, baixo.

O loiro olhou para ele, confuso. Kai grunhiu de frustração.

- Só tem dois quartos com cama de casal. – comentou, dando ao amigo um olhar significativo.

- Não fizemos reserva? – Reita perguntou, tirando o casaco.

- Fizemos, mas não sei o que aconteceu. – o baterista pareceu perdido.

Depois de uma batida na porta, Aoi colocou a cabeça para dentro do quarto.

- Kai?

O líder se encolheu, consternado. Reita suspirou e se virou, aproximando-se da porta.

- Parece que houve um erro na reserva – explicou, abrindo mais a porta. Uruha estava parado no corredor, fumando – Vocês vão ter que dormir juntos.

O lampejo no olhar do moreno quase fez Reita desistir, mas estava cansado e o tempo tinha passado. Uruha não pareceu incomodado.

- E onde é nosso quarto?

Aoi mordeu o lábio, aproveitando estar de costas para o loiro. Reita olhou dele para Aoi e virou-se para trás.

- Kai, a chave deles.

O baterista se aproximou e ficou penalizado da tensão do guitarrista moreno, perto deles. Estendeu a chave do quarto em frente, evitando os olhos escuros.

- Amanhã às oito, ok? – Reita despediu-se e voltou para o quarto, procurando a mochila de Ruki.

Depois que os guitarristas entraram no quarto, Kai fechou a porta e se sentou na poltrona, olhando o baixista separar as roupas dele e do vocalista.

- Acha que está tudo bem? Eu posso dormir lá...

Reita olhou para ele com um sorriso de lado, tirando a faixa do rosto. Só fazia aquilo quando estava sozinho com os amigos.

- Eles vão ficar bem.

- Achei que Aoi ia desmaiar. – Kai riu de leve, nervoso.

- Se Uruha encostar nele, é provável.

A calma do baixista fez o líder franzir a testa.

- Não devia estar preocupado com Uruha? Ele está sozinho com Aoi e vai dormir na mesma cama...

O loiro o encarou, divertido.

- Uruha está praticamente desmaiado de cansaço. Acha mesmo que vai acontecer algo além de um sono profundo?

Kai se deu conta da situação e riu com o amigo. – Ok! Eu admito que estou vendo fantasmas.

Reita se aproximou de Ruki, sacudindo-o de leve. O vocalista, cansado, simplesmente se abraçou a ele. O baterista observou o loiro levar o namorado para o banheiro, tentando acorda-lo no caminho.

- Pode trazer essas roupas, por favor?

O líder se ergueu e pegou os conjuntos dobrados. Reita entrou no banho com Ruki e trocaram-se lá mesmo. Do quarto, Kai ouviu a reclamação do pequeno, nervoso por não deixarem ele dormir. Depois que terminaram, acomodaram-se na cama e foi a vez do líder tomar um banho.

Debaixo do chuveiro, os pensamentos do moreninho foram para o outro quarto. Sabia que não aconteceria nada de grave, mas não podia deixar de pensar que Aoi devia estar, no mínimo, angustiado.

 

 

No quarto em frente, Aoi estava sentado fumando nervosamente. O problema não era dividir o quarto com Uruha, já tinha feito antes. O problema era aquela cama. Apesar de grande, não dava para não ficar nervoso.

O loiro estava no banho e não demonstrou desconforto por ter que dormir com ele. Infelizmente, Aoi sabia que aquilo não significava nada. Perdido em pensamentos, não notou que Uruha já tinha terminado.

- Aoi!

O moreno se virou, surpreso, para no segundo seguinte perder o ar. O loiro estava apenas com uma calça de moleton e secava o cabelo com a tolha, olhando para ele. Sem que pudesse se conter, Aoi acompanhou a linha do pescoço e o peito, ainda molhado. Notou que Uruha disse alguma coisa, mas não conseguiu entender o que era.

- Hã? - o loiro lhe lançou um olhar indecifrável e Aoi se encolheu, envergonhado – Desculpe....

- Pode ir, eu já terminei.

O tom seco fez moreno querer se estapear por ter sido tão descuidado. Ergueu-se e procurou a mochila, sentindo perfeitamente os olhos escuros sobre si, mas não se atreveu a olhar na direção do loiro. Pegou uma roupa qualquer e quase correu para o banheiro. Assim que fechou a porta escorou-se nela, sentindo o coração bater na garganta.

No quarto, Uruha encarou a porta fechada, pensativo.

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá!! Eu não sei nem por onde começar a me desculpar pela demora...
Eu tive alguns problemas no fim do ano passado e tive que me mudar, com isso, fiquei sem computador e acabei tendo que acessar da lan, mas não tive como digitar as histórias e muito menos postar.
As coisas estão melhores agora, e já tenho como manter as atualizações. Peço desculpas pelos erros, eu não revisei.
Um grande abraço e desculpem de novo!!